Há uns dias, um jornalista da revista Visão – que, por sinal, foi identificado no ano passado pela ERC como um dos ‘jornalistas comerciais’ que faziam notícias patrocinadas – zurzia no X, onde tem uma legião de seguidores, contra o PÁGINA UM a pretexto de uma opinião de que não gostara: “Não passa de um bloque para vomitar todos os ódios, mas com delírios de grandeza” e “eles são muito ruidosos, mas não passam de meia dúzia de gatos pingados”, foram alguns dos mimos.
Comecemos por descontar o elucidativo facto do Luís Ribeiro, o dito jornalista, trabalhar para uma empresa que não tem “delírios de grandeza”: tanto assim que a dita, a Trust in News, achou que bastaria um capital social de 10 mil euros (igual ao do PÁGINA UM) para gerir 17 títulos, entre os quais a revista Visão, e conseguiu isso durante meia dúzia de anos, apenas com o singelo pormenor de não encerrar falida, mesmo se se encontra com um passivo a rondar os 30 milhões de euros e dívidas ao Estado e à Segurança Social superiores a 11 milhões de euros. Está em processo especial de revitalização (PER) para saber se o Estado lhe concede perdão pelas manigâncias.
Mas, de facto, Luís Ribeiro tem, involuntariamente, razão, mesmo se exagerando. Nos últimos dois anos e meio, o PÁGINA UM fez um jornal não com “meia dúzia de gatos pingados”, mas com metade disso. Actualmente, somos apenas dois jornalistas seniores (eu e a Elisabete Tavares). Coordenamos (e editamos e paginamos), para além disso, uma dezena de colunistas que nos honram com a sua opinião – e julgamos que essa honra é recíproca.
E temos tido, de facto, “delírios de grandeza”. Ao longo destes dois anos e meio, temos investigado e denunciado muitos assuntos, tornando-as evidentes ‘cachas’, que só não têm mais eco na imprensa mainstream (fora aquelas notícias que nos plagiam sem dar cavaco), muito pelo incómodo das revelações que temos feito sobre as promiscuidades entre grupo de media e grupos económicos.
Entre notícias, entrevistas, opinião e recensões de livros, publicámos 2.537 artigos, num jornal digital de acesso aberto, sem publicidade e sem parcerias comerciais – e apenas com os donativos dos leitores.
Apesar de sermos agora nem metade de “meia dúzia de gatos pingados”, fomos o único órgão de comunicação social a propor, em duas eleições deste ano, entrevistar todos os partidos (nas legislativas) e todos os cabeças-de-lista (nas europeias). No total, fizemos 33 entrevistas – e honrámos o Jornalismo com esta iniciativa, apesar dos quatro partidos e três cabeças-de-lista que recusaram a entrevistas (talvez por terem a mesma opinião do Luís Ribeiro sobre o PÁGINA UM).
Talvez por “delírios de grandeza”, e mesmo com menos do que “meia dúzia de gatos pingados”, o PÁGINA UM tem sido um bastião da luta para o acesso à informação em tempos cada vez mais obscuros numa democracia que, embora longe de uma ditadura, já parece mais de lapela, exactamente por a imprensa mainstream, decadente e falida, se presta a servir de ‘regulador da opinião pública’. Ao longo de dois anos e meio intentámos 22 intimações junto dos tribunais administrativos, não poupando ninguém que nos recuse ilegitimamente documentos por razões de obscurantismo, a começar por entidades do Ministério da Saúde, mas também incluindo até o Conselho Superior da Magistratura e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Já agora, com estas duas entidades, ganhámos em duas instâncias. Tudo, porventura, por causa dos nosso “delírios de grandeza”, e também por causa dos nossos leitores que insistem em apoiar esta contínua campanha através do FUNDO JURÍDICO.
Porém, é de facto verdade: o PÁGINA UM, ao fim de dois anos e meio, é um jornal cheio de “delírios de grandeza”, mas não aqueles que o ‘jornalista comercial’ da Visão sugere, mas sim porque consideramos que aquilo que hoje parece uma quimera – um jornalismo dos três Is: isento, independente e incómodo –, afinal é possível.
Parece-me cada vez mais evidente que, por agora, não é. Se hoje o PÁGINA UM consegue fazer um jornalismo isento, independente e incómodo, com acesso aberto, sem publicidade nem parcerias comerciais (e muito menos partidárias ou estatais), tal permite fazer apenas um jornal de pequeníssima dimensão, e facilmente ignorado.
Desde o seu início, o PÁGINA UM tem vivido – como foi planeado – apenas com o apoio dos seus leitores, e no sentido desse apoio servir para pagar esse serviço de jornalismo independente e também o acesso aos leitores menos favorecidos. Actualmente, com variações, temos cerca de cinco centenas de apoiantes regulares e pontuais, com montante de donativos muito distintos, sobre os quais sempre estaremos gratos.
Tem sido esse apoio – e o entusiasmo dessa comunidade – que tem permitido o ‘milagre’ do PÁGINA UM, ao mesmo tempo que temos contas limpas: não temos dívidas nem atrasos de pagamentos.
Mas ter esse meio milhar de apoios – que resulta numa receita mensal de pouco mais de quatro mil euros – mostra-se completamente insuficiente para dar o salto qualitativo e quantitativo que ambicionávamos nos nossos “delírios de grandeza”, tendo em conta também os custos de gestão e do arrendamento da nova redacção do PÁGINA UM. E, infelizmente, há cada vez mais notícias e investigações que acabam manifestamente ‘encalhadas’ por essa incapacidade de contratar (a pagar a) mais jornalistas. Isto sem prejuízo do enorme esforço pessoal que me tenho imposto. Estamos presos por estar a fazer um jornal que, para não ter dívidas nem dependências externas, acaba feito por menos de “meia dúzia de gatos pingados”.
O PÁGINA UM não vai desistir, fiquem descansados (ou, no caso, dos nossos ‘inimigos’, não descansem): embora não estando a crescer em termos de receitas (pelo contrário), não temos dívidas e estamos (ainda) muito longe de atirar a toalha ao chão, tanto mais que mudámos recentemente de redacção. Na verdade, este editorial, simbolicamente escrito do Dia de Portugal, constitui sim um apelo (e não aos que já nos apoiam financeiramente): ajudem-nos a criar condições para recuperar o conceito do jornalismo de serviço público, independente, isento e incómodo. Estamos mesmo a estender-vos a (nossa) mão, para que possamos retribuir, para retribuir jornalismo no estado puro. Sempre nos parece mais nobre do que aquilo que a imprensa mainstream, com jornalistas engravatados e com ares de muito respeitáveis, tem procurado fazer: mendigar apoios ao próprio Estado ou ‘vender a alma’ com as constantes parcerias empresariais envolvendo jornalistas da casa, porque se endividaram e deram calotes fiscais como se não houvesse amanhã. Na verdade, querem viver ‘à conta’ dos contribuintes; enquanto o PÁGINA UM quer viver à conta dos seus leitores. Parecendo igual, não é.
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