Temos pois um Portugal com gente com má saúde. A saúde oral é um estado calamitoso. A saúde mental é uma amargura. A nutrição é a rainha de uma epidemia multipatológica, que envolve os excessos de hidratos de carbono, a falta de verdura, a má confecção de alimentos, e claro, a obesidade como fonte da diabetes, da hipertensão, da obstipação, da dor nos joelhos, das doenças psiquiátricas, das doenças inflamatórias intestinais.
A falta de exercício, a ausência de incentivo ao desporto, quer escolar quer nas instituições, carrega consigo inúmeros problemas como ausência de incentivo à elegância postural, ausência de formação para carregar pesos, ausência de conhecimento mínimo sobre as consequências de uma má cadeira, de um computador mal colocado, um esforço mal doseado ou medido, uma tarefa em posição viciosa. As baixas por dores são inúmeras, as de inadaptação psíquica estão a aumentar, os males da alma, e as teimosias dos trabalhadores também não ajudam.
Tudo isto, que é do domínio da prevenção, da educação e da formação pré-hospitalar; aquilo em que o Partido Socialista menos tem investido, e que mais lucros traria ao país e à população, foi até agora deixado ao Deus dará – Diz que Deus diz que dá, mas para já… demagogia.
Com toda esta patologia, os doentes procuram diagnóstico e tratamento e poderiam recorrer a vários lugares – consultórios médicos (como em França e no Luxemburgo, onde o dinheiro segue o doente), clínicas, centros de saúde, medicina de proximidade.
Esta podia ter a possibilidade de activar meios complementares de diagnóstico céleres e também próximos. Podia ainda ter facilidade de encaminhar para resolução em clínicas aquilo que não é grave, mas é urgente pois condiciona dor, grande desconforto, apesar de não colocar a vida em risco.
Esta opção de não usar recursos privados ou das misericórdias, ter construído um cem número de dificuldades à pratica livre da Medicina e Enfermagem, foi a estratégia socialista contra os pequenos. Um tema que não vem ao caso, mas que importa recordar: matar a farmácia, a loja, a mercearia, o consultório é uma ideologia em favor dos negócios, dos grandes donos do mundo actual, que tem certificações, taxas, exigências ao nível do absurdo, entidades e administrações a comprometer a via aérea dos pequeninos. Claro que não respiram.
Esta realidade veio com a estratégia de reduzir camas, destruir a assistência pública de proximidade – os tribunais nos Concelhos, os hospitais das comarcas, os postos de atendimento permanente e as escolas das aldeias. Em favor de uma escala maior, que tem obviamente vantagens e desvantagens. Em Saúde as desvantagens estão a descoberto – não tendo onde ir vai-se à urgência. A urgência de hoje é como ir “ao Inter” ou ao Pingo Doce.
Os próprios doentes, desprovidos de qualquer limite, utilizam indevidamente um recurso que agora começa a queimar–lhes o futuro. Fechando urgências grandes, vai morrer primeiro “gente pequena”. A “gente grande” tem recursos para outros voos, numa fase inicial. É por isto que o Estado deve ter estratégias, perceber os sistemas reguladores, as lideranças que identificam os problemas e os tentam equilibrar.
Os primeiros passos para reduzir este afluxo desmesurado está na coabitação público-privada, na colocação de taxas de utilização, na construção de melhores fluxogramas de atendimento e protocolos de orientação. Formação de médicos para urgência é importante também.
O fim das parcerias público-privadas (PPP) foi uma catástrofe para Loures, Vila Franca de Xira e Braga. Os centros hospitalares reduziram camas, aumentaram listas de espera, afastaram dos cuidados milhares de doentes. A aposta nos cuidados continuados é uma das grandes falácias que empurra os doentes para unidades onde não há qualquer tratamento de situações agudas, retirando o cuidar das famílias, transferindo para “lares caros” internamentos eternos e nas mãos de negócios, esgotando recursos válidos do lugar onde deviam estar.
Diogo Cabrita é médico
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