RUI ARAÚJO: CADERNO DOS MUNDOS

Sagres: a viagem

por Rui Araújo // Agosto 22, 2024


Categoria: Exame

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Hoje, na rubrica ‘Caderno dos Mundos’, uma reportagem de Rui Araújo, emitida na TVI em Fevereiro de 2020, a bordo do Navio Escola Sagres. O navio partira para a sua mais longa e distante viagem para comemorar os 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães ao serviço do Rei de Castela. Mas a missão, que previa inicialmente uma viagem de 371 dias e a passagem do veleiro por 22 portos e 19 países, teve de ser encurtada devido à pandemia de covid-19. Nesta reportagem, Rui Araújo acompanha o navio de Lisboa até às Canárias.


O mar, derradeiro espaço de liberdade… (Foto: Rui Araújo)

Atlântico Norte.

O veleiro corre com o tempo.

Temos vento pela alheta por estibordo.

14… 15 nós de vento real. É uma brisa moderada. Força 4 na escala de Beaufort: mar sereno, de pequena vaga. 

Mar de saudade…

Rumo: 2-1-0. Velocidade: 6 nós… 6 nós e meio «steady» — constante. São 11 ou 12 mil metros por hora à vela. Papafigos, gáveas e velachos caçados…

Na «casa de navegação» é o momento de o comandante escrever as ordens, que lavra diariamente em livro, depois assinado pelos oficiais de quarto.

Aqui, não há espaço nem tempo para a poesia ou a para a divagação austera e purgadora.

Há uma missão para cumprir e não é uma qualquer.

— Eu saio com planeamento desde o minuto da largada até ao minuto da chegada coisa que o Fernão de Magalhães não tinha porque não fazia ideia daquilo que iria ocorrer. A viagem de Magalhães — completada por Elcano — durou três anos e eu tenho um ano. E vai ter que ser cumprido dessa forma! — diz-me Maurício Camilo, comandante do navio-escola. 

O veleiro vai dar uma volta ao mundo por 22 portos de 19 países durante 372 dias, no quadro das comemorações do Quinto Centenário da circum-navegação do português Fernão de Magalhães e do espanhol Sebastião de Elcano (ao serviço de Castela).

É a maior viagem em tempo e em distância desde a construção do navio, em 1937.

23 de Junho de 1962: Chegada do veleiro a Lisboa.
(Imagem: Cinemateca Portuguesa)

23 de Junho de 1962

«De aspecto menos majestoso do que a velha barca que o antecedeu, tem, no entanto, belas linhas, recorda os admiráveis tempos das Descobertas.

A Sagres com bandeira nacional…»

Noticiário oficial (Documento: Cinemateca Portuguesa):

«O novo navio-escola Sagres adquirido ao Brasil chegou finalmente ao Tejo.»

«As novas velas que a brisa do Tejo fará tufar vêm dar continuidade a uma velha tradição da nossa marinha e contribuirão para tornar mais marinheiros os futuros oficiais.»

Um veleiro excepcional, ontem como hoje…
(Foto: Marinha Portuguesa)

Entre 1937 e 1948 o navio Albert Leo Schlageter — construído no estaleiro Blohm Und Voss, em Hamburgo — hasteou bandeira alemã.

Era o terceiro de uma série de quatro navios.

Adolfo Hitler chegou a visitá-lo antes do início da guerra.

Em 1948 foi cedido pelos Estados Unidos à Marinha do Brasil por um preço perfeitamente simbólico: 5.000 dólares. E mudou de nome. Passou a ser chamado Guanabara

(NOTA: O navio foi cedido por causa dos danos causados pelos submarinos alemães aos navios brasileiros durante a Segunda Guerra. Em 1961 foi adquirido por Portugal para substituir a antiga Sagres, outro navio alemão.
A 10 de Outubro de 1961 foi arriada, pela última vez, a bandeira brasileira.
A 30 de Janeiro de 1962 foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada.
)

Portugal pagou 150 mil dólares pelo veleiro. É o terceiro veleiro português de instrução com o nome «Sagres».

(NOTA: A página sobre a Sagres pode ser consultada no sítio da Marinha portuguesa).

A actual Sagres. (Foto: Rui Araújo)

É a quarta volta ao mundo do navio.

