DA VARANDA DA LUZ

Boavista 2.0

por Pedro Almeida Vieira // Janeiro 19, 2024


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


São 20h32, e estou na estação dos Restauradores. Se tudo correr bem, linha directa até à saída no Alto dos Moinhos, seguindo-se visita ao ‘guichet’ das acreditações [GRATUITAS, ouviste, Pedro Coelho?] para aceder ao estádio [pertença de uma sociedade anónima desportiva: será espaço público ou privado? tenho de ir perguntar aos membros da ERC que, desde a identificação do autárquico Cinema São Jorge como local privado, se mostram sapientíssimos nestes assuntos], e ala que se faz tarde… Prevejo demorar, neste percurso e processo, uns 30 minutos até me assentar na Varanda da Luz, onde espero, não só deliciar-me com o farnel do Benfica nem apenas com os golos do Cabral e do outro tipo que foi contratado ao Santos (e do qual não me lembro agora o nome de cabeça), desforrar-me da triste e única derrota neste campeonato, no Bessa, logo na primeira jornada.

Vou a tempo, por certo, de assistir aos primeiros minutos… da segunda parte!!!

Segunda parte!!! Como é possível?! Como foi possível? Como é que se eclipsou da mente o jogo hoje do Benfica. Que se passou na minha cachimónia?! Metade do jogo perdido!

Ou antes: que grande sorte a minha; afinal, é uma vantagem trabalhar num órgão de comunicação social de redacção diminuta, onde sendo eu um cronista pouco zeloso de compromissos futeboleiros, tenho um  director a quem responder… que sou eu próprio… que, por sua vez, responde, em termos de despesas, ao gerente… que sou eu.

Linda promiscuidade, esta minha. Deve estar o Pedro Coelho, jornalista da SIC e presidente do comité organizador do congresso dos jornalistas, a fazer ‘tssss-tssss’, abanando a cabeça em óbvia desaprovação desta minha conduta, enquanto assina as cartas de agradecimento à Brisa, à REN, à Mota-Engil, ao Santander, ao Milenium BCP, à Delta, à Mercadona… pelo financiamento concedido, e conta as notas dos jornalistas que, pagando-lhe(s) [as entidades organizadoras são o Sindicato dos Jornalistas, o Clube dos Jornalistas e a Casa da Imprensa], fazem ainda a cobertura sobre as desgraças onde muitos meteram o Jornalismo. Se a moda pega, esta Da Varanda da Luz vai passar a ser orçamentada. Adiante…

(chego ao estádio, dois minutos antes do fim da primeira parte, já nem vale a pena subir, decido perguntar se ainda há farnel, há sim, senhor, vamos lá então subir para a Varanda da Luz, com a sandes & companhia, enquanto descem os adeptos para o intervalo, assobiando ruidosamente, acho que não pela minha chegada [a menos que todos os que assobiem sejam ‘altos quadros’ da CCPJ e da ERC]; parece-me mais por causa da equipa de arbitragem)

Desculpado que estou por mim próprio pela falta de presença na primeira parte, que seguiu sem golos (talvez para me agradarem), espero que os leitores mostrem condescendência – ou pelo menos, a meia dúzia daqueles que me lê, sendo que uma parte deles o fazem para me criticarem de não investigar os “podres do Benfica” –, porque hoje mal dormi…

(recomeça a segunda parte, nem sei se o Benfica jogou bem ou mal na primeira parte)

… durante a noite e ao longo da manhã, deixei um artigo pronto a publicar sobre a Start Sines Campus (que parece estar bem da vida, depois de causar um ‘terramoto político’), meti online o oitavo episódio do podcast O Estrago da Nação (onde o Tiago Franco e o Luís Gomes), divulguei a análise ao cartaz do PSD feita pela Sara Battesti, que aconselho imenso…

(golooooooooo… anulado! Bolas. Di Maria marca, ainda se festeja, mas o VAR chama o árbitro, que anula por mão prévia de João Mário)

… continuando:  revi a edição da Maria Peixoto (que, entretanto, fez uma entrevista ao economista Nuno Palma, da Universidade de Manchester, a sair na próxima semana) ao texto da coluna semanal do Tiago Franco sobre a Europa, acertei com a Elisabete Tavares detalhes de um interessantíssimo projecto em mãos…

(golooooooo… desta conta: Di Maria, com centro venenoso em arco, daqueles em que ninguém toca, muito menos o guarda-redes, com a bola a entrar no cantinho)

… continuando: ainda fiz um ‘artigo’ sobre a cobertura ‘possível’ ao Congresso dos Jornalistas, face à minha recusa em pagar para fazer cobertura noticiosa: quatro rectângulos negros sobre os temas previstos no programa parecerem-me bem simbólicos. Ah, e também enviei a minha pronúncia à CCPJ sobre o processo disciplinar que Girão & Godinho decidiram presentear-me, e enderecei umas questões à ERC sobre umas ‘falhazitas’ que por lá constam no pouco transparente Portal da Transparência dos Media. Faltou-me tempo para paginar a Deriva dos Continentes, da Clara Pinto-Correia, que deve estar, com razão, furibunda pelo adiamento de uma necessária conversa para acertarmos umas agulhas. Sairá este sábado o texto, e a conversa.

(lá em baixo, no relvado, a Benfica porfia mas não marca, e, tirando ali um calafrio, o Boavista não ameaça… mas nunca fiando, no Boavista, nem confiando no Benfica)

Enfim, mas, na verdade, o meu ‘esquecimento’ da hora do jogo (ou mesmo do jogo) do Benfica não se deveu a estes afazeres, mas sim a um ‘banho de cultura’, misturado de boa conversa e melhor almoço (cabo-verdiano) com um bom punhado de boas pessoas, incluindo a ‘minha’ Elisabete e o ‘nosso’ Rui Araújo: visitei a casa-biblioteca de Daniel Nunes, um homem de uma vida excepcional e detentor de um espólio de pasmar. Tão de pasmar que, obviamente, terei de regressar, e talvez fazer mesmo umas conversas gravadas. E prolongou-se tanto esse ‘mergulho’ por conversas e livros antigos que se escafedeu o jogo…

(goloooooooooooo…. Marcos Leonardo, que marca o segundo golo na segunda vez vestido de vermelho… já na parte final dos descontos… Consummatum est).

E eu também. Ainda bem que jogo terminou. Estou estafado, ainda por cima venta por aqui um frio gélido, nesta Varanda da Luz, e eu quero ver se me meto na cama. Por hoje, fecho a loja. A crónica não está nenhuma ‘espingarda’, mas sempre me parece melhor do que o estado do lusitano Jornalismo. Mas, descansem: o Pedro Coelho vai salvar o Jornalismo do fosso, através da criação, como propôs num programa da RTP, de financiamentos similares aos da academia, por via de análise de projectos realizada por ‘peritos’ (quem?! A Mota-Engil? A Brisa? A REN? O Santander?…), que entregarão ou não dinheiro aos jornalistas. Já estou a imaginar uns ‘projectos’: “inspeccionar a acção do Governo”. CHUMBADO. “Fazer jornalismo credível e independente”. CHUMBADO. “Lamber botas”. APROVADO…


PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

Gostou do artigo? 

Leia mais artigos em baixo.