EDITORIAL - OPINIÃO DE PEDRO ALMEIDA VIEIRA

Segurança das vacinas contra a covid-19: Froes & ERC em ‘indecentes e más figuras’

por Pedro Almeida Vieira // Fevereiro 29, 2024


Categoria: Opinião

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Em Janeiro passado, a revista científica ESC Heart Failure, pertencente à Sociedade Europeia de Cardiologia, publicou um artigo intitulado “Autopsy findings in cases of fatal COVID-19 vaccine-induced myocarditis“, que constitui “uma revisão sistemática de todos os relatórios de autópsia publicados envolvendo miocardite induzida pela vacinação contra a covid-19 até 3 de Julho de 2023”. Há largos meses que, nos meios científicos, o tema da segurança das vacinas contra a covid-19 deixou de ser tabu. Pelo contrário.

Por exemplo, na conceituada revista científica Vaccines, actualmente, todos os 10 artigos mais lidos são sobre a vacina contra a covid-19, sendo que oito investigam efeitos adversos ou questões de segurança. Em 26 de Junho de 2021 – ou seja, em pleno programa de vacinação – não havia nenhum artigo científico sobre as vacinas contra a covid-19 nos mais lidos da Vaccines, nem sobre segurança nem sobre outra qualquer questão. Nessa altura, em 2021, e até 2023, essas vacinas eram ‘endeusadas’ e seria uma ‘blasfémia’ questionar aspectos de segurança ou apelar a avaliações estratificadas de benefício-dano potencial.

a dimly lit tunnel with a bench in the middle

Mas vamos ao artigo do ESC Heart Failure. Os autores salientam que, “no momento em que o artigo [científico] foi escrito, uma pesquisa no PubMed [base de dados do National Library of Medicine, nos Estados Unidos], usando os termos “miocardite” e “vacinação contra a covid-19” forneceu 994 resultados, indicando amplo interesse entre os pesquisadores na miocardite induzida pela vacina contra a covid-19”. Salientam também que “até 16 de Junho de 2023, o Sistema de Notificação [norte-americano] de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) incluía 1.569.668 notificações de eventos adversos associados às vacinas contra a covid-19, incluindo 35.487 mortes, 27.229 notificações de miocardite e pericardite e 20.184 notificações de ataque cardíaco”, salientando a credibilidade desta base de dados por, antes da pandemia, 86% dos registos serem “preenchidos por pessoal médico ou fabricantes de vacinas e apenas 14% foram feitas pelo paciente ou pela sua família.”

Citando já vasta bibliografia científica, os autores começam por elencar uma série de potenciais efeitos adversos: “Existe uma alta probabilidade de uma ligação causal entre a vacinação com mRNA contra a covid-19 e a miocardite, a doença neurodegenerativa, a trombocitopenia imunológica, a paralisia de Bell, a doença hepática, a imunidade adaptativa prejudicada, a resposta prejudicada a danos no ADN e a tumorigénese. Além disso, um estudo recente descobriu que a vacinação repetida contra a covid-19 com vacinas baseadas em mRNA leva à produção de concentrações anormalmente elevadas de anticorpos imunoglobulina G4 (IgG4). Estes anticorpos podem não conseguir neutralizar a proteína spike, que demonstrou circular durante pelo menos 28 dias, causar supressão imunitária e promover o desenvolvimento de doenças autoimunes, incluindo miocardite.”

Passada a histeria pandémica – promovida por governos, imprensa e peritos associados a farmacêuticas –, não há hoje nenhum investigador sério que possa auto-censurar-se ou aceitar censura sobre as vacinas contra a covid-19, que não queira questionar(-se), que não apele à investigação, que prescinda em reclamar a necessidade de se apurar a verdade sem dogmas nem preconceitos, sobretudo se surgirem sinais de preocupação. Há um pouco menos de dois anos, o PÁGINA UM fez uma breve resenha histórica de 10 fármacos concebidos para tratar de doenças, mas que correram mal. Muitos até salvaram vidas, embora tenham sido retirados do mercado por falhas de segurança ou desaconselhados a determinadas pessoas face à relação benefícios-danos potenciais. Em muitos casos, a descoberta de problemas de segurança deve-se ao trabalho meticuloso (e odiado pelos visados) do jornalismo de investigação.

