OSSANDA LIBER, PRESIDENTE DA NOVA DIREITA

‘Portugal tem de decidir o seu rumo, o seu destino, e tem sobretudo de estar aberto para o Mundo’

por Elisabete Tavares // Fevereiro 12, 2024


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Nascida em Luanda em 1977, Ossanda Liber iniciou a sua experiência política na Aliança, onde chegou a assumir a vice-presidência, mas desfiliou-se em Fevereiro de 2022, já depois de se candidatar como líder do movimento independente “Somos Todos Lisboa” às autárquicas de Setembro do ano anterior. Num processo com alguns percalços no Tribunal Constitucional, conseguiu criar a Nova Direita ainda a tempo das próximas eleições legislativas. Assumidamente soberanista, critica sem contemplações a esquerda e os ‘velhos’ partidos, e considera essencial um controlo total da imigração. Esta é a primeira entrevista da HORA POLÍTICA, a rubrica do PÁGINA UM que deseja concretizar o objectivo de conceder voz (mais do que inquirir criticamente) aos líderes dos 24 partidos existentes em Portugal. As entrevistas são divulgadas na íntegra em áudio, através de podcast, e publicadas com edição no jornal.


OUÇA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA DE OSSANDA LIBER, PRESIDENTE DA NOVA DIREITA, CONDUZIDA PELA JORNALISTA ELISABETE TAVARES


Qual a sensação de criar um partido novo, um partido também que quer ser disruptivo num certo comodismo que por vezes existe na cultura portuguesa?

É um grande desafio. Nem sei se tinha noção exacta do quão desafiante era criar um partido quando decidi iniciar o processo. Mas, felizmente, não estou a trabalhar sozinha, e isso ajuda bastante nos momentos difíceis para seguir em frente e manter o foco e o objectivo, que nos segurou e permitiu que tê-lo criado a tempo para concorrer a estas eleições, que são de grande importância para nós. Mas não é nada que não acontecesse já com os outros partidos, na maior parte das vezes; entre recolher os apoios… Nós recolhemos 10 mil assinaturas. Foram validadas somente sete mil e qualquer coisa, 7700, se não me engano; mas foram 10 mil pessoas a assinar. E numa altura em que a política está a cair em descrédito total, é mesmo muito difícil ter as pessoas a apoiar-nos. Não fosse o facto de as pessoas estarem com um sentimento de necessidade de mudança, teria sido quase impossível. As pessoas não querem ouvir falar em política, estão muito desiludidas, muito chateadas. Mas foi imposto aqui quase um sentimento de “olha, vamos testar outras propostas; não vamos ser nós a impedir que isso vá para frente”. E depois há uma questão muito portuguesa, que eu aprecio imenso: as pessoas gostam imenso de ajudar. Então, podem estar muito contrariadas, muito chateadas, desiludidas com a política, mas no final, com um belo sorriso, lá se vai conseguindo fazer com que as pessoas cedam. Esse foi naturalmente o maior dos nossos desafios: reunir essas assinaturas.

Em todo o caso, já tinha também experiência na política. Foi vice-presidente do Aliança, também foi candidata em Lisboa. E essa experiência também lhe traz algum conhecimento para este novo desafio…

Sim, para esta fase, em toda a preparação do processo, definitivamente. Assemelha-se muito ao processo necessário para a candidatura independente em Lisboa. Quando nos candidatámos como independentes, ao contrário do que acontece com os partidos (estão criados, indicam candidatos e já está), como independentes temos também de recolher muitas assinaturas. São 4.500 ou quatro mil, se não me engano, e recolhemos cinco mil assinaturas. Portanto, essa foi a primeira abordagem que eu tive com a política: ir à rua e convencer as pessoas de que tinha um programa simpático e, enfim, que era diferente. Tinha uma visão muito própria, e que contava com o apoio dessas pessoas para ajudar a levar essa visão à frente e apresentá-los portugueses. Então, essa experiência serviu-nos bastante agora, porque já sabíamos quais eram os pontos de resistência, como abordar as pessoas. Aprende-se muito com acção. É nisso que acredito. E nós começamos logo com uma acção com uma ousadia, de nos candidatarmos à Câmara Municipal de Lisboa. E isto valeu-nos imenso, de outra forma. Estou convencida que não teríamos conseguido criar o partido nos timings em que criámos – até porque basta ver os vários movimentos que, já há alguns anos, tentam criar um partido e não conseguem, simplesmente por não conseguirem reunir as assinaturas – sem essa experiência. Mas politicamente falando, as experiências anteriores permitiram aperfeiçoar a forma como devemos fazer políticas, adaptar ao nosso programa aquelas que são efectivamente as necessidades e expectativas das pessoas. Foi um processo de aprendizagem que agora vai continuar, mas chegámos a um ponto de maturidade que permite estar no combate.

Falou do aparente divórcio entre os portugueses e a política. Há um descontentamento, uma tristeza e um afastamento. Entende existirem motivos para isso? Sente esse divórcio?

Sim, claro que sim. Como não? Eu também sou cidadã. Antes de ser a responsável política por um partido, sou cidadã. E eu também partilho, com as pessoas, essa frustração. Por isso mesmo decidi convidar um grupo de pessoas para criar um partido político. Os partidos do arco da governação, vamos dizer assim, já não têm nada a oferecer, não conseguem. E isso não tem nada a ver com a qualidade das pessoas em si, individualmente. Eu prefiro não atribuir necessariamente a isso. Atribui-se ao facto de já ser impossível gerir partidos com aquela dimensão, com aqueles vícios de 50 anos de poder, sem alguma vez terem sido questionados. Houve sempre uma alternância, que garantiu poder, para uns e para os outros; portanto, para o PS e o PSD. E durou 50 anos. Portanto, o que é que isso faz? Cria vícios estruturais, nas próprias estruturas locais dos partidos, e dá aquilo que estamos a ver hoje: líderes que já não conseguem dirigir os seus partidos, já não mandam efectivamente nos partidos. Não conseguem levá-lo para um caminho. E, além disso, há o facto, também, de as pessoas dos partidos terem apostado estrategicamente – às vezes acho que erroneamente, mas ainda assim, fazem isso nos últimos anos – em líderes que, eu diria, são incapazes, fracos. Talvez precisamente para poder ir ao encontro de todos os interesses partidários, para não contrariar aquela via partidária. Talvez seja por isso, acredito que sim. Não temos, na política, coragem, não temos bravura, não temos espírito de combate. Ainda há dias ouvi o líder do PSD dizer: “eu não estou aqui na política para ser combatente”. Olha, que pena! Os portugueses precisam é de combatentes, de líderes que combatam pelo país. Portanto, essa desilusão [dos portugueses] está absolutamente justificada. Agora, há uma postura possível, e há muita desilusão. É desistir do país e dizer: “olha, paciência, entrego o país a quem quiser ficar com ele”. Ou então dizer: “não, este país também é meu e eu sou tão cidadão quanto estas pessoas; há pessoas certamente capazes, alternativas capazes aqui, vamos dar oportunidade a essas alternativas; não temos rigorosamente nada a perder”. Nós estamos numa fase em que devemos dar o benefício da dúvida, e é isso que eu tenho falado sempre quando estou na rua a recolher os apoios; é isso que transmito às pessoas, e elas percebem, por isso é que dão as assinaturas. É porque lhes digo: “não vamos desistir do país, porque o país é nosso, de todos nós, individualmente; cada um de nós tem um bocadinho desse país”. Não votar e não aceitar novas propostas, é exactamente isso que os partidos estabelecidos querem, aqueles que tanto mal têm feito a Portugal nos últimos anos. Não devemos ir por aí, e esta campanha também vai ser sobre isso; sobre explicar às pessoas que não devem desistir de Portugal, de forma alguma.

