JOSÉ PINTO-COELHO, PRESIDENTE DO ERGUE-TE

‘Temos de despir a Educação de qualquer tipo de carga ideológica’

por Elisabete Tavares // Fevereiro 28, 2024


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Presidente do Ergue-te desde 2005, José Pinto-Coelho diz ter “muito orgulho em ser de extrema-direita”. Assume-se como salazarista e demarca-se da xenofobia e do racismo. O seu partido nasceu a partir da quase extinção de um outro – o Partido Renovador Democrático, fundado em 1985 e que chegou a ser presidido pelo antigo Presidente da República Ramalho Eanes. Em 2000, o partido assumiu a identidade nacionalista e mudou de nome, para Partido Nacional Renovador (PNR), mas ficou ‘manchado’ pelas ligações a figuras do neonazismo, como Mário Machado. Nestas legislativas, o Ergue-te concorre a todos os círculos eleitorais e enfrenta a ascensão do Chega, que, segundo Pinto-Coelho, além de não ser de extrema-direita, tem beneficiado de promoção por parte dos media. Esta é a 15ª entrevista da HORA POLÍTICA, a rubrica do PÁGINA UM que deseja concretizar o objectivo de conceder voz (mais do que inquirir criticamente) aos líderes dos 24 partidos existentes em Portugal. As entrevistas são divulgadas na íntegra em áudio, através de podcast, e publicadas com edição no jornal.


OUÇA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA DE JOSÉ PINTO-COELHO, LÍDER DO ERGUE-TE, CONDUZIDA PELA JORNALISTA ELISABETE TAVARES


Estão a concorrer a estas eleições legislativas em todos os círculos, correcto? Quais são os vossos objectivos para estas eleições e porque quiseram concorrer em todos os círculos?

Antes de responder à sua questão, queria fazer esta introdução porque efectivamente, os partidos políticos sem representação parlamentar não têm voz, nem mediatismo; têm apenas umas míseras migalhas. Eu, por exemplo, no dia 20 de Fevereiro vou estar no debate na RTP1 e 3, em directo, com os partidos sem representação parlamentar; mas vão lá estar 10 partidos e o debate dura cerca de duas horas. Aquilo não é bem um debate, é muito entrevista colectiva e é a única coisa que nós vamos ter. E é impossível, nas escassas intervenções de cada partido – que ao todo, somam cerca de sete ou oito minutos, no máximo – passar qualquer mensagem. Portanto, há uma desigualdade brutal entre os partidos com representação e sem representação parlamentar. Dir-nos-ão que os outros tiveram mais votos que nós e, portanto, merecem mais – mas as coisas não são assim. Quando estamos em eleições, tem de ser um ponto de partida igual para todos; porque senão, é um círculo vicioso, porque aqueles que têm votos, têm voz, e como têm voz, têm votos.

José Pinto-Coelho, presidente do Ergue-te. (Foto: PÁGINA UM)

Aliás, há um partido que fez uma queixa à Comissão Nacional de Eleições [CNE], precisamente por essa falta de pluralismo.

Claro. Mas repare: fizeram uma queixa porque são ainda ingénuos e são novos; porque se estivessem aqui há 20 anos a batalhar contra isto, sabiam que uma queixa dessas não dá em rigorosamente nada. Todo este sistema está profundamente blindado, e é profundamente injusto. Nós, ao princípio, tínhamos ainda algumas ilusões de umas queixas na CNE. Mas não vale a pena, é perda de tempo e é criar ilusões absolutamente inúteis. Mas, em relação à sua questão, nós concorremos no país todo, em todos os 22 círculos; somos um dos partidos sem representação parlamentar, e um dos três que concorrem em todos os círculos.

Aliás, José Pinto Coelho é um cabeça-de-lista por Lisboa e também João Pais do Amaral, vice-presidente, é o cabeça-de-lista por Leiria.

Exactamente. E o nosso objectivo é participar nas eleições para ir a votos, sabendo à partida que há uma grande desigualdade e que infelizmente em Portugal – e não só, mas o que nos interessa é o nosso caso –, existe uma lógica que é, a meu ver, profundamente absurda: a do voto útil ou estratégico. As pessoas, sistematicamente, não votam naquilo que mais gostam ou em que acreditam, para votar em esquemas estratégicos para correr com outros; é a lógica do mal menor. E esse voto estratégico acaba por penalizar gravemente e ser uma injustiça perante o voto ideológico ou por convicção. E nós temos sido sempre vítimas disso e sabemo-lo, porque eu conheço muitas pessoas, que me dizem mesmo “eu prefiro as vossas ideias, mas vocês não têm hipótese“. Ou acontecia com o CDS ou com o Chega…  

Desde 2005 que eu sou presidente do partido, e temos ido a votos e temos vindo a crescer, apesar de tudo. E entre os partidos sem representação parlamentar, chegámos a ser um “grande“ entre os pequenos. Nós em 2015 chegámos a ter 27.000 e tal votos; não é uma coisa assim tão ridícula como isso. E nós sentíamos um crescimento, estávamos a crescer claramente; isso era perceptível, e palpável. Mas depois, entrou em cena algo que nos prejudicou gravemente e que levou o nosso eleitorado, porque as pessoas vão atrás de ilusões e de quem tem voz, e o nosso eleitorado fugiu-nos. E, usando uma linguagem de luta de boxe, eu costumo dizer que em 2019, em que perdemos 10.000 votos, fomos às cordas, e em 2022, fomos ao chão, porque passámos para 5.000 votos.

Está a falar da subida e da concorrência do Chega?

