No livro 1984 de George Orwell, as crises e as guerras são elementos cruciais para manter o regime totalitário no poder. O governo do Estado fictício da Oceânia é habilmente manipulador, controlando a população através do medo, da vigilância e da manipulação da informação.
O regime totalitário da Oceânia mantém o seu poder ao manter a população num estado de medo constante, criando inimigos externos imaginários. O país está constantemente em guerra com uma entidade indefinida, conhecida como “Eurásia” ou “Lestásia”, e os cidadãos são ensinados a temê-la e a odiá-la. Esse inimigo externo serve de bode expiatório conveniente para desviar a atenção das falhas internas do regime e justificar o controlo rígido do governo sobre a vida dos cidadãos.
O governo controla a narrativa histórica e manipula os factos de acordo com os seus próprios interesses. O Ministério da Verdade é responsável por reescrever a história para a alinhar com os objectivos do regime. Isso inclui apagar ou distorcer eventos passados para a manutenção do poder. Crises e guerras são retratadas de maneira distorcida para justificar as políticas do governo e garantir a lealdade dos cidadãos.
As crises e as guerras contínuas justificam um estado de vigilância constante sobre os cidadãos. Os métodos de vigilância permitem ao governo observar e ouvir as actividades dos cidadãos nas suas próprias casas. São apresentados como necessários para proteger o país da ameaça externa. O medo do inimigo externo é explorado para manter a conformidade, a obnóxia e a obediência da população.
Os conflitos bélicos não justificam unicamente a vigilância da população, também servem para desviar recursos e energia da população. Os cidadãos são mantidos ocupados com o esforço de guerra e são incentivados a sacrificar as suas próprias necessidades em nome do suposto bem comum, ajudando, desta forma, a manter o controlo da população, ao mesmo tempo que se desencoraja qualquer forma de descontentamento ou rebelião.
Há 38 anos, Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE), que posteriormente se tornou a União Europeia (UE), criada pelo Tratado de Maastricht, assinado a 7 de Fevereiro de 1992. De um simples mercado comum, hoje temos uma União Política, semelhante a um Estado Federal.
O Tratado de Maastricht estabeleceu a União Europeia como uma nova entidade política e económica, introduzindo a noção de cidadania da União. O aspecto mais relevante foi a criação da união monetária, nomeadamente a moeda única, o Euro, e o respectivo emissor único: o Banco Central Europeu (BCE).
Na sua aprovação, foi utilizado um dos métodos favoritos dos burocratas de Bruxelas: “votam até votarem bem”. A Dinamarca rejeitou o tratado num referendo realizado em 1992. No entanto, após algumas negociações e concessões por parte da União Europeia, um segundo referendo foi realizado em 1993, aprovando obviamente o tratado. Este método foi repetido com a Irlanda na aprovação do Tratado de Nice: votaram duas vezes até dar a votação certa. Também tivemos os franceses e holandeses a votarem contra o Tratado de Nice e a Constituição Europeia, mas, como sempre, a “Europa” avançava de forma inexorável.
Tivemos assim a soberania monetária dos Estados-Nação transferida para um gigantesco monopólio. Na verdade, uma impressora de dinheiro que serve exclusivamente os interesses da “casta parasitária”. O “dinheiro grátis, através de taxas de juro muito abaixo das que seriam estabelecidas num livre mercado, gerou uma sensação de riqueza às populações. Estas desatavam a comprar casas, a desfrutar de férias exóticas, enfim, a consumir desenfreadamente. Foi a era do “financiamos a sua casa, os sofás e as suas férias de sonho”.
Para além do endividamento sem paralelo das populações, em lugar da promoção do aforro, a casta parasitária também retirou dividendos do “dinheiro grátis”: estádios sem espectadores, aeroportos sem passageiros, mais de uma auto-estrada a ligar o mesmo trajecto, parcerias público-privadas leoninas a favor dos privados, em que estes tinham retornos assegurados independentemente do sucesso da iniciativa, na verdade, um sem número de glórias que asseguravam vitórias eleitorais e o enriquecimento fácil.