Podemos depreender que, como líder da Nova Direita, acredita ser possível quebrar este círculo de poder que tem sido dividido entre os grandes partidos.

Não só acredito, como eu acho que está em curso, sinceramente.

Estamos aqui num fim de ciclo, numa mudança de regime, numa mudança?

Eu acho que sim. Acho que estamos a iniciar. Atenção, não me parece que vão ser já nestas eleições que se definirá essa ruptura, mas parece-me que vai acontecer. É só observar a forma como as pessoas têm já dado crédito aos novos partidos, àqueles que emergiram nos últimos anos. Já é a demonstração de as pessoas começarem a abrir a mente. E é esse o mérito que eu atribuo, aliás, a esses partidos mais recentes: abrirem a mente dos portugueses, abrirem o coração, a alma dos portugueses, levá-las a pensar: “olha, vejam lá, não é assim, há aqui possibilidades e propostas”. Eu penso que é por aí.

Olhando para o vosso programa, têm propostas muito específicas em várias áreas. Senti, pelo menos ao ler algumas das propostas, que traz algo de novo, qno debate em torno de alguns temas que se tornaram tabu.

É verdade…

Seja porque temos uma imprensa, em geral, muito conivente com aquilo que são as políticas dos partidos do poder, e, portanto, com esta cultura que se instalou, há temas que não é possível debater. E sabemos que, se tocamos nesses temas, saem logo os chavões, uns nomes, umas acusações, que certos temas são de extrema-direita. E há que desmontar um bocadinho isto e perceber ser possível debater-se. Aliás, é saudável em democracia. Quer falar de alguns temas? Por exemplo, o combate à cultura do cancelamento, ao combate ao denominado wokismo. O seu partido quer dar um murro na mesa e a trazer obrigatoriamente esses debates para cima da mesa?

Sim, sim. Aquilo tem acontecido é que a esquerda tem imposto uma agenda. E tudo aquilo que sai da agenda determinada, decidida pela esquerda – socialismo e a extrema-esquerda também –, tudo que sai disso, é extremado, é adjectivado, é insulto. Isto é inaceitável. Quer dizer, o que é que é a política, senão um debate de ideias? É isso que é a política. É uma pessoa dizer: “olha, eu sou contra o aborto”; e outra dizer: “não, eu sou a favor”, e depois chegamos a um consenso que, de certa forma, acomode as expectativas dos portugueses. Portanto, é isso que deve ser a política. Não deve ser individualizar as coisas, não deve ser insultar as pessoas por trazerem esse debate. E depois, o que é que acontece? A direita não tem, nos últimos anos, sabido defender-se. A direita vai à boleia daquilo que é a agenda da esquerda, vai sempre em reacção. Não sou pessoalmente uma pessoa de reacção. Eu sou uma pessoa que olha para as coisas, com pragmatismo, e identifica os problemas e procura soluções. Portanto, sempre foi assim a minha vida; tanto na minha vida pessoal, como na minha vida profissional, sempre foi esse o meu papel: encontrar soluções. E os temas têm de ser abordados, porque senão vamos ficar esse tempo todo a perpetuar esse estado de bullying social, se quisermos, em que uns são os bonzinhos e outros são os maus da fita, porque falam nos temas. E isto é inaceitável. Por isso, eu e o meu partido vamos dar o nosso contributo nesse sentido. E esta questão do wokismo é uma delas. A partir do momento em que a esquerda defina que o caminho é um, aquilo passa a ser incontestável, e quem vier contestar é fascista, é extremista. Quer dizer, onde é que estamos? A esquerda tornou-se divisionista, tornou-se bastante sectária.

Ossana Liber com dirigentes da Nova Direita, aquando da entrega das listas para as próximas eleições legislativas.

E lucra com isso.

Lucra em votos, é a forma de se manterem. Não têm ideias concretas para aquilo que as pessoas precisam efectivamente de resolver. A agenda deles passa por desestabilizar para depois aparecer como o salvador da pátria, o salvador das pessoas, o salvador dos desgraçadinhos. E então, de repente, acaba por colocar as pessoas num canto, as pessoas que supostamente defende, todas elas, desde os homossexuais, por exemplo – que dizem defender, mas, na verdade, só extremam mais a posição relação a essas pessoas. Ou em relação às crianças, que eles julgam que precisam da defesa, mas não dos pais nem da família, mas sim da escola ou dos partidos. Enfim, e até a questão racial que eles instrumentalizam e colocam as pessoas numa situação de exclusão social, porque estão todos os dias a gritar: “vocês são negros, vocês são coitados e, portanto, precisam da nossa proteção; nós estamos aqui para isso”, quando, na prática, a vida dessas pessoas não mudou em nada nos últimos anos. Aparecem lá para ver essas pessoas a solicitar o voto por altura das eleições. Ao longo do ano ninguém aparece. Este é um facto que eu digo com propriedade, porque conheço; conheço a situação. No fundo, é uma falácia, uma mentira, é uma agenda que não está aqui para salvar ninguém para defender ninguém; está só para defender os interesses políticos. Quando já não houver divisionismo, quando já não houver racismo, quando já não houver discriminação, que eles tanto impulsionam, já não há extrema-esquerda. Isto é uma agenda que precisa ser contrariada. E o que vemos na Assembleia da República? Vemos um partido à direita, no caso o PSD, que não se defende, que vai respondendo ocasionalmente às situações; a maior parte das vezes até por abstenção, por incrível que pareça. Nem sequer capaz é de se manifestar claramente contra essa ofensiva. E depois, por outro lado, temos o Chega que fala de forma inaudível. Ou seja, acaba por desacreditar aquilo que pretende defender, porque às pessoas aquilo soa a populismo. Atenção, eu não sou, como deve saber, a pessoa mais crítica relativamente ao trabalho do Chega; acho importante que exista, mas, de facto, não temos equilíbrio, não temos, naquela Assembleia da República, racionalidade à direita; não existe, não existe firmeza, firmeza nas convicções, não existe determinação. É fazer aquele espectáculo triste diariamente, como se fosse um circo, literalmente. A Assembleia da República está transformada círculo pelo qual todos contribuem e, no final do dia, não sai dali nada para resolver os nossos problemas, que se vão arrastando. Problemas essenciais arrastam, como a Saúde, a Educação, as forças de segurança, que estão neste momento na rua. Está tudo a arrastar, tudo aquilo que é importante; e estamos a discutir género. Nós pretendemos trazer uma abordagem simples e de soluções para a Assembleia da República. Há um problema: vamos à procura da solução. Esse é o papel dos políticos.