Tirada 0 – 1. 

Lisboa — Santa Cruz de Tenerife, que ainda está a 243 milhas.

Amanhece.

Na padaria é a azáfama do costume. E é o mesmo sopro cálido de fornalha que nos consome…

O cabo Santos, que é homem para meter no chinelo ao mais chique dos padeiros, está de quarto e prepara mais uma fornada de pão: broa naval e, por vezes, carcaças ou croissants. Ou até bolos (de anos e não só)…

Feitas as contas, são precisos 40 a 50 quilos de farinha para fazer 110 broas (ou pães de quilo).

Os 3 padeiros cozem pão 4 vezes por dia.

Meto conversa com o cabo Paulo Santos, padeiro.

— Estar no mar é o período da noite em que não se vê nada. Parecemos uma pequena ilha. Andamos aí no meio, não há luz, não há nada. Literalmente, não há nada. Se viermos aqui, temos os camaradas que vão passando, dizemos um «olá» à noite, servem de companhia. Senão, não há barulho, não há nada, passa a ser tudo muito vazio…

A ideia, aqui, é não matutar muito. É o lance de vida ou de sobrevivência possível…

As cogitações no mar são, aliás, inúteis. O mar obriga-nos a encarar a multiplicidade dos mundos, das hierarquias e das lógicas. Sempre. É o que apregoam os filósofos…

Um P-3C Orion CUP+ da Força Aérea Portuguesa, que efectua patrulhamento marítimo nesta área, sobrevoa-nos: 1, 2, 3 vezes.

A aeronave da Base Aérea Nº 11 – Beja – pertence à Esquadra 601 – LOBOS.

Tem participado também em missões internacionais de patrulhamento no Mediterrâneo.

No «poço», encontramos os fuzileiros: seis praças e o primeiro-sargento Valério Afonso — o chefe da equipa de segurança. 

A missão destes homens das Forças Especiais é a protecção da Sagres, se houver ataques de piratas, longe daqui.

O cabo de manobra Pedro Miguel Lopes Rodrigo, 36 anos, a caminho dos 18 na Marinha, é sota-gajeiro e barbeiro, nada mal afreguesado. Tirou o curso em Lisboa no ano passado.

O cliente, agora, é o marinheiro MS (Manobra e Serviços) António Vareta.

O corte é um dégradé. É o que está na berra. Ninguém que se preze quer outra coisa…

O pagamento, como está sabido, é à vontade do freguês. Só pode. Costuma ser uma «Mini» acompanhada de um sermãozinho de fazer chorar as pedras da calçada ou nem por isso.

A cerveja corre não menos fluentemente que a palavra… diria Aquilino Ribeiro.

Navegamos a motor: «Toda a força» a vante. 8 nós e meio. É uma boa velocidade.

Temos vento de feição, mas fraco: 3 nós. Direcção: 2-4-7.

O nosso rumo é o mesmo desde Cascais: 2-1-0.

A chefe dos serviços de mecânica e LA (Limitação das Avarias) é a engenheira Rita Rodrigues de Oliveira.

As ideias conservadoras dos perigos a bordo: a terra, o fogo e as mulheres — por mais salutares que fossem — já não se aplicam aqui. Não comento…

Há quatro oficiais do sexo feminino a bordo.

— Eu vim para a Marinha por causa do mar, por aquilo que ele representa, a curiosidade, a aventura… Um dos meus sonhos era conhecer o mundo. (Ri-se) E vou… Pelo menos, embarco agora, em grande parte, na sua totalidade, vou poder cumpri-lo agora, que é conhecer novas culturas, ter novas experiências, entrar em contacto com o desconhecido, o próprio mar, a aventura do próprio mar, conhecer… conhecer… passar por tempestades, pela bonança, sentir a adrenalina de… de resolver cada um dos problemas que vão surgindo no dia-a-dia. — conta a tenente Rita Rodrigues de Oliveira.

O conforto a bordo é muito razoável… (Foto: Rui Araújo)

Paiol de mantimentos.

O que se gasta mais a bordo é batata, arroz e cebola.

Aqui dentro, transportamos 8 a 10 toneladas de secos (farinha, arroz, massas, açúcar, leite…). 3 ou 4 toneladas de frescos (fruta, tomate, alface…). Mais 8 a 12 toneladas de carne e peixe.

