Eu sou o Néscio.
Eu sou o que acreditava nas bombas de destruição massiva que estavam debaixo dos colchões de Bagdad. Acreditei porque me fascinava ouvir o Tony Blair – ponderado, lógico, estratégico. Também depois acreditei no Obama, e depois percebi que se fartaram de construir muros com ele, que nunca acabou a tortura aos islâmicos, que nunca terminou guerra nenhuma. Mentiram-me várias vezes. Assumo, sem titubear, que caí.
O Néscio, que sou, acreditava no plano de construção de um Portugal moderno, feito por Cavaco Silva, quando chegámos à Europa. Fui um seguidor do Torres Couto nas formações da UGT, com dinheiro da CEE. Acreditava que os Bancos eram geridos por gente séria e não entendia nada do subprime, nem acreditava que a bolsa fosse um jogo onde nos podiam tramar. Nunca me passou pela cabeça, que colocassem produtos que nos fazem mal, nos alimentos, como os corantes, indutores de sabor, viciantes. Jamais me passava pela cabeça que os árbitros alterassem um jogo de futebol. Nunca acreditei que a indústria farmacêutica colocasse preços especulativos nos seus medicamentos para tratar e salvar pessoas. Eu acreditei em tanta coisa, e empenhei-me na defesa de tantas ideias. Possivelmente sou o Néscio.
O incrível de tudo é que ainda tenho fé! Depois deste texto, talvez devam desconfiar das minhas certezas, porque:
1 – Acredito que vamos repensar os seis mil milhões de euros que estamos a perder com o fecho das centrais de carvão do Pego e de Sines.
2 – Acredito que o Ministério Público tem explicações para o golpe de estado que demitiu António Costa e o governo da Madeira. Tenho a certeza que vão demitir a Procuradora da República.
3 – Estou convicto de que os médicos vão abrir o SICO – eVM, e por fim, ver como não existiu qualquer mortalidade pandémica abaixo de 50 anos, mesmo em 20 de Janeiro de 2021 (o pico da doença em Portugal).
4 – Tenho a certeza que Zeinal Bava explicará como perdeu mil milhões na RioForte. Alguém justificará como se gastaram três mil milhões na TAP para depois a vender por preço muito inferior ao “investido”. Joe Berardo mostrará como se enriquece com empréstimos.
Enfim, sou um Néscio que deu em protestar! Não consigo ficar indiferente à falta de vergonha do “método comentador” para influenciar a percepção que os ouvintes tiveram dos debates entre candidatos. Não consigo silenciar as dúvidas que se me colocam com a agenda dos novos moralistas. Os embandeirados, transportam suas insofismáveis garantias sobre a imoralidade alheia.
Eu, Néscio, que acreditava em quase tudo, agora tenho incertezas sobre o clima, sobre o sexo, sobre a Educação, e sobretudo sobre a evangelização ideológica. Não quero ser doutrinado! Não quero ser induzido religiosa ou ideologicamente.
Diogo Cabrita é médico
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