CARTAZES HÁ MUITOS

Bloco de Esquerda: ‘Pela habitação, não lhes dês descanso’

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Esta semana, proponho-me a analisar os cartazes que o Bloco de Esquerda (BE) colocou em circulação. Nas corridas eleitorais, a harmonia dos signos — tanto no plano da expressão enquanto significante, quanto no plano do conteúdo como significado — é um elemento crucial para o desenvolvimento da cultura política e cívica, além de ser fundamental para a própria decisão de voto. Um desses signos reside nas cores predominantes que servem como suporte para a expressão simbólica das ideologias partidárias. A força de toda a linguagem subliminar está relacionada com o acto de convencer e alcançar as metas.

A propaganda do BE para as próximas eleições evidencia-se no espaço público pelo uso exuberante da cor vermelha, evocando o estilo chinês, e fazendo alusão aos símbolos da luta dos trabalhadores e dos movimentos revolucionários. O vermelho é uma cor poderosa, carregada de energia e significado. Visualmente impactante, simboliza a luta contra a desigualdade social, a busca pela igualdade económica e a defesa dos direitos dos cidadãos. A forte presença do vermelho indica que o Bloco sente a necessidade de focar nos princípios e revitalizar os valores fundamentais da esquerda. Apesar do marcante fundo vermelho se destacar na cidade, a integração do retrato da líder Mariana Mortágua fica aquém das expectativas devido à sua simplicidade visual. Uma opção por um fundo mais elaborado com profundidade e tridimensional poderia ser mais apelativo.

Outdoor do Bloco de Esquerda, na Avenida da República, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti

A aposta em três cores contrastantes – preto, branco e vermelho – é bastante característica da estética oriental o que se adequa bem à fisionomia de Mariana Mortágua. No entanto, por limitações de formato, não permite exibir a sua imagem de marca associada aos ténis All Stars, com uma conotação, digamos, capitalista e americana. Ainda assim, o conjunto demonstra a elegância da candidata.

A mensagem “Pela habitação”, realçada por uma caixa negra, é articulada com a frase: “Não lhes dês descanso”. Este apelo pode ser interpretado de duas maneiras distintas. A primeira leitura sugere uma ordem directa aos eleitores, instando-os a não descansarem na busca por soluções habitacionais. Já a segunda interpretação é mais intricada, sugerindo que a ordem é dirigida à própria Mariana, invertendo os papéis entre representado e representante, entre quem promete e aquele que exige ou manifesta o desejo. Além da formulação ser pela negativa, o uso da segunda pessoa do singular é surpreendente, muito embora as conclusões do estudo da Pitagórica sobre as eleições de 2022, tenham revelado a preferência contínua do Bloco entre os mais jovens, até aos 25 anos. A questão que se levanta é, até que ponto essa informalidade na propaganda realmente fortalece o sentido de pertença do seu eleitorado? Essa opção sugere uma estratégia de fidelização em vez de uma campanha voltada para o crescimento ou expansão do seu eleitorado.

“Pela habitação: Não lhes dês descanso” representa um protesto claro, escolhendo um tema que afecta toda a sociedade, em particular as gerações mais jovens. Embora seja um problema relevante que aflige toda a Europa, focar-se numa questão específica pode ser interpretado como uma fragilidade, especialmente considerando a gravidade das condições de vida em vários quadrantes. Não é coincidência que outros partidos adversários optem por abordar uma variedade de temas, procurando criar conexões e afinidades com as preocupações dos eleitores, seja real ou potencial.

A campanha de rua bloquista utiliza dois formatos principais: o mupi, cartaz ao alto geralmente instalado em estruturas próprias fixadas no chão, e os outdoors de grande formato (8×3 metros). Ambos estão colocados em locais de elevada afluência, onde todos os partidos competem por visibilidade. De acordo com uma sondagem recente conduzida pela Universidade Católica, o partido prevê conquistar apenas 5% dos votos, mantendo-se atrás da Iniciativa Liberal e ocupando a 5ª posição no ranking eleitoral.