A festa, obviamente, terminou em crise, sempre fundamental para o avanço do totalitarismo, onde se aplicava invariavelmente a fórmula: crise artificial, problema e solução; garantindo mais e mais poder ao escol que nos parasita. Foi a denominada crise da dívida soberana europeia, iniciada em 2009 com a bancarrota grega, depois da gloriosa jornada olímpica de Atenas. Em Portugal, em Abril de 2011, o Grande Engenheiro anunciava-nos a terceira bancarrota da “democracia”.
Foram logo necessários fundos para ajudar os países em apuros. Criado em Maio de 2010, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) foi estabelecido como um fundo temporário para fornecer assistência financeira aos países da Zona do Euro em “dificuldades” – tradução: tinham sido objecto de uma gigantesca roubalheira. Mais tarde, foi substituído pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), agora com carácter permanente, que passou a poder “levantar fundos nos mercados financeiros”. Por outras palavras, os Estados-Membros capitalizavam o fundo com a emissão de dívida pública; seguidamente, o fundo emitia dívida para obter mais fundos nos mercados! Nem o Sr. Madoff apresentara tamanha criatividade.
O BCE também teve um prémio com a “crise”. Anunciada como resposta à crise da dívida soberana europeia e visando “fortalecer a supervisão financeira na zona do euro”, em 2014, o BCE passava a supervisionar directamente os maiores bancos da zona do euro, com o objectivo de “aumentar a transparência e a estabilidade” do sector bancário – vejam: mais poder, mas em nome de um bem maior: a segurança dos nossos bancos!
Em 2020, surgia uma nova crise, despoletada com o aparecimento de um novo inimigo, desta vez invisível: um “vírus”. A “guerra” foi travada pela constituição de um Fundo de Recuperação da União Europeia, também conhecido como NextGenerationEU – o nome é pomposo! Com um valor inicial de 750 mil milhões €, estabelecido com o intuito de dar “apoio financeiro” aos Estados-Membros mais afectados. Como foi financiado? A União Europeia passou a emitir dívida pública e não apenas os Estados-Membros.
Ou seja: os Estados-Membros decidiram arruinar as suas economias, decretando confinamentos ilegais e o encerramento de negócios e escolas, e, por isso, necessitavam de apoio! Como? Roubando uma vez mais as populações; desta vez, com a impressão massiva de dinheiro, anunciada oficialmente pelo BCE com o lançamento do Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP), um “mecanismo de estabilização” dos mercados de títulos, visando “manter baixas as taxas de juro”. Desta vez, foram uns juros 0% para a plebe correr a comprar casas.
Em paralelo, de forma coordenada, todos os Estados-Membros decidiram manter sobre as populações um clima de terror: fraldas faciais, distanciamento social, álcool-gel, idosos abandonados, alunas sem aulas presenciais, limitações ao direito de deslocação, prisões domiciliárias ilegais, um sem fim de tropelias. O clímax da coisa tinha um propósito: através da União Europeia, adquirir mais de 71 mil milhões de Euros em “vacinas” salvíficas, desenvolvidas numa questão de meses e consideradas desde logo “seguras e eficazes” e como a única arma para vencer o “vírus”.
Para coagir a população a tomá-las, a União Europeia aprovou em Março de 2021 um instrumento de segregação: o certificado nazi, mais conhecido por Certificado Digital Covid-19, apesar de saberem, desde o início, que não impediam a transmissão do terrível “vírus”. O resultado de tudo isto tornou-se evidente nos preços internacionais das matérias-primas, que dispararam até ao início da guerra na Ucrânia, precisamente o contrário do que nos dizem os órgãos de propaganda.
Entre 11 de Março de 2020, data da declaração da “pandemia” pela OMS, ao dia 23 de Fevereiro de 2022, o dia anterior à invasão da Ucrânia pela Rússia, o Petróleo subiu de 29,1 € por barril para 81,3 € por barril, uma subia de 179%, a um ritmo anualizado de 69%. A partir dessa data, mudámos de inimigo: do terrível “vírus” para os tenebrosos russos; uma autêntica manobra de diversão para nos fazer esquecer a roubalheira e as tropelias da guerra ao “vírus”.
