PEDRO SOARES PIMENTA, PRESIDENTE DO PARTIDO DA TERRA

‘Considerar a produção de energia nuclear em Portugal é absurdo’

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Aos 47 anos, Pedro Soares Pimenta comanda o Partido da Terra desde 2020. O psicólogo e empresário, residente em Leiria, lidera o partido fundado em Agosto de 1993 pelo conceituado arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, na altura, com a denominação Movimento Partido da Terra (MPT). Nestas eleições legislativas, o MPT concorre na coligação Alternativa 21, com o partido Aliança. Anteriormente, o Partido da Terra já teve dois deputados na Assembleia da República e dois eurodeputados. Depois de ter sido impedido pelo Tribunal Constitucional de concorrer às eleições europeias, em 2019, o partido prepara-se para se apresentar com candidatos nas europeias, em Junho, a sonhar com uma presença no Parlamento Europeu. Esta é a 14ª entrevista da HORA POLÍTICA, a rubrica do PÁGINA UM que deseja concretizar o objectivo de conceder voz (mais do que inquirir criticamente) aos líderes dos 24 partidos existentes em Portugal. As entrevistas são divulgadas na íntegra em áudio, através de podcast, e publicadas com edição no jornal.


OUÇA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA DE PEDRO SOARES PIMENTA, LÍDER DO PARTIDO DA TERRA, CONDUZIDA PELA JORNALISTA ELISABETE TAVARES


Começo por perguntar, já que estamos numa numa altura de campanha eleitoral, o porquê de o Partido da Terra, desta vez, decidir avançar em coligação com o partido Aliança, sob o nome Alternativa 21?

Agradeço o convite feito pelo jornal pelo PÁGINA UM e congratulo e mando um abraço a todos os portugueses que nos estão a ouvir e que nos vão ler. Nós, por natureza, e quem nos conhece, sabe que vamos sempre sozinhos a todas as eleições e a todos os círculos. No entanto, houve uma convergência de ideias entre os líderes, tanto do Partido da Terra –  no qual eu me incluo –, e os líderes do Partido da Aliança para conseguirmos fazer um projeto realista para o país, sem demagogias, pragmático, mas principalmente um projeto de desenvolvimento. No fundo, estruturado para que consigamos sair deste círculo vicioso, negativo, que os partidos, os governos de esquerda nos têm vindo a habituar. Chegámos a esse entendimento entre os doi partidos e decidimos avançar. O nome do Alternativa 21, é exactamente isso, uma alternativa para o século XXI. Muitos dos portugueses com quem nós falamos, tanto a nível do Continente como nas ilhas, nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, dizem: “nós votamos sempre nos mesmos porque não existe outra alternativa”. Existe uma alternativa e essa alternativa é a Alternativa21.

Pedro Soares Pimenta (Foto: Captura a partir de imagem de debate na RTP)

Outra coisa que eu tento explicar às pessoas de uma forma muito simples – porque estou na política desde 2015 e sou presidente do partido desde 2020 – , e até costumo brincar: quando Deus criou a Terra e Deus criou Portugal e os portugueses, certamente quando passou por cima de Portugal não definiu que apenas o Partido Social Democrata e o Partido Socialista é que fossem as pessoas com capacidade ou com a sapiência suficiente para poder governar o país. Não, não é isso. Todos os partidos – o Partido da Terra, e eu pessoalmente, somos um bocadinho à parte daquilo que os outros fazem – cada um defende a sua dama. Mas eu digo de uma forma muito frontal: todos os partidos têm pessoas válidas. Todos os partidos têm pessoas com capacidade. Todos os partidos têm pessoas que conseguem levar os seus projetos e conseguem levar Portugal para melhor. A questão é que, sistematicamente, desde o 25 de Abril, só jogam dois partidos: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata. Isto também muito por culpa – não querendo desprezar o trabalho da comunicação social e dos jornalistas – da comunicação social que existe em Portugal. Porque, sistematicamente, alimenta, de uma forma quase absurda e ilógica e quase grotesca, os partidos com assento parlamentar. Vê-se até nos debates que existem.

Nas televisões, por exemplo.

Não é uma coisa que eu acho completamente absurda. Dão uma hora a dois candidatos e depois dão duas horas a 14 ou 15 ou 16. Isto é desqualificar os outros partidos.

Parece que há partidos de primeira e de segunda, que há uns que são melhores do que os outros.

Mas isso há. Isso está visto em Portugal. Falo por mim: do Partido da Terra, eu sei; do Aliança, também, porque houve aqui uma convergência de ideias para conseguir fazer um manifesto eleitoral. Mas há outros partidos que nem me passa pela cabeça o que é que eles defendem ou deixam de defender. E há outros que eu, por iniciativa própria, nem quero saber. A questão é mesmo esta: muitos dos portugueses não têm as condições da liberdade de saber quais são os projetos do Partido da Terra, os projetos do Aliança, os projetos de uma coligação porque não é possível, porque não chega lá.

A que se deve essa posição dos grandes grupos de comunicação social? Tive a experiência de, ao fazer alguma pesquisa para estas entrevistas da HORA POLÍTICA, encontrar mais informação sobre diversos partidos na imprensa local ou regional, do que propriamente em grandes meios de comunicação social. A que se deve esse tipo de atenção que é dada aos maiores partidos por parte dos grandes grupos de comunicação social?