Muito recentemente, surgiu um novo mupi onde Mortágua aparece lado-a-lado com candidatos pelos círculos eleitorais, aqui ilustrado pelo candidato por Lisboa. “Para fazer o que nunca foi feito” é o slogan, numa promessa governativa mais abrangente.

Mupi do Bloco de Esquerda, na Praça Paiva Couceiro, em Lisboa. Fotografia: ©Sara Battesti

Fundado em 1999, o Bloco de Esquerda tem um logótipo que simboliza uma estrela vermelha (símbolo icónico em política) com uma designação dividida onde se realça a palavra “Bloco” e, por baixo em tamanho menor, consta “de Esquerda”. Essa opção de design que perde em termos de equilíbrio visual. Inspirado no pentagrama, sem o pentágono no interior, muitas vezes interpretado como representação dos dedos das mãos dos trabalhadores, o logótipo originalmente possui uma estrela de cinco pontas, representando os cinco continentes.

Neste caso, uma das pontas transforma-se numa cabeça, conferindo uma dimensão humana. Segundo os depoimentos do partido, o movimento da estrela (ainda que um tanto desajeitado) pretende reforçar o humanismo, sublinhando o princípio bloquista de defesa de uma cultura cívica participativa e a perspectiva do socialismo como expressão da luta emancipatória da Humanidade contra a exploração e opressão.

No retrato presente nos cartazes, a ex-comentadora televisiva Mariana Mortágua olha directamente para nós com uma expressão facial amigável e um sorriso ténue, em contraste com os líderes masculinos que costumam sorrir mais abertamente. A fotografia é cuidadosamente elaborada e destaca a sofisticação de Mariana, realçada por uma camisola de gola alta preta, à semelhança das protagonistas do filme “Kill Bill” de Quentin Tarantino. Como filha de Camilo Mortágua, um histórico activista anti-salazarista e revolucionário, Mariana é uma figura reconhecida pela sua personalidade combativa. Entrou para a política em 2013 como deputada, ganhando especial visibilidade pelos seus desempenhos nos inquéritos parlamentares à gestão do BES e, mais recentemente, no caso da TAP.

Ilustração de Ruy Otero sobre o Bloco de Esquerda.

Em Novembro de 2023, durante a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, Mortágua enfatizou a “preocupação em encontrar soluções para o país” em áreas onde diversos problemas persistem, como saúde, educação, habitação e salários. Defensora dos estados de emergência, optou por concentrar a narrativa de sua campanha na crise habitacional, que descreve como uma “pandemia social” e uma prioridade imediata para a acção do partido.

Esta estratégia mono-temática tem limitado a atenção dos meios de comunicação e, consequentemente, tem falhado em manter o apoio público de forma consistente, excepto talvez durante manifestações em prol da habitação, cuja adesão tem declinado em 2024. Os meios de comunicação, por meio de sua função de agenda-setting, determinam os temas que ocupam a mente das pessoas e a importância lhes é atribuída, o que reforça a importância de considerar a capacidade de atrair a atenção dos meios de comunicação ao definir a estratégia da campanha.

Apesar de Paixão Martins observar que, fora dos períodos eleitorais, “os partidos mais moderados geralmente têm menos intenções de voto, por não representarem causas específicas”, de acordo com a pesquisa de Mughan (1978), os efeitos da campanha tendem a reforçar as predisposições de voto existentes, em vez de transformá-las significativamente.

Há uma clara intenção do BE em voltar a posicionar-se como partido de protesto, tentando desviar a atenção de suas responsabilidades como um dos partidos que apoiou o governo anterior, liderado por António Costa, durante cerca de seis anos. O que começou como um partido com inclinações libertárias tem demonstrado ser, na verdade, bastante regulamentar, evidenciando um desejo de fiscalizar diversos aspectos da vida dos cidadãos. Alguns até brincam com essa inclinação, chamando-os de “Bloco de Chega”.

Sara Battesti é estratega e especialista em Comunicação


Avaliação do cartaz

Design: 3/5

Impacto: 3/5

Eficácia: 2/5

Média: 2,7/5


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