DA VARANDA DA LUZ

Vitória de Guimarães 4.0

por Pedro Almeida Vieira // Setembro 2, 2023


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


A experiência é um posto – um lugar-comum que, vistas as coisas como são, se usa (o lugar-comum) por isso mesmo: por se aplicar em muitos casos, e ainda melhor no caso em apreço deste cronista, eu, que, ainda esta tarde, munido da experiência, andei à caça dos abusos em ajustes directos em contratos públicos, e agora aqui estou, muito célere na viagem, graças à experiência, de já saber todos os ritos, neste preciso momento, a ver a aquilina Vitória (que já foi buzzard) esvoaçando.

Sinal, portanto, de chegada bem antes do apito inicial, e sem ter de encetar jornada duas horas antes para compensar percalços e engulhos. Ou seja, já calejado pela experiência anterior, mais lesto e em passo decidido me vi, e mais quem quis ver (que deve ter sido só os seguranças), assomar à tribuna de imprensa, não direi em apoteose, mas já munido do corriqueiro e usual, mas mesmo assim aconchegante, lanchezinho para recuperar as energias derretidas nas escadarias. Não tive de descer para o ir buscar como há duas semanas, que me esquecera de pedir a senha.

Mas nem me estava muito a lembrar de experiências deste jaez; nesta minha novel e nobre função de cronista da bola tenho ainda muito a aprender, a saber: trazer um casaquinho a partir de Setembro, que aqui na Varanda da Luz, ventando, já faz um fresquinho incómodo…

(entretanto, começa o jogo; podem ver a concorrência para conhecerem as formações iniciais das equipas…)

Na verdade, falava mais na “bagagem” que trouxe, na mochila, para tema a propósito, ou ter um tema de propósito: sendo a peleja contra Vitória Sport Clube, achei que poderia haver algum alinhamento favorável, não sei bem a quê, se trouxesse o livro saído do prelo e dado sogrinha mesmo à estampa pela Kathartika, uma editora de Guimarães, sobre um certo espanhol do mundo de futebol vítima de alopecia totalis.

(ai, ai, ai, ai, que o Vitória quase marcava… bola ao poste; estivesse o Vlachodimos na baliza e com o azar do grego seria golo, e o Roger Schmidt culpá-lo-ia da abébia do defesa benfiquista… e às tantas ainda era golo.

Entretanto, como não posso estar a interromper a escrita em cada parágrafo, acrescento só agora que, minutos atrás, o Di Maria quis fazer um chapéu ao Bruno Varela, mais outro antigo guarda-redes do Benfica algo maltratado, mas saiu-lhe copa baixa).

Retomando a meada ao fio. Não, não estou a falar do famigerado ou facinoroso Luis Rubiales, mas sim do mais comedido e discreto Roberto Martínez, o agora seleccionador português de quem sei muito pouco, ou quase nada, a não ser que fora um mediano médio do Wigan, e de outros clubes secundários das Terras de Sua Majestade, antes de enveredar pela carreira de treinador da Bélgica, e nos ter eliminado no Europeu de 2020, que afinal foi no ano seguinte. Enfim, estranho mundo da Ludopédia, onde se contratam os generais que outrora nos derrotaram os sonhos…   

(Goloooo… caraças, grande trivela do Di Maria, e excelente cabeçada de Jorge Fernandes, cuja folha salarial ainda por cima não é assinada pelo Rui Costa mas sim pelo presidente do Vitória de Guimarães, que não sei quem é [fui ver: chama-se António Miguel Cardoso; eu desde o filósofo Pimenta “o que hoje é verdade, amanhã é mentira” Machado que pouco sei das lideranças vimaranenses)

Tenho a insuspeita esperança de não ter tempo de dar uma leitura ou folheadela nesta biografia do espanhol, escrita por um jornalista belga (Benoit Delhauteur), mesmo se adianto que, por curiosidade, já vi que tem bonecos (fotos) e que termina na actualidade, porquanto fala no CR7, e garante já que Portugal está apurado e que, por isso, aparentemente o jogo da próxima na Eslováquia será a feijões. “Marquemos então encontro para assistir ao episódio seguinte da saga, na Alemanha, onde terá lugar o próximo Campeonato da Europa, em 2024” – esta é a derradeira frase…

(tenho um feeling que não vou ter tempo, porque entretanto um [imprudente] golpe de artes marciais do João Mendes sobre o Otamendi, com o competente cartão vermelho subsequente, leva-me a pensar que isto hoje vai ser mais fácil do que as três vitórias do Vitória nas três primeiras jornadas do campeonato poderiam pressagiar)

Até porque, na verdade, trazia aqui preparado um discurso sobre treinadores espanhóis que, no caso do Benfica, não trazem boas memórias: José António Camacho, que andou por aqui duas épocas há duas décadas, não conseguindo melhor do que o segundo lugar na Liga – o que para um benfiquista que se preze é um rotundo fracasso –, e Quique Flores, que, em 2008-2009, melhor não fez, com um triste terceiro lugar, apesar do então apoio da Orsi Fehér

(olha, dito e feito: golo do Di Maria. Isto promete ser jogo fácil, até porque, enfim, mesmo em ritmo pouco intenso [isto sou eu aqui a dizer, refastelado numa cadeira], o Benfica está agora a jogar bem, com bom entrosamento [caramba, já escrevo futebolês à segunda crónica] e objectividade)

Diga-se, também, que o Porto teve os “seus” espanhóis: estava aqui a pesquisar, na memória e na Internet, e apanho o Víctor Fernández, na época de 2004-2005, e sobretudo o Julen Lopetegui, entre 2014 e 2016, que deveria ter ficado mais anos para maior felicidade do Jorge Jesus aqui na Luz.