Não costumo, por natureza, dizer mal de jornalistas. Não digo, não digo. Conheço alguns. Até porque a culpa nem é propriamente dos jornalistas, mas da máquina que faz funcionar todo este mundo. Muitos jornalistas, quando estão em início de carreira, recebem a recibo verde.

Há precariedade.

É precariedade. Têm um trabalho que não é garantido, nunca sabem o dia de amanhã. Se dizem aquilo que não devem, o mais provável é não seja renovado o seu contrato e depois vão para ‘o olho da rua’. Isto acontece de uma forma mais natural do que aquilo que as pessoas alguma vez imaginam. Não estou a falar dos jornalistas, mas do polvo que existe à volta dos próprios meios de comunicação social.  Não sei se já teve oportunidade de ver quais são as propostas do Partido Socialista em relação aos meios de comunicação social.

Não vi?

O Partido Socialista, uma das coisas que quer é rever as competências da ERC. Nem sei porque é que RC existe porque não cumpre aquilo para que foi criada. A partir do momento em que existe a tal desqualificação em que existem os partidos de primeira e os partidos de segunda. Não sei para que é que a ERC existe, não faço a mínima ideia. Há outra questão, querem aumentar a participação do Estado na agência Lusa.

Pedro Soares Pimenta com Jorge Nuno de Sá, líder do partido Aliança (segundo a contar da esquerda), e Nuno Afonso (primeiro a contar da direita), fundador do Chega e que concorre, agora, como independente, pela coligação Alternativa 21, no círculo de Lisboa. (Foto: D.R./Alternativa 21)

Não concorda com isso, por exemplo?

A agência Lusa, já tem nomeação política. A direção da agência Lusa já é de nomeação política. Muitas pessoas não sabem o que é agência Lusa. Se você questionar, grande parte dos portugueses não sabe. A agência Lusa é a central que gere comunicações de notícias em Portugal. A agência, Reuters é internacional. E há mais algumas. A Lusa tem uma importância crucial para a neutralidade das notícias para todo o território português. Ora, se existe um governo que quer ainda entrar com mais força na agência Lusa, controlar a agência Lusa. o que é vai acontecer? Vai acontecer que quem lá está vai controlar a informação.

E todas as notícias que saem da agência Lusa são depois disseminadas em todos os órgãos comunicação social, sem alterar uma vírgula. Portanto, tudo o que sai na agência Lusa é depois replicado, é feito um copy-paste em todo lado.

É tudo replicado. Vou lhe dar aqui duas situações. Não vou falar nomes para não haver aqui confusões. Nós enviamos comunicados para alguns meios de comunicação social regionais e para o meio de comunicação social que, neste caso, é a Lusa. Como é possível fazermos um comunicado e não sair em rigorosamente meio nenhum?

Tenho recebido indicações de vários partidos de que isso tem acontecido. Ou seja, que enviam vários comunicados de imprensa para a agência Lusa e para outros meios e que nunca conseguem que haja notícias sobre esses comunicados.

Dê uma explicação plausível para que isto aconteça. Não me consegue dar, nem eu lha vou pedir para não por a a sua posição em causa.

Tenho feito muitas críticas, enquanto jornalista, sobre várias situações. É também por isso que estamos, por exemplo, a fazer esta iniciativa, HORA POLÍTICA, porque sentimos que não existe diversidade e o pluralismo que deveria existir na comunicação social.

E eu aceitei porque quando me disse que iam contactar com todos os partidos, eu disse logo: sim senhor, se assim é, vamos embora e eu estarei totalmente disponível. Mas há um segundo ponto de que quero falar. Houve dois meios de comunicação social – um deles foi por telefone e o outro foi por vídeo para colocar no telejornal das 20h, foi nos Açores… Posso dizer, porque revoltado. É um jornal que é do Estado, que é controlado pelo governo regional dos Açores. Estive cerca de 45 minutos a responder a tudo aquilo que o jornalista me perguntou. Houve uma parte em que eu me enganei. Em vez de dizer “estamos aqui para defender os Açores”, enganei-me e disse “Algarve”. E depois rectifiquei: “peço imensa desculpa, não é Algarve, é Açores”. Enganei-me por uma simples situação: eu tinha estado no Algarve no dia anterior e tinha estado lá está a fazer um discurso. Quando sai no jornal a peça, de 45 minutos, passou para uns 8 segundos. E passou exatamente o quê? A parte em que eu me enganei. Isto não é seriedade, é ser malicioso.

Pedro Soares Pimenta no XI Congresso do MPT. (Foto: D.R./MPT)

Tem havido quem defenda que haja injecção de dinheiro dos contribuintes em grandes grupos de comunicação social. Tem havido uma crise. Grupos têm dívidas gigantescas, nomeadamente dívidas ao Estado. É o caso da Trust in News, que é a dona da revista Visão. Tem uma dívida enorme, mais de 11 milhões de euros, ao Estado. Também é uma coisa que é inexplicável. Depreendo que, se calhar, não estará muito de acordo com isso. Qual é a sua posição?

Não é uma provocação, é uma rasteira. Como eu disse, o problema não são os jornalistas, o problema são os grandes grupos. Realmente, é uma coisa que me surpreende a mim, como é que se deve 11 milhões de euros ao Estado, com a situação e com a qualidade de jornalismo que a Visão, por exemplo, tem tido nos últimos anos, por vezes algo tendenciosa, mas a qualidade está lá. Eu faço outra pergunta: como é que o Estado, como é que o Governo, deixou que a dívida acumulasse até estes níveis?

Se for outra empresa, se for de outro setor, se calhar já não pode.