E sem tabus e sem agendas, não é?

Nenhuns. Falar sobre os temas todos, como eles são. Sobretudo fazer uma coisa que até agora a direita não foi capaz: é preciso denunciar essa investida da extrema-esquerda, o impacto que tem nas nossas famílias, na estabilidade, nos nossos miúdos, que estão totalmente baralhados. Neste momento, já põe as crianças contra os pais. Repreender um filho ou contrariar qualquer coisa já é um crime. Onde é que vamos parar? Que sociedade é está? A forma tradicional como vivemos, como educamos o nosso filho, agora está tudo errado. Nós somos todos maus da fita, os pais não estão à altura, não temos capacidade de cuidar dos nossos filhos. Isto não é viável. A esquerda [Bloco de Esquerda] tem o slogan: “não lhes vamos dar descanso”. Espero chegar ao ponto em que a Nova Direita esteja na Assembleia da República, e pode ter a certeza de que quem não lhes vai dar descanso somos nós.

Quais são os seus objetivos actuais? Conseguir chegar à Assembleia da República? E para o futuro?

O normal seria, para um partido que tem pouco tempo [inscrito no Tribunal Constitucional em Janeiro deste ano], embora estejamos a trabalhar há já algum tempo, esperar um resultado adequado ao tempo que estamos na política. Porém, há vários fatores e variáveis. Nós temos um programa, e o país precisa de um programa, as pessoas precisam de um partido que lhes diga: “olha, vamos falar sobre esses assuntos, estão aqui as soluções, vamos debater isso, vamos discutir, vamos levá-la à Assembleia da República”. As pessoas precisam disso e, por incrível que pareça, a esta data [N. D. a entrevista foi realizada a 30 de Janeiro], nenhum partido de direita… por acaso não é verdade; acho que foi há dois dias, se não me engano, se começou a apresentar os programas da direita; e à esquerda também foi no final da semana passada. Portanto, estamos a um mês e pouco das eleições e ninguém tem um programa sério. Quando se vai ver o programa que lá está, é mais do mesmo: não dá esperança, não dá futuro, não há nada.

Mas perguntava-lhe quais são exactamente os vossos objectivos nestas eleições…

Há um partido novo que já vem com as ideias muito consolidadas, não é? Mas também há sobretudo aqui uma urgência em reforçar a direita. E eu penso que os portugueses precisam disso, porque há alternativa à esquerda é a direita. Não há meio termo. E essa alternativa não se está a fazer, por motivos absurdos, por uma questão de egos dos líderes dos dois partidos da direita que estão na Assembleia da República, que não se entendem, que têm aqui uma oportunidade de ouro de contribuir para virar o país, e começar a dar uma outra perspectiva, um outro caminho ao país. Mas não fazem por uma questão de egos. Simplesmente, definiram linhas vermelhas, sabe-se lá porquê, como se, de facto, esse partido alguma vez tivesse estado no poder. No caso do PSD, está a fazer linhas vermelhas para o Chega; o Chega diz depois ao PSD, muito bem, se vocês forem para o poder, nós até podemos viabilizar, mas depois mandamos abaixo na primeira oportunidade. Quer dizer, que loucura. Claramente, não há, a esta data, se a configuração for essa, se eles assumirem a palavra que deram, que não se vão coligar, é inviável imaginar um Governo da direita. Daí que até pode se fazer um Governo, porque o PSD até vai procurar os seus parceiros que, atenção, já não acrescentam nada ao país, que já deram tudo aquilo que o país já rejeitou, inclusive nas últimas eleições, mas ainda assim investiu nesses parceiros. Mas não vai ser estável, porque, não há dúvida nenhuma, a direita vai crescer, toda junta. Portanto, alguém acreditar que seja possível um Governo de direita com um só partido não é viável. Daí que, voltando à questão das nossas expectativas, estamos a mais ambiciosos do que simplesmente fazer um caminho normal. Sabemos ser absolutamente imprescindível que a Nova Direita entre para a Assembleia da República, precisamente para criar essa ponte entre esses dois partidos, são duas máquinas que aí estão, mas que não nos servem para nada, não estão a servir os interesses de Portugal. Eu sei da minha capacidade de fazer pontes, e de fazer as pessoas sentarem-se à mesa, e conversarem por um interesse maior, que é o interesse do país. Espero somente que tenhamos o tempo e oportunidade de chegar ao máximo de portugueses possível para nos darem esse voto de confiança, e aí sim viabilizar essa mudança, porque, de outra forma, já sabemos o que vai acontecer daqui a dois anos, se tanto: novas eleições. E isto não é método, não é? E o país continua parado, estagnado, enquanto brincamos aos políticos. Nós temos a ambição de um resultado suficientemente expressivo para poder influenciar este Governo de direita que, provavelmente, se vai proporcionar, e sobretudo dar-lhe estabilidade. E também dar visão, que é tudo o que as pessoas precisam; uma visão de futuro, uma visão para jovens, uma visão para os velhos, uma visão para vida, para as famílias. Estamos expectantes que algumas pessoas que tivemos oportunidade de contactar e de conhecer o nosso programa votem em nós.

Sente que a Nova Direita tem de desmontar um pouco a ideia de que a direita é má? Tem havido muito essa tentativa de colocar na população a ideia de que tudo o que é de direita é má. E hoje quase não se fala em direita. Tudo aquilo que não seja a agenda da esquerda e da extrema-esquerda, acaba rotulado de extrema-direita, e nem sequer se pensa mais nisso. O que é um absurdo…

Isso é a propaganda, a máquina de propaganda da esquerda, que tem o controlo das nossas instituições. É terrível. Não se fez o 25 de Abril para isso, não é? A esquerda tem, de facto, o controlo de todas as instituições, das universidades, das escolas, das da imprensa; enfim, eles controlam tudo, é uma máquina autêntica, máquina de controlo e de propaganda. E, portanto, é natural que assim seja. A direita não tem tido lideranças, salvo algumas exceções, capazes de mobilizar o eleitorado da direita, de mantê-lo unido por forma a fazer frente a isso, porque as nossas liberdades estão em causa. Estão sempre apontar o dedo por causa das nossas escolhas, mas que coisa é esta? Como é possível que a esquerda venha dizer ao eleitorado: “vocês são todos uns idiotas, porque votam naquele partido; nós não queremos saber de vocês: vocês são os maus do país”? Onde é que estamos, não é? Qual é a diferença entre isto e um país do Terceiro Mundo, onde há um controlo absoluto.

Temos cartazes [do Chega] a serem queimados, não é?