É o mundo do cabo Pedro Lima, que faz anos hoje.

— Isto é o meu mundo. Aqui há de tudo menos gente.

— E o mar? O pior, aqui, não é o mar?

— Não. O mar a nós não nos faz grande diferença. Às vezes é um grande adjunto nosso o mar. Quando está mau tempo as pessoas comem menos e aí já nos facilitam mais a vida a nós…

Temos mar sereno…

«Enjoar que nem uma pescada» — como eles costumam dizer — ainda não é para hoje…

O problema dos portugueses é o tempo. Nunca foi o mar…

«Só há bons ventos para quem sabe onde quer chegar» – Séneca. (Foto: Rui Araújo)

A distância estimada de 41 mil milhas (mais de uma volta ao mundo) para esta Missão 2020 foi dividida por um tempo médio de 6 nós…

Feitas as contas, a Sagres só deve regressar a Lisboa a 10 de Janeiro de 2021.

É a homenagem aos navegadores Fernão de Magalhães e João Sebastião de Elcano. E, do mesmo modo, a Portugal e a Espanha, que edificaram os primeiros impérios de dimensão mundial.

— A expedição de Magalhães é uma das aventuras marítimas mais conhecidas e mais divulgadas do Mundo sobretudo porque dela resultou uma volta ao mundo numa viagem redonda: a primeira volta ao mundo, que partiu de um porto que foi Sanlúcar de Barrameda, e regressou ao mesmo porto três anos depois. Mas é preciso que se perceba que o objectivo de Fernão de Magalhães não era dar a volta ao mundo. As intenções dele e do rei que o apoiou, Carlos I, eram chegar às ilhas Molucas, onde se produzia o cravo. E fazê-lo, navegando para Ocidente, para fora da área onde andavam já há alguns anos os portugueses. Encontrar as ilhas do cravo, o cravinho, que ainda hoje é uma especiaria apreciada e que na altura tinha um custo elevadíssimo, supondo-se que a Europa podia consumir grandes quantidades dessa riqueza que era o cravo. E a viagem tem detalhes naturalmente fantásticos na sua execução. Detalhes humanos e sobretudo detalhes de natureza náutica de elevado gabarito. A viagem no Atlântico até ao Rio da Prata já era conhecida. Já se sabia como é que poderia ser feita, mas a partir daí tudo foi mais difícil de realizar porque não sabiam quais eram as condições de vento que iam ser encontradas, as condições climáticas… Encontrar a entrada do Estreito foi difícil. Navegar à vela dentro do Estreito foi difícilimo e depois a travessia do Pacífico, que são 3 meses sem abastecimentos, sem água, com grandes dificuldades até chegar às Filipinas. — explica o Comandante Jorge Semedo de Matos, historiador da Escola Naval. 

O marinheiro Gonçalo Moura Antunes está de serviço na copa.

Integrou a guarnição do navio há oito meses. Participa na quarta volta ao mundo da Sagres.

O avô, que navegou no mesmo navio em 1978-79, fez a primeira.

Há dois marinheiros e um cabo despenseiro de serviço aqui.

Na Câmara de Oficiais, o cabo Adilson Pina Macedo, 37 anos, 18 de Armada, põe, decidido, mas sem brusquidão, a mesa rectangular. Calado. Arfa-lhe o peito quando pensa que só poderá abraçar o filho que vai nascer daqui a uma data de tempo. Demasiado…

Porque amanhã é pai

— Olá, meu filho. Espero encontrar-te em 2021, dia 10 de Janeiro, com grande saúde. O pai está morto para te dar um abraço, um beijo, sentir o teu cheiro pela primeira vez e sabes que a vida vai ter muitos obstáculos. Eu, a tua mãe, a tua família e os teus amigos, vamos estar aqui para te ajudar a ultrapassar esses obstáculos. Espero mais uma vez que venhas cheio de saúde e que sejas um grande homem como o teu pai é. Um grande abraço para ti e espero dar-te um grande beijo no primeiro dia que estiver contigo. Sei que é um ano muito longo e sei que não vou estar a acompanhar possivelmente o teu nascimento, mas espero que saias com bastante saúde. Grande abraço para o meu filho que ainda não sei o nome e para a minha família. Adeus. Até 2021. Muito obrigado. — palavras cheias e sinceras do cabo Adilson Pina Macedo.

