Enquanto o regulador – aka ERC – se entretém, de forma patética – como se pode ver aqui, mais aqui e ainda mais aqui– a fazer de conta que arbitra regras para uma equidade democrática inexistente nesta (como em outras) campanha eleitoral, o PÁGINA UM terminou ontem um projecto editorial de que me orgulharei sempre: propusemos a todos os 24 líderes dos partidos inscritos no Tribunal Constitucional uma entrevista para o HORA POLÍTICA.
Com uma redação de apenas três jornalistas – mas com o merecido destaque para a jornalista Elisabete Tavares –, o PÁGINA UM entrevistou em podcast e publicou em texto integral um total de 19 líderes partidários, desde o mais novo partido (Nova Direita), publicada no dia 12 de Fevereiro, até ao mais antigo (Partido Comunista Português), ontem publicada.
Questiono-me sobre a razão pela qual um órgão de comunicação social com apenas três jornalistas, enquanto estes ainda mantinham em curso as demais actividades do jornal (incluindo edição e paginação), fez aquilo que outros, com dezenas ou mesmo centenas de jornalistas – como a RTP ou a Lusa, que ainda detêm obrigações de serviço público –, não fizeram apenas por não quererem fazer?
Não querem, mas depois queixam-se de cátedra dos populismos e dos riscos para a democracia do surgimento de populistas e extremistas. Não aplicar a máxima ‘uma pessoa, um voto’ à outra máxima ‘um partido, uma mesma oportunidade’ é que coloca a democracia em perigo, e fomenta populismos e extremismos, porque a receita para se ‘chegar’ ao eleitorado não é fácil com o actual comportamento dos media.
Em todo o caso, confesso: o HORA POLÍTICA não foi um sucesso absoluto, porque cinco líderes partidários optaram por não conceder entrevistas ao PÁGINA UM, eventualmente por considerarem que o impacte mediático seria pequeno ou negligenciável. Curiosamente, dos cinco faltosos – os líderes do Livre, Bloco de Esquerda, PPM , PS e PSD –, quase todos arranjaram agenda para programas de entretenimento ou mesmo conversas com humoristas. Dar umas graçolas é para muitos destes líderes, fica-se assim a saber, mais importante do que falar de política e de propostas para o futuro de Portugal.
Sabíamos que um jornal independente, e sem o estatuto e compromissos da legacy media, teria muitas dificuldades em se tornar apelativo para os partidos mais relevantes, mas a ideia também era saber do grau de democraticidade de cada um dos líderes. Nesse aspecto, ficámos – e eu particularmente fiquei – a saber como Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos, Gonçalo da Câmara Pereira (embora este seja um caso, enfim, que raia o anedótico), Mariana Mortágua e Rui Tavares olham para a democracia, para a imprensa e para o jogo político, onde parecem sentir-se bem com regras democráticas injustas desde que a injustiça os beneficie perante os outros.
Por regra, em Portugal o director de um órgão de comunicação social não revela a sua ideologia e o sentido de voto em eleições. No caso do PÁGINA Um, sempre me defini de esquerda (apesar de, há muito, ‘órfão’ do ponto de vista partidário), também não o farei, mas sempre poderei anunciar em quem não vou votar: AD, PS, Bloco de Esquerda e Livre. Estes partidos deixaram de ser hipótese para o meu voto, não por questões ideológicas – votei em dois deles em diversas eleições ao longo das últimas décadas –, mas por não revelarem o nível de democraticidade que lhes deve ser dirigido. É portanto, sem ressentimentos, por uma questão de princípio. E em democracia, os princípios são tudo.
Uma nota final: depois de uma aposta muito significativa no acompanhamento das eleições – que incluiu, além das entrevistas, o podcast sobre as eleições passadas e a série de vídeos ‘Indecisos’ –, o PÁGINA UM tem necessidade de uma reorganização nas próximas semanas, uma vez que também necessitará de encontrar novas instalações e de reorganizar-se.
Um projecto desta natureza – vivendo apenas de donativos e de acesso livre – pode fazer, de quando em vez, apostas numa tentativa de crescer, mas tendo a noção de ser necessário reafectar recursos se os efeitos não forem positivos. Do ponto de vista de esforço físico e financeiro, os projectos que desenvolvemos associados às eleições não tiveram o retorno que desejaríamos – tendo mesmo havido uma redução do número de apoiantes ao longo de Fevereiro –, pelo que, no sentido, de manter o equilíbrio financeiro do PÁGINA UM iremos fazer uma reformulação, que implicará, durante um prazo que esperamos curto, uma redução na produção quer de notícias quer de artigos de opinião, que passarão, para cada colunista, a uma periodicidade quinzenal.
Mas, relembrando Mark Twain, o PÁGINA UM está ainda muito longe da sua morte – pelo contrário, a redução do esforço de edição de artigos de opinião, crónicas, entrevistas e mesmo da secção de cultura, permitirá optimizar o nosso ‘core business’: as investigações e as notícias que os outros não dão ou não querem dar.
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