EDITORIAL DE PEDRO ALMEIDA VIEIRA

Jornalismo: quatro notas sobre o pântano

fogs surrounded on forest

por Pedro Almeida Vieira // Junho 16, 2024


Categoria: Opinião

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Primeira nota

Domingos de Andrade que, como administrador da Global Media estabelecida contratos comercias para os jornais e rádios onde tinha funções editoriais, acabou há um ano por ser multado em 1.000 euros pela inútil Comissão da Carteira Profissional do Jornalista (CCPJ), que nem sequer lhe cassou a certeira. Regressou há um par de meses como uma espécie de ‘salvador’ de alguns dos títulos da Global Media depois da fugaz e tempestuosa passagem do fundo das Bahamas – uma das histórias mais ‘mal-contadas’ da imprensa portuguesa e dos ‘estranhos’ negócios de Marco Galinha.

Enquanto decorrerem as movimentações para uma perfeita negociata, cuja factura vai ser paga pelos contribuintes, em que títulos ainda lucrativos da Global Media passam para ‘especuladores da imprensa’, onde Domingos de Andrade surge como cabecilha e sócio, eis que se confirmam, através de notícias do Correio da Manhã, que o dito, segundo escutas do Ministério Público, mercadejava os cargos editoriais e mexia os cordelinhos para notícias favoráveis para certas individualidades. Depois disto, Domingos de Andrade mantém-se em silêncio. Os Conselhos de Redacção dos títulos da Global Notícias, onde ele é director, estão caladinhos que nem um fuso – dizem-me que há lá jornalistas, mas eu duvido; há sim pessoas com carteira profissional mas o hábito não faz o monge. A ERC nem um ai. A CCPJ nem um ui, mas também ‘isto’ não conta porque aparenta agora só existir para a sua presidente andar a passear pelo país em fúteis palestras enquanto tudo arde.

Mistério ainda maior é haver leitores que compram jornais ou ouvintes que sintonizam a rádio onde Domingos de Andrade dita as linhas editoriais…

Domingos de Andrade: e não se demite? E a ERC e a CCPJ nada dizem? E os Conselhos de Redacção da Global Media, ainda existem?

Segunda nota

Com uma pequenina referência no canto superior direito a informar o co-financiamento pela União Europeia, mas sem grafismo distinto do restante conteúdo noticioso, o Correio da Manhã dedica hoje uma página inteira em ditirambos à… União Europeia.

Parece piada, mas não é: meteram uma jornalista recém-formada (Filipa Novais, CP 8511) a elogiar, também pela voz da comissária europeia Elisa Ferreira, a maravilha que foi aumentar a impressão de moeda para, entre outras coisas, encher os bolsos dos accionistas das farmacêuticas e fazer disparar a inflação e depreciar as poupanças e os rendimentos (que é o que sucede quando o BCE estimula a dívida pública como se não houvesse amanhã).

Hoje também, mas no Diário de Notícias, a mesma Elisa Ferreira tem direito a uma longa entrevista onde vende o seu ‘peixe’ – neste caso, António Costa para o Conselho Europeu. Procurei, mas não encontrei em nenhum canto, qualquer referência, como no Correio da Manhã, de ter esta conversa sido também co-financiada pela União Europeia. Mostra-se assim legítimo questionar se houve e não foi metido, ou se a Global Notícias anda a ser totó, não fazendo o que o Correio da Manhã, e porventura outros fazem: publicar notícias co-financiadas.

Aliás, espero a toda o momento que as páginas dos jornais, ou os conteúdos dos outros meios de comunicação social, passem a ostentar o devido (e merecido) patrocínio da própria entidade que é abordada. Até para clarificar o regabofe.

Notícias co-financiadas pela União Europeia a elogiar a acção da União Europeia. Para quando notícias co-financiadas pelo Governo a elogiar a actividade do Governo? Ou, porque não, partidos políticos ou empresas? Ou isso já se faz sem declarar?

Terceira nota

Por momentos, na quinta-feira passada, fiquei preocupado com o departamento de marketing da Media Capital. Anunciava-se na TVI, para o dia seguinte, uma investigação sobre os efeitos adversos das vacinas. Camandro: então querem ver que chateiam a Pfizer que financia nesta próxima terça-feira um ‘summit’ da CNN Portugal no Hotel Pestana com quatro jornalistas ‘mestres-de-cerimónia’? Ah!, não se preocupem: afinal, o Exclusivo da jornalista Sandra Felgueiras só encontrou o caso português de uma infeliz senhora que teve “um azar de 0,0004%” em ficar de cadeira de rodas com mielite. Nada mais.

Não há crise e salvaram-se 20 milhões de pessoas, garantem-nos. E, aliás, como publicita – no sentido de publicidade – no Correio da Manhã, tudo graças à Comissão Europeia, mais os contratos secretos, combinados por WhatsApp, da senhora Ursula von der Leyen…

Não há miocardites, nem pericardites, nem trombocitopenias imunológicas, nem AVC, nem mortes fetais, síndrome de Guillain Barré ou outras doenças autoimunes, nem herpes zooster aos pontapés, nem processos judiciais a correrem no Reino Unido, nem artigos científicos a associarem (como hipótese muito plausível) os programas massivos de vacinação ao excesso de mortalidade, nem a constatação de um ex-bastonário da Ordem dos Médicos ter escondido um parecer que não aconselhava a vacinação de crianças e adolescentes saudáveis, nem a contabilização das mortes suspeitas que constam na base de dados da Agência Europeia do Medicamento..

Este é o jornalismo de investigação que qualquer departamento de marketing dos grupos de media adora: parece que vai morder, mas afinal afaga.

Avancemos, pois, descansados, para o ‘summit’ da Pfizer no Hotel Pestana: os croquetes by CNN Portugal devem ser excelentes. Ali é que se faz política de Saúde da boa.

Afinal, não passa tudo de “um azar de 0,0004%”. Está tudo bem. Pode avançar o ‘summir’ da CNN Portugal patrocinado pela Pfizer.

Quarta nota

Anuncia-se para o fim do mês a MediaCon, que se apresenta como “um encontro de jornalismo organizado por dezasseis órgãos de comunicação social portugueses que querem discutir, em conjunto a comunidade, o presente e futuro do jornalismo e da democracia”. E dizem que representam a comunicação social não-tradicional, deduzindo-se assim que o PÁGINA UM ao não ter sido sequer convidado ou sondado, e não integrando (acho) o ‘legacy media’, não pertence a este ‘clubinho’ que, entre outros, inclui órgãos de comunicação social subsídio-dependentes de fundações internacionais que balizam ‘temas queridos’ ou mesmo uma secção de um jornal mainstream (o Azul, do Público), que já mostrou ser um ‘pronto-a-vestir’ de notícias.

Quando o PÁGINA UM – um projecto independente, sem ideologia nas abordagens temáticas, de acesso livre e apenas financiado pelos leitores –, e ainda por cima com maior visibilidade real do que os auto-intitulados media não-tradicionais, é tratado assim, apetece chamar Cristo para desancar nestes vendilhões do templo. O jornalismo está ‘sequestrado’ de alto a baixo.    

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