É desnecessário o homem desfazer-se em bem-hajas. O nascimento do filho é lá só para 12 a 19 de Junho, se Deus quiser.

Cabo José Oliveira: 41 anos e 23 de Marinha. É alentejano. A família vive lá para os lados de Beja e de Ourique. É um dos cinco cozinheiros do navio. É o chefe de cozinha hoje.

Às 6 da manhã, ligam os fogões.

Às 9:00… 9:30 da noite, partem. É a hora que podem jantar.

Preparam, aqui, 200 e muitas refeições por dia.

Dezoito quilos de arroz. O tomate (que não é de lata!) é a olho… E o peixe frito,  não contámos, mas… feitas as contas, cada homem ou mulher da guarnição terá direito a uns 300 gramas de comida no prato.

— Eu nunca fui cozinheiro. Nunca aprendi nada deste ramo derivado às minhas raízes familiares. Nunca foi necessário eu estar perto de um fogão porque por trás tinha sempre grandes mulheres que me proporcionaram sempre boas e grandes refeições. Comecei a tomar o gosto pela cozinha quando assim a Marinha me proporcionou este curso e esta aprendizagem já há algum tempo, em Vila Franca, onde era a nossa escola… — diz-me o cabo José Oliveira.

— Qual é a sua especialidade?

— Um prato? É todos! Mas a gente gosta… Agora, temos de referenciar o nosso bacalhau à Brás. Esse vai ser o prato que nós vamos levar em todos os portos, em todo o lado vamos levar essa cultura portuguesa. É isso.

Refeitório de praças. 11:15. Horas de almoçar. Comem cedo por causa das rendições de quarto.

E quem não está de quarto só se senta quando houver lugar. É que, aqui, à semelhança do que sucede nas câmaras de oficiais e de sargentos, há duas bordadas.

Ementa: creme de cenoura, filetes de pescada com arroz de tomate e uma peça de fruta. 

Sobremesa não há. É só à quinta-feira e ao domingo.

Toda a gente come a mesma coisa.

O mar

É (com o deserto) um dos raros espaços do planeta onde ainda se contam as distâncias em dias…

E o tempo no mar não tem só outra dimensão. Faz a diferença…

Uns, fazem torneios de burro (quando o mar e o clima permitem). Equipas de dois. Duas malhas por jogador… Quem acertar no burro perde 10 pontos. E vence quem ganhar dois jogos… Sistema de eliminação: é à melhor de 3.

«A Pátria honrae que a Pátria vos contempla.» Palavras de José da Silva Mendes Leal, político, escritor e jornalista, que datam de 1863, e continuam a ornar as rodas do leme: uma está junto à agulha de governo. E outra à ré da casa de navegação.

A superioridade filosófica, quiçá moral, da gente do mar, se calhar, ainda existe…

Do outro lado do leme, palavras perdidas ou gastas, em alemão e português que o tempo e os homens não apagaram.

A epopeia marítima ibérica mudou o mundo. Terá permitido a criação das bases políticas, militares e económicas da primeira globalização.

— Portugal e os Reinos da Espanha foram os protagonistas da expansão Quinhentista e rivais nesses tempos. Por vezes, transportam para o presente essa historiográfica e isso faz menos sentido. Esta viagem é uma ocasião única de unir esforços e compartilhar as investigações e os estudos para um melhor conhecimento do passado desse tempo. A comunidade científica — os historiadores, em geral, já compreenderam bem isso e estão a proceder dessa forma, mas não é esse o caso de todos os elementos envolvidos nos estudos associados a esta comemoração. Na viagem de Magalhães e Elcano estiveram as duas potências ibéricas de forma que a colaboração nestas comemorações pode beneficiar o conhecimento sobre os seres humanos no seu tempo e é esse o objectivo fundamental do estudo da História. A História com ‘H’ grande. — acrescenta o historiador Jorge Semedo de Matos.

