O ex-presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, de 62 anos, deverá ser o primeiro eurodeputado do partido que quer reforçar os valores liberais no Parlamento Europeu. Para o gestor e empresário, a Europa está numa “encruzilhada complexa” e o projecto europeu precisa ser rejuvenescido e até refundado, em termos dos seus princípios e valores. Para Cotrim de Figueiredo, a Europa tem-se vindo a perder, ao comprometer os seus valores, como a liberdade, segurança e prosperidade. Também precisa ser mais transparente no que toca à tomada de decisões. O cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal considera que o escrutínio da atribuição e distribuição de fundos europeus em cada Estado-membro deve ser outras das prioridades. Esta é a quinta entrevista da HORA POLÍTICA que pretende conceder voz aos cabeças-de-lista dos 17 partidos e coligações que concorrem às Europeias, em eleições marcadas para 9 de Junho. As entrevistas são divulgadas, seguindo a ordem crescente de antiguidade, na íntegra em áudio, através de podcast, no jornal e na plataforma Spotify.
A Europa já não é o que era e a União Europeia afastou-se dos seus valores primordiais de liberdade, segurança e prosperidade. Quem o diz é João Cotrim de Figueiredo, cabeça-de-lista da Iniciativa Liberdade nas eleições ao Parlamento Europeu.
Para o ex-presidente da Iniciativa Liberal, a União Europeia precisa de ser “rejuvenescida” e “até refundada”, no que toca a regressar aos seus valores de paz, liberdade e riqueza.
“Isto tem sido tratado em Portugal com paninhos quentes: a Europa está numa encruzilhada complexa”, afirmou, em entrevista ao PÁGINA UM. Salientou que a Europa “é um espaço geopolítico que sempre foi associado, desde que nasceu, a um conceito de liberdade, paz e prosperidade”. “As pessoas olhavam para a Europa como um espaço onde é possível ser livre, onde é possível estar seguro e onde é possível ser rico”, frisou.
Mas Cotrim de Figueiredo alertou que essa realidade mudou: “a verdade é que, nos últimos anos, essa noção, essa relação se tem perdido; e tem-se perdido, em boa parte, porque aqueles que mais deviam pugnar pela manutenção e defesa dos valores europeus, que deram origem à imagem de segurança, liberdade e prosperidade, tiraram os olhos da bola e deixaram de a defender intransigentemente como fizeram até aqui”.
Destacou que a “natureza da política” tende para a tradição e do hábito do compromisso. Mas o que ocorreu foi mais do que um compromisso, foi “uma diluição”. “[Houve] uma diluição de valores, de prioridades, diluição de importâncias”, disse.
Explicou que essa diluição acontece “quando se deixa que determinado tipo de liberdades sejam condicionadas ou restritas porque há um interesse que conjunturalmente parece ser superior”. Também ocorre “quando deixamos que a nossa defesa e segurança esteja dependente daquilo que outros espaços geopolíticos e outros aliados possam querer fazer”. Por outro lado, o mesmo ocorre “quando deixamos que o que nos trouxe até aqui, em termos de prosperidade e de geração de riqueza, que foi os mercados livres, a concorrência e a globalização, deixa de ser importante”. Indicou que “tirámos os olhos da bola” e tomámos a liberdade, a segurança e a prosperidade “como garantidas” e “elas foram-se diluindo pelos tais compromissos, pelas negociações”.
Por isso, Cotrim de Figueiredo, avisou que, se “os princípios europeus não forem reforçados, rejuvenescidos, correm o risco de desaparecer”. Mas também defende que haja uma “maior autonomia estratégica da União Europeia”, no sentido de “não depender de opções de terceiros”, como os Estados Unidos.
Destacou que há melhorias importantes a fazer no espaço europeu, incluindo ao nível da transparência: “a Europa não é suficientemente transparente no seu processo de tomada de decisão”. Também a nível de cada país, defende uma maior transparência na questão da atribuição de fundos, da sua utilidade e eficácia.
Em matéria de transparência, Cotrim de Figueiredo também mostrou preocupação em relação às propostas que estão na mesa de negociações no âmbito da criação do chamado Tratado Pandémico, que podem reforçar os poderes da Organização Mundial da Saúde. Crítico da actuação da OMS durante a pandemia de covid-19, considera que há riscos na atribuição de mais poderes àquela organização, que padece também de problemas de transparência.
O cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal deverá ser o primeiro eurodeputado do seu partido no Parlamento Europeu, no que considera ser “um passo importante” mas não “particularmente ambicioso”. O seu objectivo é contribuir para reforçar as ideias liberais nas políticas no espaço comunitário. “É evidente para nós que é preciso fazer no Parlamento Europeu, e à escala europeia, algo parecido com aquilo que a Iniciativa Liberal fez quando entrou no Parlamento em Portugal, que é colocar as ideias liberais na agenda, no sentido de lhes voltar a dar energia e centralidade”.
Apesar da estreia, desde que nasceu que a Iniciativa Liberal faz parte da Aliança dos Liberais e Democratas Europeus, o partido europeu que integra o grupo parlamentar do Renovar Europa.
Esta é a quinta entrevista do HORA POLÍTICA, que visa entrevistar os 17 cabeças-de-lista dos partidos que concorrem às eleições europeias que, em Portugal, têm data marcada para o dia 9 de Junho. A publicação obedece a uma ordem cronológica, do partido mais jovem ao mais antigo.
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