Mas é exactamente isso: cartazes a serem queimados, pessoas a serem canceladas nas redes sociais. Quantas vezes tentaram fazer isso a mim? Eu vou logo avisando: não tentem cancelar-me, porque não vai acontecer; a mim não me cancelam. Eu tenho a minha palavra, sou livre, absolutamente livre. Felizmente, não tenho ‘malas’ políticas nenhumas, não tenho nenhum passivo político, não dependo da política para viver; portanto, comigo estão tramados, e não vai haver isso, não me vão cancelar e não me vão calar. Eu vou defender os meus interesses e os interesses daquelas pessoas que eu me proponho representar. Eu não quero que os portugueses se sintam intimidados, com medo no seu próprio país, porque existe um grupo de pessoas que não suporta a diferença, que não suporta as diferenças, que não suporta o debate, que tem medo de debater. Isso não é aceitável numa democracia, e eu espero a poder levar a minha voz corajosa para precisamente defender estas pessoas.

E o acto de queimar cartazes, por exemplo, também é uma forma de intimidar a população…

Claro que sim. Isso é um acto de desespero absoluto. A esquerda está a ver o que está a acontecer. Nós estamos a ver, eles também estão a ver. Esta é uma forma de intimidar, sem dúvida, mas a esquerda só trabalha assim, com a intimidação, não é com a com a esperança que trabalham; é com a intimidação.

Com o medo…

É com medo, é com: “olhem isto”. Aquela imagem é forte, é uma imagem num cartaz a queimar, a incendiar; é forte. No limite, as pessoas ficam com medo de ir votar. Pode ter impacto sobre algumas pessoas, que pensam: “se calhar não vou votar, e se calhar até queria votar naquele partido, mas não vou”.

Vai dar confusão…

Exactamente. E sobretudo distrai também. No partido Nova Direita, estamos a tentar passar aqui uma palavra, debater a limpo – ou seja, está aqui proposta, vamos falar sobre os temas que estão aqui em causa – e acabamos depois por não ter espaço, porque depois o espaço mediático é todo ocupado com esse tipo de coisas.

Com este fumo…

Puro fumo, não tem interesse nenhum na vida das pessoas.

Então vamos falar das vossas propostas da Nova Direita. Tem um programa extenso. Há alguns temas que são mais mediáticos actualmente, e que são, se calhar um bocadinho mais centrais nas preocupações dos portugueses. Por exemplo, a crise do Serviço Nacional de Saúde, também a crise na habitação. Começando por estes dois temas, quais são em concreto as propostas que destacaria para resolver os problemas na Saúde e na habitação?

Relativamente à saúde, o diagnóstico é relativamente simples: não há capacidade do Serviço Nacional de saúde para fazer face à demanda [procura]. E depois tem diante de si um serviço privado, que é bom; felizmente, até há uma alternativa privada, mas ao qual nem toda a gente consegue aceder. Se existe uma alternativa ao [sector] público, que permita efectivamente ser um complemento ao público, para ajudar o sistema nacional de saúde a fazer face à demanda, qual é a solução? Casar os dois; é ter a excelência em termos de capacidade – e até a capacidade de crescer, de se pagar, que normalmente o privado tem. Portanto, a ideia aqui é conciliar os dois [sistemas] para que nós, como cidadãos, possamos realmente escolher para onde é que queremos ir, se queremos ir para o público ou se para o privado. E como isso se faz? Através da cobrança de uma taxa moderadora para quem quiser ir para os privados – uma taxa razoável, 20 euros, já muito perto do que já estivemos a pagar nos hospitais públicos. Felizmente, há muita gente que tem a possibilidade de pegar nesses 20 euros, e depois o resto, naturalmente, seria um contributo do Serviço Nacional de Saúde. Isto automaticamente descongestionava e deixava espaço ao público para atender todas as outras pessoas, todas aquelas que, por um qualquer motivo, até mesmo por uma questão, não possam ir para o privado. E também para aquelas especialidades que são normalmente garantidas pelo público, porque o privado não faz tudo. E de repente tínhamos um serviço de saúde a funcionar. Aliás, só não se faz isso por uma questão ideológica, porque vende às pessoas que o Estado tem de fazer rigorosamente tudo. É isso que alimenta o socialismo, a ideia de que o Estado tem de fazer tudo, o Estado é o pai da Nação e que faz tudo pelas pessoas. Mas não é verdade. Temos aqui serviços privados fantásticos. Até porque o [Governo do] Partido Socialista, neste momento, já está a fazer isso. Não sei se já lhe aconteceu assim, mas a mim já, ter um serviço marcado no público e, de repente, recebo uma mensagem a dizer: “olhe, sua consulta afinal está marcada no hospital privado tal, a consulta ou exame, o que for. Portanto, neste momento, por baixo da mesa – como muito faz o socialismo quando não quer assumir publicamente que errou ao terminar com as com as parcerias público-privadas [PPP] – fazem isso, porque a situação está a chegar a um ponto inacreditável. A direita não tendo esse problema [ideológico], não tendo esse tabu de fazer recurso aos privados para ajudar, tem condições para implementar isso muito rapidamente. E isto felizmente é consensual à direita e, portanto, penso que a partir do dia 10 de Março seja possível implementar esta medida. E isto faz-se muito rapidamente: os privados estão muito habituados, já têm recebido pessoas do Serviço Nacional de Saúde. Temos serviços de excelência, temos empresários fantásticos nesta área e, portanto, pensamos que esta é a solução rápida, imediata, para resolver a questão, porque aquela história de tentar competir, para onde vão os médicos; os médicos são sempre tentados a ir para o privado, têm outro tipo de condições, têm mais vida, têm mais tempo para as suas famílias. As condições são, normalmente muito atractivas. O [sector] público dá outro tipo de estabilidade, mas o privado tem outro tipo de condições.

Quanto à questão da habitação, esta é uma área que eu conheço. E é simples: não há casas suficientes, não há outra regra na habitação que determina os preços que não seja a lei da procura e da oferta. Na verdade, o problema é simples: não há casas suficientes, o mercado está esgotado, há muito mais gente à procura do que a oferta de casa. Portanto, tem de se fazer mais casas. É verdade que há outras pequenas medidas que podem ajudar – a descentralização e propor às pessoas irem viver para outras zonas –, mas Portugal está centralizado, neste momento, nas grandes cidades. E não é possível no imediato resolver desta forma, por isso temos de facilitar a construção, porque não nos falta espaço para construir, felizmente. Temos de encontrar aqui uma forma, um compromisso, com o Estado e com os privados, para que possam construir mais, construir em boas condições. Facilitar e desburocratizar os licenciamentos e atrair investidores do mobiliário, que é um sector muito difícil. Atenção, há momentos muito bons, mas há momentos muito difíceis para o sector imobiliário, para o sector da construção; portanto, é preciso também trazer alguns incentivos, trazer estabilidade legislativa. É preciso que as leis sejam estáveis e que não mudem todos os dois anos conforme a necessidades eleitorais do Partido Socialista. Não pode ser assim; tem de haver estabilidade para as pessoas investirem, porque realizar o lucro nesse sector leva tempo. Os incentivos que existem hoje são muito curtos. E a partir daí entram rapidamente casas para o mercado e resolvemos o problema. Vejamos: um senhorio só joga com os preços se souber que a pessoa que procura não tem escolha, porque senão ele é obrigado a baixar; isto não é mistério nenhum. Nós queremos sempre ter as casas arrendadas, quando somos proprietários das casas; se eu não tiver pessoas à procura, naturalmente baixo preço. E havendo pessoas a entrar para Portugal todos os dias, novas pessoas, então a única solução é haver mais casas. Esta é a abordagem que queremos ter na política: o problema é este, e a solução até já existe. Não estamos a inventar nada. Não é a Ossanda e a Nova Direita que estão a inventar essa solução: é a procura versus oferta, que se tem de resolver.