MacBook Pro on white surface

Foi sempre essa a minha postura como jornalista e como director do PÁGINA UM face às vacinas contra a covid-19: pesquisar e questionar, procurando o rigor. Sobre as reacções adversas das vacinas, o PÁGINA UM foi o único órgão de comunicação social português que procurou ter acesso à base de dados das reacções adversas (Portal RAM), não para especular nem para mentir, mas para relatar com verdade. Um jornalista não deve nem endeusar nem diabolizar. Até agora não o conseguimos, porque o Infarmed recusa e o caso está ainda nos tribunais administrativos. Tudo aquilo que tenho escrito como jornalista – mesmo quando opino – baseia-se sempre em artigos ou, como sucedeu já no ano passado, com uma análise (morosa) à base de dados da Eudravigilance, gerida pela Agência Europeia do Medicamento, incorporando artigos científicos, sempre artigos científicos publicados em revistas científicas.

Ora, mas em Portugal, isso não basta a um jornalista. Se se sair da “linha oficial”, sai a ‘polícia dos costumes’, ou do costume.

Não basta a um jornalista – se tivermos, como temos, empresários ao serviço das farmacêuticas, como sócio da Terras & Froes, pneumologista a ‘tempo parcial’ no Serviço Nacional de Saúde mas com tempo para  fazer uma queixa a um regulador que, por sua vez, está desejoso de tirar desforço de um órgão de comunicação social independente que, em diversas ocasiões, já provou que esse regulador anda ‘a ver navios’ ou é conivente com a promiscuidade entre media, Estado e empresas.   

Ora, ontem, para meu espanto, enviaram-me um post no mural do Facebook do Doutor Filipe Froes, onde ele, felicíssimo, “a propósito de duas publicações intituladas ‘Efeitos adversos: este ano há quase nove mortes por dia associadas às vacinas da covid-19 na Europa’, de 5 de maio de 2023, e ‘Mortes súbitas: vacinas contra a covid-19 associadas a 1.241 casos na Europa’, de 11 de agosto de 2023” – ambas da minha autoria –, partilhava as conclusões da Deliberação ERC/2024/80 (CONTJOR-NET), aprovada a 7 de Fevereiro passado – e da qual eu ainda não tivera sequer conhecimento nem formal nem informal.

Filipe Froes, o queixoso, fez gala da deliberação da ERC antes mesmo de esta ter sido enviada ao PÁGINA UM.

Diga-se que a queixa foi apresentada ou assumida pela ERC como uma queixa anónima – como convém.

Ora, só hoje me chegou formalmente, e por ter sido solicitada à ERC – a decência não os levou a enviá-la antes do meu pedido – a dita deliberação. E a conclusão a retirar é que a infâmia dos membros do Conselho Regulador (Helena Sousa, Pedro Correia Gonçalves, Telmo Gonçalves, Carla Martins e Rita Rola) não tem limites e desta vez será resolvida nos bancos dos tribunais. Serão acompanhados pelo Doutor Filipes Froes. Todos por injúria e por difamação.

Vejamos: a ERC até chega, no ponto 30 da sua infame deliberação, a listar as “fontes de informação” que usei: 1) a base de dados Eudravigilance; o documentário Died Suddenly [o que até é falso; refiro que “as mortes súbitas associadas às vacinas contra a covid-19 não serão certamente tão frequentes como apontou há dois anos o documentário Died Suddenly, mas não são zero. Nem meia dúzia.”, ou seja, está longe de ser uma fonte]; 3) a revista científica Vaccines; 4) um editorial na revista científica Journal of American Physicians and Surgeons do Verão de 2023; 5) o banco de dados PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina; e 6) o relatório de farmacovigilância da vacinação contra a covid-19 do Infarmed.

Convém salientar que ambas as notícias se basearam em pesquisas morosas e detalhadas na Eudravigilance. No caso da segunda notícia foi analisados, durante três dias, os registos individuais de 914.536 reacções adversas expostas no portal do EudraVigilance, tendo-se sido identificados 1.241 registos de mortes súbitas, todas indicadas por farmacêuticas ou reguladores, ou seja, depois de previamente ‘triados’ para apurar uma associação com a vacina.

Este foi uma das tabelas apresentadas no artigo de 11 de Agosto, através de uma análise exaustiva dos dados da EudraVigilance, onde se conseguiu apurar o número de mortes súbitas associadas à vacinação contra a covid-19 (por vacina e por ano).

Porém, para a ERC eu cometi um crime capital – para além de ter incluído uma fotografia de Tedros Ghebreyesus “a rir para a câmara” e outra uma “avestruz com a cabeça enfiada na terra”, bem como de usar “adjetivação muito marcada”, “substantivos conotados” e uma “expressão em castelhano” sobre a existência de bruxas. E esse erro capital é o seguinte, textualmente: “O ângulo adotado pelo Página Um de que a vacina anti-COVID-19 é a provável causa das mortes súbitas leva à reiteração de que a sua segurança para a saúde pública deve ser investigada pelos governos e autoridades”.