Ora, aí está. Se a Elisabete ou o Pedro Pimenta dever 100 euros às Finanças, ou se tiver uma pequena empresa e falhar com uma obrigação fiscal, que é que vai acontecer, passados dois ou três meses? Cai o Carmo e a Trindade. Como é que estes grupos conseguem? De uma forma muito clara. Porque está tudo dentro do sistema. Quando estiver lá um partido, a coisa é de uma forma, quando estiver outro partido, a coisa é de outra forma. E os dois partidos são sempre os mesmos. Eles sabem para onde é que vão lidar. A RTP é do estado. Não vão cuspir no prato onde comem. É evidente que eles não vão dizer mal, descaradamente, do governo. Quando o fazem, está muito mal do Governo. E é um sinal, é um indício, que aquele governo está a prazo. É estranho, mas é verdade. Vou dizer outro caso. Isto é verdade e é uma daquelas coisas que eu gostava que houvesse jornalismo independente e de investigação a sério… Infelizmente, em Portugal, parece que deixou de existir. Mas, gostava que houvesse jornalismo a sério, de verdade, que fosse investigar todas as localidades, os concelhos e freguesias pelo país fora. Porque vão ficar surpreendidos. Porque há um determinado partido que, quando ganha a Câmara [Municipal], das primeiras coisas que faz é contratar os elementos dos jornais regionais ou locais para assessores nessa determinada Câmara. E, depois, financia esses determinados jornais, como apoio do município.  Isto pode chamar-se muita coisa. Na minha terra, chama-se “meter a manta por cima de quem pode fazer barulho”.

Sobre a questão da visibilidade de alguns partidos junto dos portugueses, até para que saibam que existem alternativas, existem ainda a questão do financiamento das campanhas eleitorais. O nível de subvenções é também muito diferente entre uns e outros. Mas os pequenos partidos, quando há uma multa, muitas vezes não são poupados. Há multas de milhares de euros por inconformidades.

Temos uma particularidade. O Partido da Terra já teve contas penhoradas pelo Tribunal, porque não pagou uma determinada multa, para a qual até existia um acordo feito. Foi uma confusão, entrou um presidente, saiu outro. Mas tem toda a razão. Nós vamos avançar com queixa para o Tribunal Europeu. Nós já contactámos outros partidos para nos unirmos. Ninguém quer, não percebo. Mas nós vamos fazer [uma queixa] por várias razões. Uma delas foi: proibiram-nos de ir às eleições europeias, em 2019, e agora permitiram que o Chega fosse às regionais da Madeira. A situação é idêntica. Ou melhor, não é idêntica. A situação do Chega é muito pior do que a situação do Partido da Terra, quando nos impediram de ir às eleições europeias, em 2019. Não nos podemos esquecer que cinco anos antes, nós, no Partido da Terra, tínhamos conseguido dois eurodeputados. Ou seja, impediram-nos de ir em 2019. Não estou a dizer que o partido até conseguisse eleger alguém. Mas haveria de, pelo menos, um eurodeputado que foi eleito, ou pelo partido A ou pelo partido B, que não iria. Porque aí os votos iriam ser divididos.

(Foto: D.R./MPT)

Então, porque é que houve essa dualidade de critérios? O que é que se passa?

Tiveram medo do Chega. Do MPT, não tiveram medo nenhum. ‘Chumbaram’, não fomos. Tinham-nos dados razão antes de entregar os papéis para eleições. Não nos deixaram ir a eleições. E, depois das eleições, voltaram a dar-nos razão no Tribunal Constitucional. O Tribunal do Círculo do Funchal permitiu… Havia uma deliberação do Tribunal Constitucional a dizer que o Chega não tinha os órgãos diretivos para poder ir a eleições, por causa daquela confusão, em que alguém contestou os órgãos sociais do partido etc. E o Tribunal Constitucional disse: o Chega não tem direção. Para todos os efeitos, de grosso modo, é isto:  não há direcção, de facto. O Tribunal do Funchal, aceitou ou foi feita uma reclamação. O Tribunal Constitucional disse que não, que continuavam a bater na mesma tecla, a dizer que não havia possibilidade, que a direcção do Chega não tinha legalidade para decidir, nem quem eram os candidatos, nem quem e como é que iriam a eleições. Portanto, não havia legalidade naquela direcção.

Mas avançou tudo, portanto, não houve questão.

O Tribunal do Círculo do Funchal bateu o pé e disse “vai, vai, vai”. E o Tribunal Constitucional, em última instância, disse: “OK, pode ir”. É incrível, isto não é democracia, é um absurdo. É ilógico, é uma anormalidade. As razões que invocaram para o Partido da Terra não poder concorrer às europeias em 2019 eram muito menos gravosas do que a situação do Chega nas regionais da Madeira. E porque há dois pesos e duas medidas. Porque é que o Chega se tornou ‘papão’ e todos têm medo de o deitar abaixo?

E as sondagens estão a dar um valor próximo dos 20% ao Chega. Como é que vê as sondagens e os resultados que têm sido divulgados? Embora saibamos que as sondagens muitas vezes não mencionam partidos como o Partido da Terra.

Bom, neste caso, a coligação Alternativa 21.

Exactamente, estamos aqui a falar do Partido da Terra, mas nestas eleições vai em coligação.

Há cerca de dois anos, quando foram as legislativas, lembra-se, quando faltava cerca de 5 ou 6 dias para acabar a campanha, quem é que estava em primeiro lugar, destacado?

Não, já não me recordo.