Na Educação também tem uma proposta que passa pela implementação de um cheque-ensino, ou seja, que os portugueses possam também ter a possibilidade de escolha entre o ensino público e o ensino privado.

O conceito é exatamente o mesmo. Na origem dos problemas está exactamente a mesma coisa: o Estado não tem essa capacidade para gerir tudo, para gerir tanta gente, não tem capacidade de ser tão competitivo nas condições que oferece a muitos professores. Há boas escolas privadas. A Saúde e a Educação são sectores que o Estado tem mesmo de assumir – eu sou por um Estado Social –, só que não vai assumir tudo sozinho porque não é capaz.

E a verdade é que a elite política, e não só, recorre na Saúde e na Educação aos sistemas privados.

Exacto. E então por que não se dá essa possibilidade aos portugueses? Não sou apologista de que as pessoas estejam a beneficiar de uma tarifa ou de propina quando têm possibilidade de pagar por inteiro. Eu acho que tudo tem de ser adequado às necessidades das pessoas, porque não tem de ser de forma discriminado. Nós vivemos num sistema social de solidariedade social e eu não me importo de pagar impostos, desde que sirvam precisamente para esse tipo de objectivos: garantir que as pessoas que não conseguem sejam ajudadas, e as que conseguem são capazes de contribuir.

Hoje parece existir um sistema de castas, com uma parte da população que mal tem acesso a Saúde e à Educação dentro do que existe, e depois uma outra casta, digamos assim, que tem acesso ao ensino e à saúde no sector privado.

Quando me falam em discriminação, muitas vezes é isso que eu digo. Nós temos um problema de grande discriminação social, porque quem não tem dinheiro tem mesmo muita dificuldade em crescer, em educar os seus filhos em condições minimamente compatíveis com as possibilidades do país. Portanto, na verdade, o que se faz é isto: esta pessoa nasce naquele bairro, cresce naquela escola – aquela escola onde, quando faltam professores, é mesmo dela que vamos tirar, porque está ali escondida, ninguém diz nada – tem um centro de saúde que é uma desgraça, mas não há problema; a pessoa está ali no seu gueto e, portanto, está tudo bem. É como se nada como fosse. Esse é o grande problema a resolver no mundo ocidental, que já não é aceitável. Sabe, eu nasci num país [Angola] que não é ocidental e que, ainda por cima, vinha de uma guerra e depois da independência começou uma guerra civil. Ainda apanhei na minha primeira infância, um serviço ainda bom, porque ainda era aquilo que vinha do tempo colonial, as coisas ainda estavam mais ou menos orientadas. Depois, a guerra veio interromper isso e deixou-se de formar pessoas, então era tudo mau. Sei muito bem o que é serviços que não funcionam. Eu sei muito bem o que é não ter hospitais em condições. Eu sei muito bem o que é as pessoas terem de esperar nos corredores. E eu nem era sequer de uma família particularmente pobre. Era uma família normal angolana, não há nada de espectacular, mas de facto imagino como seria com as pessoas que ainda tinham mais dificuldades do que a minha família. Portanto, eu sei o que é haver escolas que acabam por não ter um banco ou acabam por não ter um ar condicionado com aquele calor que faz. Ainda há dias denunciaram na imprensa uma escola que não tem sequer condições para aquecer as turmas e os miúdos têm de ir com cobertor. Eu vi tanto isso em África que, confesso, não estava à espera, de todo, em encontrar isso em Portugal. Quando cheguei a Portugal há 20 anos, não era nada disso. Os serviços do Estado sempre falham de alguma maneira, mas com os meus filhos eu tinha condições para os levar ao privado, mas eu optava por os levar ao [Hospital] Dona Estefânia, e quando estava em Coimbra, levava-os ao hospital de Coimbra. Estava contente, contentíssima, até porque meu pai é médico [cardiologista] e eu sempre tinha aquela cultura de que os hospitais públicos são melhores do que os privados. Hoje, se calhar, já não é razoável pensar assim. Mas eu, com as crianças, com aquelas doenças respiratórias, cheia de medos nos primeiros filhos, então sentava-me ali na Dona Estefânia, esperava minha vez e saía de lá com aquilo resolvido. Portanto, eu assisti a essa degradação e hoje chegamos a um ponto em que eu estou a fazer quase um déjà vu daquilo que vi na minha infância. É inaceitável para este país. Se havia algo que funcionava aqui, eu falava com o meu pai médico – faleceu há pouco tempo – e ele dizia-me: há pessoas que dizem que este país é pobre, mas quem dera a muitos ter a pobreza desse país. Porque tinha de facto a Saúde e a Educação que funcionaram muito bem durante muitos anos. E de repente…

É uma questão de gestão de recursos?

É uma questão de opções políticas, simplesmente. Isto é que custa mais. Não é por ser o pobre. Todos os dias dizem que o país cresceu; ainda hoje disseram que cresceu dois e não sei quantos por cento. Então, e para onde vai esse dinheiro? E serve a quem? Se não temos essa capacidade de segurar aqueles serviços básicos, que é para isso que pagamos os impostos. É isso que tem de mudar. Essas decisões políticas estão a condicionar a vida das pessoas, e eu espero que aquele eleitorado que tem alimentado, de forma inconsciente, naturalmente, mas que tem alimentado, esta máquina socialista, essa esquerda – que fazem mil e uma promessas e acabam por segurar as pessoas por meia dúzia de tostões –, e que agora estão a ser vítimas desta situação, se dêem conta daquilo que estiveram a alimentar durante esse tempo todo.

Mas existem alternativas, ou seja, a resposta não passa só pelos grandes partidos, não é?

Claro que claro que não, mas principalmente pelo facto de hoje os partidos grandes, nem que tivessem vontade, já não conseguem reformar. Todos os escândalos que se vêem na televisão é porque já não há controlo nenhum. São verdadeiras máfias instaladas localmente, e não e não há nada que se possa fazer porque já estão demasiado instaladas. Daí ser importante um recomeço. Esse recomeço tem de acontecer e só os partidos mais recentes, que não têm esse passivo nem esses compromissos, como é o caso da Nova Direita, podem efectivamente ainda fazer reformas, porque não devem favores a ninguém. Veja, por exemplo: em tempos houve uma situação de um de um deputado que saiu de um partido para o outro; e no dia em que sai, descobre-se que andava a declarar fazer falsas declarações de morada. Acha que o partido não viu? Acha que o PSD não sabia disso? E por que não fez nada? Só se lembrou de denunciar isso quando, por vingança, ele saiu? Porque está assim, porque é assim que está feito, neste momento, para assegurar aquela máquina. Os líderes partidários têm de fechar os olhos. Eles sabem que isso está a acontecer. Por isso é que é inviável pensar que são estes partidos que vão trazer as soluções. Não podem.