Este cubículo é a Central de Limitação de Avarias (LA na gíria da Marinha), que monitoriza as emergências: incêndios, alagamentos, o que houver… Quando há um problema esta central passa a ser o local de comando e de coordenação para a resolução das avarias. E faz ainda os avisos e os alarmes através do ETO (o equipamento de transmissão de ordens).

Central LA está permanentemente em comunicação com a casa da máquina.

O primeiro-sargento electricista Pedro Silva Curto tem uma história para contar.

— O mar? Nos últimos 24 anos tem sido a minha vida. Desde que vim lá de Vilamar, a minha aldeia no concelho de Cantanhede, e que ingressei na Marinha. Têm sido basicamente comissões de embarque em vários navios da Armada e algumas comissões também em terra, mas sempre privado e distanciado de grande parte da minha família… — afirma o sargento Pedro Silva Curto.

 — E o mar?

— O mar para mim é… O mar para mim agora é uma epopeia. É celebrar…. É um misto de emoções. É.… além de desenvolver aqui as tarefas e aplicar todos os conhecimentos que aprendi nas funções que desempenho diariamente, é ter oportunidade — porque para mim é um privilégio! — é um orgulho servir neste navio que é, sem dúvida, o navio mais bonito do mundo!

No castelo, a vante, é o afã do costume. Condição: faina geral de mastros. Acabaram de encostar os braços do grande e do traquete — a maior vela do mastro da proa — e retranca a meio, a estibordo.

Apesar da negrura é noite de lua cheia.

Matam o tempo e a saudade — a espuma dos dias — que se sucedem e se assemelham com o que há: dois dedos de conversa ou uma cervejola.

O mar é o nosso mundo. Mas não é o mesmo para todos. Ocupamos o seu centro de forma diferente, desigual

Independentemente do rumo, da deriva e das solidões…

A rota traçada na carta acaba rapidamente, aliás, em ficção.

Carta do Atlântico Norte.
(Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration)

Enfermaria principal

Apesar do cartaz provocador com o telefone 911 (o número de emergência nos Estados Unidos), o atendimento, aqui, é permanente: 24 – 7.

Não há quartos nem horários: «Bordada zero».

Consultas do dia: uma congestão nasal, quistos sebáceos na parede abdominal e uma infecção viral a nível da face.

O primeiro-tenente Diogo Alpuim Costa é o médico do navio. A especialidade do «Doc» (é assim que o chamam) é a oncologia — o cancro. 

Lá fora, investiga a relação entre cancro da mama e flora intestinal. 

A bordo, trata do que é preciso com a ajuda do enfermeiro Ricardo Simões.

—  Acima de tudo um médico naval tem de estar preocupado, assim como um enfermeiro, na consciencialização da guarnição para pequenos acidentes que podem ocorrer. Outra coisa muito importante é manter a motivação das pessoas porque uma viagem tão longe mesmo com o apoio — estamos na era da informação — é manter a parte da saúde mental controlada.

— Como?

— Com… acima de tudo ser uma pessoa… Eu e o enfermeiro sermos pessoas muito próximas de todos. Cada um tem a sua hierarquia, mas acima de tudo as pessoas sentirem que têm ali um pequeno refúgio para poderem falar dos pequenos problemas que possam ter a bordo ou que tenham trazido de casa e acho que esse aspecto também é muito importante que é manter a motivação e controlar fenómenos de ansiedade ou pequenas situações depressivas que possam vir a acontecer. — responde o afável e sorridente tenente Diogo Alpuim Costa.

Santa Cruz de Tenerife (Foto: Rui Araújo)

Santa Cruz de Tenerife é o primeiro porto de escala.

O milagre chamado “A ILHA”… (Foto: Rui Araújo)

As Canárias são o segundo arquipélago que avistamos.

E as ilhas interpelam o nosso imaginário, não por estarem cercadas de água, mas por nos deixarem entender a terra… a terra, a terra e os homens e.… a morte, que dá sentido às nossas vidas.

O arco-íris lá ao fundo é apenas uma coincidência…

Regresso das Canárias. (Foto: Rui Araújo)

NOTA: O navio-escola acabou por regressar antecipadamente a Lisboa. Não chegou a haver volta ao mundo por causa da covid-19.


Reportagem originalmente emitida na TVI em Fevereiro de 2020.

Pode consultar AQUI informação sobre Fernão de Magalhães.


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