Cumpridas todas as formalidades, incluindo o aviso à Comunicação Social, a Polícia Judiciária, a mando do Ministério Público, avançou com aparato para buscas na Câmara Municipal de Oeiras.
As diligências estavam relacionadas com despesas feitas pelo município liderado por Isaltino Morais.
Segundo o jornal Público, “o caso dos “almoços de trabalho” nasceu de uma investigação da revista Sábado, que, em Agosto do ano passado, revelou que a Câmara de Oeiras teria gasto, desde 2017 e até aquela altura, 138.986 euros em refeições. Presunto pata negra, champanhes caros, lagosta e vários tipos de marisco, sushi, leitão, ostras ou até “saké afrodisíaco” estariam entre as escolhas no menu das mesmas, descritas em facturas pagas pela autarquia. Ao todo, terão sido realizadas 1441 destas refeições descritas como almoços de trabalho”.
O artigo da revista teve, vai para um ano, as habituais reacções dos portugueses: comentários delirantes dos populistas, eternos derrotados em todo o tipo de eleições, e desprezo da imensa maioria dos munícipes.
Em grandes parangonas a revista dava conta de que os autarcas de Oeiras tinham, em seis anos, beneficiado da inacreditável extravagância de seis refeições de arroz de lavagante.
Tentaram, ainda, chamar a atenção dos leitores para o facto de que havia vereadores que experimentaram um “saké afrodisíaco”.
Todavia, porque não os conseguiram seguir após essas refeições, esse dado perdeu um pouco de interesse já que não se se percebeu se o “saké” mereceria, ou não, o tentador qualificativo.
O Ministério Público decidir agora, um ano depois da notícia, abrir um inquérito para analisar se há ilegalidades nestas refeições é que é (para ser suave) absurdo.
Será que, a partir de agora, a Procuradoria-Geral da República vai enviar, para os Executivos Municipais, as ementas que os autarcas podem oferecer aos seus trabalhadores e convidados?
A Câmara Municipal de Oeiras é, em Portugal e no estrangeiro, considerada um exemplo de gestão e sucesso.
Recebe, constantemente, convidados ilustres pelos mais diversos motivos entre os quais o interesse em investir no concelho.
Pensarão, os responsáveis do Ministério Público, que o Presidente da Câmara deve oferecer, a esses visitantes, uma pizza e vinho de pacote?
Em dia de trabalho intenso, se houver uma vintena de trabalhadores que terminam uma missão pelas 20 horas a Câmara deverá pagar-lhes um jantar?
E, nesse caso, bastará ir a uma casa de comida rápida e comprar hambúrgueres e batatas fritas?
Pensarão, porventura, que os munícipes aceitariam este comportamento aos seus representantes?
O problema do nosso país é haver gente com mentalidade terceiro-mundista a quem o sucesso provoca urticária.
Também são poucos os cidadãos dispostos a questionar a legitimidade do Ministério Público em se intrometer num caso de gestão que, salvo melhor opinião, só deverá ser julgado, politicamente, em eleições.
E, aí, os autarcas de Oeiras têm provas mais que evidentes de que os seus méritos são reconhecidos.
Deixo uma sugestão:
Se os Procuradores querem analisar a qualidade e preços de refeições, podem, sem sequer saírem do concelho de Oeiras, visitar a prisão e o hospital prisional de Caxias.
Perguntem como é possível os responsáveis gastarem 3,20 € pelas quatro refeições de cada recluso. Ou seja, 0,80 € por cada refeição e sabendo-se que as famílias não podem entregar mais do que um quilo de comida, por semana, para melhorar aquela miséria entregue a jovens, velhos e doentes.
E depois, continuem as visitas por todas as outras prisões do país.
É óbvio que este trabalho não teria o acompanhamento das televisões e seria feito em locais sujos e repletos de gente problemática.
No fim, talvez se sentissem incomodados e envergonhados de serem portugueses.
Porém, com toda a certeza, estariam a fazer um trabalho realmente importante, merecedor de elogios e dentro das suas obrigações.
Vou esperar, sentado!
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
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