Correio Trivial

Joana, uma mulher de armas

black and white abstract painting

por Vítor Ilharco // Maio 26, 2024


Categoria: Opinião

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Joana Amaral Dias, que se apresenta como psicóloga e comentadora televisiva, decidiu, aos 51 anos, regressar à política depois de, garante, ter “recebido vários convites de partidos para concorrer às eleições europeias”.

Uma verdade um tanto exagerada, mas… verdade.

Na realidade, tinha sido convidada pelo ex-Partido dos Reformados, que acabou por mudar de nome, por “exigência” dela, sendo que depois optou por se candidatar pelo ADN.

Desde logo anunciou, numa entrevista ao Sapo, uma série de explicações para a sua decisão. Disse que por não poder ir a solo escolheu o partido com cujas ideias mais se identifica, para concorrer às eleições mais importantes, não apenas porque é em Bruxelas que se tomam as decisões, mas porque serão estes os anos que vão definir a Agenda 2030, que tem sido imposta aos cidadãos.

(Fotografia: Júlia Oliveira)

E apontou medidas originais para a campanha:

Eu sempre fui pela acção direta, por mostrar como as coisas se passam – e vou continuar esta campanha com momentos muito surpreendentes para os portugueses, nesta linha de estar na rua a mostrar como é que, de facto, as coisas se passam. Vamos fazer a campanha mais criativa alguma vez vista. Temos acções preparadas espectaculares, mas todas elas respeitando totalmente aquilo que são os bens materiais e a integridade física de toda a gente“.

E prometeu ainda, se as televisões não voltarem atrás, como não voltaram, na decisão de a chamarem para debates, que então será ela a comvidar os adversários. “E só não virão os medricas”, garantiu já.

Quanto à primeira dessas medidas começou a surpreender logo na primeira frase da sua apresentação ao negar que o ADN fosse “um partido de extrema-direita” e salientando que “eu sou exactamente a mesma, não houve nenhuma mudança brutal no meu caminho. Há quem diga que eu quero um tacho, mas eu estou é a arriscar muito“.

Fui ouvir, de novo, algumas declarações de Bruno Fialho, o presidente deste partido, para perceber porque estava eu convencido do contrário e se deveria corrigir a minha opinião.

Revi uma entrevista televisiva onde o líder mostrava o seu próprio ADN em relação à imigração.

Explicava ele:

“Só deviam deixar entrar em Portugal imigrantes que:

1º – Tivessem um seguro de saúde, porque não poderiam utilizar, nos primeiros seis meses, o SNS.”

2º – Tivessem capacidade financeira para estarem cá.

3º – Fossem portadores de contratos de trabalho.”

Tudo medidas que ele considera que qualquer imigrante só não consegue por má vontade e gente complicada, pensa(?), deve ser proibida de entrar neste País de gente simples.

Depois apresentava uma única solução para acabar com o que considera serem os principais problemas do País:

“Os imigrantes, os deputados que escrevem leis a apoiá-los, os militantes da extrema-esquerda, os amigos do Lula em Portugal, deveriam ser, todos, enviados para o Tarrafal.”

Nem o facto de Tarrafal ficar num outro País, soberano e amigo, onde provavelmente não o deixariam entrar a ele, por medidas de higiene, o impediu de considerar esta sua “ideia” como excelente e democrática.

Acabou mesmo por esclarecer que as suas palavras não correspondem a “xenofobia, nem discriminação”, mas bem pelo contrário, eram sinais de “bom senso”.

Fiquei esclarecido e passei à fase dos debates.

Tal como Joana Amaral Dias, eu e dez milhões de portugueses pensavam, as televisões só a convidaram para os debates com os pequenos partidos.

Só que a Candidata é uma mulher de armas e uma “desfeita” nunca ficará sem resposta.

blue and white flags on pole

Daí que tenha decidido, levando Bruno a tiracolo, invadir a RTP para se dirigir ao estúdio onde estavam os representantes dos quatro maiores partidos, para falar em nome do seu.

É esta a diferença entre as mulheres portuguesas: Joana Amaral Dias a forçar a entrada numa sala de onde Marta Themido queria fugir a sete pés, atendendo a que teria de debater com Sebastião Bugalho (PSD), António Tânger Corrêa (Chega) e João Oliveira (CDU).

O debate, apesar de tudo, segundo me disseram, correu com a habitual normalidade.

A verdade é que estou de acordo com Joana Amal Dias quando esta diz que a RTP deveria ser punida.

Ter transmitido, em directo, um debate que fez os portugueses, que não adormeceram frente ao écran, mudar de canal, em vez de optar pelas imagens da peixeirada entre a Candidata invasora e os funcionários da casa, é imperdoável.

Joana Amaral Dias lamentou a quem a quis ouvir: “Até pus um bocadinho de batom e tudo”.

Se a candidata prometesse que, durante todo o período do mandato, ficaria por Bruxelas, era menino para votar nela.

Vítor Ilharco é assessor


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