Sim; directa e claramente desse partido; e já podemos, mais à frente, esmiuçar um pouco mais essa questão. Mas sim, fomos ao chão, com 5.000 votos; daqueles que são resistentes e que realmente votam por ideologia pura e não embarcam em ilusões ou utopias ou no voto estratégico. E claro que isso teve reflexos no ânimo, na debandada, e na perda de crença por parte de muita gente…

E na parte financeira, certamente.

Sim, e também há uma grande injustiça na parte financeira, porque os partidos com representação parlamentar são subvencionados pelos nossos impostos, e os partidos sem representação parlamentar, não são. Ou seja, uns ganham dinheiro por cada voto, e outros não ganham; portanto, há um tratamento desigual. Isso não me parece justo. É evidente que os partidos todos deviam receber dinheiro do erário público.

(Foto: D.R./Ergue-te)

Portanto, não partem em pé de igualdade.

Pois. É evidente que se nós tivermos agora 5.000 votos, deveríamos receber por cada um desses votos; porque essas pessoas não são menos do que os 2 milhões que teve o Partido Socialista [OS], e que recebe função disso. Todos os partidos deveriam receber; e nós até defendemos que os partidos recebem demasiado dinheiro da subvenção, que é uma injustiça, porque é são 135 avos do Indexante de Apoios Sociais [IAS]. Estamos a falar de cerca de 3,50 euros por cada voto que os partidos recebem; são barbaridades do erário público. Eu compreendo que os partidos possam receber uma subvenção, porque são um mecanismo fundamental para que o sistema político exista. O Estado também tem de alimentar a sua própria máquina. Mas nós defendemos que essa subvenção devia ser muito inferior, cerca de 400 avos; ou seja, mais ou menos 1 euro e pouco por voto – mas devia ser para todos. O Ergue-te sempre foi um partido que viveu exclusivamente das cotizações dos militantes; e é muito pouco. Mas uma coisa é termos tido habitualmente um orçamento anual de cerca de 7.000 euros, e agora levou uma pancada muito grande. Nós apresentamos para estas eleições um orçamento de 1.500 euros, que se resume praticamente a tempos de antena. Não temos dinheiro para campanha nenhuma, nunca tivemos; publicámos um ou outro outdoor. É absolutamente impensável.

Então, fazem uma campanha mais presencial, ou nas redes sociais?

Redes sociais; é basicamente por aí. E, portanto, agradecemos muito iniciativas como esta do Página Um, que nos dá voz. Infelizmente, sabemos que o alcance não é o mesmo que terá uma televisão em horário nobre, mas é com isso que contamos. Em termos de objetivos: antes de mais, concorrer é uma questão de orgulho, independentemente de termos mais ou menos votos; e há sempre a esperança de que haja um crescimento. Nas últimas eleições, nós concorremos como Ergue-te, e eu acredito – até porque já ouvi algumas vozes nesse sentido – que muita gente nem sabia que era o PNR. E foi um risco calculado, mas há um preço a pagar, e eu acredito que tenhamos sido vítimas disso. Nestes dois anos, já houve um maior conhecimento, e não tenho a menor dúvida de que vamos ter novos votos

Ou seja, o nome já é mais conhecido?

Já começa a ser; há pessoas que não se tinham apercebido e que já se apercebem. De facto, foi um risco calculado, mas mudámos o nome numa altura que nos era adversa. Podem ser erros, mas nós pensamos nas coisas a prazo e não no imediato; não somos nada imediatistas. Somos corredores de maratona. E para nós, qual seria um bom resultado? Única e exclusivamente este: ser eleito. Estamos aqui para ser eleitos e, tendo voz, quero mostrar aos portugueses qual é verdadeiramente o único partido antissistema – que não é faz de conta, nem oposição controlada. É bater de frente contra este sistema e contra este regime.

O regime de que fala é o do arco da governação?

É o regime que nasceu no dia 25 de Abril, e que nós não sufragamos. Ao contrário de todos os outros partidos políticos, nós não gostamos deste regime. Foi um regime que, do nosso ponto de vista, inaugurou a página mais negra da história de Portugal; pior ainda do que o tempo da ocupação espanhola. Porque essa era uma ocupação externa, e agora estamos a ser ocupados, na nossa opinião, pelos traidores internos; que é pior.

O Ergue-te é um partido muito apontado como sendo de extrema-direita e defensor do salazarismo. Como é que um partido de extrema-direita, que elogia admira Salazar, convive com a democracia?

Só para concluir a questão anterior: um bom resultado é ser eleito, mas qualquer coisa que denote um crescimento claro, não sendo um bom resultado, será animador. Agora, sobre esta questão: é sempre um bocado complicado falar quando se utiliza rótulos. Eu nunca tive medo de dizer nada daquilo que penso, e não ando aqui com jogos.

Mas não se revê nestes termos?

É isso que vou explicar. Pessoalmente, eu sempre afirmei de extrema-direita; não tenho nenhum problema, tenho muito orgulho em ser de extrema-direita. Mas quando se fala em rótulos políticos é sempre complicado, porque cada um tem a sua ideia e não há uma base clara ou científica sobre isso.

João Pais do Amara, vice-presidente do Ergue-te e cabeça-de-lista por Leiria. (Foto: D.R./Ergue-te)

Mas quer dizer que há várias extremas-direitas?

Não; se assumirmos que sou eleito, onde é que me vou sentar no Parlamento? Na extrema-direita, porque não há ninguém mais à direita do que eu. Portanto, isso não é nada de pejorativo, é assim. Há a extrema-esquerda, como o Bloco de Esquerda, e há o extremo-centro, como o PSD. Os rótulos que eu prefiro é: nacionalista, e soberanista. Isto é que nos identifica. Agora, se querem chamar extrema-direita… Eu considero-me naturalmente de extrema-direita.

Têm sido apontadas semelhanças, por exemplo, com a francesa Frente Nacional.

