Acredito que não haja um único cidadão, com um nível de cultura médio, que não esteja de acordo com a necessidade da defesa do ambiente.
O problema é que, de igual modo, mesmo entre estes, uma grande maioria pensa que o simples facto da mudança individual de hábitos, em prol deste objectivo, tenha resultados significativos a nível global.
Que importância terá que eu compre um carro de que gosto embora saiba que é mais poluidor do que o habitual?
Que mal vem ao mundo se eu estiver quinze minutos, diariamente, debaixo do chuveiro para um duche retemperador?
Separar o lixo, em casa, é importante mesmo sabendo que, depois, em muitos concelhos, a recolha é feita misturando tudo por falta de viaturas apropriadas para levar o processo até ao fim?
Porque é que eu não poderei comprar computadores, ou telemóveis, de última geração, mesmo tendo outros em bom estado e com todas as condições para todos os meus trabalhos?
Regressar aos sacos de pano, para evitar, numa ida às compras, o gasto de alguns sacos de plástico, que importância pode ter a nível global?
As respostas a estas, e a tantas outras perguntas acerca do despesismo desenfreado em água, material plástico, produtos petrolíferos, transportes, seria extraordinariamente surpreendente.
A consciência colectiva só pode existir, obviamente, com o apoio de todos e cada um dos cidadãos.
É fácil culpar as grandes empresas e os governos dos países mais poluidores.
Evidentemente que são eles os culpados. Mas só porque há milhões de “eus” a optar pelos seus produtos.
Os radicalistas começaram a explicar tudo isto de modo simples e sentido.
Quase sempre com o apoio de uma juventude cada vez mais culta e interventiva.
A mensagem começou a passar e a ganhar força.
Começou, até, a ser moda.
Às manifestações públicas aderiam dezenas de milhares de cidadãos.
As televisões divulgavam.
Os políticos começaram a prestar atenção (e um apoio envergonhado) ao Movimento.
Os partidos Verdes começaram a ganhar força e militantes.
Como seria de esperar as grandes empresas industriais, para quem o lucro é o essencial, reagiram.
E fizeram-no com profissionalismo e grandes investimentos, tentando pôr em causa as informações de cientistas de diversos países.
Chegou-se ao ponto de um Vice-Presidente dos Estados Unidos, se apresentar como candidato à Presidência usando o combate contra a política ambiental como bandeira na campanha eleitoral.
Este, Al Gore, Vice-Presidente de Bill Clinton, perdeu contra George W. Bush por uma percentagem de 0,009 dos votos.
A ecologia acabou, de novo, derrotada pelo apoio da indústria petrolífera e de todas aquelas que sentiam poder perder lucros fabulosos se fossem criadas as restrições que se impunham em prol da conservação ambiental.
Campanhas fortíssimas de publicidade, denegrindo os esforços de ecologistas, pondo em causa todas as suas informações e teorias, muitas vezes sem permitir contraditório, começaram a fazer com que estes perdessem algum do seu protagonismo e espaço na comunicação social.
Contra isso, iniciaram uma luta que se mostrou desastrosa porque baseada num radicalismo que uma grande franja dos seus apoiantes não entendia e considerava exagerada e, mesmo, ilegal.
Acções como as da Greenpeace e da Just Stop Oil, atacando petroleiros, ou, noutra proporção, invadindo e destruindo, propriedades privadas, como aconteceu em Portugal, num campo de milho transgénico de uma herdade de Silves, fizeram milhares de pessoas descrer destes activistas e, por arrastamento, deixarem de apoiar a sua luta.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o FBI considera alguns movimentos ecológicos como “terroristas” acusando-os de envolvimento em incêndios criminosos, em empresas revendedoras de veículos desportivos de vários estados americanos, de ataques contra laboratórios que usam animais em pesquisas e contra a indústria farmacêutica e cosmética. Os ataques não terão causado mortos, mas, de acordo com o FBI, esses atentados têm-se tornado maiores e mais frequentes nos últimos tempos.
A ânsia de dar nas vistas leva alguns activistas à tomada de medidas que a população critica e que, muitas vezes, fazem passar uma imagem de infantilidade e má-educação que acaba por se virar contra eles.
A última cena, com um grupo de imbecis atirando ovos com tinta verde ao Ministro do Ambiente, em Portugal, é disso um exemplo.
Para mais, este nem sequer apresentou queixa fazendo passar a ideia que considerava os agressores uns desmiolados inimputáveis.
O radicalismo é, sempre, uma prova de menoridade.
Os ecologistas terão, para defesa de todos, de regressar à actividade com base num trabalho de esclarecimento credível, porque assente em estudo, seguindo os conselhos dos cientistas e estudiosos do tema, e sem facilitarem nos seus posicionamentos pessoais.
O seu comportamento, no dia-a-dia, tem de ser condizente com o que dizem defender.
Um ecologista “Frei Tomás, faz o que ele diz e não faças o que ele faz” não só não merece qualquer crédito como é o principal inimigo da comunidade científica.
E isso, aqueles que querem um Planeta melhor, não lhes podem perdoar.
Vítor Ilharco é assessor
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