DA VARANDA DA LUZ

Sporting 2.1

por Pedro Almeida Vieira // Novembro 12, 2023


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Hoje, nem um piu sobre ser eu talismã, até porque para se ser amuleto devemos ter um comportamento à água Vitória, esvoaçando uma meia hora antes do apoio, e não chegar 12 minutos atrasado, por vergonhosas vicissitudes e demais afazeres (sempre me valeu uma conversa sobre o Brasileirão, com o condutor do Uber, adepto do Cruzeiro, que anda pelas ruas da amargura, sob risco de descida), embora ainda a tempo de assistir ao remate do Rafa à barra da baliza do Sporting – quer dizer, a baliza é do Benfica.

(seria divertido as equipas trazerem, além do equipamento, a própria baliza; só assim faria verdadeiro sentido a expressão ‘golo na própria baliza’)

Parece que perdi outra oportunidade anterior, aos 9 minutos, mas de oportunidades perdidas é o que o Benfica mais tem feito nos últimos meses, a começar por perder quatro jogos na Champions. Enfim, mas o lance do Rafa foi antes de eu pegar a minha senha, com o número 15 – faz-me sempre lembrar a rábula do 15 a zero dos Gato Fedorento – para sacar veniaga… não! Isso é outra coisa! A senha é para sacar o tradicional lanche, o ‘clássico’ repasto daqui da Varanda da Luz, o qual diga-se ainda não conferi, porquanto assentei arraiais e comecei a adiantar serviço. E, além disso, nas três tribunas da imprensa está tudo bem composto.

A minha chegada tardia sempre permitiu ter uma perspectiva diferente das imediações do estádio, entendendo que há gente que só vem pela bejeca e sandes de courato. E de ver que, mesmo num jogo desta natureza, há uns poucos retardatários, como eu.

(lá em baixo, o jogo está, estranhamente, em ritmo frenético, nem parece um jogo do campeonato português, com excepção da eficácia das assistências ou dos remates à baliza, não tanto do Sporting, mas especialmente do Benfica)

Confesso que nem sequer sei bem que enquadramento devo a esta crónica no decurso de um derby histórico, enquanto tivemos uma semana complicada para o ânimo do país, a saber: a quarta derrota do Benfica na Champions. Dinheiro a voar e, se a fase dos oitavos já é uma miragem, um rombo financeiro para a época já está garantido.

Ah, e parece que houve também um governo que caiu, acho que de podre, porque quando se encontram 78.500 euros em notas no gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro, o grau de depravação de uma democracia atinge o fundo… ou o topo.

(e pronto, estava o intervalo a avizinhar-se, e sai-me isto: João Mário perde a bola e lá seguiu um contra-ataque até ao sueco Gyokeres que, sem perguntar a Trubin ‘para onde a queres’, mandou um fuzil às redes da baliza do Benfica)

E, pronto, chega o intervalo, e eu atrasado, e estremunhado, ainda nem sequer consegui delinear um fio condutor a esta crónica. Devia ter seguido a minha preguiçosa sugestão interna, anunciando que somente escreveria a partir do primeiro golo do Benfica na baliza do Adán – quer dizer, a baliza é um activo fixo do Benfica, ou imobilizado como se dizia em tempos de antanho (esta ficou-me desta notícia) . Enfim, estou agora aqui de cima, durante o intervalo com pena das valorosas jogadoras da equipa de futsal e de andebol e também dos pujantes (ou pulantes) jogadores de voleibol, que ganharam as respectivas supertaças, mas que são silenciosamente recebidos por um público ainda em choque com o fuzil do sueco.

(recomeça entretanto a segunda parte)

Volto a confessar – segunda confissão na mesma crónica (bom seria que outras pessoas sobre outros assuntos mais prementes e relevantes para a democracia portuguesa confessassem também, mas não a um padre para evitar o segredo da confissão) – que estou hoje pouco animado e esperançado neste jogo. Cheira a fim de ciclo e ao início de um período nebuloso para as hostes benfiquistas. Se isto não se endireita, prevejo que, esgotados os dois dérbis, até ao fim do campeonato vai isto andar em meia-casa.

(Deus existe e é benfiquista, embora com limitações, porquanto não conseguindo que o Musa dê uma para a caixa, sempre permite que o sportinguista Gonçalo Inácio se permita a levar o segundo amarelo, e a sair para o banho mais cedo)

Mesmo contra 10, o meu ânimo não é muito. Nem me apetece escrever, a bem da verdade. Fico a assistir a uns minutos de jogo sem escrever para ver a reacção do Benfica à superioridade numérica, mas nada: nenhum lampejo. Olho para a cobertura para ver se há ali uma nesga para uma intervenção divina.

Enfim, para compor a crónica, recorro ao Tiago Franco, também aqui presente, mas na bancada defronte (BTV). Escreve ele no Facebook não ser “um génio da estatística”, mas que está “em condições de afirmar que o João Mário perdeu todas, repito todas, as bolas que disputou”, sendo assim “o principal municiador do contra-ataque lagarto. Alguma teria que entrar.” E acrescenta que “no terceiro anel, qualquer pessoa com dois olhos percebe que o jogo termina nas alas. João Mário é menos um e Di Maria, hoje, também. Florentino está reduzido a passes de cinco metros e João Neves joga sozinho contra o meio-campo do Sporting (e por incrível que pareça, chega)”.

Ainda diz que “o jogo está a pedir Tiago Gouveia e [Gonçalo] Guedes por troca com João Mario e Di Maria. Agora, já, não aos 83 minutos. O jogo também pedia um treinador no banco do Benfica, mas não entremos em extravagâncias”.

Em corrosivo post scriptum, adita, por fim, que “com o Sporting reduzido a 10 e mais espaço para jogar, [Roger Schmidt] deixa o Guedes e o Gouveia no banco e mete o Tengstedt, o maior manco que chegou à Luz depois do Pringle. Se isto não é justa causa para o despedimento, não sei o que será”.

E não escrevendo eu tão bem como ele sobre matérias futebolísticas, concedo que tenha razão.

(concedo o caraças! Golo do menino João Neves, ao quarto minuto dos descontos. Ufa,ufa, ufa!)

Acho que devia retirar tudo o que o Tiago escreveu, até porque me informa ter saído do estádio, envergonhado, ainda antes dos descontos… Um incréu! Mas, enfim, eis o problema de uma crónica em directo: os seus comentários despacharam-me umas boas linhas, que agora teria de substituir. Além disso, o golo do miúdo Neves não muda um triste desempenho. Um empate do Benfica, ainda mais na Luz, sabe sempre a pouco, ó Roger! Como se fosse uma derrota…

(GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! MILAGREEEEEEEE!!!!)

Ai coração! Tive de censurar uns palavrões… Marcou fora de jogo o fiscal-de-linha. Não pode ser!… Espera, o Soares Dias em conversações com o VAR… ai ai ai ai, tu queres lá ver que o VAR vai ver melhor?

(GOLOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! É mesmo golo. Deus existe. Existe porque escolheu o ‘manco’ dinamarquês Tengstedt para revelar mais um milagre)

Tiago, estás despedido! De comentador de futebol daqui da Varanda da Luz, só, claro! Mas já te serviu não teres assistido à maior reviravolta dos tempos recentes. Roger é, afinal, grande! Ou Deus, talvez.

Vou desandar. Prefiro as minhas investigações jornalísticas…

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

Gostou do artigo? 

Leia mais artigos em baixo.