Neste momento, já não, porque a Frente Nacional desvirtuou-se totalmente com Marine Le Pen, que consideramos que está a trair o seu pai. Mas deixe-me só recuar um pouco: disse que somos um partido que defende o salazarismo, e isso não é verdade. Eu sou salazarista, mas o partido não defende isso, porque o partido é do século XXI e para o século XXI; para o futuro. Não somos saudosistas. Mas, é evidente que todos temos direito às nossas referências. Ainda agora vão celebrar os 50 anos do 25 de Abril e podíamos também dizer que são passadistas, porque já lá vão 50 anos. Mas, o partido não tem o salazarismo como referência – que isso fique claríssimo. Eu pessoalmente tenho a mais profunda admiração por Salazar e pelo Estado novo, mas isso pertence ao século XX. Hoje em dia, seria absolutamente impossível de replicar, porque a sociedade mudou. Voltando à Frente Nacional. Eu já fui a França discursar, por duas vezes, em iniciativas da Frente Nacional, no tempo do pai, Jean-Marie Le Pen. Nomeadamente em 2007, quando ele se candidatou a eleições presidenciais e convidou alguns partidos congéneres europeus. E eu tive a honra e o privilégio de ter estado lá num pavilhão imenso, em Lille, completamente repleto e durante uns minutos, a discursar em francês a apoiar a candidatura de Jean-Marie Le Pen. Hoje, o partido desvirtuou-se bastante; a filha claramente traiu os caminhos do pai – tanto é que, a neta de Jean-Marie Le Pen, Marion Maréchal Le Pen, sobrinha de Marine, que é mais na linha do pai, saiu do partido e agora está com o Zemmour. Porque é mais na linha do daquilo que era a antiga Frente Nacional. Portanto, hoje não temos qualquer ligação com esse partido.

Considera que também outros partidos, conotados com a extrema-direita, têm estado a desvirtuar-se?

Sim. Mas lá está, o problema dos rótulos: a comunicação social e a narrativa politicamente correcta gosta de ter rótulos para fazer uma encenação, e dizer que há uma extrema-direita – sobre a extrema-esquerda por acaso nunca falam – e chamar extrema-direita a tudo o que seja um bocadinho de fora daquilo que é o grande centrão. E isso é profundamente incorreto. E quanto mais chamam extrema-direita ao Chega – que não é –, mais votos lhe estão a dar. E é um erro crasso porque estamos a chamar uma coisa que na verdade não são, e isso atrai votos.

Entende que a imprensa está a promover o Chega?

Sempre esteve; desde antes da sua existência. É quotidiano: o André Ventura está sempre nas notícias, porque ele é extremamente hábil e muito esperto, e sempre arranjou casos e historietas e ruído para aparecer na comunicação social. O Chega foi completamente promovido pela comunicação social e continua a ser.

Não sendo esse o objectivo desta entrevista, pergunto-lhe se guarda alguma tristeza ou rancor relativamente a André Ventura, devido a algum tipo de aproximação no passado?

Antes da entrevista, eu desabafei consigo e vou dizer isto aqui publicamente. Eu lamento que nas escassíssimas entrevistas que tenho tido desde 2019, se fale sempre do Chega. E mesmo que eu não fale, e não quero falar, sou interpelado nesse sentido. E assim, estou a fazer propaganda a outros. Eu gostava que perguntassem a André Ventura se, ao princípio, para ganhar votos, ele não copiou de cálculo o programa do PNR; porque foi “decalcadinho“, mas com uma diferença: nós acreditamos naquilo que defendemos, e ele não acredita. Eu não tenho propriamente um rancor.

José Pinto-Coelho num vídeo de campanha do Ergue-te.

Acredita que André Ventura não é de extrema-direita?

Não é; ele é de extremo-oportunismo. Sei que estas palavras parecem duras, mas acredite que não tenho rancor porque eu luto contra os sentimentos primários de rancor. Não quero, até porque o rancor só faz mal a quem o sente.  Mas também não ando aqui a dourar a pílula relação a isso. Ele é um homem que é um social-democrata, que pertence ao sistema, e que esteve e apoio o PSD durante 17 anos, e que depois foi alavancado pelas aparições na CMTV e como colunista no Correio da Manhã. E depois – não sei porquê nem me interessa –, foi posto num lugar-chave para lançar o Chega, que já tinha outdoors antes de ser partido. Portanto, há muito dinheiro que entrou ali, e teve imensa visibilidade. E realmente foi lançar os chamados soundbites – eu prefiro dizer chavões, porque sou português – com os quais as pessoas concordam. E nós andamos há 20 anos a dizer as mesmas coisas, e aparece um homem, sem passado, que começa com uns chavões e as pessoas aplaudem-lhe a coragem. É absurdo.

Então, não acredita que o Chega conseguindo mais votos, como as sondagens apontam, terá capacidade de fazer diferença, nem que a sua intenção seja a de fazer a diferença?

Não vai fazer diferença por uma razão: é um partido do sistema. Veja como ele vai buscar ao sistema toda a escória, o refugo dos partidos, e as segundas e terceiras linhas do PSD, do CDS, e da Aliança. Ele está a ir buscá-los a todos; ou seja, pessoas que não tinham já emprego nesses partidos, vão ter um emprego no Chega. E isso é um partido antissistema? Por amor de Deus, não é nada; é um partido completamente do sistema. E n aquele partido não há uma coluna vertebral, não há pilares fundamentais e ideológicos – são tudo e o seu contrário, se for preciso. Isto não se trata de rancor contra uma pessoa, mas de um sentimento real de injustiça. Eu não acredito que o Chega vai ter 20% dos votos.

Não acredita nas sondagens?

