Tinta de Bisturi

Sim, Clara, eis o desgoverno do Governo

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Clara Ferreira Alves partiu a loiça toda numa recente presença na televisão: criticou o Portugal da balbúrdia dedicado ao Governo de António Costa. Uma fã da opção socialista, uma certificada defensora do voto à esquerda, percebe agora, de modo retumbante, a ineficácia de uma governação que nada constrói além de um jeito sexual de produzir lei.

Eles são o mete e tira, o faz e desfaz. Ontem, a TAP era um hub e uma necessidade pública, uma certeza que nos custou mais de três mil milhões. Hoje, a TAP é um presente para a privatização a 100%, mas que não renderá os investidos. Ou seja, a TAP é uma cerâmica concertada que se vende sem pagar a quem o concertou. Ou estamos perante a maior das mentiras: pagámos para concertar e ficou igual ao que estava- uma jarra quebrada, a vender na feira da ladra.

Sim, Clara, eu apercebi-me do mesmo há vários anos, e por isso me afastei do PS, que aposta nas franjas das minorias, nas decisões sem alicerces e assim cria problemas vindouros em tudo o que toca. São como leis sem regulamentos: não se aplicam apesar de existirem. A nova loucura é a questão da “mais habitação”. O Estado ladrão, dono de milhões de casas devolutas – entre os legados da CP, EDP, barragens, quartéis, hospitais, centros de saúde, escolas primárias, abandonos sem conhecimento de proprietário, muitos no centro nevrálgico de cidades – prepara-se para “obrigar” os proprietários a colocarem no mercado aquilo que herdaram ou compraram com planos bem elaborados, com organização familiar fundamentada. O ladrão invade, como sempre, a cidadania exemplar.

Mas este é o António que nos deixa com milhares de problemas para regulamentar e resolver.

Eis as matilhas que sobram das leis de proteção de animais.

Eis o roubo aos que acreditaram na mobilidade elétrica e que são vítimas do assalto dos carregadores sem ordem e sem lei.

Eis a enormidade do IVA não pago na venda de barragens.

an aerial view of a dam in the middle of a lake

Eis a demência do custo energético depois de se fecharem as centrais de carvão.

Eis o estado a que chegou a saúde pública, o sistema judicial e penal, o Ensino, os transportes.

Eis o ataque das minorias à língua, aos costumes, à proteção da família.

[Sim, há uma quantidade de estupidez que vai do acordo ortográfico em curso até à exigência de desnecessidades construídas para nos entreter em vez de lutarmos por salários dignos e um Estado menos Godzilla, menos King Kong.]

Este Estado tem um estômago voraz e um cu de benesses que produziu da fortuna de impostos de quem trabalha. Um regador de dádivas para os votos dos simples, dos que, por razões várias, não emigram, dos que se refugiam encostados à sombra do rendimento mínimo, dos que recebem complementos para sobreviver depois dos salários (isto é, em si mesmo, uma enormidade).

Portugal criou uma Sicília de grupos que protegem suas benesses sem controlo, sem fiscalização e, desse modo, perpétua uma Universidade maioritariamente medíocre, um sistema de Saúde cada dia mais torpe, uma justiça por onde escoam os mega-processos, onde as acusações mal fundamentadas e instruídas esbarram com a lei.

Sim, Clara, esta balbúrdia é possível porque a liberdade de imprensa e de informação acabou e se presenteiam os seguidores, os camaradas do regime. Recorde-se como um beijo em Espanha foi mais importante que seis mil milhões de impostos gastos a comprar eletricidade de centrais de carvão, mas espanholas!

Também tu, Clara, tens dito nada sobre isto, sobre o que se passa com as decisões do PAN levadas a cabo pelo PS, sobre os dados que comprovam que não morreu ninguém abaixo de 30 anos em Portugal na tal epidemia que te assustava tanto.

Também tu, Clara, não queres saber nem te queres informar. Talvez agora, quando te mandarem sair da TV, te retirarem as crónicas do jornal… recorda-te: quem se mete com o PS, leva!

Diogo Cabrita é médico


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