Também é uma questão moral…

Não é só moralidade, é soluções. Eu acho muito importante a manutenção dos valores morais, falo muito neles, mas neste momento de resolver os assuntos, sanar, pôr um travão a essa usurpação do país pelos partidos, porque os partidos enriqueceram. Desde o 25 de Abril enriqueceram, estão todos ricos, todos fantásticos, cheios de imóveis e tal. Quem empobreceu foi o povo. Por isso, fazemos algumas propostas. Isso levaria um programa a falar sobre elas, mas do ponto de vista da democracia, em si, também consideramos que passa por aí, uma espécie de reset, de recomeço. Pensarmos se queremos mesmo um sistema assente nos partidos e na sua agenda partidária ou se não valia a pena adoptarmos um sistema presidencial em que confiamos os destinos do país a uma pessoa que tenha, em princípio, um tipo de compromisso para com o país. Contra mim falo, não nasci em Portugal, pelo que, de acordo com a lei atual não poderia ser Presidente. Portanto, digo-lhe isto com franqueza, porque acredito que é necessário fazer esta reforma.

Um outro tema no vosso programa é a reforma, digamos assim, da política de migração. E estamos a falar tanta da ‘fuga’ de jovens portugueses para fora, de jogos e pessoas com qualificações, como o inverso, isto é, pessoas que fogem de países onde há problemas. E aqui há uma política que se tem tentado fazer ao nível de uma inclusão destes imigrantes no mercado de trabalho e na cultura em Portugal. Qual é a vossa postura relativamente àquilo que deve ser a política em torno da imigração, ou seja, da entrada deste fluxo?

Eu vou usar uma expressão popular: Portugal não é a casa da Mãe Joana. Percebe o que eu quero dizer. Todos os países soberanos têm de ter uma estratégia migratória.

Mas essa posição é hoje muito mal vista…

Temos pena, mas nós vamos falar sobre esse assunto. E, uma vez mais, eu tenho legitimidade. Eu sou uma portuguesa originária da imigração, portanto estou muito à vontade para falar sobre isso.

Defende, portanto, algum controlo…

Algum controlo, não; total controle. Soberania significa muita coisa. Não está só escrita num papel. Também significa que as instituições do país determinam aquilo que querem que aconteça no país, têm um plano e um projeto para o país, e que o respeitem. Neste momento não existe uma estratégia de migração, que pense em vários fatores, como a pertinência económica dos imigrantes. Como vamos alojar estas pessoas? Onde as vamos pôr? Como vamos incluí-las na sociedade? Como vamos garantir que são pessoas que não trazem problemas de criminalidade para Portugal? Isto tem de ser pensado, como é que isso se faz, para antecipar problemas.

Pensa que há mesmo um descontrolo actualmente?

Total, total. Começamos a ter algum retorno desse descontrolo quando se identificam pessoas de alta criminalidade. Se investigar, vai saber que a polícia tem identificado casos, porque há pessoas que podem ficar cinco anos em Portugal e ninguém saber que estão cá. Temos de ter um controlo, independentemente de estarmos inseridos num espaço comum, sobre quem entra em Portugal. Desde a origem, devemos saber se aquela pessoa, aquele candidato a imigrante, digamos, é pertinente para Portugal, porque assim evita aquelas questões: “olha, os estrangeiros estão a roubar o nosso trabalho; olha, nesta área, agora estão a privilegiar os estrangeiros, quando eu estou aqui e posso fazer esse trabalho, e por que foram buscar lá fora”. Enfim, esse tipo de discurso – às vezes exagerado, e muitas vezes exagerado – tem, em algumas situações, fundamento porque realmente não há uma estratégia. Uma vez mais, eu gosto de mencionar as minhas experiências. Quando eu cresci em Angola, e julgo agora também – já estou fora há muitos anos –, havia isso [controlo de imigração], sabe? E nunca ninguém chamou Angola de país racista. Experimente ir morar para Angola e vai ver as dificuldades para conseguir um título de residência. Eu não estou a dizer que seja ideal ser assim, mas, de facto, se aquele país, apesar de todos os problemas, se manteve seguro – é um país seguro, tem os seus problemas de criminalidade, como todos os outros, mas é sobretudo interna que acontece nos países que têm bandidos –, nunca teve grandes problemas de criminalidade porque soube sempre quem estava em território nacional. Sempre fez um filtro, sempre tinha uma estratégia clara de imigração. O país era muito apetecível na altura, e então, de facto, determinaram se algumas regras para que os interesses dos imigrantes não se sobrepusessem aos interesses dos próprios cidadãos. E é isso que nós temos de fazer em Portugal, simplesmente.

Além da questão das grandes redes de criminalidade…

Não só. Não estamos a falar só da criminalidade. Felizmente, há instituições externas que também controlam isso, e acho que aí mesmo a Polícia Judiciária e as nossas forças de segurança, apesar de tudo, vão conseguindo gerir, talvez por isso também estejamos ainda com alguma segurança.

Mas Portugal precisa de imigração, de mão-de-obra, não é?

Aquilo que estamos a propor é definir, primeiro, que imigração Portugal precisa do ponto de vista da pertinência económica. Qual o perfil dos imigrantes de que precisamos e queremos. Segunda, o critério da proximidade cultural, que parece um critério banal, mas não: garante a coesão social e garante que as pessoas vêm para cá por serem mais próximas. Se nós privilegiarmos quem é mais próximo culturalmente de Portugal, porque fala a língua, porque tem uma história em comum; se nós privilegiamos essa imigração, menos problemas teremos. Os nossos problemas de imigração só começaram quando começou a haver emigração do resto do Mundo, porque enquanto foram dos PALOPs, nunca Portugal se queixou da imigração.

Mas isso não contraria aquilo que tem sido também a política ao nível da União Europeia, que tem levado os países a aceitar um ‘pacto’ no sentido da entrada em massa de imigrantes?

Nós estamos a ver agora o resultado. Os países estão em pânico. Não há nenhum tema que se sobreponha, neste momento, ao tema da imigração na política europeia, mas isso tem um motivo: aquilo que se fez ao longo dos anos foi receber de qualquer maneira, sob pretexto de sermos a zona geográfica mais inclusiva, a mais amiga dos refugiados. E não é só por isso; também se deve ser a alguma dívida moral do Ocidente para com determinados países, acabando por abrir as portas de qualquer maneira. Mas isso não é justo, não é bom, e também lhe digo: não conheço nenhum imigrante em Portugal ou algum português proveniente da imigração que tenha interesse de que o país passe a ser inseguro. Aquilo que a esquerda diz é que falar agora da imigração é ser discriminatório, é ser racista. Eu convido-a, com seu microfone, a ir a um bairro de imigração perguntar se, para aquelas pessoas, interessa que Portugal receba pessoas de qualquer maneira, quando elas mandam os filhos de manhã para escola no autocarro, se elas têm receio que rebente uma bomba, que uma menina que venha da escola possa ser violada. Ou que o próprio emprego dessa pessoa – que já está aqui, que já está integrada, que está bem – seja posto em causa, porque, de repente, abre-se o país de qualquer maneira e entram números descontrolados e depois não temos controlo sobre o que essas pessoas requerem como habitação. Eu não sou apologista de que, neste preciso momento, seja este o maior dos problemas, mas pode vir a tornar-se. Está tudo muito centralizado nas grandes capitais, portanto é natural que quanto mais pessoas estiverem [cá], pior será o problema de habitação. Como não se tem nada disso em conta. Perguntem às pessoas se querem isto. Nós temos de falar claro.