Isto mesmo: perante o silêncio de um Governo e de um regulador dos fármacos (Infarmed), que escondem informação e não investigam (lembram-se do relatório do excesso de mortalidade prometido por Marta Temido em Agosto de 2022?), a ERC acha inadmissível que um jornalista queira que a questão da segurança das vacinas seja investigada.

Pior, a ERC diz que cometo uma “falta de rigor informativo, sobretudo pela insuficiência na demonstração de um nexo de causalidade entre a toma das vacinas e as mortes e na ausência de fontes de informação diversificadas, que permitiriam a apresentação de perspetivas contrastantes sobre o tema”. Estamos a falar de membros de um regulador que têm um nível de formação em epidemiologia, em análise de base de dados em Saúde Pública ou em estatística similar à de uma batata. Ou de uma barata.

Até o uso de uma avestruz numa foto é criticada pela ERC, que diz “indicia[r] uma conduta em que se deixa de lado qualquer dever de isenção”.

Não deixa, aliás, de ser curiosa esta interpretação da ERC relativamente a “perspectivas contrastantes sobre o tema”. Por exemplo, quando o Doutor Filipe Froes falava profusamente na imprensa sobre os benefícios das vacinas, nunca vi a ERC preocupada por a generalidade dos jornalistas nunca falar sobre os riscos-benefícios (a começar nos menores de idades) nem sobre os seus conflitos de interesse com farmacêuticas. Também agiram contra órgãos de comunicação social que deram eco às opiniões do Doutor Filipe Froes (e outros ‘delegados de propaganda médica’) sobre medicamentos de farmacêuticas onde ele trabalhava, e que mais tarde foram suspensos por ineficazes ou por falhas de segurança? Será que só há falta de rigor quando não se endeusa um fármaco do agrado do Doutor Filipe Froes ou das senhoras e dos senhores da ERC indicados pelo PS e pelo PSD?

Será que os jornalistas que falaram noutros casos de fármacos com problemas, deveriam sempre ‘equilibrar’ com os benefícios obtidos? Por exemplo, o DDT trouxe benefícios; deve falar-se dos benefícios. Os CFC também; deve enquadrar-se com os benefícios. A talidomida idem; deve falar-se da maioria das grávidas que passaram a gravidez sem enjoos e com filhos perfeitos. Ou até, se falarmos da vacina contra a covid-19 da Astrazeneca (uma farmacêutica cliente do Doutor Froes) que foi suspensa pelas autoridades da Suécia, da Noruega e da Finlândia por razões de segurança em Outubro de 2021, deve-se destacar que, mesmo assim, salvaram vida (e se calhar até muitíssimas mais do que aquelas que mataram)?

O resto da deliberação da ERC é um chorrilho de tiques da Outra Senhora, onde os ditos infames ‘conselheiros’ acham que devem tecer considerações sobre estilos jornalísticos, focando a alegada “ausência de uma clara demarcação entre factos e opinião”, o que parece ridículo porque conseguem identificar bem, nos meus textos jornalísticos, aquilo que são factos e aquilo que é a interpretação de factos (opinião). Bem sei que o regulador – e os políticos – apreciam um jornalista que não interprete os factos na notícia, mas uma coisa é não apreciarem na sua cabeça; outra é, de forma infame, considerarem isso uma falha jornalística. A ERC não tem um poder regulatório sobre estilos.

O uso de uma foto pelo PÁGINA UM no artigo de Maio do ano passado também foi criticada pela ERC por “estar a rir para a câmara”.

Termino com uma citação do artigo da ESC Heart Fail (página 12) e a promessa de que a ERC, o Doutor Filipe Froes e outras ‘indecentes e más figuras’ não me calarão, e os verei em tribunal para defender a minha honra:

Um excesso de mortes não causadas pela COVID-19 foi identificado em todo o mundo após o início dos programas de vacinação em massa contra a covid-19, indicando a presença de uma nova exposição prejudicial entre as populações. Pantazatos e Seligmann extrapolaram que os relatórios do VAERS são subnotificados por um fator de 20. Quando este factor se aplica à contagem do relatório de óbitos no VAERS de 16 de Junho de 2023, que é de 35.487, o número de mortes nos Estados Unidos e em outros países que usam o sistema VAERS passa a 709.740. Deve ter-se em conta que esta extrapolação é uma estimativa geral e pode não ser precisa. No entanto, se um número considerável de mortes for confirmado, as vacinas contra a covid-19 constituiriam o maior desastre de segurança biológica da História da Humanidade”.

Não sei se será, mas é a obrigação de um jornalista procurar saber, investigando. Até para que possa sossegar os leitores se não houver afinal qualquer problema relevante. É essa a função do jornalismo.


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