No último dia 10 de Março, tivemos as tão esperadas eleições legislativas, em que a Aliança Democrática – desconsiderando o PPM – ganhou com o menor número e percentagem de votos de sempre. Em 1980 obteve 2,707 milhões de votos (44,91%), em 1979 contabilizou 2,554 milhões de votos (42,52%), em 2015 registou 1,994 milhões de votos (36,86%) e, agora, em 2024 foram 1,867 milhões de votos (28,84%).
Em 2022, PSD e CDS considerados juntos obtiveram uma percentagem superior de votos (29,27%) do que a Aliança Democrática em 2024. Podemos, assim, considerá-la uma vitória de Pirro, atendendo que não existe qualquer maioria de “direita” no Parlamento – supondo que as promessas das “linhas vermelhas” e do “não é não” são para manter.
A única vitória do regime foi, uma vez mais, a manutenção da maioria de dois terços dos deputados – suficiente para aprovar revisões constitucionais – pelos dois partidos socialistas, o PS-1 (Partido Socialista) e o PS-2 (PSD). Com uma percentagem de apenas 56,84%, muito inferior aos 66,6% correspondentes aos dois terços, continuam a controlar 68% dos deputados (156 deputados e tendo em conta os dois deputados do CDS) na Assembleia da República.
Mais uma vez, sem plebiscitarem as suas propostas de revisão constitucional durante a campanha eleitoral, é provável que voltem à carga com uma nova tentativa de alterar a Constituição da República Portuguesa (CRP). O objectivo é o de sempre: tornar possível que um funcionário administrativo, em lugar de um juiz, decrete a prisão domiciliária de um cidadão em nome do combate a um “vírus”.
Mas não só, também acomodará na CRP o novo tratado pandémico da Organização Mundial de Saúde (OMS), onde o Sr. Tedros, um personagem “eleito” e “mui” conhecido dos portugueses, decidirá se podemos entrar no avião ou se seremos obrigados a tomar a próxima substância experimental, em nome do combate à doença X – ainda não existe mas já se estão a preparar.
Do lado dos vitoriosos: o PS-1; depois da saída de 11 ministros e secretários de Estado em pouco mais de um ano, de 3,2 mil milhões € do “nosso dinheiro” na bancarroteira TAP, da pancadaria no Ministério das Infraestruturas, dos despedimentos por WhatsApp, das indemnizações de meio milhão de Euros ao final de 7 meses de trabalho, de uma secretária de Estado da Agricultura que tomou posse e demitiu-se em apenas 26 horas, devido a um processo judicial do marido, da operação Influencer e dos 75 mil € encontrados no escritório do chefe de gabinete do primeiro-ministro, ex-assessor do “grande engenheiro”, é absolutamente extraordinário que ainda existam 1,8 milhões de portugueses a votar no PS-1! Deveria ser um caso de estudo internacional.
O grande derrotado foi claramente o PCP, reduzido agora a apenas 4 deputados. Daqui a uns tempos, talvez tenhamos de criar uma reserva ou um museu para encontrar comunistas em Portugal. Apesar de tudo, temos de enaltecer o seu respeito pela CRP, ao contrário da extrema-esquerda caviar (Bloco de Esquerda e Livre); hoje, globalista e defensora do projecto totalitário, conhecido por União Europeia.
Recordemo-nos que há quatro anos foram favoráveis às restrições das nossas liberdades individuais durante a putativa pandemia; nos próximos tempos, iremos certamente vê-los a apoiar a “transição verde”, o envio de tropas para a Ucrânia, a identidade digital da União Europeia e as demais tropelias que se avizinham.
Em relação aos nossos “liberais”, mantiveram os seus oito deputados, o que se pode considerar uma vitória, tendo em conta o saneamento de Carla Castro ao melhor estilo estalinista, depois de se ter atrevido a candidatar-se à liderança do partido.
Mas importa destacar o grande vencedor: o partido Chega, que obteve a maior votação de um terceiro partido desde o início da “democracia”. Ligeiramente acima da percentagem obtida pelo PRD em 1985 (17,92%) e com mais 5 deputados, num total de 50.
Apresentou-se com um programa socialista e com todas as bandeiras: aumento vertiginoso de pensões, impostos sobre “lucros extraordinários”, impostos sobre os “lucros da banca” e favorável à manutenção da bancarroteira nacional nas “nossas mãos”. O único ponto polémico: a introdução de controlos sobre a imigração vigentes há poucos anos em Portugal, nada mais.
Assim, gera a maior das perplexidades a acrimónia para com o Chega por parte dos órgãos de propaganda, que decidiram proporcionar-nos debates de pouco mais de 20 minutos durante a campanha eleitoral, onde os seus “comentadores”, durante horas a fio, destilavam o seu veneno ao Chega, em particular ao seu líder André Ventura.
Mais hilariante foi o período pós eleição, nos múltiplos debates e comentários para comentar os resultados. Quem melhor que o canal que nos obrigam a pagar com vários milhares de milhões € para ouvirmos estas pérolas “democráticas”: os deputados do Chega não são mais que “assaltantes de caixas de esmola”; um partido “neofascista”, “racista”, “xenófobo” e “nazi”! Atenção: “nazi”.
Para não ficar atrás, o comentador Miguel Sousa Tavares informou-nos que as ideias do Chega são “antidemocráticas e contra o Estado de Direito”. É estranho, será que o Tribunal Constitucional não fez o seu trabalho?
O comentador João Maria Jonet não quis ficar atrás, dando-nos uma ideia do local onde o Chega encontrou os seus deputados: “Quem irá ser o quadragésimo deputado do Chega, vão buscá-lo a uma valeta?, sabe ler e escrever?, sabe falar em público?”
A cereja no topo do bolo, surgiu da pena de Luísa Semedo, numa coluna de opinião do jornal Público: “Não consigo deixar de olhar hoje para criaturas como Netanyahu, Putin, Trump, Bolsonaro, Orbán ou Ventura e não pensar nos primatas que são”! Enfim, uma macacada.
Por fim, a principal surpresa: os mais de 100 mil votos no ADN. No dia das eleições disseram-nos que havia milhares de pessoas a engarem-se no voto; aparentemente desejavam votar na AD, em lugar do ADN.
Estranha-se, pois nunca vimos tal erro entre os dois partidos socialistas, onde apenas se diferenciavam pela letra D durante múltiplas eleições. Aparentemente, os órgãos de propaganda julgam não existir portugueses revoltados com o que se passou há quatro anos: os confinamentos ilegais, a coacção para a toma de substâncias experimentais, a mortalidade excessiva, os atropelos às liberdades individuais, as fraldas faciais em crianças, a morte ao abandono dos idosos nos lares. Parasse que nada disto existiu, pelo que “são incompreensíveis” as razões para o voto no ADN, para além do erro.
Mas tenhamos esperança e alegremo-nos, pois dizem-nos que a herança do PS-1 não podia ser melhor: um excedente orçamental de 4,33 mil milhões €, algo inédito na “democracia”. Olvidam-se, no entanto, de mencionar a colossal dívida pública: 271 mil milhões € em Janeiro de 2024; bem como as dívidas da “Segurança Social” não reconhecidas nas contas do Estado. Reparem, a este ritmo necessitaríamos de 63 anos para pagar a dívida pública. Não é fantástico tudo isto?
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
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