A ‘cadeira do poder’ de António Costa ainda está quente – tanto que ele ainda lá está, como primeiro-ministro em gestão –, e já vemos o seu primogénito, Pedro Tadeu Costa, a ser alavancado pela comunicação social para eventuais ‘voos’ altos na política portuguesa. Findo o Congresso do Partido Socialista (PS), depois de vermos Costa ‘filho’ na SIC Notícias no domingo à noite – como é sabido, o seu tio, Ricardo Costa, é Director de Informação da SIC – a fazer comentário em conjunto com a vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD), Inês Palma Ramalho, ontem podíamos vê-lo na CNN, frente a Margarida Bolseiro Lopes, vice-presidente da Comissão Política Nacional do PSD. Há pouco tempo, Pedro Tadeu Costa também já tinha estado na CNN a defender a candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do PS.
Mas, vejamos: quais os ‘títulos’ que acumula para ser posto a “debater”, nestas estações televisivas, com duas dirigentes do Partido Social Democrata? Pedro Tadeu Costa destaca-se agora, aos 33 anos, por ser presidente da junta de freguesia de Campo de Ourique (venceu as autárquicas de 2021 por apenas 25 votos, depois de uma juíza ter negado recontagem) e também deputado do Grupo Municipal do PS na Assembleia Municipal de Lisboa. Para além de, claro, ser filho do primeiro-ministro demissionário.
De imediato, surge a dúvida: quão comum é vermos presidentes de juntas de freguesia a fazer comentário político regular? Sobretudo, como se o seu estatuto comparasse com o das duas dirigentes do PSD?
Dizem alguns que o currículo do jovem (ou deveríamos antes chamá-lo D. Pedro I, da dinastia Costa?) fá-lo meritório do espaço recentemente adquirido nos media, onde opina de forma desprendida, como se o Governo do seu pai não tivesse arrasado o país. Mas se atentarmos às suas qualificações académicas e profissionais, concluímos que o ‘palco’ mediático que tem vindo a ganhar é desproporcional. Inevitavelmente, a sensação que fica é de estar-lhe a ser pavimentado o caminho para quando chegar o dia em que já esteja ‘maduro’, poder candidatar-se a altos cargos políticos, seguindo as pisadas do seu progenitor.
De facto, olhando para o seu percurso, vemos claras semelhanças entre Costa pai e Costa filho. Ambos se filiaram na Juventude Socialista com apenas 14 anos, e ingressaram na licenciatura de Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, sendo que Pedro Tadeu Costa tem também uma pós-graduação em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE. No então, Pedro não tem inscrição na Ordem dos Advogados, presumindo-se que não se inscreveu ou não concluiu o estágio.
António Costa deu o seu primeiro salto na Política servindo na Assembleia Municipal de Lisboa. Pedro, por seu turno, começou a trabalhar como autarca na Assembleia de Freguesia de São Domingos de Benfica em 2013, passando para a Junta de Freguesia de Campo de Ourique em 2017.
Em entrevista recente, o ‘rebento’ de António Costa assumiu a sua preferência por Pedro Nuno Santos, em detrimento do seu próprio pai, para a liderança do partido. Faz sentido: a hipótese de integrar um executivo comandado pelo pai já está descartada, enquanto que, pelo novo secretário-geral, é uma hipótese cada vez mais palpável.
Poderia até pensar-se que Pedro Tadeu Costa sofre da típica vergonha dos adolescentes – pese embora estar já a caminho dos 34 anos – em relação aos pais. Mas a “vergonha” é um mal que não toca aos famosos ‘boys’ carreiristas do PS. Pelo contrário: se partilham os apelidos entre si como resultado dos laços familiares, o ‘descaramento’, a ‘arrogância’ e a ‘prepotência’ serão os seus nomes do meio.
E, se dúvidas houvesse, o Congresso deste fim-de-semana foi o teste do algodão quanto ao sentimento de impunidade e à prepotência que grassa no Partido Socialista. Durante dois penosos dias, assistimos a um deplorável espetáculo onde o lambe-botismo foi prato principal e onde os sabujos de António Costa não se coibiram de mostrar provas do seu respeito e lealdade incondicionais, branqueando o lastro de incompetência e destruição que foi o seu legado. Pelo meio, António Costa ainda fez o número do “mártir”, com a inenarrável tirada “podem ter-me derrubado, mas não me derrotaram”.
Costa, que parece crer-se uma espécie de Deus-Todo-Poderoso, pode fingir-se vítima da Justiça; mas, na verdade, é o carrasco dos portugueses. E, pelos vistos, não lhe basta: nos bastidores, os cordelinhos já estão a ser puxados para que o seu filho possa almejar, num futuro não muito distante, dar cabo do que reste do país.
Maria Afonso Peixoto é jornalista
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