Como em todos os países há, em Portugal, políticos admirados, outros que passam despercebidos e uma imensidão de detestados pelos seus conterrâneos.
Claro que a ideologia conta e, por vezes, bastará pertencerem a uma família política diferente da de quem os julga para passarem a ser alvo de todos os qualificativos negativos.
Situação conhecida e não exclusiva para políticos.
Os desportistas, de um modo geral, são cilindrados pelos inúmeros treinadores de bancada, unicamente pelo facto de ousarem vestir uma camisola de um clube rival.
A inveja, grande característica dos portugueses, faz o resto.
Bastará um português começar a distinguir-se dos seus vizinhos, colegas, mesmo familiares, para passar a ser, de imediato, denegrido.
Não foi só por dinheiro que Saramago se refugiou nas Ilhas Canárias, Vieira da Silva foi pintar para Paris, Maria João Pires tocar no Brasil, António Damásio ensinar nos Estados Unidos e Eduardo Lourenço em França.
E podia acrescentar largas dezenas de nomes de ilustres portugueses espalhados pelo mundo onde são, ou foram, admirados e acarinhados.
A explicação é simples: o objectivo da maioria dos portugueses baseia-se na recusa de aceitarem que há quem os suplante, mesmo que isso seja óbvio, e por isso, conscientes de que não conseguirão chegar ao nível destes, tudo farão para os fazer baixar ao seu.
Sempre ouvi dizer, e tenho constatado, que os críticos de teatro são, de um modo geral, actores falhados, os críticos literários escritores sem talento, os analistas políticos gente sem lugar nas escolhas para os cargos governativos.
Daí que muitas das suas análises tenham como base não o estudo isento, mas a vontade de se vingarem de quem conseguiu os objectivos que eles procuravam sem os conseguirem alcançar.
Ninguém escapa às acusações dos ressentidos.
Para mais, estes têm uma legião de seguidores porque esta é uma característica que faz parte do ADN do nosso Povo.
Os portugueses, que consideram uma prova de fraqueza, uma “mariquice”, dizer “gosto de ti”, não têm qualquer problema em dizer, alto e bom som, “não conheço aquele tipo mas ele nunca me enganou”.
Ou “bastou-me olhar para a cara dele para perceber que não era boa rês”.
O português normal consegue resolver todos os problemas do mundo, da guerra entre a Rússia e a Ucrânia à cura de qualquer doença, da descoberta dos responsáveis por qualquer crime à solução dos problemas económicos do país.
A única dificuldade da maioria é conseguir resolver os seus pequenos problemas do dia-a-dia.
E não se pense que eu estou a falar, simplesmente, dos cidadãos anónimos com quem nos cruzamos diariamente, nas ruas, nos cafés ou na internet.
Estou a referir-me, também e especialmente, aqueles que nos entram em casa, graças às televisões, figuras públicas, especialistas em várias áreas, professores, governantes.
Uma vez mais me fixei nesta particularidade dos portugueses ao comparar o tratamento dado, pelos seus opositores políticos, ao incompetente ex-Primeiro-Ministro António, mesmo depois de ele iniciar um segundo mandato reforçado com uma maioria absoluta.
Os seus opositores diziam dele o que Maomé nunca disse do toucinho.
Era péssimo na escolha dos seus ministros, como se percebia pelas constantes demissões causadas pelos mais diversos motivos, catastrófico na direcção de um governo que tinha tudo para durar os anos do mandato, porque não tinha mão nos seus ministros que, não o respeitando, anunciavam medidas fundamentais sem o terem consultado, permissivo a comportamentos que roçavam a ilegalidade.
Todos os dias surgiam acusações gravíssimas apontando falhas, salientando a inaptidão para o cargo, acentuando a incapacidade de gerar consensos com a oposição.
Não recordo outro Primeiro-Ministro que tenha sido vítima de tantos ataques, provocações e injúrias de todos os políticos da oposição, da extrema-esquerda à extrema-direita.
Acabou por ser praticamente exigida a sua demissão, depois que o seu nome surgiu ligado a uma operação do Ministério Público.
Muitos diziam ser o fim do incompetente António.
É sabido, todavia, que quando alguém cai outro surge para alegria do povo.
Aqui não houve excepção.
Era a altura de dar o lugar ao extraordinário Costa.
Segundo a mesmíssima oposição estávamos, finalmente, a falar de um homem de consensos, admirado em toda a Europa, capaz de criar uma equipa de sucesso no alto cargo de Presidente do Conselho Europeu.
Finalmente um português de que todos nos poderíamos orgulhar.
O único senão era que o extraordinário Costa era, fisicamente, muito parecido com o incompetente António.
Mas seria isso motivo para levar a oposição a vetar o seu nome?
Pelo contrário, ter um português competentíssimo num cargo com esta importância, sendo a escolha mais acertada que a Europa podia fazer, era algo que não se podia perder por causa dessa parecença física.
As forças políticas avançaram, pois, numa frente comandada pelo Presidente da República, que aceitara a demissão do incompetente António, coadjuvado pelo Primeiro-Ministro que o substituíra, num apoio total e dedicado ao extraordinário Costa, ídolo de toda a Nação portuguesa.
Como só tomará posse em Dezembro vai ter meio ano de calma.
Em Janeiro lá recomeçará a cavalgada dos populistas com gritos de que “chega de estado de graça”.
Vai uma aposta?
Vítor Ilharco é assessor
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