Depois de uma crónica em dia de eleições, outra em ‘dia da crucificação’ de Jesus, não o JJ. O futebol, sabido está, é quando os homens (e mulheres) querem, e portanto o que vale um sufrágio democrático ou a quadra pascal quando há tantos golos a marcar e frustrações a terminar. Ou a falhar e a criar.
Hoje, declaro já, só um 15 a zero me deixará satisfeito. Ou menos irritado. Quer dizer, menos abespinhado, porque agastadiço já estou. Neste momento, preciso, para ser exacto. Então não é que chega este vosso escriba às imediações da Varanda da Luz, e uma sádica amiga lhe envia um magote de fotografias de rangos sem fins na bancada VIP do estádio, a saber: sandes de leitão, caril de galinha e legumes, arroz de cardamomo (que, confesso, fui ver o que era), bacalhau à lagareiro, massas, pães, bolos, mais bebidas à discrição – e eu, enfim, levo com o farnel costumeiro, mudando-se apenas a baguete para o recheio de atum, se calhar por causa da quadra pascal.
(o jogo entrentanto começou, já vai em cinco minutos, uma oportunidade de golo, mas nada…)
Em todo o caso, sabem já bem os meus (poucos) leitores que, em questões essenciais, como sejam jogos de bola, tento sempre encontrar, para prever resultados, sinais racionais, onde as leis da probabilidade funcionam, e também outros sinais mais esotéricos, como sejam fezadas. Por vezes, misturam-se.
Do ponto de vista objectivo, o 15 a zero é possível, atendendo que o Desportivo das Chaves é o último, com a pior defesa, tendo já empratado 56 golos. Bem, isto dá ‘só’ uma média de 2,15 golos sofridos por jogo, longe dos 15 que merece hoje levar terras transmontanas, mas convenhamos que se o Farense e o Arouca já lhe meteram cinco cada, e o Boavista e o Estoril quatro cada, então não é impossível para o Glorioso. Basta jogar um bocadinho melhor do que o Porto… que só lhes ganhou 1-0 nas Antas, no final de Dezembro.
Talvez a contribuir para aumentar as chances do 15-0 estará o João Mário, porque hoje, pelo menos até aos 65 minutos – altura em que o Roger Schmidt costuma fazer as substituições – em grande parte do tempo de jogo ocupará a posição de extremo quieto… no banco. Acho que o nosso colunista Tiago Franco, que o ‘adora’, estará, por estas alturas, particularmente feliz.
(penalty… é mesmo penalty! caramba, estava difícil o árbitro descortinar uma cotovelada de um defesa do Chaves na cara do Bah, nem com o VAR o homem se decidia… Anda lá, Angelito, o 15 a zero já é mais uma miragem, que quimera se mostra, pois já vamos no minuto 25, mas pelo menos faz o gosto ao pé e descansa a malta… mas que merda foi esta? Porra: até eu não faria pior; um chutezo para o lado direito do guarda-redes que nem sequer teve de se esforçar muito)
Como isto vai, temos então em perspectiva mais um jogo de caca, passe a expressão – que passará, que eu não censuro palavras –, pelo que nem sei bem se vale já a pena elencar os supostos alegados eventuais esotéricos sinais que me esperançaram, antes do apito inicial, a ver um 15 a zero. Bem, não perco nada, até porque são coisas parvas referem-se ao número da minha acreditação de hoje ser o 55 e o número da senha do ‘farnel do Benfica’ ser o 10…
Bem, nem eu sei bem que lógica (ou ilógico raciocinio) me poderia servir para fazer que um 55 e um 10 fosse dar, por artes de haríolo, num 15 a zero. Podia juntar um dos 5 ao 1 e ficava com o 0 do outro lado, mas o que faria com o outro 5? Escafedia-se.
(e nestas andanças se fez uma miserável primeira parte, condizente com um tempo de porcaria, para não dizer de merda, ao qual responde, ou corresponde, bancadas a meio gás)
Com o intervalo morno, se calhar caía-me bem agora era uma sandocha de leitão, mas tinha de ser da minha Bairrada… Enfim, mas também não me posso vender. Ou assim por tão pouco…
Bem, como isto se escrevinha em tempo real, sempre terei agora um tempinho, que esta crónica – a última em que falarei do meu desejo de ver um 15 a zero – está uma bosta e já nem sei bem que dizer, para divulgar nas redes sociais a ‘nossa’ (do PÁGINA UM) análise sobre as duas dezenas de Resolução de Conselho de Ministros de António Costa que condicionam o Governo de Luís Montenegro. Escrito esta tarde, antes de vir para esta malfadada Varanda.
(a segunda parte recomeçou… tudo como dantes no Quartel de Abrantes, ou seja, segue parca ou porcamente mal)
Isto está tão fraco que, na verdade, acho que houve um sinal, sim, mas aziago, que é a poça de água ao fim das escadas de acesso aos elevadores da comunicação social aqui do estádio. E eu até fotografei o aviso de piso escorregadio…
Passa o tempo e vem a desesperança. Eu sei que não deveria dizer isto numa crónica ‘comprometida’, que não é jornalística: o Benfica este ano só ganha o campeonato por milagre! E isto aplica-se também a este jogo, parece-me.
(olha, outro penalty, e indicado pelo VAR, que ainda por cima agora anuncia a ‘coisa’ pelos altifalantes… vamos lá, Arthur Cabral, não faças o mesmo que o Di Maria, chuta mellhor… mas que merda é esta?… falhou; está tudo doido)
Ainda por cima, envergonho-me perante o sportinguista Bruno Cecílio – com quem estava ao telefone, quando o Arthur Cabral se preparava para rematar, de sorte a combinarmos a hora para amanhã continuarmos a montagem de estantes na nova redacção do PÁGINA UM na rua… –, que ainda por cima teve o desplante de dizer que, e cito, “isso deve ser tudo uma roubalheira”.
(bom, não sei é ou não, houve, é certo, um jogador do Chaves a invadir ligeiramente a área entes de o Arthur Cabral ter rematado, e, enfim, o VAR assinala repetição da grande penalidade… vá, segunda chance, Arthur Cabral: não nos lixes! Fornicou-nos! Falhou outra vez! Inacreditável. Cepos!)
Vou desistir da crónica. Há dias da manhã que um cronista à tarde não pode pensar escrever à noite.
E, sendo eu cada vez menos crente, apesar de baptizado e com comunhão, vou dedicar estes últimos 25 minutos a rezar, não pelo Benfica, que assim não tem remissão possível, mas por mim, para que venha um qualquer golito, um à Vata contra o Marselha há mais de três décadas, e dessa sorte não ser, como benfiquista, gozado por lagartos e tripeiros…
(olha, golooooooooo…. do baixote João Neves [quer dizer, é mais alto uns seis centímetros do que eu], que ‘penteia’ ligeiramente um centro do Di Maria, e enfia a bola mesmo no cantinho da baliza)
Pronto, se não houver mais nenhuma surpresa, fico-me por aqui. Daqui a nada de certeza que entra o João Mário e, assim, com probabilidade elevadíssima, manteremos a vitória… por 1 a zero… Foi você que pediu mesmo um 15 a zero?
(dito e feito, entrou o João Mário ao minuto 82, e tudo ficou como estava, com ele a fazer cerimónia e a falhar novo golo)
Temo, ou lamento, ter sido uma fortuna a minha decisão de somente escrever as crónicas da Varanda da Luz em dias de jogo da Liga. Terça-feira, a jogar assim na segunda-mão das meias-finais, contra o Sporting, não me parece que fosse ver milagres como o sucedido aqui em Novembro passado.
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