Era Rui Rio. As últimas sondagens, 4 ou 5 dias antes, davam Rui Rio e o PSD como estando à frente de António Costa, mas 36 para 28, ou algo assim, desse género, já não me lembro ao certo. Mas Rui Rio estava muito à frente. Resumindo, o Partido Socialista teve uma maioria absoluta. As sondagens valem o que vale. O Chega crescer… É normal que cresça porque a população está descontente. A população está descrente, a população não acredita na palavra de um político. A população vê a política como algo muito negativo. Depois aparece um populista, um demagogo. Por tudo aquilo que o que o doutor André Ventura diz é praticamente impossível de aplicar, até pela Constituição portuguesa. Agora está a ser desmascarado por vários meios, porque as propostas que ele apresenta, até financeiramente não são viáveis para o país. Só que as pessoas se reveem nesses discursos que fazem no Chega. Tem uma equipa, presumo, deve ter uma equipa que trabalha muito bem e diz assim: “os portugueses estão descontentes com as torneiras em plástico; OK, então vamos agora dizer que as torneiras em plástico não prestam e que nós defendemos as torneiras em metal”. E lá vem o Chega defender as torneiras em metal. Uma semana depois: “espera aí que o ‘pessoal’ está descontente porque os carros têm pneus borracha; vamos a público dizer que têm de ser pneus de plástico”.

Ajusta um bocadinho àquilo que sente que é a vontade da população.

Depois tem uma máquina brutal nas redes sociais. A máquina mais forte nas redes sociais que eu conhecia, era a do Bloco de Esquerda, que estava muito bem implementada, trabalhava muito bem. Neste momento, o Chega conseguiu ultrapassar o Bloco. É, a nível de máquina nas redes sociai, a divulgar informação..  E quando eu digo máquina, não é dizer que é o Chega que divulga. Não. São personagens, indivíduos que criam páginas que criam perfis para divulgar toda uma imagem, notícias, toda uma informação. E as pessoas começam a ser massivamente bombardeadas com aquilo e vão atrás. Um dos nossos motes é falar da direita de uma forma séria. Temos de falar daquilo que o Chega fala. Todos temos de falar. Nós temos de falar da imigração descontrolada. Temos de falar dos polícias. Nós temos de falar do Sistema Nacional de Saúde, embora o Chega fale pouco disso. O primeiro a falar da imigração ilegal… Isto chegou ao cúmulo da estupidez. O primeiro que falou da imigração ilegal, e daí contestar as políticas que a esquerda criou, foi Pedro Passos Coelho. Foi o primeiro a falar sobre isto. Quando houve a ‘geringonça’, política abriu as portas de Portugal a qualquer um que quisesse entrar, sem averiguar e sem verificar de onde é que vinham, o que é que tinham feito. E Pedro Passos Coelho – que, para mim, foi um grande político, e é um estadista – e ele [chamou a] atenção que isto é negativo. Temos de saber de onde é que eles vêm. Tudo aquilo que André Ventura agora está a dizer de uma forma quase raivosa, Pedro Passos Coelho já disse isto de uma forma mais ponderada e até de uma forma mais realista e concreta. Isto não é novidade nenhuma. É evidente que quando Pedro Passos Coelho disse, ele avisou: “atenção, que isto vai acontecer”.

Já foi há uns anos.

Foi, salvo erro, em 2016 ou 2017. Mas ele disse: “atenção, que isto vai acontecer”. Evidentemente, aconteceu. Todos sabíamos que ia acontecer. Ora, André Ventura e o Chega agarram no mote e agora que está a potenciar tudo isto.

Falando agora da coligação Alternativa 21, no caso do Partido da Terra, tem um histórico em termos de ter candidatos eleitos. Entre 2005 e 2009, teve 2 deputados na Assembleia da República nas listas do PSD, na altura era liderado, salvo erro por Pedro Santana Lopes. Em 2014, como também já referiu, teve dois eurodeputados no Parlamento Europeu. Foi o primeiro partido ecologista a seguir aos Verdes, a consegui-lo.

Acho que os Verdes entraram em coligação com o PCP.

Além dos vários candidatos eleitos em termos de eleições autárquicas e também na Madeira. Quais são os objetivos agora, em coligação?

Infelizmente, são dois partidos que jogam, são dois partidos que movem, são dois partidos que estruturam a informação, que não permitem que pequenos partidos consigam mostrar e desenvolver um trabalho adequado.

Então, o que é que desejava? O que é que seria o ideal para si?

Acredito muito no candidato de Leiria, que é um ex-administrador hospitalar que defende há muitos anos, há cerca de duas décadas, a construção de um hospital nas Caldas da Rainha ou Alcobaça. E agora o  Partido Socialista decidiu meter um hospital Central do Oeste, no Bombarral. Isto não cabe na cabeça de ninguém. E, portanto, ele vai defender, evidentemente, o hospital das Caldas da Rainha. Acredito também no Nuno Afonso, que concorre pelo círculo de Lisboa. É uma pessoa que veio do Chega, fundador do Chega, e que viu a demagogia e mentira naquele partido decidiu sair e trilhar o seu caminho, Depois, também acredito no círculo de Santarém por causa do projeto do aeroporto de Santarém. Deveremos ser os únicos que apoiamos incondicionalmente o projeto do aeroporto em Santarém. Acredito que a população do distrito e toda aquela região Ribatejana vai ver quem é que verdadeiramente são os candidatos que vão defender e querem defender toda aquela região e votarão em concordância com isso.

