Duas semanas em África, num país amigo, afastaram-me dos noticiários diários.
Ali, é fraca a internet, os jornais chegam atrasados e não há o hábito de ouvir as estações de rádio.
Conclusão, quinze dias retemperadores.
“Não há mal que sempre dure, nem bem que não acabe”, ensinavam os nossos mais velhos, e tive de regressar ao meu querido país.
Fui tentar actualizar-me.
Correu mal.
Disseram-me que o PSD tinha escolhido o seu cabeça de lista às Eleições Europeias e fui ouvir as suas intervenções.
Comecei por criticar a decisão de terem escolhido um velho para os representar.
Sou a favor de se dar lugar aos jovens e sinto-me mal quando vejo idosos a impedir o aparecimento de gente nova, com valor, unicamente para garantirem a manutenção dos seus lugarzinhos principescamente remunerados.
Quando fiz este comentário mostraram-me a fotografia do político em questão e eu perguntei se não tinham uma actual.
Depois, ouvi mais uma gravação onde ele elogiava a “bandeira das sete quinas” e percebi que o “velho” era, tão só, um ignorante.
Novo de idade, ao ponto de nem conhecer a Bandeira Nacional, mas caquético nos ideais.
Tentei recompor-me, ouvindo intervenções de políticos considerados respeitados e com provas dadas.
O novo Ministro da Defesa, e líder do CDS/PP, parecia-me ser uma razoável escolha num momento em que tanto se fala de problemas na Europa.
Como se está a preparar Portugal para estas lutas que podem mudar o mundo?
O rapaz tentou explicar que o nosso País estava alinhado com a estratégia da Organização do “Atlético” Norte.
Engoli em seco.
Tentei pensar noutras coisas mas a televisão não me dava descanso.
Ouvi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa quando este veio, publicamente, dizer que tinha cortado as relações com o seu filho por causa de uma “cunha” em prol de duas gémeas brasileiras que precisavam de um medicamento caríssimo.
Criado numa casa onde “Deus, Pátria e Família” era o lema principal, a decisão foi incompreensível para muitos e chocou-me.
Tornar público um corte radical com um filho não é comum no nosso País, é raríssimo entre católicos e impensável num político, para mais a ocupar o mais alto cargo da Nação.
Daí que não tenha estranhado os ataques imediatos ao Presidente da República.
Enviaram-me uma gravação com um humorista a imitar Marcelo Rebelo de Sousa.
A voz era “tal e qual”.
Imitação brilhante.
A peça pecava pelo discurso.
Com a intenção de exagerar na caricatura o imitador não teve qualquer pejo em proferir afirmações, como se fossem da autoria da sua vítima, do mais ridículo que imaginar se possa.
Dizia ele, com a voz de Marcelo depois de um “Fortimel” acompanhado de moscatel quente, que considerava “lentos” tanto António Costa como Montenegro.
Aquele por ser “oriental” e este por ser “rural”.
Não contente, o artista pisou o risco quando prosseguiu a imitação garantindo que considerava “maquiavélica” a Procuradora-Geral da República!
Para meu espanto houve dezenas de amigos, e alguns que eu considero inteligentes e cultos, a garantir que não havia imitação nenhuma e que aquele “arrazoado” tinha sido, mesmo, dito por Marcelo.
Não sei o que se passa no meu País.
Isto está de loucos.
Dizem-me que Pinto da Costa perdeu as eleições conseguindo só 20% dos votos contra 80% do seu adversário.
Que o chefe da sua Guarda Pretoriana está na cadeia juntamente com mais meia dúzia de apaniguados.
Será que Portugal passou a manicómio em auto-gestão?
Da maneira que isto está ainda me vão dizer que o Sporting é campeão de futebol a três jornadas do fim!…
Vítor Ilharco é assessor
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.
PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.
Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.