A realidade transformada é agora a percepção da normalidade. A ideia que transmitimos do que é comum e genericamente desejado está pervertida no politicamente correto.
Hoje vivemos um tempo de várias bizarrias. Um exemplo da forma leve e acrítica como recebemos notícias chegadas dos meios de informação é o fenómeno Castelo Branco. Ou a bizarria em que se converteu a Eurovisão. Ou os julgamentos sumários de pessoas exóticas que servem propósitos mediáticos e depois se destroem sem pudor. Para cantar não se carece de uma extravagância. Para dizer uma letra eloquente não se precisa uma bandeira. Mas acha, quem organiza, que a maioria dos ouvintes prefere a bizarria? Só por dizermos isto incomodamos muita gente!
A forma quase obrigatória em que os programas da tarde são anunciados por homossexuais é outra face única da realidade. Nada me ofende em Manuel Luís Goucha, excepcional apresentador. Nada me afasta do Malato ou do Cláudio Ramos. Já me parece desproporcional a obrigatoriedade de ser gay para apresentar um programa na televisão. A realidade é uma face de um mundo em que cinco outras faces se escondem. Não há heterossexuais de qualidade? Só o facto de dizer isto, deixa muita gente incomodada!
A projeção de uma “realidade”, que só transporta uma verdade, é um processo de aculturação perverso que esconde muitas faces da composição da realidade. Deste modo, conduzimos o mundo para um silêncio balizado por discursos corretos, verdades convenientes, políticas de insulto ofuscante. A realidade pode estar desenhada sem perceber que a maioria silenciosa está cansada das montras obrigatórias.
O bizarro facto de haver dezenas de comentadores do “centrão político”, do globalismo feroz, dos fascinados por certificações, dos sucumbidos da tecnociência, tenta apagar o homem religioso, a componente mágica da mente, a importância do desconhecido, as consequências da utilização de aditivos, medicações, vigilância informática. Qualquer dúvida sobre os temas fortes do globalismo, tornou-se um alvo dos canhões dos crentes na emergência climática, dos defensores das energias ditas sustentáveis, na aposta nos carros elétricos. Os outros são negacionistas e terraplanistas. Logo depois, são fascistas e toda a lista de ‘istas’ que fervem na boca de ‘Catrina Martins’. A total indiferença que o candidato do Chega ofereceu a Catarina Martins foi tonitruante. A verborreia insultuosa com que esta retorquiu reduz a protagonista.
A realidade deve ser um cubo, e está vertida numa exposição de uma face, apresentando-se como um quadrado simples, que esconde as cinco faces restantes. A melhor visão da realidade é supormos um cubo inclinado na perspetiva de observarmos três faces, ou se quiserem três verdades. Um ser humano é social, mental, biológico, circunstancial, genético e celular. Nunca estes capítulos são observáveis em simultâneo.
Nunca o conhecimento do outro integra a totalidade das verdades do cubo. Por outro lado, cada face é um título cheio de capítulos. A mente é emoção, razão, memória, comportamento, atitude, relação. A circunstância é ambiente, tempo, política. A genética é isso mesmo com suas consequências boas e más. A célula é o homem só, o ser na completa solidão, as características da pessoa sem observação.
Serve este texto para explicar como a ferocidade ideológica se está a impor no Mundo. Aqueles que não concordam com algumas evoluções encontram um radicalismo bizarro que só se pode combater com uma bizarria igual. Os actores são cada dia mais bufões, mas carregam com eles os silêncios das cinco faces que não se quer mostrar. São bufões, como os cantores da eurovisão que vestem a música que não cantam. Imaginem que se candidatam à europa trajados assim…
Diogo Cabrita é médico
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