Fala por causa do aeroporto de Alcochete?

Completamente absurdo. Nem sei como é que alguém pondera aquilo. Alcochete, Vendas Novas, Montijo… Montijo, nós somos contra desde 2015. Entrei em 2015, fui cabeça de lista por Leiria. Na altura, defendia a abertura da aviação civil em Monte Real. Compreendo que Monte Real complicado, que é uma base NATO e é uma das bases mais operacionais de Portugal. O melhor é a base mais operacional do Continente. A base mais operacional de Portugal é a das Lajes, com os aviões norte-americanos. Mas é a base mais operacional do continente. É uma base NATO. Eu sei que seria difícil embora existam vários aeroportos na Bélgica, na Alemanha, em que é um aeroporto NATO, com aviões militares, e um aeroporto civil. Portanto, seria possível, com vontade política, seria possível. Como nunca ninguém quis muito, realmente nunca ninguém ponderou Monte Real… Porquê? Porque está a 120 km de Lisboa e o governo acha que isso é muito. Noutras capitais não acham, aqui acham. Agora, aparece o projeto de Santarém. A nível a nível do impacto ambiental, a nível de resposta ao país,de obra estruturante para o país e para o futuro do país, é a melhor resposta é a melhor obra possível e imaginária. Cerca de 65 a 75% dos passageiros que param na Portela é para ir para o norte do distrito de Lisboa.

Pedro Soares Pimenta num vídeo de campanha do MPT nas anteriores legislativas.
(Foto: Imagem capturada a partir de vídeo do MPT)

Portanto, já ficavam numa rota, digamos assim, mais mais fácil.

Repare naquilo que eu acabei de dizer: 65% a 75% dos passageiros que vão pela Portela vão para o norte do distrito de Lisboa. E o que é que os governos que passam por Portugal dizem? Eles vão para o norte? Então vamos construir a sul. Isto devia ser um sketch humorístico.

Não tem muito racional, é isso?

Isto não tem racionalidade nenhuma. Andaram a bater com o aeroporto do Montijo… Você sabe porque é que a Força Aérea deixou de operar aviões a jato na base do Montijo? Porque tiveram dois acidentes com aves. Porque aquilo é uma zona de nidificação de aves, numa zona brutal, das principais da Europa. Algumas só nidificam ali, a nível mundial.  Os senhores da Força Aérea decidiram acabar com os voos no Montijo, porque não pode ser, porque caíram dois aviões. Uma vez, mataram duas pessoas, outra vez mataram mais duas.

E a zona é um património natural e fantástico, termos ambientais.

Aquela zona tem de ser protegida. Até se poderia fazer hotéis de ecoturismo.

Turismo de ambiente.

Há uns anos vi o dinheiro que envolve a actividade de observação de aves. Os que vão correm mundo a fotografar aves e a observar aves. É um negócio de biliões.

Sim, fotografia e observação de aves.

Em Portugal não se liga nenhuma a isso. Há um local nos Açores que está no roteiro mundial para avistamento de aves. Agora, de resto, em Portugal, no Continente, zero. O que há são pequenas iniciativas privadas ou de associações. Podia ser um dos maiores a nível internacional. É que nem se coloca a possibilidade sequer de meter aviões a jacto ali. É uma questão de segurança. Da Força Aérea portuguesa saem dois aviões por causa de aves que embatem contra os aviões, depois a um Boeing 737 não acontece nada, só porque um ministro disse que os pássaros eram inteligentes, que fugiam dos aviões.

E como vê o anúncio também que foi feito logo antes da campanha eleitoral de que Portugal avança finalmente com a construção da linha de TGV? E sobre a questão da ferrovia, temos o caso da CP, onde também só em aumentos de capital já foram colocados muitos milhões de euros por parte dos contribuintes…

Somos a favor da TGV que ligue um dos portos profundos, um dos mais importantes da Europa, que é Sines, ao resto da Europa, e ligue a capital, Lisboa, a Madrid. Totalmente de acordo. Vou falar da minha posição pessoal porque o Partido da Terra é um partido aberto, aberto às ideias. Não é um partido castrador, cada um tem as suas ideias, cada um defende as suas ideias e nós só temos de respeitar. A minha liberdade acaba quando começa a do outro, e vice-versa. Não somos um partido de proibições, bem pelo contrário.

(Foto: D.R./MPT)

Há um debate de ideias.

Exatamente. E acho que foi assim que foi criado o Partido da Terra, com Gonçalo Ribeiro Telles e aquele grupo que se encontrava em Lisboa, num café em Lisboa, era quase uma tertúlia, por assim dizer, de ideias. E dessas tertúlias saíram, por vezes, projetos interessantes para o país. O TGV, sou totalmente a favor de ligar Sines ao resto da Europa. Para isso, temos um problema que é [converter a] bitola ibérica para a bitola europeia. Tem de ser alterada. É muito dinheiro que vai ser investido nisso. De Lisboa a Madrid: totalmente de acordo. Faz-me confusão, por exemplo, ligar o Porto a Lisboa com duas ou três paragens. Somos a favor que as grandes obras estejam próximas das populações, totalmente de acordo. A minha questão é o dinheiro que se vai gastar só para dizer que se tem um TGV de Porto a Lisboa. Porque, do Porto a Lisboa, com duas ou três paragens, vai-se poupar 15, 20 ou 22 minutos, do que se fosse num Alfa Pendular. Gastar 3, 4, 5 ou 6 mil milhões de euros só para poupar 15 ou 20 minutos, é difícil de ‘engolir’.

