DA VARANDA DA LUZ

Sporting de Braga 3.1

por Pedro Almeida Vieira // Abril 27, 2024


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Mesmo sabendo que as inflorescências da videira ocorrem, no Hemisfério Norte, em meados de Maio – e assim, estando nós ainda em Abril, nem se pode sequer prognosticar como será a próxima vindima, até porque o chão esverdeado, ali em baixo, não anda a dar o fermento de outras épocas –, vamos acreditar que ainda há-de haver cestos para lavar. E terra para lavrar. O campeonato – vamos lá sonhar, e o sonho comanda a vida, como dizia o poeta António Gedeão – não são favas (ainda) contadas para o Sporting. Os milagres acontecem; os pesadelos também.Estou a lembrar-me do José Peseiro e o ‘seu’ Sporting em 2005. OK, também tivemos o nosso momento-pesadelo, com Jesus, mas agora “isso não interessa nada…”.

Portanto, com este Braga, ainda se pode somar 12 pontos, o Sporting vai com sete à frente, matematicamente ainda podemos ficar com cinco pontos de vantagem. Basta, coisa simples, o Sporting perder amanhã nas Antas (nunca por menos de 5-0, já agora), depois escorregar com o Portimonense, o Estoril e o Chaves. Sendo certo que estes três últimos estão a lutar para não descer de divisão, enfim, haja esperança, a probabilidade não é zero. Também na pandemia a probabilidade de adolescentes morrerem de covid-10 era quase zero, mas não era zero, mas mesmo assim quis-se vacinar tudo como se a probabilidade de fenecimento de jovens causado pelo SARS-CoV-2 fosse, afinal, próxima da certeza.

(começa o jogo; o Schmidt não meteu o Tengstedt, preferindo o Arthur Cabral, mas em compensação escolheu o João Mário para o meio-campo, garantindo assim uma boa dose de atrasos… de vida)

Por agora, o Benfica precisa de ‘despachar’ este Braga (que em vez de vestido à Arsenal, traz hoje um equipamento de azul cueca), que, apesar de ser sempre ‘chato’, tem anos que dá umas ‘alegrias à malta’. Numa consulta a sites especializados, a probabilidade de derrota anda nos 4% e o empate nos 18%. Mas neste ganhar ou perder, a mim só me fica o ganhar por muito. No futebol, o massacre é aceitável. Aliás, é o objectivo. De contrário, transformava-se num jogo de xadrez, onde só há vitória, derrota ou empate, sendo que até se antecipa a derrota quando se observa que essa é a certeza nas jogadas seguintes.

(lá em baixo, jogo animado, mas a faltar eficácia; o Braga também não está na retranca, prevendo-se assim um jogo complicado… o habitual, nesta época)

Ai memória! Que saudades daquela cabazada de 6-1 em Novembro de 2021, com o primeiro golo do novo campeão alemão, o Grimaldo, e quando o Rafa andava com as pilhas todas e tínhamos pontas-de-lança decentes (Darwin Núñez). Mesmo assim, melhor ainda, pelo espectáculo e por ter assistido ao vivo, foi o 6-2 em Dezembro de 2018. Até porque, nessa época ficámos em primeiro, e na de 2021-2022 quedámo-nos na terceira posição a 17 pontos do Porto.

(e pronto, lá vamos nós ter uma tarde desgraçada: marca o Braga por Ricardo Horta, depois de una fífia da defesa benfiquista, que um cruzamento atrasado para o coração da área, onde o ‘arsenalista’ vestido de azul cueca tem sorte no remate a passar pela ‘rata’ do Trubin)

E, portanto, cá estamos com meia hora de jogo, a fazer contas à vida, ou, melhor dizendo a fazer contas para a próxima época, onde, entre outras coisas, teremos de saber como formar uma equipa decente.

Talvez a pensar nisso, mas com estúpidas acções, estará uma das claques benfiquistas, metidos atrás da baliza, lançam tochas para a área do Trubin, desdobram tarjas contra o Rui Costa, e fica o jogo interrompido por minutos. E a garantia de mais uma multa para os cofres da Liga.

Pelo andar da carruagem, quais cestos, quais vinhas, quais carapuças: o Sporting vai sacar já o vinho este fim-de-semana…

(como fiz gazeta durante uns minutos, o intervalo chega, para ambição de muitos, esperançosos de que um pequeno descanso traga outro alento)

Aproveitando o ensejo de estar a combinar o regresso do podcast O Estrago da Nação, interrompido por razões as mais diversas nas últimas semanas, aproveito para pedir uma opinião ao Tiago Franco sobre as incidências desta lamentável primeira parte, O Tiago tem o especial condão de ser um óptimo cronista a desancar quando as coisas correm mal, algo que tem sido demasiado frequente esta época.

