Correio Trivial

As cuecas da Ucrânia

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minuto/s restantes


Aldous Huxley escreveu: “Há três espécies de inteligência: a inteligência humana, a inteligência animal e a inteligência militar”.

Um soldado da minha Companhia, na Guiné-Bissau, não só concordava como reforçava: “É verdade, sim senhor, porque eu já ouvi, num Quartel de Cavalaria, o sargento a dizer: 18 e 23, vão dar de comer ao Serafim, e o Serafim era o cavalo. Os únicos animais que têm nome em Cavalaria são os irracionais. Os racionais, digamos assim, têm números”.

Vem isto a (des)propósito de uma notícia, a primeira em semanas, que eu li sobre a situação na Ucrânia (que anda tão afastada da comunicação social desde que Israel e o Hamas recomeçaram com a selvajaria).

blue and yellow striped country flag

Pensava eu que Portugal, até pela dificuldade em aprovar o Orçamento de Estado, deixaria de apoiar o esforço heróico dos ucranianos.

Felizmente que os nossos Ministros estão atentos e são solidários.

Nem sempre é possível conjugar a nossa vontade de ajudar com a crónica pelintrice, mas… há sempre uma solução.

Principalmente quando a decisão está nas mãos de mulheres habituadas, há gerações, a ter de encontrar soluções mirabolantes.

No passado dia 11 de Outubro, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, anunciou que Portugal se preparava para enviar “vestuário de Inverno” para equipar as tropas ucranianas nos próximos meses.

Conhecidas as baixas temperaturas que estas têm de enfrentar naquelas paragens não houve quem não concordasse com a medida.

Começámos a imaginar contentores de casacos de lã, samarras alentejanas, que fossem, camisolas de gola alta, ceroulas (que isto, na guerra, não há cá modas e os ucranianos prefeririam enfrentar dez russos a vestir uns collants, por exemplo) rumo a Kiev.

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Até que li uma informação detalhada sobre a dádiva, que é do seguinte teor:

O Ministério da Defesa vai pagar 128.135 euros para a aquisição de roupa interior feminina para enviar às militares ucranianas.

Portugal prepara-se para enviar cinco mil unidades de cuecas femininas camufladas para serem utilizadas pelas militares ucranianas.

O Ministério da Defesa português atribuiu esta quinta-feira dois contratos para a confeção da roupa interior feminina no valor de 128.135 euros.

De acordo com o contrato publicado no portal Base, o executivo vai pagar 36.900 euros a uma empresa têxtil de Guimarães para adquirir cinco mil cuecas ao preço de seis euros por unidade.

A empresa tem de entregar a encomenda no prazo de 25 dias a contar da data da assinatura do contrato.

Segundo as cláusulas técnicas do contrato, as cuecas devem ser compostas por “uma parte da frente, uma parte de trás e um reforço com um forro” e vão ser cosidas em ponto de linha dupla de quatro fios. Além disso, a parte da cintura deve ter uma fita jacquard elástica e as cuecas devem ter as cores “coiote, verde azeitona e preto” que fazem o padrão camuflado do exército.

Extracto do caderno de encargos do contrato celebrado pelo Ministério da Defesa para a compra de cuecas e tops para a Ucrânia.

Após a entrega da encomenda, a Secretária-Geral do Ministério da Defesa tem cinco dias para inspecionar a encomenda, de forma a certificar-se de que as cuecas chegam na quantidade e com as características especificadas.

Um segundo lote que prevê a aquisição de cinco mil “tops” camuflados foi assinado com uma empresa de Santo Tirso, num valor de 91.635 euros. O contrato prevê um custo de 14,90 euros por unidade.”

Sinto-me orgulhoso de ser português e de ter estes governantes a dirigir o meu País.

Não há dinheiro para mais nada?

Fazemos como as avós no Natal e oferecemos meias e cuecas.

Se mesmo assim não chegar o dinheiro, optamos por uma única dessas peças. Neste caso, as cuecas.

Atenção que não podiam ser umas cuecas quaisquer, por causa do frio.

Por isso, optaram por umas que têm “uma parte da frente e uma parte de trás” (se tivessem só a da frente seriam “ecas”, penso eu) e cosidas em ponto de linha dupla de quatro fios, com um forro, não vá a militar, no meio da luta, ter um descuido com o medo do tiroteio.

Tudo pensado ao pormenor.

Mesmo o desenho em camuflado é inteligentíssimo, não vá que a Companhia das Militares resolva desfilar com todas as mulheres nuas.

Com as cuecas camufladas passariam despercebidas, no entender da Senhora Ministra.

Se o Pedro Nuno Santos, ou o José Luís Carneiro, garantirem que, caso cheguem a Primeiro-Ministro, mantêm Helena Carreiras como Ministra, podem contar com o meu voto.

Aquilo é imaginação em estado puro.

Ouvi dizer que ela preparava uma farda vermelha fluorescente para os Serviços Secretos do Exército e não quero perder a oportunidade de confirmar essa informação.

Vítor Ilharco é assessor


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