Até porque os portugueses estão com outros problemas. Há a crise na Habitação, na Saúde, mas outras questões também para as quais são necessárias verbas e políticas.

Na Saúde, é uma questão de prioridades. As prioridades dos governos que têm governado o país têm estado um pouco desfasadas daquilo que os portugueses verdadeiramente necessitam. Sou a favor que se faça uma reestruturação e uma requalificação de todo o parque hospitalar, de norte a sul do país. Mas, para isso, é preciso muito dinheiro. É preciso muito menos do que para fazer o aeroporto de Alcochete. Muito menos.

Portanto, deveria ser uma prioridade.

O que é que está em primeiro lugar? É meter um aeroporto em Alcochete ou em Vendas Novas, que vai ser um atentado ambiental no sul do distrito de Lisboa, em que a própria população… É que nunca houve nenhum político que dissesse: “vamos perguntar aos lisboetas se querem ser bombardeados com mais aviões por cima das suas cabeças”. A maior parte dos lisboetas estão completamente saturados da pressão na capital, estão completamente saturados da pressão ambiental, da pressão do turismo sobre a capital. Se se vai construir um aeroporto na parte sul do distrito, na margem sul, em Alcochete ou Vendas Novas, a maior parte do tráfego vai ser pela Ponte Vasco da Gama. Todos nós sabemos que o ponto em que a ponte Vasco da Gama já está. Os lisboetas estão, em grande parte, contra estas iniciativas. E Santarém, se calhar, é a melhor solução até para os lisboetas. E até porque não investimento público nenhum, zero. São 15.000 milhões de euros que se fala para fazer o aeroporto em Alcochete. Temos de rezar para que Nossa Senhora desça à terra e conseguir fazer um milagre de não haver derrapagens na obra pública em Portugal, o que não existe. Não vão ser 15.000 milhões, vão ser 17, 18, 20, 22.000 milhões. Portugal está assim tão bem para gastar entre os 15 e os 20.000 milhões a construir um aeroporto na margem sul, quando existe privados que o fazem sem despesa para o erário público? É ilógico, é uma anormalidade.

Portanto, para si prioridade, deveria ser esta questão da Saúde.

O mais importante, que mais preocupa as populações, é a saúde e a segurança.

E habitação, infelizmente, também.

Nem vou falar de habitação, porque teria de falar de outro assunto. E uma hora não chega. Porque a habitação, só acontece o que está a acontecer, porque os seus excelentíssimos, senhores da ‘geringonça’, decidiram abrir as portas do Portugal a quem quisesse entrar, sem verificar quem são ou quem deixam de ser. Portugal deve ser dos poucos países da Europa onde a imigração ilegal não deve existir, porque está, de tal forma aberto, que não há necessidade de haver a imigração ilegal. Eles entram, estão à vontade. Não sou nada contra a imigração é nós precisamos de pessoas.

Cartaz da coligação Alternativa 21. (Foto: D.R./Alternativa 21)

É a favor que haja um controlo.

Tenho nada, nada contra. A esquerda, quando ouve alguém dizer isto, diz logo que eu sou isto ou sou aquilo. Não, não, não, nada disso. Venham brasileiros trabalhar, venham indianos trabalhar, venham nórdicos trabalhar, venha quem quiser trabalhar e ter a sua vida. Não tenho problema nenhum. Portugal é um país de emigrantes. Aceitamos e recebemos de braços abertos a imigração que venha para Portugal, para trabalhar, para estudar, para estruturarem, para dar qualidade de vida às suas famílias. Agora, estarmos a receber um indivíduo, por exemplo –  e saiu na comunicação social – , que matou duas pessoas no seu país de origem, e no aeroporto apanha um avião, vem para Portugal como turista e ao fim de meses tinha nacionalidade portuguesa, isto não pode acontecer. Peço imensa desculpa, não pode acontecer. Tem de haver controlo. Somos contra a imigração descontrolada. Era aquilo que dizia Pedro Passos Coelho em 2016.

Mas a própria União Europeia está a pressionar os países e tem vindo a ter essa política, e alguns países já têm problemas e agora tentam controlar. Mas tem sido algo também que vem de Bruxelas, ou não?

Daqui a um ano, 2 anos, 3 anos, você, possivelmente, vai dizer que no dia 17 Fevereiro de 2024 falou com o Pedro Soares Pimenta e, se calhar, ele tinha razão. Portugal já teve um dos passaportes mais poderosos, mais seguros do mundo. E, neste momento, o nosso passaporte tem sido olhado com desconfiança. Isto é das coisas que mais me entristece cada vez que saio do país.

Afeta a reputação do país.

Completamente, completamente. É estamos a falar agora, em 2024. Quando for em 2025 ou 2027, vamos ver como é que está. Vai estar muito pior. A questão da segurança: dizemos que Portugal é um país seguro. Mas Portugal é um país seguro por aquilo que funcionários da polícia criminal têm feito nos últimos 10, 15, 20, 25 anos. Nós temos de ver, com as políticas que foram criadas pelo Partido Socialista, como é que vai estar daqui a 10 ou 15 anos. Garanto-lhe que não vai ser dos países mais seguros da Europa ou do mundo, como agora se diz. Se somos hoje, é por causa de políticas de há 15, 20, 25 anos para cá.

Sobretudo, se não se investir nas forças de segurança que, aliás, têm estado com protestos.