Também ele, acidamente, está já a pensar na próxima época: “Mau ensaio neste segundo jogo de pré-época onde se nota a desmotivação de quem joga para nada. Se pudesse falar com Roger Schmidt perguntar-lhe-ia a razão de ter jogado com João Mário, Morato e Tengstedt quando disputava títulos e, no fim, perto de perder tudo (ou mesmo depois de perder), lá se virou para Florentino, Neres e Cabral”.

(recomeça o jogo… vamos ver se isto inverte)

Continua a análise do Tiago Franco: “Carreras depois de um bom jogo em Faro, volta para o banco; Aursnes demora a chegar ao meio-campo e continua a fazer de ‘tapa-buracos’; e João Mário, contra um combativo meio-campo bracarense, pautua todos os passos para o lado que o leitor possa imaginar”. E lá continua a língua viperina. “Pior do que Schmidt e a equipa, só aquele grupo de adeptos que travou qualquer hipótese de reacção ao golo do Braga com uma interrupção de jogo por lançamento de tochas. É bom saber que estamos todos no mesmo comprimento de onda: treinador, equipa e adeptos”, acrescenta o Tiago, para concluir: “Ninguém acerta uma”.

(para já, o Schmidt parece que ficou com as orelhas quentes, e substituiu antes do minuto 70, metendo mesmo o Carreras por troca do Bah… Carrega Benfica)

Eu acho, sinceramente, que o Tiago Franco deveria ser rapidamente contratado pelo Departamento de Psicologia do SLB: quando as coisas estivessem um desastre, seguia para o balneário e dava uma descasca monumental naquele pessoal para os espicaçar… Até eu sinto que vai haver uma mudança. Tem de haver uma mudança… Não venho aqui para a Varanda da Luz para ver uma derrota (em abono da verdade, ainda não a vi): já me chegará perder campeonato.

(goloooooooooo… Marcos Leonardo, marca um minuto depois de substitui o apagado Rafa… isto ainda lá vai porque correram logo com a bola para o centro do terreno)

De facto, uma das coisas que aprecio no futebol é exactamente podermos partir do desânimo à euforia, e vice-versa. Assisto, aliás, com alguma comiseração aos resumos de jogos que acabam, por exemplo, num humilhante 1-7, sendo que o derrotado marcou o primeiro golo entre festejos que jamais antecipam o desastre em hora e meia de peleja.

Portanto, ainda faltam 20 minitos, isto com mais umas substituições ainda lá vamos… As inflorescências das videiras, mesmo com a alterações climáticas, sempre vingarão, e os cestos ainda são passíveis, e possíveis, de serem levados depois da vindima… Carrega lá, Benfica…

(olha, e carregou mesmo: golooooooooooo. David Neres, nos seus gigantes 1,75 metros, a facturar de cabeça ao segundo poste na sequência de um daqueles cruzamentos teleguiados do Di Maria)

Pronto, reviravolta. O nosso Schmidt, convenhamos, concede-nos sempre jogos animados, onde só há uma certeza: a incerteza de um final feliz. Por agora, quer queiram quer não, e tendo eu decidido que a Varanda da Luz somente se destina aos jogo da Luz, ainda não assisti a nenhum desaire completo, embora aqueles empates contra o Casa Pia e o Farense custaram-nos bem caro.

(entretanto, a vitória está assegurada, com o ‘momento Big Brother’: uma sarrafada ao Di Maria dá direito a vermelho directo ao lateral direito do Braga, Victor Gómez)

E cá estamos nos descontos, são sete os minutos, e assegurado está, parece-me, que ainda há uma probabilidade, remota que seja, de irmos lavar cestos…

(e goloooooo… Marcos Leonardo: não há uma sem duas bolas lá dentro; aos cinco minutos da compensação)

Pronto, de repente, uma vitória sem espinhas. Quem diria que, em 20 minutos, um potencial desastre se trnsformaria num resultado confortável. Só não percebo porque razão não se mete o gás todo nos primeiros 20 minutos e se fica depois a gerir a ‘coisa’ nos 70 minutos finais. Enfim, talvez seja o Schmidt a querer dar-nos emoção até ao fim. Só pode mesmo…

P.S. Ah, já agora: só esta tarde reparei que as sandes de couratos, nas tasquinhas nas imediações do Estádio da Luz, estão a ser vendidas a 4,5o euros por unidade. Bolas, o índice de preços ao consumidor (IPC) de certeza absoluta que não considera a sandes de couratos no cabaz de compras. Uma sandes de couratos a 900 escudos na moeda antiga! Só se em vez de pão for em brioches. E mesmo assim! Está tudo doido?


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