Nos dias que correm, não faltam homenagens, odes e aplausos a mulheres feministas que, no passado ou no presente, se destacaram pela sua luta em prol dos “direitos das mulheres”. Há filmes e séries sobre as sufragistas e líderes de movimentos femininos retratadas como heroínas.
Para uma boa parte das pessoas é um dado adquirido e inquestionável que o movimento feminista – geralmente dividido em três fases –, corresponde ao “lado certo” da História, e que as mulheres a batalhar pela ‘libertação’ feminina são as boas da fita. Eis o resultado da propaganda: revela-se apenas o lado “conveniente” da história, e varre-se para debaixo do tapete outros factos, outros posicionamentos, que têm também a sua legitimidade. Mas a verdade é que o movimento feminista nem sempre gozou de um apoio unânime entre as mulheres, tendo sido até alvo, em vários momentos, de uma energética oposição.
Actualmente, parece estar a desenhar-se, por parte de algumas mulheres, uma tendência, crescente, de rejeição e questionamento sobre certos pressupostos feministas, mas a cultura mainstream continua a ostracizar por completo ideias “diferentes”, logo ditas “antifeministas”. E a diabolizar as mulheres que as trazem para cima da mesa.
Este fenómeno não é, contudo, recente. No passado, já houve mulheres que torceram o nariz à propaganda feminista que prometia trazer consigo a “derradeira salvação”, convencendo as mulheres (ocidentais) que eram oprimidas, dizendo-lhes que a felicidade passava por se libertarem das amarras da maternidade e do trabalho doméstico – que algumas feministas tinham até a ousadia de comparar ao trabalho escravo!
Essas mulheres viram o outro braço de quem lhe acenava com a cenoura da “libertação”. Viram que essa cenoura, na verdade, era como uma espécie de maçã envenenada que parecia apetecível e luzidia, mas poderia ser letal. Viram, de facto, que o feminismo foi, em grande medida, um “Cavalo de Tróia” para incutir aos poucos hábitos e ideias perversas – como a propaganda LGBT que assistimos hoje, cada vez mais agressiva –, e um instrumento para nivelar homens e mulheres de forma a serem mais fáceis de controlar e de “tributar”, educados para serem como hamsters reféns do trabalho e esvaziados do seu poder e influência no seio da família, já que a educação das crianças ficaria a cargo do Estado.
Em resumo, era a fórmula perfeita para criar uma população facilmente manobrada, fragmentando e destruindo a família. E, já agora, vale a pena deixar a nota: o movimento feminista, sempre vendido como uma pedra no sapato do “patriarcado”, foi na verdade financiado e apoiado também por alguns dos homens mais poderosos do mundo, como os membros da família Rockerfeller.
Uma das mulheres que alcançou maior atenção mediática pelo seu activismo contra o movimento feminista foi Phyllis Schlafly (1924-2016), uma advogada norte-americana conhecida por criar uma enorme onda de contestação à Equal Rights Amendment (ERA) nos anos 1970.
Esta emenda queria, supostamente, tornar inconstitucional a discriminação com base no sexo, mas Schlafly contrapunha que, na verdade, poderia retirar às mulheres privilégios como o direito a serem financeiramente sustentadas pelos maridos e o costume de ficarem com a custódia dos filhos em caso de divórcio, ou de não poderem ser convocadas em caso de guerra.
A activista lançou, na altura, o movimento STOP ERA, com a sigla STOP a significar Stop Taking Away our Privileges [Parem de roubar os nossos privilégios], e conseguiu mesmo impedir que a emenda fosse ratificada. No fundo, Schlafly viu para lá do slogan muito agradável ao ouvido, mas que muitas vezes não passa de uma forma de manipulação dos “direitos iguais entre os sexos”.
Aqui chegados, com várias décadas de feminismo em cima, é fácil, aos mais atentos, ver quais foram os verdadeiros intentos do movimento. Quando hoje vemos mulheres a serem silenciadas porque se insurgem contra a possibilidade de serem reduzidas a “pessoas com útero”, ou porque explicam que as “pessoas que menstruam” são mulheres, é difícil não acreditar que o feminismo foi apenas o “prefácio” da ideologia de género, ao afirmar taxativamente que “não existem diferenças entre os dois sexos”.
Mas existem diferenças entre os sexos, e não são poucas. Homens e mulheres são muito diferentes, e ainda bem. A sociedade deve tirar partido dessas diferenças, que os tornam complementares, em vez de tentar aplaná-las de uma forma perversa, reprimindo a sua natureza. E, claro, reconhecer que ambos têm certas tendências naturais distintas não é o mesmo que dizer que as mulheres vão gostar todas de bonecas e os homens de jogar à bola. Só que o principal motivo pelo qual o movimento feminista é nocivo para as mulheres é mesmo esse: diz-lhes que são iguais aos homens e não tem em conta a sua singularidade.
Podemos apontar vários efeitos colaterais do feminismo – elencar e aprofundar cada um deles daria para escrever um livro –, como a banalização da pílula anticoncepcional, que acarreta uma lista infindável de consequências físicas indesejáveis, e a impossibilidade de as mulheres ficarem em casa a cuidar dos filhos se assim o desejarem, porque hoje, à excepção de umas poucas privilegiadas, a maior parte das mães não pode prescindir de um ordenado.
É, portanto, em defesa das mulheres que se torna imperativo, várias gerações após o início do feminismo, apontar os seus malefícios e as suas falácias. A degeneração parece estar a atingir agora o seu auge, mas foi chegando em pézinhos de lã, sempre travestida de boas intenções, dentro de uma caixinha de eufemismos, mentiras e frases bonitas. Por terem percebido onde iria desembocar a ladainha da “libertação das mulheres”, e terem visto para lá da propaganda, mulheres como Phyllis Schlafly merecem ser relembradas.
Maria Afonso Peixoto é jornalista
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.