As forças de segurança têm de ser reestruturadas. Porque a forma como está não é possível manter. Falo da PSP e da GNR. Eles revoltaram. Conheço muitos elementos da Polícia de Segurança Pública. Tive uma relação com uma agente da PSP durante 7 ou 8 anos, portanto, conheço a realidade da PSP. Os políticos em Portugal não dão real valor àquilo que eles passam. Porque aquilo que eles passam na rua é de bradar aos céus. Acho que nenhum português tem noção daquilo que a polícia passa quando entra no seu turno de trabalho. Não tem noção daquilo que eles passam, da parte da forma como eles são enxovalhados, como eles são ameaçados, como eles são agredidos. Ninguém tem noção.

O que recebem não compensa os riscos e depois há também as condições em que trabalham.

De forma alguma. Mas eu acredito, isto foi um espoletar que lhes fez pensar “estão a gozar connosco, temos de ir para a rua”. Mas há uma situação que para mim e para eles talvez seja mais gravosa, é a falta das condições de segurança que tem de ser dada por um Estado de direito aos órgãos da polícia criminal. Quando um juiz diz que chamar um polícia disto ou daquilo, ou ‘filho disto’, é um acto de revolta, isto é gozar com os polícia.

E põe em causa a segurança das forças de segurança.

E cria desmotivação. Deveria definir-se um subsídio de risco para cada agente que esteja em funções operacionais. Vamos dar 350, 400, 500 euros de subsídio de risco para agentes em funções operacionais.  Onde é que vamos buscar o dinheiro? É muito simples, é fazer a requalificação e reestruturação das forças, dos órgãos de polícia criminal. Se perguntar a agentes da PSP e da GNR, não vão contra aquilo que vou dizer. Porque é que existem dois corpos de intervenção? Porque é que não existe um corpo nacional de intervenção? que existem? 2 porque é que? Porque é que existem dois? Porque é que existem o Corpo de Operações Especiais e o Batalhão de Operações Especiais? Porque é que não existe apenas um? Porque é que não existe o Corpo Nacional de Segurança Interna, em vez de haver a direção nacional da PSP e o comando nacional da Guarda Nacional Republicana? Só o dinheiro que se pouparia aqui, dava para pagar este dinheiro a todos os agentes de polícia operacionais, que andam na rua todos os dias a combater a criminalidade em Portugal.

(Foto: D.R./MPT)

Ou seja, há medidas que podem ser tomadas e que são importantes para o futuro das forças de segurança e para colmatar alguns dos problemas?

Tem é de se querer. Tem de se querer. Isto vai doer apenas unicamente a uma faixa da PSP, que são os oficiais. Os oficiais não vão gostar, mas os agentes que andam na rua, garanto-lhe que ficariam muito melhor.

Hoje, fala-se, mais do que na defesa do ambiente, fala-se mais em alterações climáticas. E temos tido, não só situações de atentados ambientais em Portugal, mas continuamos a ter, além da poluição dos grandes grupos poluidores, temos tido casos de abates árvores de espécies protegidas para determinados projetos. Mas também, até na Europa, tem havido alguns casos de preocupação. Falo, por exemplo, do alargar por mais 10 anos a autorização de uso do glifosato, que um pesticida considerado perigoso. Também há um lobby para a Europa diminuir as restrições para a utilização de organismos geneticamente modificados na agricultura e outras medidas fala-se também da questão da autorização de certos pesticidas. Qual é a sua visão sobre este Tema?

Orador 2

Tudo aquilo que disse, tem toda a razão. Realmente, falou uma palavra mágica que são os lobbies. É evidente que os lobbies, infelizmente, na Europa – e Portugal não foge à regra – têm muito poder naquilo que deveriam ser as práticas normais ou reais para combater as alterações climáticas. Por exemplo, a União Europeia está a querer considerar o nuclear como energia verde. Não digo que o nuclear não seja uma energia mais limpa, mas com um pequeno pormenor: Portugal, onde está – e todos se esquecem disso –, é potencialmente sísmico. Temos o caso do Japão, que é muito avançado a nível tecnológico e nas centrais nucleares. É muito avançado e vimos o que aconteceu em Fukushima. Considerar sequer [a produção de energia] nuclear em Portugal é completamente absurdo. Não sabemos o pode acontecer amanhã. Também ninguém pensou que o terramoto no 1755 iria acontecer e aconteceu e mudou a realidade histórica de Portugal perante a Europa. O mais importante é conseguirmo-nos soltar das amarras dos lobbies.

Devíamos promover, por exemplo, uma política séria de dessalinização da água do mar para combater a escassez de água, principalmente no Algarve, que está com uma carência grave de água. Não há políticas para isso. Devíamos renegociar os acordos com Espanha em relação aos caudais dos rios. Ninguém fala disso. Nós devíamos ter falado com Espanha por causa da central nuclear de Almaraz, que se tiver algum problema, vai contaminar toda a parte de Lisboa com produtos radioativos. Ninguém fala nada sobre isso. Devíamos criar um estatuto legal de preservação dos rios e dos rios livres, que permita identificar barreiras, de norte a sul do país para que as águas não sejam deterioráveis e para que os habitats ribeirinhos e o normal ciclo dos nutrientes, dos sedimentos, para os animais e para a fauna e flora possa viver em concordância e estabelecer para aquilo que devia ser o normal. Uma das políticas, por exemplo, que nós apoiamos é a criação de mais guardas florestais e, possivelmente também os guarda-rios para defender a flora e fauna, tanto nas florestas, como os nossos rios.

