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Escolhemos mesmo os nossos governantes?

silver bell alarm clock

por Maria Afonso Peixoto // Outubro 13, 2023


Categoria: Opinião

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“No passado, muitos déspotas e governos quiseram fazê-lo, mas ninguém compreendia o suficiente sobre biologia, e ninguém tinha meios computacionais e dados para hackear milhões de pessoas. Nem a GESTAPO, nem o KGB podiam fazê-lo. Mas, em breve, pelo menos algumas corporações e governos serão capazes de hackear sistematicamente todas as pessoas. Nós, humanos, temos de nos habituar à ideia de que já não somos almas misteriosas”. Estas sinistras palavras são do (também sinistro) historiador e escritor israelita Yuval Noah Harari – conhecido por best-sellers como Sapiensnuma reunião anual do World Economic Forum em 2020.  

Mesmo com todos os progressos científicos, não sei se é verdade que já não sobra qualquer réstia de mistério ao ser-humano, mas, em todo o caso, parece-me que estas declarações são essenciais para entendermos a realidade actual e das últimas décadas.  Desde logo, porque as palavras de Harari, proferidas no palco da elite que controla o Mundo a seu bel-prazer, mostra-nos – para quem queira ver e ouvir, em vez de enfiar a cabeça na areia – o futuro distópico que os nossos overlords têm planeado para nós. Não há como dizer que é teoria da conspiração; é abertamente assumido.

World Economic Forum

Mas a frase “nós, humanos, temos de nos habituar à ideia de que já não somos almas misteriosas” ecoou em mim, sobretudo porque é um ponto nevrálgico do monstro com que nos defrontamos. Sublinhe-se: quem manda em nós – Governos, grandes corporações, elites – conhece-nos de “ginjeira”. Para eles, somos como marionetas que manipulam habilmente através da propaganda, da comunicação social (por vezes, confundem-se), enfim, das acções que encabeçam. No fundo, há muito que já fomos manietados e “hackeados” por meio de técnicas sofisticadas de manipulação psicológica. Fazem de nós gato-sapato, levam-nos a caminhar em direcção ao precipício, sem que nos apercebamos, enquanto mantêm em nós a ilusão de que estamos a agir de livre vontade. Mas o nosso livre arbítrio é o mesmo dos habitantes da caverna da Alegoria de Platão, que julgam conhecer a realidade, quando apenas têm poder de vislumbrar as sombras.

Hoje, não há necessidade de instaurar uma ditadura no Ocidente. As mentes estão controladas, e por isso, as pessoas também. Julgamos eleger quem nos representa, mas o leque de candidatos que nos oferecem não representa os nossos interesses. Aqueles que estão na política para, de facto, servir o país, não têm grande margem de manobra – ou se portam bem e se conformam, ou são afastados. O poder apenas pode cair nas mãos de quem convém, e é isso que acontece, com a preciosa ajuda de uma comunicação social corrompida que os promove.

Os candidatos a governantes já foram há muito empacotados e estão prontos a servir no dia das eleições. A máquina de propaganda já tratou de os “vender”, para que possamos exercer a nossa “escolha”. Os exemplos deste processo são vários.

Chess Piece

Mas olhemos para o nosso “pequeno mundo”, para o caso de Portugal.

Do lado do PSD, não parece arriscado apostar que Carlos Moedas sucederá a Luís Montenegro. Quanto ao Partido Socialista, ainda esta semana Pedro Nuno Santos inaugurou o seu espaço de comentário na SIC. O caminho rumo ao “trono” que António Costa ainda ocupa faz-se, assim, ao colo de supostos “jornalistas”. Na verdade, os mesmos que permitiram que o actual primeiro-ministro “açambarcasse” o poder com laivos ditatoriais, sem que fosse por isso mal visto – primeiro a António José Seguro, e depois a Pedro Passos Coelho. Na sua governação, pouco mais fez do que destruir o país, em uníssono com os interesses de organizações supranacionais.

António José Seguro, que de acordo com várias “fontes”, como se diz em ‘jornalês’, é uma pessoa (inconvenientemente) honesta, foi obliterado antes de ter sequer chance de se tornar primeiro-ministro. Chegou, aliás, a denunciar, numa entrevista, a existência de um “partido invisível na sociedade portuguesa, que tem secções em todos os partidos, fundamentalmente nos partidos do Governo”, e acrescentou que “é este poder fáctico que precisa de ser escavacado, de ser destruído”. Será que a sua posição sobre este “poder fáctico” teve algum peso no seu afastamento abrupto?

Porventura, o antigo líder socialista seria demasiado bom para governar – pelo menos, para a elite parasitária que se move nas sombras, para a comunicação social vendida, e para desgraça dos portugueses que, em vez de um político vertical, ficaram com um manipulador exímio que não olha a meios para atingir fins e que conseguirá dormir descansado enquanto vê o país a definhar e a apodrecer.

People Standing Near Statue

Talvez hoje, tenhamos perdido o “direito” de escolher um líder que, independentemente da sua ideologia, coloque os interesses colectivos à frente dos seus. Fala-se muito de uma “alternativa” ao Partido Socialista, e é verdade que parece não existir, nem à esquerda nem à direita. Nem tão pouco, arrisco dizer, nos partidos sem assento parlamentar. Mas, tendo em conta estes poderes fácticos que corroem a democracia, quem procura apenas uma alternativa ao Partido Socialista, falha o alvo.

Urge uma alternativa à corrupção e à subversão e que grassa em todos os partidos e demais agremiações de poder. Dito de forma simples, é preciso que o povo desperte do torpor, e que, pegando na afirmação de Harari que citei no início, devolva a “tirada” aos poderes instalados, e lhes diga: “têm de se habituar à ideia de que já não são um mistério para nós, e já não nos conseguem manipular”.

Maria Afonso Peixoto é jornalista


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