Temos conhecido algumas situações terríveis de imigrantes alvo de redes, que são trazidas para cá e depois vivem em condições de quase de escravidão, sem condições de habitação…

Mas essa é a questão. Quem está, de facto, a ser racista, sabe quem é? É precisamente a esquerda, que abre as portas de qualquer maneira e não se importa se as pessoas vão viver para a rua. Isto não é contraditório o que eles dizem? Defendem tanto, tanto os interesses, mas não querem saber. As pessoas chegam e estão a morar em tendas; e sem falar que também já há portugueses a morar em tendas. Há imigrantes a morar, aos 15 num apartamento. Num apartamento não; quem dera!; num quarto. Num quarto moram 15 pessoas, 20 pessoas. Mas é isto que Portugal quer? É isso que é fazer bem? Não é. Com certeza que não é. A nossa proposta é: vamos controlar; é normal que os países controlem. É assim que é. Os países soberanos têm mesmo de definir as suas leis de imigração. E não é a Europa que nos tem de impor, não é a agenda europeia que deve contar. Nós temos os nossos próprios interesses, temos os nossos eixos de interesses, que não são necessariamente os dos outros países. [A imigração dos] PALOPs nós facilitámos, eu acho muito bem que assim seja, E depois a Europa pôs-se a gritar, que já não achava bem, quando, na realidade, quem traz para o território europeu grande parte da emigração problemática não é Portugal ainda. Mas neste momento está a começar, porque eles saem desses países, porque começa a haver movimentos contra essa migração de massas em todos os países. E onde se vêm refugiar, neste momento? A Portugal. Então, nós vamos ter esse problema em breve, e para sanar isso, para terminar isso, temos de começar já a definir regras nos nossos serviços diplomáticos. É para isso que servem, neste momento. Pagamos tanto por serviços diplomatas, mas não sabemos muito bem para servem, porque os portugueses que recorrem a esses serviços não são atendidos atempadamente. Muitas vezes preferem vir tratar do cartão de cidadão a Portugal, porque não conseguem tratar lá [nas embaixadas ou consulados], porque não os atendem? Portanto, não sei o que estão a fazer, se não controlam a imigração para Portugal, se não prestam serviço aos portugueses, eu não sei o que estão a fazer. Como vê, há muita reforma a fazer, mas tudo é exequível; só é preciso ter os políticos certos nos lugares certos.

Algumas das medidas que têm falado, também são medidas que contrariam muito daquilo que tem sido a cultura e as políticas da União Europeia e da Comissão Europeia em concreto. E falou numa questão de soberania, e não é só na União Europeia e na Comissão Europeia que tem havido sempre pressão sobre os países para impor determinadas políticas. Por exemplo, temos, ao nível da Organização Mundial de Saúde a proposta de alterações ao Regulamento Sanitário Internacional. Também a criação do Tratado Pandémico, e há, de facto, muitas dúvidas, e determinados defensores dos direitos humanos e dos direitos civis estão a colocar muitos pontos de interrogação devido à possibilidade de se criar um quadro que pode retirar soberania aos países para gerir, por exemplo, crises sanitárias. E vindo uma nova pandemia haver uma dificuldade de os países poderem tomar as suas próprias decisões. Como lida o vosso partido com tipo de intromissão?

A intromissão, nesse aspecto, na questão sanitária, mas em todas, na questão militar, simplesmente põe em causa a soberania dos países. Vamos lá ver: a União Europeia era para ser uma União e não uma Fusão. É muito diferente. E uma União significa que os países mantêm a sua soberania, e depois partilham interesses comuns.

E não é isso que está a acontecer…

Há uma tentativa clara de uma fusão. Transferiu-se a soberania dos países para Bruxelas; Bruxelas decide a nossa vida e sem que sejamos chamados a opinar. Impõe as regras cá dentro. Nós somos claramente um partido soberanista. Portugal tem de decidir o seu rumo, o seu destino, e tem sobretudo de estar aberto para o Mundo.

E integrado na União Europeia…

Sim. Não ponho em causa, porque… a única coisa que nós exigimos é voltar àquilo que esteve na génese da União Europeia: era uma União Económica, se bem se lembra; não era para transferir o poder para lá. Hoje, ouço os nossos eurodeputados dizerem: “olha, aconteceu isso em Portugal; eu vou-me queixar à União Europeia”. Mas estamos a brincar ou quê? Então, mas é cidadão português ou cidadão de Bruxelas? Quem são aqueles burocratas de Bruxelas para decidirem aquilo que se passa em Portugal? Muitos deles nunca puseram cá os pés, nem sabem onde é que isto é. Portanto, nessa questão, nós somos absolutamente soberanistas… Sabe, fomos atraiçoados um bocado pelos acontecimentos, mas, de facto, a nossa primeira campanha teria sido para as eleições europeias de 9 de Junho. E agradava-nos muito, porque temos uma visão muito clara sobre como queremos ver Portugal, por uma razão: Portugal acomodou-se nessa questão da União Europeia, basicamente cedeu em soberania para ganhar dinheiro, um dinheiro que claramente serviu certamente para muita coisa, mas não serviu para o país se tornar soberano e próspero.

Para poder resolver estas situações de crises que temos tido…

É só mesmo isso para apagar fogos. É isso que tem sido. Houve algum desenvolvimento de infraestruturas, mas, se reparar, os grandes hospitais, por exemplo, não foram, foi depois do 25 de Abril que foram feitos. Nós temos uma visão muito própria sobre isso e a nosso caminho era para passar pela União Europeia e ir impor uma voz firme; dizer: “oh, meus senhores, Portugal existe; Portugal é um país soberano; e muito bem, nós estamos aqui para debater os temas de interesse comum, mas quem manda em Portugal são os portugueses”. Isso não significa fechar o país. Quando muita gente ouve falar em soberania, pensa que é fechar o país. Não, não, pelo contrário. Por acaso, eu até quero essa liberdade para Portugal por uma razão: isso vai permitir que Portugal reate o seu eixo histórico. Por exemplo, tem o seu eixo europeu – a União Europeia, estamos geograficamente aqui –, tem o eixo regional – que é a Península Ibérica, muito mal explorado precisamente por causa da União Europeia – e também tem o eixo histórico, toda essa portugalidade que anda por aí pelo Mundo, que nós abandonamos, que o país abandonou. Em muitos casos isso acontece porque estamos todos virados para a Europa, uma Europa francamente decadente, francamente decadente economicamente, em termos de valores e de segurança. É totalmente dependente, como vimos agora da guerra da Ucrânia, sem lideranças. E é esta que está, de certa forma, a gerir as nossas vidas.