Não acredito. Mas ainda assim, vai subir consideravelmente, até ao ponto em que as pessoas começarem a ver assim que o Chega afinal é mais do mesmo. Mas aquilo que me chateia é que as pessoas que pensam como nós, não votem em nós, e estejam a desperdiçar votos noutro partido. Portanto, aqui não é rancor, mas é mágoa e um sentimento de traição e de abandono, de que as pessoas deviam apoiar um partido no qual acreditam. Mas votam num partido só porque vai correr com o PS; eu acho isso tão redutor e tão pouco exigente. Porque vão correr com o PS agora, mas daqui a uns anos o PS está lá outra vez. Isto é ouvir o disco e toca o mesmo. Portanto, o grau de exigência das pessoas é extremamente baixo. E isso chateia-me porque se houvesse coragem para mudar e para mudar mesmo…. Uma mudança a sério, de paradigma e de mentalidades, exige sacrifícios. As pessoas, porque veem uma passadeira à frente e cavalgam essa passadeira, votam num partido para correr com o OS. Assim, sem esforço, vão muito comodamente lá pôr o voto, e esquecem aquelas pessoas que têm lutado contra tudo e contra todos, sem meios, e que gastam a sua vida toda a lutar. E viram-lhes as costas, quando o Ergue-te é que seria um partido de real oposição ao sistema e que não tem ilusões para mudar as coisas. Para mudar o paradigma actual, é um processo que vai levar muito tempo e vai exigir muito sacrifício, mas com um objectivo: tornar Portugal novamente português.

Então podemos excluir algum tipo de disponibilidade para entrar em coligações, seja nestas eleições, seja no futuro?

Eu acho que coligações é uma coisa que não faz sentido. Se há um partido, é porque esse partido defende algumas coisas, e se há outro partido, é porque o outro partido defende outras coisas. Mas se há partidos muito semelhantes, às tantas, mais vale fundirem-se. Porque quando há uma coligação tem de haver cedências e nós por acaso já fomos desafiados nestas eleições em concreto. Tivemos dois contactos para fazer uma coligação, com o Nós, Cidadãos e com o Partido Popular Monárquico, antes de estar na AD. Eu disse logo que era nem um nem outro; nem pensar. Coligações obrigam a cedências importantíssimas. Além disso, se nós estamos sempre combater o sistema, e todos estes partidos do sistema, sejam eles com ou sem representação parlamentar…  Isso no fundo era trair a nossa própria identidade. Portanto, nunca faremos coligações. E voltando aqui às contradições do outro senhor: uma pessoa que dizia há anos que nunca faria coligações com os partidos do sistema, porque dizia-se anti-sistema, está desejoso de entrar num governo qualquer com o PSD; e as pessoas não conseguem ver isso! As pessoas não conseguem, e isso sinceramente entristece-me. As pessoas quando estão deslumbradas com alguma coisa, só veem o que querem. Mas nós temos que fazer o nosso caminho. E quem começa a abrir a pestana e volta para nós, é muitíssimo bem-vindo porque eu acredito no arrependimento, e sei que neste momento há pessoas já estão arrependidas, e que já voltaram atrás. Dói-me, mas são bem recebidas, porque as pessoas podem-se enganar e é assim a vida. Nós vamos continuar o nosso caminho.

Para além do timing de mudança de nome que referiu, no vosso passado houve algumas situações que podem ter afastado portugueses que, apesar de terem uma ideologia nacionalista, não se reviam, por exemplo, nas aproximações que tiveram a figuras mais ligadas ao neonazismo, à xenofobia ou ao racismo. Considera que isso é uma mancha no vosso percurso ou é algo que faz parte também do partido?

Bem, vamos lá ver. É evidente que nós temos um percurso e isto leva-nos muito para trás. Sempre houve em Portugal várias tendências dentro do nacionalismo; e que, tendo algumas coisas em comum, depois têm grandes divergências do ponto de vista até estético e de um modo de ser e de estar. E o nosso partido, quando aparece, e estamos a falar do ano 2000, falar de Salazar é um crime de lesa-pátria. As pessoas têm que ter essa noção; foi há 23 anos. As pessoas tinham medo de falar de qualquer coisa. Nós até, para criar o partido, estamos a tentar desde 1997. Havia uma coisa que era a Aliança Nacional, que queria transformar-se em partido. Arranjar nomes para legalizar o partido era uma missão quase impossível, porque as pessoas tinham medo de dar o seu nome. Às vezes, eram tardes inteiras a contactar pessoas e a contar-lhes os objetivos e contar a história da nossa vida, para depois no fim nos dizerem que iam pensar.

Na altura conseguiram 5.000 assinaturas?

Não conseguimos, só 2.000, e nunca mais saíamos dali. E, por isso, apanhámos uma janela de oportunidade. Foi uma coisa genial: o partido do Ramalho Eanes, o Partido Renovador Democrático [PRD], ia-se extinguir. O Tribunal Constitucional ia extingui-lo, porque não apresentava contas, estava cheio de dívidas, e as pessoas tinham debandado. E nós falámos com o então presidente Vargas Loureiro, que morreu passado pouco tempo, porque estava já muito doente, e fizemos uma Convenção com os escassos militantes que restavam ainda do PRD. E ficámos com o partido; ele também estava desejoso de passar aquele peso que tinha em cima. Ficámos com o partido e mudámos o nome. E a partir de 2000, começamos com um projecto nacionalista, que era extremamente difícil, mas reunia pessoas sobretudo do passado, muitos velhos salazaristas, etc. E havia. E em paralelo, na juventude, havia uma dinâmica de crescimento. E como toda a Juventude, com todos os excessos, e uma imagem que não é nossa… Mas foi um passo que era inultrapassável e era inevitável: ou nós desaparecíamos, e não tínhamos força nenhuma nem visibilidade, ou havia de facto alguma junção. Eu acho que muito injustamente, sinceramente, as pessoas preocupam-se com uma imagem de radicalismo, mas não se preocupam com o radicalismo dos partidos do sistema de levarem bancos à falência, da corrupção toda, dos pedófilos, dos processos abafados. Isso não preocupa as pessoas que continuam a votar nesses partidos. Mas, quando um partido de facto não tem grande força, todo e qualquer pretexto serve para que não se vote nele. Mas o facto é que nós vínhamos a crescer.