Há uma série de situações em se pode fazer algo e não se faz. Porque parece que há entraves. Por exemplo, na agricultura, ninguém fala de uma agricultura sustentável, ninguém fala do setor das pescas, que é incrível. Ninguém fala da pesca local – e isto também tem a ver com as questões ambientais – que é a pesca mais sustentável. Não. Ainda potenciam é a pesca dos grandes armadores, dos arrastões que destroem o fundo do mar em vez de potenciar e ajudar os pequenos armadores da pesca local.

Um dos jornalistas que colabora com o jornal PÁGINA UM é o esloveno Bostjan Videmsek, é um jornalista premiado, cobriu muitos conflitos e guerras, mas ele é também um embaixador do Pacto Europeu do Clima e tem escrito sobre a questão da defesa do ambiente. Escreveu um livro – Plano B – com vários casos positivos no ambiente. Ele considera que a pandemia e as alterações climáticas são também vistos como uma enorme oportunidade, não só para reforçar lucros de grandes lobbies e indústrias mas para reforçar poderes de políticos.

Na covid, não concordo, parece uma teoria da conspiração. O que é interessante, é que foram criados novos lobbies com a situação da covid-19 e lobbies tremendamente poderosos. Ao nível da transição energética e da proteção ambiental, tivemos uma oportunidade muito forte de conseguir implementar políticas correctas ao nível de defesa do ambiente e de defesa ecológica. E não se fez rigorosamente nada. A transição energética tem de ser apoiada. A transição digital, exactamente a mesma coisa. A transição tecnológica também. Mas não nos podemos esquecer de uma coisa. Eu, por vezes, ouço certos e determinados candidatos políticos dizer que devíamos pôr tudo elétrico. Isso é impensável, absurdo. Nem o português comum tem capacidade para comprar um carro elétrico. Tem de haver uma melhoria das tecnologias para o português comum, da classe média, conseguir comprar um carro elétrico por 20 a 23 mil euros. Há uns anos, perguntei a um indivíduo: o que é que vocês vão fazer às baterias, quando acabarem? Respondeu: “ou vamos enterrar ou não vamos fazer nada”. Vão criar poluição. Depois, outra coisa muito importante é ver como funcionam as minas tanto do lítio como dos outros minerais que são necessários para criar uma bateria elétrica.

(Foto: D.R./MPT)

Em Portugal, esse é um tema importante.

É uma poluição extrema e quando dizemos isto cai logo o Carmo e a Trindade. Dizem “não sabes o que estás a dizer”. Eu digo: “vão a África, vejam as minas que estão a céu aberto e vejam se aquilo tem alguma lógica”. Não tem lógica nenhuma.

E a exploração humana, a escravatura ou a exploração de crianças, também.

Tal e qual. Houve um estudo que foi feito nos Estados Unidos sobre se passássemos tudo a eléctrico, daqui a um ano, o que é que acontecia. E a resposta foi: o país parava. Não há capacidade na rede elétrica para sustentar todos os veículos elétricos, não há capacidade. E não há capacidade nos Estados Unidos, nem em Espanha, nem em Portugal, nem em França. Não existe capacidade. Portanto, tem de haver o bom senso de tentar minimizar a poluição dos veículos a combustíveis fósseis, alterá-los para energias complementares ou verdes, como o hidrogénio verde. Isto, sim, vai ser o futuro. Acredito que esse vai ser o futuro. E também combustíveis sintéticos. Está a ser investigado pela Porsche, Toyota, como outras grandes marcas. E e acredito que essa é que vai ser a resposta. O elétrico vai funcionar, vai funcionar durante muitos anos, a tecnologia vai crescer, vai ser melhorada e vamos ter uma resposta adequada, se calhar daqui a 10 ou 15 anos vamos ter uma perfeição. Mas daqui até lá haverá certamente outros tipos de combustíveis que poderão alimentar tudo.

As europeias eleições europeias estão quase aí. Estamos a falar em poucos meses, em Junho, já teremos as eleições. O Partido da Terra está a pensar, planeia concorrer com listas às eleições europeias?

Se o Tribunal Constitucional não fizer como fez em 2019, que não nos permitiu eleições europeias, isso é garantido. Não há uma eleição, que eu tenho conhecimento, pelo menos, desde que eu estou no partido, em que o Partido da Terra não tenha estado presente.

Podemos esperar por isso.

Garantidamente. Mas esta hora… Vou só dizer-se que esta hora devia ser muito mais, porque não falámos dos pescadores não falámos de um tema de que ninguém quer falar, que é a Defesa Nacional. Ninguém quer falar. A esquerda conseguiu fazer uma coisa que já tinham projetado há algum tempo e conseguiram alimentar esse projeto; conseguiram fazer com que as forças de defesa nacionais estejam entregues à desgraça. Não temos meios de navais com capacidade, não temos meios aéreos com capacidade. Devíamos investir num plano estruturado para renovar todas as frotas existentes. Não há. É engraçado. É que eles conseguiram passar a imagem de: “para quê, não precisamos”. Precisamos! A Ucrânia mostrou que precisamos. O mundo prova que precisamos. Eu gostava de viver num mundo cor-de-rosa, como alguns certos e determinados políticos, certos e determinados partidos dizem que vivemos. Também gostava de viver num desses mundos, mas não vivo. Temos de estar preparados e temos de dar condições aos militares. Os militares têm sido completamente desqualificados e isso é triste e vergonhoso.


Veja AQUI o programa da coligação Alternativa 21.

Veja AQUI a página do Partido da Terra.


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