Está muito refém dos Estados Unidos…

É verdade. Ela própria [União Europeia] também não é tão soberana quanto isso, porque depois vai a boleia da agenda americana. Isto não é método, e sobretudo numa fase em que o Mundo está a mudar, e está a mudar mesmo. É um facto; isso já não é uma miragem, não é algo que vá acontecer no futuro.

Aliás, o vosso partido tem propostas – e não chegamos a falar nisto ainda – de haver um Ministério do Futuro e trazer para Portugal as tecnologias, as novas inteligências artificiais…

Exacto. Esse sector é um dos reflexos, um dos testemunhos de que a Europa está enganada, está atrasada naquilo que está a acontecer no Mundo, não está a ver bem as coisas. Não existe uma grande tecnológica europeia. Não é inacreditável que, com 400 milhões de habitantes e sendo a segunda maior economia mundial, a Europa não tenha uma grande tecnológica? Aquilo que se faz na Europa são de empresas americanas. Portanto, a Europa está a ficar para trás. Portugal tem de olhar para isto e dizer: “ui, pronto, muito bem, não vamos abandonar os nossos compromissos, necessariamente, nós queremos continuar unidos aqui com os nossos irmãos geográficos; é fantástico, adoro viajar pela Europa, não ter de apresentar passaporte, gosto muito dessa ligação de estudantes; mas não parece que seja o melhor para Portugal, de facto, ceder a soberania, as decisões do rumo que Portugal quer dar ao país”. Acho que temos que reatar relações com o eixo histórico – estou sempre a referir esse eixo histórico, porque o capital de portugalidade que está a ser desperdiçado é inacreditável.

Um Portugal mais forte vai também ajudar a criar uma Europa mais forte? Acredita que esse cada um dos países europeus tornar-se mais forte é positivo?

É muito positivo. Aliás, o facto de a Europa estar a absorver a soberania é precisamente por causa do desequilíbrio que existe. Há dois ou três países, se quisermos, que alimentam a Europa toda. Não é razoável. Por isso é que a Europa não tem fundamentos para nos fazer acreditar que vai perdurar tal e qual ela como está hoje, em termos de União. Não é sustentável, dois ou três países a Europa.

E já tivemos o Brexit…

Sabemos que agora há movimentos, há políticos a emergir, a favor da saída da União Europeia. Não é o nosso [Nova Direita]. Por acaso não é o nosso. Nós consideramos ser possível ainda ir negociar as condições da nossa permanência na União Europeia. Mas não há como manter isto assim nesse estado. Para a nossa prosperidade, se me perguntar: “então, como vê a economia portuguesa?” Eu vou dizer-lhe, como toda a gente diz: “olhe, temos de baixar imediatamente impostos…

… é uma das vossas propostas…

E temos, e temos; é incomportável, até porque será um estímulo à produtividade, um estímulo ao mercado, um estímulo à economia, desanuvia as empresas, enfim, tem uma série de vantagens.

Mais em concreto, pretendem baixar em 5 pontos percentuais o IRS, que é aplicado ao rendimento, e também uma forte redução da carga fiscal para as empresas…

Exatamente, porque isto vai permitir que as empresas tenham alguma folga, tenham tesouraria, para pagar atempadamente. Temos de pensar que a base é muito má. As empresas portuguesas não têm dinheiro, e assim vai permitir dar outra dinâmica, dinamizar a economia. Mas não vai acrescentar valor, não vai dar riqueza, é preciso não nos iludirmos. Aquilo que vai dar riqueza e encontramos fontes de rendimento, o país tem de ganhar dinheiro, tem de produzir dinheiro. E como se faz no estado actual das coisas? Nada. Não temos nenhuma indústria, não temos indústria. Portanto, é preciso reindustrializar Portugal, em primeiro lugar; segundo lugar, em termos de recursos… Lembre-se que a guerra que está a acontecer hoje no Mundo é uma guerra de recursos. Países que têm recursos são os que vão mandar no Mundo. Ponto. É o caso da Rússia, com a sua energia; a China com recursos humanos; [os Estados Unidos da] América, que tem os seus recursos naturais. Esses é que vão sobreviver. É disso que se trata. A Europa é, infelizmente, pobre em recursos e em pessoas. E então como se sobrevive nesta transformação geopolítica? Criando, uma vez mais, uma certa soberania económica. E soberania económica não se traduz em dizer que só vamos viver do que se faz em Portugal. Isso não é viável, não é. Já chegámos a um ponto de organização a económica do Mundo em que isso já não é possível, mas podemos olhar para aquilo que nós temos, e pensar onde vamos buscar. É como fazemos nas nossas casas quando o dinheiro está a faltar. Dizemos: “eh pá, onde é que eu vou buscar? Qual é o recurso que eu tenho? Está a faltar a comida, e vou raspar ali o frigorífico ou produzir pão; não sei, mas tenho que dar de comer aos meus filhos”.

Optimizar…

Tem de se ter essa visão. Em concreto, propomos um recurso daquilo que nós já temos: o nosso mar, que hoje serve essencialmente para deslumbrar os nossos olhos e serve para turismo, mas pode servir para muito mais do que isso. Temos uma vasta área da Zona [Económica] Exclusiva e podemos aproveitar para várias coisas, para o sector naval, que já foi próspero, mas que agora se resume a uma indústria de mil e qualquer coisa funcionários. É absurdo. Estamos numa posição geográfica que nos permite, de facto, trabalhar na manutenção da náutica, e costumamos ser muito bons em tudo que é especialidade. Acredito que podemos desenvolver-nos a partir da:, temos em Viana do Castelo o estaleiro que nos permite também, se quisermos, arrancar com um projeto dessa natureza. Temos a questão da energia. A Europa – agora já menos claro, porque é flagrante a mentira – tem feito acreditar que é com as turbinas de vento e o sol, que é absolutamente intermitente, que vamos resolver os problemas energéticos. É uma grande mentira. Não vai acontecer. Nós propomos a energia nuclear, porque temos a matéria para isso. E sobretudo, porque é duradoura, que é estável, e permita a reindustrialização. Se tivermos uma energia barata teremos condições de sustentabilidade de todo este projeto que estamos aqui a apresentar. Mas ainda no mar – e saindo da energia nuclear –, temos a possibilidade de produzir energia através do mar. Ou seja, o mar serve para alimento – de facto, hoje comer peixe é para ricos, essa é que é a verdade – e serve para nos dar energia e serve também para o desenvolvimento da indústria farmacêutica, que é uma indústria muito rentável. Muitas das maiores empresas mundiais são farmacêuticas. E, de facto, há matéria-prima proveniente do mar que permite desenvolver a indústria farmacêutica. Enfim, temos aqui o nosso mar, e não usamos para quase nada, o que é totalmente absurdo. Portanto, é possível sair da situação em que estamos com os nossos próprios recursos.

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