(Foto: PÁGINA UM)

Mas o Ergue-te estava ligado, por exemplo, a Mário Machado.

Não é assim, é ao contrário. Ele teve uma breve passagem, já lá vão tantos anos.

Mas hoje, o Ergue-te identifica-se com ideologia neonazi, xenófoba, racista?

Não, nem hoje nem nunca.

Há pouco falou em excessos e há excessos na juventude, mas a xenofobia e o neonazismo, eu não considero um excesso, já é algo extremo…

Não é no nosso partido, o nosso partido é aquilo que sempre foi: a sua direcção, eu em concreto, e as coisas que nós dizemos.

Portanto, hoje não têm ligação, nem subscrevem qualquer tipo de ideologia neonazi?

Nem hoje nem nunca, nunca subscrevemos, nunca isso aconteceu. Dentro de cada partido, pode haver pessoas que tenham estilos próprios, mas o partido nunca foi isso. Mas se as pessoas querem dar essa conotação, problema delas. Eu não renego o passado, nem me envergonho de nada. Nem acho que seja nenhuma mancha. Simplesmente o partido teve o percurso que teve, e sempre defendeu abertamente as causas que eu divulgo. E aquilo que eu dizia há 20 anos, há 15, ou há 10, digo hoje; sem problemas nenhuns. Nós somos um partido nacionalista. Xenófobo ou racista são chavões, que dá para tudo. Eu não sei o que é ser xenófobo ou racista, sinceramente; porque chamam racista a quem não quer que haja uma invasão de imigrantes. Isso hoje é ser racista… Portanto, eu desprezo esse tipo de rótulos. Estou-me nas tintas para esse tipo de rótulos, não me importo absolutamente nada. Nós somos o que somos.

Olhando agora para a frente, que propostas têm? Têm defendido ideias como a industrialização da economia, a promoção da agricultura e as pescas, regular os mercados de energia e o financeiro, e regular os produtos de primeira necessidade. Mas sobre as questões mais actuais, como a habitação e a Saúde, o que propõem?

Começou por falar numa área que não é propriamente aquela que mais nos identifica. Nós temos posições sobre todas as matérias, desde o Ambiente até a imigração. Mas há matérias que são bandeiras principais, porque nos distinguem de todos os demais. E na economia também, porque nós repudiamos de igual forma o socialismo e o liberalismo; para nós, são dois cancros, duas mazelas e dois atentados à soberania de uma nação. Repudiamos veementemente o socialismo, por criar um Estado paternalista igualitário que não premeia o mérito e que trata de igual forma o empreendedor e o parasita, e repudiamos igualmente o liberalismo, que sobrepõe a economia e o mercado à política e às nações.

Então o que é que defendem nesse aspecto?

Nós defendemos, como dizemos no início do nosso programa, a identidade, o património histórico e cultural e a soberania da nação, para que a nação seja coesa e que tenha futuro. Contudo, temos de definir perspectivas político-sociais que sejam realistas no contexto em que vivemos, nós não somos tontinhos e desajustados do tempo, nem anacrónicos. Portanto, uma coisa é aquilo que idealizamos, e outra coisa é aquilo que é possível. Eu, pessoalmente, gosto do proteccionismo de mercado. Dou-lhe dois exemplos muito concretos e muito bem-sucedidos: a Espanha de Franco, ou o Brasil do regime militar; em que se tinha capacidade e meios para promover a produção nacional e alavancar a economia. Foram dois grandes sucessos para ambos os países. Mas eu sei que hoje não é possível replicar esse modelo – no contexto actual, o com a União Europeia, nada disso é possível. Mas também é verdade que se uma pessoa está amarrada, pode tentar com alguns movimentos folgar um bocadinho os laços. Portanto, aquilo que nós defendemos é proteger na medida do possível tudo o que é produção nacional, e – na medida do possível, mas sendo corajosos nisso e batendo o pé onde pudermos –,  relançar os sectores vitais para uma maior autonomia e soberania, como os sectores alimentar, energético, pesca, agricultura, indústria.  Nós demos cabo disso tudo; a nossa integração europeia não só foi uma irresponsabilidade mal feita, porque podia ter sido muito melhor acautelada… A entrada no euro, no meu ponto de vista, foi também um erro crasso. Porque os portugueses continuaram a ganhar salários na lógica do escudo, mas a consumir na lógica do euro, e a perder uma qualidade de vida absolutamente extraordinária e tudo isto está irrecuperável. Nós somos um país com um mercado, por exemplo, habitacional, com preços a nível de outras cidades europeias, mas ganhamos muitíssimo menos. E estamos numa concorrência desleal porque vêm cá estrangeiros, compram casas, e estão a comprimir e a fazer uma pressão brutal no mercado habitacional.

Mas também incentivados por algumas políticas.

