MANUEL CARREIRA, CABEÇA-DE-LISTA DO MPT - PARTIDO DA TERRA

‘As raízes da Europa estão estragadas’

por Elisabete Tavares // Junho 2, 2024


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Manuel Carreira, de 65 anos, é vice-presidente do MPT-Partido da Terra e foi a escolha do partido para cabeça-de-lista nas eleições ao Parlamento Europeu, substituindo Wandique Magalhães dos Santos, pastor evangélico de nacionalidade brasileira, que estava apontado para número um da lista do MPT às europeias. Contudo, o Tribunal Constitucional rejeitou o nome por o candidato não ter cidadania de um Estado-membro da União Europeia, como exige a Lei. Em entrevista ao PÁGINA UM, Manuel Carreira, psicólogo clínico e forense no Centro Hospitalar de Leiria e antigo professor, destacou que a Europa precisa recuperar as suas “raízes”, os seus princípios e valores. Também defendeu políticas a pensar mais na “felicidade interna bruta” dos europeus e no ambiente. Esta é a 12ª entrevista da HORA POLÍTICA que pretende conceder voz aos cabeças-de-lista dos 17 partidos e coligações que concorrem às Europeias, em eleições marcadas para 9 de Junho. As entrevistas são divulgadas, seguindo a ordem crescente de antiguidade, na íntegra em áudio, através de podcast, no jornal e na plataforma Spotify.



Voltar a ter uma voz no Parlamento Europeu e um dos desígnios do MPT-Partido da Terra nestas eleições europeias. Em 2014, o ‘trevo da sorte’ que é símbolo do partido, surtiu efeito, e o MPT teve dois eurodeputados. Agora, segundo Manuel Carreira, cabeça-de-lista do MPT nas eleições europeias, o desejo do partido era que voltasse a dar um contributo para as políticas europeias.

Em 2014, o MPT elegeu o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, como independente para o Parlamento Europeu, a par do número dois da lista naquelas eleições europeias, José Inácio Faria. Para Manuel Carreira, seria importante “haver um partido ecológico” no Parlamento Europeu, “não verde, mas ecológico”, um “partido liberal, de centro”, que defende a causa da defesa do ambiente.

Em entrevista em PÁGINA UM, o também vice-presidente do MPT – partido fundado pelo reputado arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles – defendeu que a Europa precisa voltar aos seus valores e princípios humanistas herdados de uma História assente na cultura judaico-cristã. “As raízes da Europa estão estragadas”, afirmou o candidato do MPT. “Ao perder estas raízes, começamos a entrar na desorientação”, afirmou.

Manuel Carreira, vice-presidente do MPT e cabeça-de-lista do partido nas eleições europeias.
(Foto: PÁGINA UM)

Manuel Carreira defendeu que as políticas europeias deveriam pensar mais na “felicidade interna bruta” dos cidadãos, na ecologia e no humanismo. “A nossa campanha é uma campanha de causas e integração; integração das novas culturas, das novas pessoas; de causas como ecologia, humanismo, a parte do clima”, afirmou.

Crítico de políticas imediatistas e feitas com pressa na área da defesa do ambiente, Manuel Carreira questionou se algumas medidas que têm vindo a ser impostas, como os incentivos às viaturas eléctricas, não vão acabar por criar poluição no longo prazo. Deu o exemplo da exploração de lítio em Trás-os-Montes. “Esta parte do lítio é um exemplo muito claro de contraindicações de um medicamento que a gente fica sem saber muito bem se é melhor tomar o medicamento ou criarmos as nossas autodefesas”, afirmou.

No caso de Trás-os-Montes, apontou que está em causa “destruir uma montanha inteira”, prejudicar “os rios, as águas, as nascentes”, num processo em que já “não se volta atrás”. O candidato defendeu que a resposta não pode passar por “dar dinheiro àquelas populações para se calarem”.

Também apontou os problemas de poluição gerados no longo prazo pelas baterias dos carros eléctricos, que, “se calhar, não é menor do que a dos carros a gasóleo e gasolina” e referiu que o caminho pode passar por explorar alternativas ecológicas mais amigáveis, como eventualmente o hidrogénio ou a energia solar. “São questões que temos de reflectir e não termos uma resposta imediata”, disse.

(Foto: D.R.)

Por outro lado, referiu que “se um carro ainda está bom, o abate desse carro significa muita poluição. Temos que pensar muito as coisas e não ir pelos imediatismos nem o ‘dou-te 5.000 euros, dás-me o teu carro, levas aquele’”, numa lógica consumista.

Na área da educação e formação dos jovens, Manuel Carreira, que é também um antigo professor do ensino básico e universitário, defendeu que devem existir políticas que obriguem os jovens a desenvolver competências ao nível da formação humanística e cívica, incluindo o serviço militar obrigatório, com a opção alternativa de cumprimento de serviço social ou ambiental, por exemplo.

Sobre a crise na habitação, o candidato do MPT defendeu que o problema não é escassez mas má gestão. “Tanta gente sem casa, tanta casa sem gente”, referindo que existe muita “riqueza abandonada”, tal como na agricultura, com terrenos ao abandono. Assim, Manuel Carreira defendeu que sejam adoptadas políticas de incentivo ao uso das casas e terrenos que estão abandonados.

Esta é a 12ª entrevista do HORA POLÍTICA, que visa entrevistar os 17 cabeças-de-lista dos partidos que concorrem às eleições europeias que, em Portugal, têm data marcada para o dia 9 de Junho. A publicação obedece a uma ordem cronológica, do partido mais jovem ao mais antigo.


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