VISTO DE FORA

O futuro primeiro-ministro e o (nosso) segundo aniversário

person holding camera lens

por Tiago Franco // Dezembro 19, 2023


Categoria: Opinião

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1.

Pedro Nuno Santos (PNS) venceu, sem surpresa, a corrida a secretário-geral do Partido Socialista. Esta é uma boa notícia para o PSD e para a esquerda em geral. José Luís Carneiro representa a versão Montenegro do PS. É o chamado “não chove, nem molha”, para não utilizar uma metáfora à Bocage.

Noto, desde já, alguma crítica fácil por parte dos analistas de direita residentes na televisão portuguesa. Impetuosidade é a primeira fraqueza apontada a PNS. Falam, criticam o gasto público, enquanto ministro das Infraestruturas, na CP e na TAP. Referem, vezes sem conta, a gaffe da localização do aeroporto de Lisboa. Dizem ainda que tem um discurso infantil e pouco preparado, como por exemplo, aquele do calote aos banqueiros alemães.

Ora, meus amigos, isto para mim são qualidades. Alguém que compreende que a ferrovia e o transporte aéreo são essenciais para o país, está a um passo à frente dos habituais ministros do betão que vivem para o lobby das construtoras.

Pensemos, em contraponto, no comportamento de Montenegro em relação ao novo aeroporto de Lisboa. Se bem se lembram, António Costa exigiu o compromisso do PSD antes de avançar com a comissão técnica que colocaria um ponto final na discussão sobre a localização do aeroporto. Montenegro aceitou. Ao fim de mais um ano de estudos e análises, a dita comissão deliberou que o Montijo seria a melhor solução para um problema que se arrasta há 50 anos. Montenegro, como seria de esperar em qualquer fantoche do capital, ignorou a palavra dada e disse que criaria um novo grupo de trabalho com o intuito de validar o estudo da comissão técnica. Nesse grupo de trabalho estão, como se sabe, apoiantes da solução “Alcochete”.

Por outro lado, a Vinci já se manifestou contra a solução Alcochete, embora Montijo não tenha capacidade para receber voos de longo curso. Visto assim, parece que Montenegro, para além de ter muita dificuldade em honrar a palavra dada, tem ainda mais dificuldade em fugir aos interesses instalados que controlam o Centrão. O interesse nacional e o fim de uma vergonhosa novela com cinco décadas parecem ser detalhes na agenda dos donos do PSD.

white airliner on runway

Como compreenderão, eu prefiro alguém que tome decisões, como foi o caso de PNS, mesmo durante uma gaffe, do que ter um governante como Montenegro que se limita a proteger os grandes grupos económicos.

Apesar de tudo, a vitória de PNS é uma boa notícia para o PSD porque permitirá a Montenegro ter alguma hipótese nas eleições. Há uma diferença de estilo, de discurso e até de propostas. As diferenças entre os candidatos permitirão ao PSD recolher alguns votos ao centro, por parte daqueles eleitores que acharão o jovem turco um pouco mais radical. Já se o candidato fosse José Luís Carneiro, a escolha seria entre uma versão má e outra menos má de Montenegro.

Os partidos de esquerda mais clássicos como PCP, Bloco e até o Livre, poderão beneficiar desta conjuntura e voltar a entrar no arco de governação e/ou acordo parlamentar. PNS continua a referir-se ao período da Geringonça como uma época de estabilidade no país. E tem razão. Não há nada que venha de bom de uma maioria parlamentar do PS ou do PSD, mas há importantes conquistas sociais que só serão possíveis com PCP e Bloco de Esquerda na negociação do programa do próximo governo.

O meu voto não vai na direção do PS, mas admito alguma esperança quando vejo um secretário-geral socialista com tiques de esquerda. Algo me diz que ainda recordaremos Costa com saudade, mas a sucessão, convenhamos, poderia ter sido pior.

2.

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Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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