Sim. E por isso é que eu digo que este é um tegime traidor porque nos desprotege e está a prejudicar o seu próprio povo. E isso volta-me à questão do proteccionismo de mercado: nós defendemos o proteccionismo onde ele é possível, e há sectores onde é possível. E o que este regime faz, com estes sucessivos governos… E repare que eu não aponto só o dedo ao PS, porque isso é a tal ilusão muito pouco exigente. Não me interessa combater o OS; eu quero combatê-los a todos, porque são, no fundo, todos culpados. É verdade que o PS esteve lá muito mais anos, mas os outros também fizeram a mesma porcaria; os vistos Gold e essas coisas todas que nos estão a prejudicar gravemente. Nós defendemos o maior proteccionismo possível em cada momento, que não tem nada de mau, pelo contrário: é muito bom, é proteger aquilo que é nosso. Dir-me-á que há muitos limites em função da União Europeia. Pois há, mas nós temos que começar a alargar um pouco isso e criar as condições para que, num futuro o mais breve possível mas sempre distante, possamos pensar numa espécie de Brexit. Porque as pessoas diziam que a Inglaterra se ia perder, e não se perdeu nada. A Inglaterra continua o seu caminho; é verdade que tem outra capacidade porque não estava no euro. Mas por isso é que eu defendo que temos de começar a olhar para nós e criar as condições para que um dia possamos não depender. Porque por este caminho, o que é que nós somos? Somos um povo escravo. Vamos ser um país cada vez mais periférico, que não tem peso nenhum, e vamos ser um povo de serviços – de má qualidade, ainda por cima.

José Pinto-Coelho na RTP, no debate entre os líderes dos partidos sem assento parlamentar.
(Foto: Captura de imagem do programa na RTP1)

Portanto, defende a saída de Portugal, a prazo, da União Europeia?

Sim, nós somos contra a União Europeia e contra esta união federalista e castradora. Mas nós não somos irresponsáveis como o MRPP, e demagogos, a dizer que vamos sair já, e vamos sair como? E depois no dia seguinte, quem é que paga os ordenados da função pública? Isso é impossível. Temos que perceber que isso é impossível. Porém, também não alinhamos com aqueles que estão muito confortáveis na União Europeia. Do nosso ponto de vista, a UE é um corpo estranho, e tem de ser combatido porque é uma construção artificial. A EU de hoje não tem nada a ver com a inicial CEE. Ou seja, está a ser mudada nas nossas costas, nos bastidores, por políticas obscuras e interesses inconfessáveis que só prejudicam as nações. E, com isso, prejudica que as empresas nacionais e as famílias nacionais. Eu detesto a UE, mas nós não podemos sair agora. Temos é de criar condições para um dia fazê-lo. Mais uma vez, as nossas políticas e as nossas propostas são a prazo; é uma mudança de paradigma e mudança de mentalidades. A curto e a médio prazo, aquilo que podemos fazer é mudar algumas coisas. E é por isso que é urgente que entremos na Assembleia da República, para que a partir daí possamos crescer desmesuradamente – que eu acredito nisso – e começar a mudar o rumo de algumas coisas em Portugal.

E defende um protecionismo em que áreas, por exemplo? Indústrias, produtos? Em tudo. A mim faz-me imensa aflição que, por exemplo, a eletricidade seja dos chineses, ou que a ANA seja dos franceses; isso não faz sentido. As coisas, ou são viáveis ou não são viáveis. Se são, porque é que não estão na mão dos portugueses, e estão na dos chineses? Isso é um crime de traição à pátria: passar sectores absolutamente vitais da nossa economia e soberania para mãos estrangeiras. Nunca poderia ter acontecido. E não era obrigatório, ninguém nos obrigou a vender. Outro exemplo: os nossos impostos estão a pagar milhões de euros por ano de arrendamento aos proprietários do Campus de Justiça, que também são franceses. Isso faz algum sentido? É nesta perspetiva que temos de ter medidas proteccionistas, e garantir a maior independência e autonomia possível. E isso aplica-se transversalmente em todos os sectores: desde a propriedade às grandes empresas, às energias, e à produção agrícola. Tudo. Onde podemos ter em português, não devemos abdicar, e devemos recuperar isso. Por isso é que também – e agora vou mudar um pouco de tema –, o acordo ortográfico, por exemplo, também é uma traição, porque estamos a desvirtuar aquilo que é a nossa língua escrita e a abdicar voluntariamente de uma parcela importante de identidade nacional. Portanto, isto aplica-se quer à cultura quer à economia e à população.

Então também não gostou do novo símbolo da República Portuguesa?

Isso é absolutamente absurdo. E os preços… Aquilo custou quase 80.000 euros.  Desbaratam o nosso dinheiro. E esse símbolo é absolutamente deplorável, porque não é um símbolo nada; é um grafismo que não pode simbolizar uma pátria. Até porque as pessoas são muitas vezes induzidas em erro e acham que a bandeira portuguesa é tricolor, mas não é. A bandeira é bicolor, com o verde e o encarnado. Só que depois tem um escudo, com a esfera armilar, e tem ali um certo amarelo; mas leva as pessoas a pensarem que é tricolor, e este grafismo novo induz ainda mais a isso. Nós não somos os Camarões; os Camarões sim, têm essas cores. Mas nós temos esta bandeira, é a bandeira nacional e eu prezo-a, por um lado, porque foi sobre ela que lutámos no Ultramar, mas desprezo-a em simultâneo, por ser a bandeira da República. Eu não sou republicano, sou monárquico; e ainda por cima é uma bandeira maçónica, porque aquilo veio muito da carbonária da Maçonaria, sobretudo o verde. Mas enfim, isso são outros 500….

João Pais do Amaral num vídeo de campanha do Ergue-te.

E qual é a vossa postura em relação ao tema da imigração e o fluxo migratório que vemos para Portugal e outros países europeus?

