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As Forças ‘Machistas’ Portuguesas

silver bell alarm clock

por Maria Afonso Peixoto // Janeiro 25, 2024


Categoria: Opinião

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Neste nosso cantinho da Europa Ocidental, com a profusão das democracias liberais e as garantias dos “direitos humanos”, habituámo-nos a uma ideia de paz permanente e cooperação. Essa será uma das razões que explica o progressivo desinvestimento nas Forças Armadas, sendo que também contribuirá certamente a crescente rejeição de quaisquer sentimentos ‘nacionalistas’ ou patrióticos.

Muitos românticos acreditam até que não precisamos de Forças Armadas, que os conflitos bélicos são uma expressão de masculinidade tóxica, e o simples desejo de vivermos todos em paz e harmonia é suficiente para este cenário se concretizar. Idealistas, têm dificuldade em entender que, infelizmente, o conflito, por vezes beligerante, é um fact of life. Em suma: sem prejuízo de tudo ter de ser feito para evitar a tragédia da guerra, tudo deve ser feito também para, no caso de nos bater à porta, sermos capazes de nos defender.

Sucede que a soberania nacional soçobrou, de várias formas. Portugal quase se tornou num país ‘satélite’ da União Europeia. Neste lugar tão pacato como irrelevante à escala internacional, as Forças Armadas foram sendo preteridas, deixadas para segundo plano. Mas sinais de alarme e gritos de socorro têm-se vindo a amontoar, embora sem efeito, caindo nos ouvidos moucos dos últimos Governos. O mais recente tomou a forma de uma carta de nove páginas enviada, esta quarta-feira ao Presidente da República, por oficiais-generais do Grupo de Reflexão Estratégia Independente (GREI), a denunciar a “insustentável situação dos militares das Forças Armadas”. Recorde-se que no último dia de 2022 o número de militares do Exército, Força Aérea e Marinha registou um mínimo histórico, com apenas 21.080 efectivos – um pouco abaixo do número de oficiais da Guarda Nacional Republicana.

No documento, apontaram a “falta de pessoal” como o maior problema, entendendo ser um reflexo da perda dos direitos dos militares nos últimos Governos, a falta de progressão nas carreiras e as baixas remunerações. E fazem uma observação bastante sibilina: “até parece que o objetivo prosseguido é depauperar as FFAA [Forças Armadas] dos seus recursos humanos, deixá-las esgotarem-se e, assim, exauridas, chegarem à extinção”. Palavras certeiras. De facto, parece mesmo haver dolo e uma intenção clara no sentido de enfraquecer as Forças Armadas. Numa Europa que ‘comanda as operações’ a partir de um núcleo reduzido em Bruxelas, até já discutindo a criação de um exército europeu, e se Portugal já abdicou de grande parte da sua soberania, para que precisa de uma Defesa robusta e pujante?

O escárnio recorrente e a aversão a demonstrações de força, que encontra o seu apogeu nos discursos de autoflagelação, penitência e culpabilização pelo nosso passado, têm como consequência natural a desvalorização das Forças Armadas. É certo que quase todos os sectores, em Portugal, estão na mó de baixo, e este dificilmente poderia fugir à regra. Mas, apesar disso, há uma evidente e concertada acção que visa a desmoralização dos nossos militares.

Os exemplos são abundantes. Começo por um que me indignou sobremaneira, sendo eu filha de um militar da Força Aérea: a nomeação de uma “socióloga” como Ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras – a “primeira mulher” a ocupar o cargo. Quisesse alguém humilhar as Forças Armadas, teria dificuldade em fazer uma escolha que melhor manifestasse essa intenção. Sim: a nomeação de Helena Carreiras foi uma flagrante humilhação.

Esta opinião pode ser impopular num ‘Ocidente’ – é apenas o Ocidente que o faz – que finge acreditar que homens e mulheres são “iguais”, e que partilham exactamente das mesmas apetências, capacidades e inclinações, mas a biologia importa-se pouco com a ideologia de cada um. A ideologia da “igualdade de género”, que pretende uma paridade absoluta, é não só contrária à natureza dos sexos; é incompatível com a criação de uma superpotência militar.

E, claro, Helena Carreiras distingue-se pela sua preocupação com as “questões de género” nas instituições miliares e a “integração das mulheres”, áreas em que concentrou a sua investigação. Em Novembro passado, chegou a falar na existência de um “machismo estrutural” nas Forças Armadas – um discurso woke e absolutamente patético, que me envergonha e repugna como filha de um militar. A senhora ministra está mais preocupada em impregnar o seu activismo feminista nas entidades que tutela, do que em dignificar os profissionais que põem a sua vida ao dispor pelo país. Um circo pegado.

E sem 2020 os generais-oficiais do GREI já tinham alertado para o estado de “pré-falência” das Forças Armadas, algumas das medidas entretanto apresentadas pelo Ministério da Defesa para remediar a situação, foram menos do que meros ‘paliativos’.

A título de exemplo, as medidas apresentadas em Outubro de 2023, são cómicas, e quase trágicas. Com vista a aumentar o número de candidatos, desceu-se a exigência: os militares podem agora ser ‘minions’ de 1,54 metros, e algumas doenças crónicas já não bastam para excluir uma candidatura. Em cima da mesa, esteve também a abertura a estrangeiros, mas a ideia ficou, pelo menos por enquanto, em águas de bacalhau.

Tudo isto seria desnecessário, se houvesse uma valorização efectiva das Forças Armadas e do seu papel. Respeite-se aqueles que se colocam na linha da frente pela defesa da nação, honrando a sua coragem e abnegação – e não espezinhando a masculinidade, qualificando-a como “tóxica” -, ao invés de lançar acusações de machismo e dissertar sobre a igualdade de género na Defesa, e talvez os portugueses voltem a querer servir o país como militares.

Maria Afonso Peixoto é jornalista


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