A putativa pandemia e a guerra na Ucrânia têm servido para maiores transferências de poder para a União Europeia, agora até se fala em enormes recursos para o exército europeu e no regresso do recrutamento obrigatório, a fazer dos jovens escravos do Estado. Para o absoluto totalitarismo já pouco falta; farão agora avançar: a Identidade Digital Europeia, o Euro Digital, a Censura às Redes Sociais e a “Crise Climática”.
A Identidade Digital será, como sempre, para o nosso bem. Servirá para nos proteger do terrorismo, que todos sabemos ser responsabilidade dos Estados, já que estes invadem países, destroem infra-estruturas milionários (quem não se lembra do gasoduto Nordstream) e assassinam milhões de pessoas inocentes, como foi o caso do Iraque e do Afeganistão, e agora, o caso da Ucrânia e da faixa de Gaza. Servirá para nos proteger da imigração ilegal: sem identidade digital, não entram. Também servirá para nos proteger numa nova “pandemia”: tem ou não as vacinas em dia? Não, então não pode viajar. Para melhorar, dizem-nos que várias zonas do globo vão criar tal sistema, por forma a assegurar a interoperabilidade entre os diferentes sistemas; que mundo maravilhoso, não é?
O Euro Digital será outra maravilha que se aproxima. Reparem, tal como a Identidade Digital, ninguém o pediu, ninguém o referendou, ninguém o aprovou. Dizem-nos que é para manter a competitividade do sector público face ao dinheiro digital privado. Que não será anónimo.
Vão saber o que consumimos, a hora do consumo, as nossas preferências, quanto consumimos, onde consumimos. As possibilidades são infinitas. Para agravar a coisa, o Euro Digital poderá ser programável. Assim, num novo confinamento ilegal, deixará de funcionar num raio superior a 500 metros de casa; ou quando excedamos a nossa quota de consumo de combustíveis fósseis. Será, como sempre, para o nosso bem. Tal como a Identidade Digital, também será interoperável com outras Moedas Digitais dos Bancos Centrais, por forma a não lograrmos fugir para lado nenhum!
O Ministério da Verdade de George Orwell já foi criado: chama-se Digital Services Act. Os burocratas de Bruxelas são agora a fonte da verdade. Dizem-nos que serve para combater a desinformação que pulula nas plataformas digitais, quando na verdade se trata da mais abjecta forma de censura.
Estranha-se tal preocupação, pois os governos e os seus órgãos de propaganda não fizeram outra coisa que disseminar desinformação e mentiras durante a putativa pandemia. Nada era verdade. O que na realidade pretendem é acabar de vez com a nossa liberdade de expressão. Um exemplo disto é a recente perseguição à rede X por parte do Juiz Alexandre Morais, em representação do Estado brasileiro, demonstrativo do incómodo que a nossa liberdade de expressão representa hoje para os Estados.
Por fim, as “alterações climáticas”, onde iremos todos morrer se não corrermos a salvar o planeta. Dizem-nos que é um problema – que na verdade não existe – “global”, que existe uma solução global. Tal como as “pandemias” exigem um tratado pandémico, em que o poder de decisão ficará nas mãos de um burocrata não eleito, aqui também se reunirão um conjunto de peritos, não sujeitos a qualquer escrutínio, que determinarão os impostos de carbono e outras patifarias, como os confinamentos climáticos.
De uma “crise climática”, teremos uma crise de saúde, derivada da “ansiedade climática”. Também teremos uma crise alimentar, em resultado da diminuição das áreas de pasto das vacas, por forma a eliminar o metano na atmosfera libertado pela flatulência das vacas. O Euro Digital também ajudará a combater a crise climática, condicionando comportamentos “inimigos do clima”. Podemos imaginar por onde a coisa caminha!
Nas próximas eleições europeias, os candidatos apresentar-nos-ão a União Europeia como a eterna vaca leiteira dos subsídios e dinheiro mágico, onde os nossos dirigentes se dobram à grande líder para obter os fundos que irão pagar os empregos dos seus amigos e clientelas; ou irão contar-nos a verdade? Que se trata de uma organização totalitária, inimiga das liberdades individuais, que importa colocar um fim rápido?
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
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