Rebeca Mateus, membro da direcção da organização ambientalista Associação Dunas Livres, não tem dúvidas de que as autoridades, autarcas e a Justiça têm falhado no seu dever de proteger o ambiente e o bem-estar das populações, face ao avanço agressivo de projectos turísticos e imobiliários de luxo na costa que vai de Melides a Tróia. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, a bióloga faz um balanço da actividade da Associação, que entretanto se juntou a outras 10 organizações de defesa do ambiente na Plataforma Dunas Livres. Além de elencar as principais ameaças ambientais na região, alertou que está a ser feito um ‘greenwashing’ em muitos dos projectos turísticos e imobiliários em andamento naquela zona costeira. Apesar das adversidades, Rebeca Mateus garantiu que a sua Associação, que nasceu de um movimento de cidadãos formado em 2020, não vai baixar os braços na defesa dos habitats e das populações daquela zona costeira. Mas mostra-se algo desiludida com o parco interesse dos cidadãos na protecção do ambiente e diz que existe mesmo um preconceito em relação aos ambientalistas.
Perante a ameaça de subida do nível do mar e a anunciada emergência das alterações climáticas, o que fazem os ricos e os muito ricos quando constroem e investem em propriedades numa zona costeira, como é o caso da Península de Tróia? E se Portugal enfrenta os perigos de seca e desertificação, porque motivo é autorizada a construção de campos de golfe e plantações de culturas intensivas de abacate, que consomem imensos volumes de água?
Pondo o ‘dedo na ferida’, Rebeca Mateus, membro da direcção Associação Dunas Livres, uma organização ambientalista, apontou que os ricos não querem campos de golfe em zonas ambientalmente degradadas, “querem jogar golfe e ter vista para o mar” e “ir para a praia de carro”. Por isso, estão a ‘tomar de assalto’, com a conivência das autoridades competentes e de autarcas, o ‘paraíso’ que é a costa que vai de Tróia a Sines. “O dinheiro compra e corrompe quase toda a gente e as autoridades responsáveis por dizer ‘não'”, disse Rebeca Mateus em entrevista ao PÁGINA UM.
A bióloga e investigadora, de 30 anos, também não duvida de que há muito greenwashing em muitos dos projectos e empreendimentos turísticos que nascem como cogumelos naquela costa e que, para a sua Associação, põem em risco a biodiversidade e o futuro de muitas espécies e habitats da região. Mas não só. Também estão a ter um impacto social e cultural e afastam cada vez mais a população local, que está a ser praticamente ‘expulsa’ do paraíso que é aquela zona com 40 quilómetros de dunas a beijar o mar.
Nesta entrevista ao PÁGINA UM, a ambientalista faz um balanço da actividade da sua Associação, que nasceu formalmente em 2022, mas que teve na sua origem o movimento de cidadãos fundado por Rebeca Mateus, Maria Santos e Catarina Rosa em 2020, em plena pandemia. Entretanto, fruto de uma coligação com outras 10 organizações de defesa do ambiente, nasceu a Plataforma Dunas Livres, que agrega organizações não governamentais como a Quercus, a Zero e a Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
Além de sensibilizar para a necessidade de proteger aquela zona costeira da agressiva construção de empreendimentos de luxo e casas para os ricos e os muito ricos, através das redes sociais e dos media, a Associação Dunas Livres tem promovido acções de protesto e mobilizado a população a actuar em consultas públicas e petições. Mas também avançou para a Justiça para pedir acesso a informação a avançar com um procedimento cautelar. (Aliás, a Dunas Livres tem tido como advogado Rui Amores, que é também advogado do PÁGINA UM nas muitas acções que o jornal tem tido na Justiça, graças ao Fundo Jurídico do jornal).
A esperança parece desvanecer-se para a Associação, que vai vendo as gruas e os avanços dos muitos projectos na zona, alguns classificados como Projecto de Interesse Nacional (PIN), a nascer em cimas das dunas ou ao lado de outros habitats ricos e únicos. (Recorde-se que o Ministério Público suspeitou que o antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, favoreceu o Grupo Espírito Santo na classificação da Herdade da Comporta e da Herdade do Pinheirinho como PIN). Mas, ouvindo Rebeca Mateus, percebe-se que a Dunas Livres está muito longe de desistir de combater os avanços dos empreendimentos de luxo.
Rebeca Mateus mostra-se desiludida e sobretudo lamenta que as autoridades e entidades responsáveis por protegerem o ambiente, a água (que escasseia) e os acessos livres às praias da região estejam a ser cúmplices da construção de cada vez mais projectos imobiliários e outros, que têm riscos ambientais.
Mas também deixou uma nota sobre a falta de envolvimento de grande parte da população da luta pela causa ambiental. Atribui este afastamento, às dificuldades financeiras em que vive boa parte dos portugueses, mas também defende que “há um certo preconceito pelo activismo ambiental”. Também aponta que “há uma falta de noção de que este planeta é a nossa casa”. E de que é preciso mantê-la e cuidar dela.
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