Já em 2000, há 23 anos, nos insurgimos contra as leis permissivas de imigração. Nós sempre nos batemos pela nossa identidade e pela promoção do crescimento demográfico de portugueses; porque nós estamos a passar um terrível Inverno demográfico, nascem cada vez menos portugueses, e é preciso investir é no nascimento de portugueses e não na importação de imigrantes para colmatar essa falha. E nós sempre nos insurgimos contra aquilo a que chamamos a invasão imigrante, ou seja, uma imigração descontrolada e excessiva. E sobretudo se ela vem de pessoas que culturalmente não partilhem da nossa matriz, porque isso é pôr em perigo, obviamente, a nossa identidade, matriz cultural e os nossos costumes. Em 2007, com aquele famoso cartaz do Marquês, que pusemos, corremos um grande risco. Houve partidos que apresentaram queixa na Procuradoria-Geral da República para nos extinguir e ilegalizar. Isso é verídico. Mas nós, com coragem, dissemos que basta de imigração, e nacionalismo é a solução, e com uma nota de humor também, que faz parte, a dizer para fazerem boa viagem. Portanto, nós sempre fomos contra esta imigração invasora, e contra os acordos Schengen. Um país sem fronteiras é a mesma coisa que uma casa sem portas; ninguém na sua casa tem a porta escancarada nem retira a porta. Entra apenas quem nós queremos. Portanto, isto não faz absolutamente sentido nenhum. E esta onda de invasões migrantes tem sido cada vez mais maior e mais volumosa.

Na sua opinião, a Europa e Portugal deveriam, e sobretudo Portugal que também é um país de emigrantes e que sempre na sua história se integrou, umas vezes melhor, outras vezes menos bem, com outras culturas. Entende que Portugal e a Europa deveriam fechar os olhos, por exemplo, a imigrantes que vêm de países que estão em guerra, de situações de pobreza extrema e de fome que atravessam o Mediterrâneo? O que é que fariam em relação a essas pessoas?

Quando começou a primeira grande onda desses ditos refugiados que atravessavam o Mediterrâneo, nós em 2015, quando tivemos a melhor votação, pusemos um outdoor – o único – a dizer ”não aos refugiados”, e pusemos refugiados entre aspas porque eram imigrantes e migrantes económicos. Aproveitaram a situação da guerra na Síria, e os que cá chegavam vinham de vários países, nem sequer eram da Síria. Portanto, aquilo foi um falso acolhimento de refugiados. Ainda hoje, continuam a chegar ao Algarve de vez em quando pessoas vindas de Marrocos e vêm lá com os seus ténis de marca e os seus telemóveis… Isto é uma vergonha. Mas deixe-me só acabar aqui com um mito. Portugal sempre foi um país de emigração, é verdade. E tem tido surtos de emigração consideráveis desde o século XIX, pelo menos, para vários pontos do globo, mas atenção: primeiro, os portugueses que ficam não têm de ser reféns dos que partem. Era o que mais faltava! Aqueles que ficam têm de aceitar como moeda de troca outros, só porque alguns dos nossos querem ir para fora?

E hoje há outra vez esse movimento, com muita saída de jovens do país.

Exactamente; eu já vou a esse aspecto. Mas, de uma vez por todas, as pessoas têm que bater o pé e não se deixar comer por parvas com certas coisas. Porque nós também emigrámos… Sim, eu também vivi no Brasil a seguir ao 25 de Abril, era miúdo. Mas os portugueses que ficam não têm que ser reféns daqueles que partem. Depois, quando os portugueses emigram a sério, emigram para trabalhar, e não é de mão estendida à espera de apoios sociais. E quando emigram, respeitam o país que os recebe, integram-se e vão para países de matriz cultural semelhante. Nunca houve imigração maciça de portugueses para o Uganda ou para a Tailândia… Procuram o Brasil, a Venezuela, França, Alemanha, Inglaterra…

(Foto: PÁGINA UM)

Onde podem ter oportunidades de emprego e de condições de vida.

Sim, mas repare, os portugueses nos anos 60 foram viver para bairros de lata nos arredores de Paris, sem electricidade, sem água e com condições de higiene miseráveis. E, portanto, o português não é emigra para usufruir de apoios sociais, e emigra para países semelhantes. Mas nós s não temos que ser reféns disso e não temos que receber uma imigração que custa muito ao país, por muito que que os observatórios falem do lucro; não dão lucro nada. Porque repare, quando falam naquele número astronómico para a segurança social: é evidente que os trabalhos têm que descontar. Mas, para já, n[os não temos que ver as coisas de uma perspectiva economicista, porque há coisas muito mais importantes, como a questão da identidade e da substituição populacional, que há muitos anos vimos alertando. Mas mesmo do ponto de vista da economia, então e o que perdemos em apoios sociais? E o que perdemos na criminalidade que tem vindo a aumentar? E não venham com conversas que o português se tornou mais criminoso; a criminalidade vem sim da imigração descontrolada.

Mas também há muitas redes, que acabam por aproveitar-se da fragilidade de muitos imigrantes, não é?

Claro; mas nós não apontamos o dedo ao imigrante em concreto – excepto em alguns casos –, mas sim aos nossos governantes, que são traidores e que permitem isto. E isto é tudo uma hipocrisia: nós estamos a assistir a uma invasão do Indostão, pessoas que vêm do Paquistão, do Nepal, da Índia, e que depois têm trabalho escravo! Como é que essas pessoas que são os campeões de defesa dos direitos humanos e da dignidade – toda a esquerda –, mas depois encomendam comida fornecida por um paquistanês que passa o dia, de sol a sol, a trabalhar para dar ao pedal, para ganhar uma miséria e que vive num buraco qualquer com mais de 50 pessoas? Isto é uma hipocrisia, porque eles estão a fomentar o trabalho escravo, indigno e estão a prejudicar gravemente os portugueses. Mas estes são os que trabalham; porque também há tantos imigrantes fora dos grandes centros urbanos, como no Alentejo, que vivem exclusivamente de apoios sociais pagos com os nossos impostos. Isso é de uma injustiça tremenda. Portanto, o que o Ergue-te sempre defende é reverter os fluxos migratórios. E isso não se faz com medidas avulso nem com cosméticas; e por isso é que eu falo sempre na mudança de paradigma, e isso vai levar tempo; mas é preciso começar. É preciso começar a criar condições para que Portugal, baixando impostos – é a famosa curva de Laffer…

Portanto, defendem que se reduza a carga fiscal?

