Correio Trivial

Uma ideia luminosa: multar (ou roubar) turistas!

black and white abstract painting

minuto/s restantes


Os turistas que nos visitam sempre me despertaram uma grande curiosidade.

Que razões os levam a escolher o nosso país?

Consigo perceber os que viajam até Portugal para, por exemplo, visitar Fátima.

 O “turismo religioso” é um fenómeno a nível mundial e os estrangeiros não precisam mais do que ser crentes para considerarem “obrigatório” conhecer o “Altar do Mundo”.

A maioria destes visitantes é gente simples, pouco exigente no que respeita à qualidade das instalações hoteleiras e da gastronomia.

Não que não haja, nas imediações, hotéis e restaurantes excelentes, porque os há, mas a verdade é que, nas principais datas, do meio milhão de pessoas que enchem o Santuário só poucos, muito poucos, milhares são suficientes para os esgotar.

people walking on street during daytime

A imensa maioria é malta de chegar a pé, partir em autocarros e alimentar-se a pão com chouriço, sumos e cerveja.

O “turismo de saúde” quase desapareceu, com o encerramento das termas, e também porque passou de moda.

Ao contrário, o “ecoturismo” tem, agora, um grande número de adeptos dispostos a gastar bom dinheiro numas férias repousantes.

Mas o “número de camas”, neste conceito, é reduzido embora a maioria dos pequenos empreendimentos sejam de grande qualidade.

O turismo de massas, em Portugal, tem a ver com a época balnear.

Temos um litoral espectacular, em especial o Algarve, mas idêntico, ou até inferior, a outros países geograficamente perto.

white and blue concrete building

Os preços, e a reconhecida simpatia das nossas gentes, têm levado centenas de milhares de turistas a optarem pelas nossas praias o que faz com que o turismo represente 19,1% da riqueza produzida em 2022, de acordo com o relatório do World Travel & Tourism Council (WTTC), que aponta Portugal como o 5º país onde é mais forte a contribuição do turismo para o PIB.

Chegados aqui, o que fazer?

Como habitualmente, arranjar maneira de estragar tudo.

Deixámos de, praticamente, participar nas “Feiras de Turismo”, onde as empresas do ramo têm oportunidade de promoverem os seus produtos e serviços, com o fim de captar um número ainda maior de visitantes, e começámos a cobrar uma taxa aos turistas por… serem turistas.

Os últimos iluminados foram os Autarcas da Câmara Municipal de Portimão que decidiram que fosse cobrada uma taxa diária de dois euros, na época de Março a Setembro, e um euro nos restantes dias do ano, como taxa turística.

A Presidente do Município foi clara:

“Aquilo que nós pretendemos é, primeiro, fazer a divulgação do destino turístico de Portimão como um destino turístico atrativo e atrair cada vez mais outros mercados turísticos para o nosso município e, depois, na melhoria daquilo que nós temos para dar aos nossos turistas, isto é, a melhoria dos espaços verdes, a melhoria dos arruamentos, tudo aquilo que implica termos um destino turístico de qualidade e é isso que pretendemos”.

people on beach during daytime

Numa frase onde a palavra turístico surge cinco vezes, fica claro que, não fosse pelos estrangeiros, os algarvios ficariam bem com “espaços verdes” repletos de silvas e arruamentos cheios de buracos.

Havendo turistas nas nossas ruas há que arranjar estas ainda que, para tal, os obriguemos a pagar as obras.

A ideia pode parecer estranha, mas nem sequer é original.

Carlos Moedas, de Lisboa, já está a taxar os turistas que visitam a capital em viagem de cruzeiro e Eduardo Vítor Rodrigues, de Vila Nova de Gaia, decidiu que estes pagassem, também, dois euros por cada dia passado no seu concelho.

Explicou o motivo:

Vale a pena dizer que não somos os únicos: por essa Europa fora é cada vez mais usual, e bem, e não é com as taxas baixas que nós cobramos, é com taxas bem mais elevadas. Roma com seis euros, por exemplo.”

white and black cruise ship on sea during daytime

Segundo consta pretende continuar a copiar os italianos começando, desde logo, com a frase “Ir a Gaia e não ver o Rodrigues” em contraponto ao “ir a Roma e não ver o Papa”.

O pior é se esta medida, que tem mais de multa que de taxa, não vai levar a que muitos dos que nos visitam optem por passar a ir a países onde não sejam vítimas de autênticos saques.

Há uma lição, que se costuma dar a miúdos de quatro ou cinco anos, que mete galinhas e ovos de ouro.

Talvez fosse útil estes autarcas pedirem a opinião a catraios, numa creche, antes de irem para as reuniões camarárias.

Vítor Ilharco é assessor


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