– Vou dar-vos uma doença nova – e assim surgiu a covid-19. Uma doença que num quadro exuberante é tremenda. Descobrimos assim que estávamos na Idade Média, e lá saltaram os feiticeiros: os donos de medicação curativa, os teorizadores da calamidade, os defensores de negócios sem moral, os fazedores de tratamentos – as mezinhas, os chás e os fumeiros da peste negra.
Veio o ostracismo, o evitamento, a culpabilização – somos tão fáceis de perceber, tão repisados. Engraçado como em Setembro de 2023 tudo mudou – “estão-se todos borrifando para a infecção”! Os mesmos que prenderam os idosos, os que obrigaram a escrever morte por covid-19 até em politraumatizados, os que gritavam contra qualquer crítico.
Os da Idade Média em 2020, agora, em Setembro de 2023, quando a covid-19 dispara de novo, vivem silenciosos.
Quando os seres humanos iam aos hospitais há três anos, estavam confiantes na Tecnociência, desconfiados da negligência, incrédulos da incurabilidade. Chegou em Dezembro 2019 um coronavírus, membro de uma enorme família, e disse:
– Hummm!, vocês sabem pouco!
Chocado ficou o povo que acreditava que o século XXI é sábio, cientista e cheio de sabedoria. Estávamos perante uma pandemia, uma nova doença, um “micróbio” que nos afrontava com despudor. Afinal, tínhamos serviços de Saúde, especialistas em fármacos, meritórias universidades e dezenas de médicos por mil habitantes. O vírus possivelmente disseminou-se mais depressa do que se pensava e atacou o mundo inteiro viajando em low cost, nos paquetes e aviões. Quando deram por ele confinaram-se as crianças e depois os pais e, por fim, os avós.
– Boa! Vamos pela mão das crianças infectar os avós.
E foi e infectou.
As pessoas com mais de 70 anos, com algumas doenças, foram as mais atacadas, de modo selectivo, com uma demoníaca incidência.
– Vou matar milhares!
E matou, pelo Mundo todo, como se sabe. Só que não foi nada semelhante à SIDA; nada próximo da Peste; nada comparável à gripe espanhola – e todos sabem, todos têm a certeza disso!, à posteriori. No fim do jogo, há quem já aceite que exagerou, há quem se arrependa do que vociferou.
Afinal, agora, estamos com a maior taxa de infecção – atenção, taxa de infecção – desde que este vírus apareceu em 2019. São milhares por dia. É um vírus atenuado, mais adaptado aos humanos, como teria de ser, e possivelmente uma estirpe insensível à vacina em uso, mas a dar biliões de lucros.
Um vírus destes não ataca crianças, nem jovens saudáveis nem adultos com saúde? Ataca, mas unanimemente eles conseguem defender-se com um desconforto maior ou menor. Em Portugal, nenhum jovem de menos de 30 anos morreu de covid-19 – mesmo se teve um teste positivo –, desde que tudo começou. Ninguém sem patologia major de outra espécie morreu de covid-19 com menos de 40 anos. Mas houve alguns gravemente doentes – sim! Mas menos de duzentos em todo o Portugal e PALOP. Tínhamos meios para os salvar e salvaram-se!
A Medicina Baseada na Evidência não demonstrou nada, não descobriu a razão, a forma, o mecanismo de acção, as taxas de mortalidade e de infecção, não fez grupos controlo, não conseguiu retirar certezas além de que a mortalidade naquela forma clínica major era o quinto dos infernos.
Provou-se que a eficácia dos fármacos usados “em desespero” foi de muito baixa eficiência.
O desespero foi afinal uma taxa de mortalidade de 0,7%, o que em Epidemiologia é uma festa, uma boa nova!
Sim, talvez 0,7% dos doentes graves vão morrer – este número não está claro. Sim, destes, 80% têm um padrão igual aos nossos avós. Sim, sabemos que 0,7% de milhões são sempre muitos! Sobretudo porque os seres humanos são mesmo muitos.
Mas esta não é uma Walking Deads, esta não foi a vingança do ambiente contra a demografia. Esta não matou mais que a fome, não aniquilou o mesmo que Staline, ou Pol Pot, ou o Nazismo. As formigas não perderam a termiteira, só viram um desaire num carreiro. E não está provado que antes do confinamento não houvesse já um “espalhamento” global e daí o efeito positivo dos lockdowns não ser ainda claro.
Sobre a vacina em 2021 – eu fiz! Eu também injectei o receio! Mas esse é outro tema de debate!
Certo é que os não-vacinados não estão a morrer deste surto de Setembro de 2023! Os não-vacinados estão a apanhar, sem problema de maior, a mesma infecção, pelo mesmo vírus que todos os outros.
O SARS-CoV-2 é, por tudo isto, uma desilusão completa sobre a Humanidade da Tecnociência. Temos de voltar a estar na rua e a acabar com a ideia de que vamos para a praia de máscara ou nadar de escafandro.
Resta concluir que os hipocondríacos não podem mandar no Mundo, pois nos conduzem à falta de senso, à ausência de leitura fria dos dados, à gestão das emoções sem utilização dos poderes de raciocínio, justiça e memorização. Temos de rever a nossa interpretação da morte, porque ela faz parte da vida.
Por fim, não criemos, contudo, um peso de consciência porque deixámos os pais nos lares, e não fomos ver os avós durante meses – e agora morreram. Não me ofereçam falsa moral. Sei que o trabalho não se compadece, a vida é um rolo compressor, a riqueza da Humanidade está mal distribuída e para fazer melhor é preciso o vil metal. A moralidade e a ética de hoje estão encastoadas no dinheiro. Muito grave era morrerem os netos antes dos avós como na gripe espanhola.
Diogo Cabrita é médico
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