A poucos dias das Eleições Legislativas, os Partidos preocupam-se em estudar todas as hipóteses que possibilitem o aumento das suas votações.
Se é certo que todos os votos são importantes, de um modo geral, é imprescindível uma atenção redobrada quando as sondagens apontam para uma grande proximidade entre os candidatos. O que parece ser o caso.
Luís Montenegro tomou, nesse sentido, duas importantes medidas.
Em primeiro lugar, alterou completamente, e para surpresa de muitos, o sistema habitualmente usado na constituição das listas do PSD.
Começou por chamar, para lugares de destaque, nomeadamente para cabeças de lista do Porto e Santarém, alguns independentes (figuras conhecidas e respeitadas nas suas áreas).
Uma medida que não foi tomada por António Costa, quando conseguiu uma maioria absoluta, o que, com toda a certeza, lhe teria permitido um reforço na qualidade dos seus Ministros e um desempenho muito acima do conseguido unicamente com a “prata da casa”.
Sendo esta uma medida que promete bons resultados, não deixa de ter, também, alguns contras.
Desde logo a revolta de militantes que se julgavam donos de lugares elegíveis e se viram relegados para posições subalternas.
Alguns deles com destaque no partido.
Bastará lembrar que 44 dos actuais deputados do PSD (cerca de 57%) ficam de fora das listas.
Entre os que estão de saída contam-se, por exemplo, Duarte Pacheco, deputado desde 1991, e Fernando Negrão, no Parlamento desde 2002 e Presidente da Primeira Comissão.
A segunda medida foi a aposta no regresso à AD, aliando-se ao CDS-PP e ao Partido Popular Monárquico.
Os votos desses dois mini-partidos não aumentarão, em mais de 2%, a votação que o PSD conseguiria se concorresse sozinho.
Ainda assim, com os votos do CDS-PP, pode conseguir (para além de, em alguns círculos, eleger mais uns deputados) melhorar a qualidade da “bancada” com a entrada de gente competente deste partido.
Já no que diz respeito ao “Partido Popular Monárquico” a decisão foi recebida com surpresa e desagrado, nas hostes dos sociais-democratas, e gozo nos restantes partidos.
Tudo porque, é sabido, o PPM, em termos reais, não existe.
Tem uma Sede completamente destruída e os poucos que acompanham o seu líder são membros da sua família (mulher, ex-cunhada, filhas, primo e irmãos).
Gonçalo da Câmara Pereira é considerado um elemento “infrequentável”, pelos meios ligados à Causa Real, segundo testemunho prestado à revista “Sábado” e o partido, que se diz monárquico, não é reconhecido pelos membros daquela que, aliás, se recusam veementemente a votar nele.
O adjectivo que melhor pode definir Gonçalo da Câmara Pereira é “tonto”.
Deve ser dos poucos portugueses que consegue a extraordinária proeza de dizer uma parvoíce sempre que abre a boca.
É líder deste PPM (embora o seu mandato já tenha terminado em Janeiro de 2023, há um ano, portanto).
Depois de, em 2005, ter anunciado que se podia candidatar a Presidente da República, foi impedido de o fazer pelo seu irmão Nuno que lhe terá conseguido explicar, a muito custo, que havia ali uma incompatibilidade. Para além, obviamente, da que resultava da sua saúde mental.
A 21 de Dezembro de 2023 garantiu ao “Público” que não aceitava que o PPM aderisse à AD porque “Luís Montenegro e Nuno Melo são líderes fracos e não têm visão para o que se está a passar no país”.
Lembrei-me de Groucho Marx quando recusou o convite para ser sócio de um Clube selecto dizendo que “nunca aceitarei pertencer a um clube tão pouco exigente que me aceite como sócio”.
Na realidade, maior prova da incompetência daqueles dois políticos do que convidarem o PPM a integrar a coligação será difícil de conseguir.
Tentaram corrigir, mais tarde, quando colocaram o rapaz numa posição inelegível e proibindo-o de falar em qualquer cerimónia da AD, mas fica a dúvida: então porque incluíram o PPM na coligação?
Ainda assim, penso que deviam aproveitar o moço autorizando-o a fazer campanha em tabernas, por exemplo.
Já o imagino a conseguir umas dezenas de votos de outros “grunhos”, por solidariedade, depois de escutarem algumas das suas mensagens:
“As mulheres bonitas são, normalmente, burras”.
“A mulher é para o que nasce, fica com as mãos macias se lavar a louça”.
“Sou romântico, sou sensível e não sou larilas”.
“Já estou como diz o outro: quando cansado das outras vou para casa”.
Fora das tascas era seguir o conselho de um elemento do Conselho Nacional do partido:
“É mais do que evidente que terá que ter uma mordaça durante a campanha eleitoral”.
Resta saber se a tentação de repetir uma estratégia vencedora (a AD), sem ter em conta a diferença abissal entre os protagonistas (comparar Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles com Montenegro, Nuno Melo e Câmara Pereira seria um ultraje para os primeiros), não faz sair o tiro pela culatra eliminando, inclusivamente, as vantagens que a primeira das medidas acima indicadas poderia trazer.
O que, diga-se, também não traria grande mal ao nosso mundo.
Vítor Ilharco é assessor
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