Estátua da Liberdade

Um mundo às avessas

Statue of Liberty in New York City under blue and white skies

minuto/s restantes


Vivemos em tempos nada convencionais, onde o preto se torna branco, o certo se confunde com o errado e a moral se desvanece na imoralidade. Parece que a harmonia está em falta nos tempos actuais. Será este o capítulo contínuo da fórmula ancestral utilizada pelo escol para nos dominar: problema, reacção, solução? Vivemos propositadamente num incessante pavor, num turbilhão perpétuo de confusão.

No último fim-de-semana, tivemos um ataque do Irão a Israel, através do lançamento de uma chuva de mísseis e drones. Porém, para espanto – ou assim nos dizem os órgãos de propaganda -, a Cúpula de Ferro de Israel, essa “maravilha da tecnologia”, funcionou com uma precisão imaculada, anulando qualquer ameaça. É fascinante contemplar uma pequena nação, rodeada de inimigos, na vanguarda tecnológica, destemida, mesmo perante ataques com armas sofisticadas e letais.

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Comparem com a tragédia do último 7 de Outubro. Os “corajosos” militantes do Hamas decidiram fazer uma visita a Israel, não apenas por terra ou mar, mas também pelo ar, sim, de parapente! O mais incrível é que isso aconteceu sem que os guardiões da fronteira mais vigiada do mundo, com todo o seu aparato tecnológico, se tivessem dado conta do que estava a acontecer. Durante horas a fio, os intrépidos membros do Hamas tiveram o luxo de assassinar, violar e fazer reféns à vontade, sem encontrar qualquer tipo de resistência ou alerta dos sistemas de vigilância. Passámos da idade da pedra à guerra das estrelas numa questão de meses.

Agora, a insanidade nacional, tão cativante na sua extravagância. Um dos nossos estimados órgãos de propaganda, sob a sábia direcção do seu ilustre director, decidiu brindar-nos com uma revelação de tirar o fôlego: o governo recém-empossado, num acto de “completa surpresa para todos”, teve a ousadia de nos mentir! Num tom pungente e indignado: “É mais que um embuste. É enganar os portugueses!”.

Realmente, é jocoso pensar que a nobre classe parasitária, que tão gentilmente nos assalta há meio século, poderia, por um segundo sequer, abster-se de nos privar de mais alguns tostões. Ainda mais hilário é quando nos asseguram que se tratava, afinal, de uma redução apenas ligeiramente menor, como se estivessem a tentar convencer-nos de que a mão do assaltante estava apenas um pouco menos profunda no nosso bolso. O que realmente me surpreende é que haja milhões de portugueses e, pelos vistos, alguns “jornalistas” que ainda engolem estas patranhas: de que nos vão “restituir” os “nossos” suados impostos!

Noutro órgão de propaganda, desta vez inteiramente pago pelos “nossos impostos” – se fossem nossos, não teríamos de os pagar! -, a comentadora de um programa semanal sobre política lançava-nos esta pérola: “…para haver mais democracia, as redes têm de facto mandar calar os seus utilizadores”, numa clara defesa da liberdade de expressão e de respeito por opiniões contrárias. Fica sempre a pergunta: alguém a pode mandar calar?

Não satisfeita, noutro programa, obtivemos outra pérola do mesmo personagem: “Não se nasce mulher, tornamo-nos mulheres, porque é uma construção social e específica de um terminado tipo de sociedade”. Na verdade, quando na adolescência me apareceu a barba, questionei seriamente a minha mãe por que razão estava a ser vítima de uma construção social. Aparentemente, a sociedade congeminava para me fazer crescer pêlos na cara.

Os sábios comentadores deste país maravilhoso asseguram-nos que está tudo a correr pelo melhor com a imigração. Sentados confortavelmente nos seus SUVs, desfrutando das casas no centro de Lisboa, provavelmente no Príncipe Real, sentem-se invariavelmente muito satisfeitos com os imigrantes: servem-nos à mesa, entregam-lhes comida em casa, limpam-lhes a casa, um sem fim de glórias a preço de escravo. Enfim, os imigrantes adicionam sempre um toque “cosmopolita” à coisa e, claro, para eles, o fenómeno nunca representa qualquer ameaça à sua segurança e bem-estar.

Neste contexto, foi bem elucidativo o acontecimento pitoresco na praia do Tamariz, Estoril, no último fim-de-semana: um combate de boxe entre jovens em pleno areal, com uma turba em seu redor a fazer apostas. Ali, tivemos a confirmação de que esses jovens imigrantes não só não representam nenhum problema de segurança, como também serão os nossos salvadores financeiros, ajudando-nos generosamente a pagar as “nossas reformas”. Os tais comentadores ainda têm a coragem de ficar surpresos com o sucesso do “partido fascista”.

Na incansável batalha antifascista travada pelos nossos estimados órgãos de propaganda, fomos brindados também com uma entrevista imperdível. Um “escritor e ex-militar” decidiu partilhar a sua perspicaz visão sobre o “partido fascista”, declarando solenemente: “Os líderes da extrema-direita representam a escória da sociedade”. Reparem bem: aqui não se trata de discurso de ódio, não! Trata-se apenas de um facto incontestável, um veredicto irrevogável: são simplesmente a escória, e ponto final. A doçura da democracia em pleno vigor!

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Por fim, deram-nos a conhecer cafés nos EUA que podem ajudar a “aliviar a ansiedade da crise climática” nos jovens norte-americanos. Em relação aos jovens da praia do Tamariz, estou seguro de que não necessitam de frequentar tais estabelecimentos. Aliás, seguramente que o boxe no areal resolve todos estes problemas de ansiedade com a máxima rapidez.

Neste sentido, recomendo ao Diário de Notícias que faça uma reportagem sobre estes jovens, pois estou certo que ansiedade climática é que coisa que não abunda por ali. Aliás, devia ser exportada para os Estados Unidos, como mais uma solução para a “ansiedade climática” que tanto afecta a juventude.

Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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