Confesso que sou, porém, um optimista, porque, mesmo trazendo algum trabalho feito de casa e alinhavado umas ideias sobre aquilo que seria uma crónica sobre este jogo contra o Vitória, esta se mostra difícil de compor quando se tem de “tener un ojo al gato y otro al garabato” – expressão que melhor fica aqui, não só por andar em castelhanices, mas sobretudo por, desta sorte, evitar o uso do mais problemático “ter um olho no burro e outra no cigano” –, porque as “incidências” até estão a ser agradáveis, e pouco apetece tirar os olhos do relvado.

(e nem de propósito, o turco Köckü faz um golo de “belo efeito” [estou a ficar lindo, com repetidos idiotismos futebolísticos] ao “fechar do pano” [irra!] já nos descontos, que agora são à meia dúzia, mesmo quando na primeira parte)

Entretanto, o intervalo sempre serve para ir dando uma mirada no texto já escrito e para sacar incorrecções e gralhas, bem como para complementar um ou outro “apontamento”. E…

(e… o Aursnes nem me dá tempo para escrever mais um parágrafo para compor melhor a estrutura da crónica, marcando o quarto para o Benfica logo a abrir o segundo tempo. Será hoje o mítico 15 a 0?)

Isto hoje, de facto, vai ser uma crónica estranha – se é que seria suposto não ser –, o que agrava as expectativas para as seguintes, porque saindo-me mal nesta segunda da presente época, por não conseguir estancar o entusiasmo de lampião por uma noite agradável, acabo por hipotecar as seguintes, porque vou granjear ódios de leitores portistas, sportinguistas – e quiçá, vimaranenses, se forem muitos (acho que não) –, e não demonstro um pingo de equidistância e independência clubística. Ao cuidado da CCPJ e da ERC…

Que seja! Ganho por 4, ganho por mil.

Enfim, e logo eu que até estava a pensar, depois de falar mais do livro do Roberto Martínez – ainda por cima com a capa onde se destaca o vermelho e branco, apenas com o dito espanhol com parte da cabeça em perfil –, que ainda teria tempo para abordar a situação financeira do jornal desportivo A Bola, que tem jornalistas e o Sindicato em polvorosa por os novos donos, os suíços da Ringier Sports Media Group, quererem mandar dois terços da força de trabalho para o olho da rua.

Pudera! A empresa de A Bola está em piores trabalhos do que o Vitória de Guimarães hoje na Luz, e nem sequer vê uma luz salvadora ao fundo do túnel. Pelo que vejo das contas do ano passado (e trouxe os papéis para cotejar o “desastre”), tem um capital próprio negativo de quase 1,7 milhões de euros, contabilizou receitas de 8,6 milhões de euros, e depois gastos de cerca de 3,6 milhões de euros para pessoal e um pouco mais de 3,9 milhões de euros em serviços externos, além de um serviço da dívida (devido ao elevado endividamento) que lhe “comeu” o parco valor positivo dos resultados operacionais. Tem ainda uma dívida ao Estado de 252 mil euros. Já vimos pior, não vimos, Luís Delgado? Já vimos pior, não vimos, Marco Galinha?

A empresa de A Bola parece uma equipa de futebol português, com a diferença de que a administração de um clube de futebol não despede dois terços dos jogadores esperando que as receitas se mantenham e os lucros venham… Enfim, voltarei ao tema nas páginas normais do PÁGINA UM sobre a situação financeira das empresas de media.

(depois do quarto golo, tudo mais calmo… vou agora descansar um pouco, e desfrutar da Varanda da Luz, enquanto termino o lanche)

Entretanto, isto animou aqui para os lados da tribuna da imprensa, ao minuto 76, onde estou rodeado por radialistas, que agora confirmo serem garantidamente de Guimarães, porquanto um atabalhoado golo do Vitória acaba de ser celebrado com um entusiasmo semelhante ao relato de Victor Hugo Morales do “El Gol del Siglo”, com que Maradona sentenciou a vitória da Argentina no Mundial de 1986. Enfim, pena que o resultado já estava no 4 a 0; e 4 a 0 continuará, porque o Nélson da Luz (Luz, caramba!, os astros estão todos ao favor da Luz) meteu mão à bola. Valeu pela foto que tirei ao radialista, que até veste vermelho, e que não parecia tão empenhado a gritar golo quando foram os outros quatro do Benfica. E esses valeram…

(e, passando o tempo, a acertar mais uns pormenores, um penalti a favor do Benfica; Di Maria já com a bola na mão para facturar o bis… e o VAR anula a decisão. Bolas: era uma mão-cheia hoje)

Fica para a próxima. E por aqui me fico, que ainda se tem de fazer mais uns acertos e caçar gralhas – e eu nem tenho olhos de águia. E meter isto no site do PÁGINA UM ainda demora uns minutos, e se não me despacho ainda me apagam… a Luz.

Ah! e a próxima crónica, se não me engano, será com o Futebol Clube do Porto… se me deixarem vir ou se me concederem a devida acreditação.

As luzes vermelhas, entretanto, ainda continuam acesas, só vejo ali um companheiro em escritas, e eu tenho de regressar a casa para descansar, e estar também com quem desejo estar, que a vida não é só futebol… Digo eu, que não paro de escrever.

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