Sim, para animar a economia, porque quando há uma grande pressão sobre os impostos, o próprio Estado não angaria tantas receitas como angariaria se houvesse uma redução de impostos. E o Brasil, com Bolsonaro, recentemente, é um exemplo disso. Trump também fez isso e foi um sucesso económico brutal. Acontece que é preciso mexer em muitas situações.

(Foto: D.R./Ergue-te)

Portanto, menos impostos para as empresas, para as famílias?

Sim. É preciso voltar a criar condições para que os portugueses regressem, porque há muitos portugueses, sobretudo jovens, massa cinzenta, que sai do país; alguns, porque querem, mas isso é uma minoria. A maior parte é porque a sua mãe pátria lhes recusa um ganha-pão digno e não lhes dá valor, porque as pessoas tiram cursos superiores muitas vezes, e depois vão ganhar 800 ou 900 euros.

E não tem habitação. Mas para fixar de facto esses jovens e para haja salários mais dignos, que medidas é que propõem?

Várias coisas, e vou ser muito sumário. Em relação à imigração, é fechar as portas, e mandar embora aqueles que estão cá a mais e que vivem em apartamentos aos 50 ou aos 40. Nós não queremos cá imigrantes de raças e culturas que não têm nada a ver connosco; e queremos mudar a lei da nacionalidade, porque a nacionalidade herda-se e não se atribui administrativamente na secretaria. Por outro lado, atrair os jovens baixando impostos. O problema da Habitação é culpa directa de todos estes governos. As pessoas não vão gostar desta medida e vão dizer que perdemos votos, mas não queremos saber,  nós pensamos nos portugueses em primeiro lugar: queremos acabar com o alojamento local nas grandes cidades. Em Lisboa e no Porto não pode haver alojamento local; no resto do país, onde quiserem, tudo bem. Depois, fiscalizar as casas que têm lá a viver 40 e 50 indostânicos, e proibir isso, mandá-los embora para sua casa, e reverter os fluxos migratórios. Depois, recuperar edifícios que estejam devolutos do próprio Estado, impedir a venda de casas a não residentes em Portugal, porque tem havido uma imensa especulação imobiliária e nós estamos a concorrer com o poder de compra de estrangeiros. E há ainda a questão de que a Caixa Geral de Depósitos devia efectivamente baixar os juros à habitação, porque tem margens de lucro astronómicas. E se nós não podemos impor isso aos bancos privados, o Estado tem a obrigação de o fazer – aqui está um aspecto de intervencionismo e de proteccionismo. Se o Estado o fizesse, os outros, por concorrência, eram obrigados a baixar também os juros.

(Foto: D.R./Ergue-te)

Portanto, com esse conjunto dessas propostas, já iria haver mais habitação?

Eu estou convencido que sim.

Nos últimos anos, o vosso partido foi crítico, da questão da TAP, mas também, por exemplo, das aulas de cidadania, que defendem que deve acabar. Na Educação, que mudanças é que defendem?

Para nós, a Educação, está muitíssimo capturada pelo marxismo cultural, sem dúvida, e pelo que chamam a ideologia woke. E temos que despir a Educação de qualquer tipo de carga ideológica. Sobre a disciplina de Cidadania, nós, ao contrário de outros que defendem que seja opcional, defendemos que deve ser extinta. Porque não podemos permitir que, mesmo opcionalmente, a pretexto de uma suposta cidadania, despejem lixo na cabeça das nossas crianças.

Está a falar da questão da identidade de género?

Sim, da ideologia de género e essas coisas. Para já, não existe género; só existe o sexo masculino e o sexo feminino, ponto Final. Portanto, tudo isso já é uma novilíngua que estão a impor para confundir as mentes, e é preciso ter coragem de o dizer; eu não falo em género, só há dois sexos. O resto, são fantasias e invenções delirantes de esquerdistas. Depois, como é que é possível estarmos a investir 400 milhões nesta ideologia de género, em que uma das parcelas desse investimento é para ir buscar ao Uganda homossexuais que estão a ser perseguidos? Quer dizer, mas nós somos algum caixote do lixo, para vir tudo o que os outros países não querem? Nós não somos a Santa Casa da Misericórdia. Tudo isto um perfeito absurdo.

Mas também são pessoas que são sujeitas, se calhar, a serem detidas e serem maltratadas nos países de origem.

Mas isso é um problema deles, os países que resolvam. Nós é que temos de pagar por isso e recebê-los?  Cada um que resolva os seus problemas. Por exemplo, nós somos também contra o Islão, e não queremos cá o Islão; se nós importarmos o Terceiro Mundo, ficamos iguais ao Terceiro Mundo. E a Educação é um sector absolutamente fundamental, porque é aí que estão a formatar as nossas crianças. Há três sectores que são absolutamente fundamentais e que têm sido usados pela sabedoria do marxismo cultural: a escola, a universidade e a comunicação social. Usam-nos para promover tudo o que é porcaria e isso tem que ser revertido, porque estão completamente capturadas para formatar as mentes e para destruir tudo o que sejam valores tradicionais. E só para terminar: chamam-nos conservadores, mas nós não somos conservadores – somos tradicionais, que é muito diferente. Eu não sou conservador, não me sinto como tal e repudio isso até; sou tradicionalista, que é bastante diferente.

Transcrição de Maria Afonso Peixoto


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