Recensão: O Destino da Livraria de Kichijōji

Batalhas de livreiros

por Ana Luísa Pereira // Setembro 5, 2024


Categoria: Cultura

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Título

O destino da livraria de Kichijoji

Autora

KEI AONO (tradução: André Pinto Teixeira)

Editora

Singular (Junho de 2024)

Cotação

14/20

Recensão

Kei Aono é uma autora japonesa, nascida em 1959 na cidade de Nagoya. Em 2006, estreou-se como autora com o livro, The Reason Why I Won't Quit (Yamenai Riyu) e, em 2014, ganhou notoriedade pela série de romances sobre a livraria de Kichijōji, com a qual venceu o primeiro prémio dos Shizuoka Bookstore Awards, na categoria “Livro que gostaria de ver adaptado ao cinema”.

A sua experiência numa revista de banda desenhada foi certamente inspiradora para o enredo entretecido neste O Destino da Livraria d Kichijōji (agora publicado, em Portugal, pela Singular). Pode dizer-se que a banda desenhada (BD) é uma espécie de personagem, pelo espaço que ocupa na trama – é na secção de BD da livraria que Aki, uma das duas protagonistas, trabalha.

É com o casamento de Aki Kitamura, com um editor em ascensão, Obata Nobumitsu, que esta novela começa. A evolução da relação conjugal é uma das histórias secundárias. Ainda que de forma superficial (e, eventualmente, incompleta) é um elemento que enquadra os modos de vida de uma cultura tão distante da nossa. Esta é uma das qualidades do livro, ao transportar o leitor para uma cidade que, porventura, gera curiosidade pela distância, não apenas espacial, mas sem dúvida, sob o ponto de vista sócio-cultural.

Riko, a chefe de Aki, é a outra protagonista, cuja descrição revela alguns traços e estereótipos da cultura japonesa (mas não só): “Tinha 40 anos, mas ainda era solteira” (p. 6). A sua condição de solteirona é, depreende-se, uma razão para sua postura rígida e disciplinada na Livraria. Por outro lado, a sua condição de mulher é factor inibitório para progredir na carreira. Num diálogo entre Riko e um cliente difícil, a autora aproveita para demonstrar essa clivagem bem presente na cultura oriental (mais uma vez, mas não só).

“– Sou a gerente desta livraria. Chamo-me Nishioka.

– O quê? Uma mulher? Não gozem comigo. Chamem alguém como deve ser!” (p. 203)

A cena prossegue neste tom, culminando com Riko Nishioka a ajoelhar-se para pedir desculpa em nome de todos os funcionários.

As relações profissionais e laborais, neste caso, entre livreiros, editores e autores são, de igual modo descritas, sendo mesmo o elemento mais escrutinado e descrito, quase de forma explicativa – sugerindo alguma imaturidade/insegurança.

É, ao mesmo tempo, o motivo pelo qual na capa do livro se pode ler: “Um romance obrigatório para os apaixonados pelo mundo dos livros”. Efectivamente, depois do casamento de Aki e de algumas peripécias sobre o quotidiano desta livraria de um bairro histórico de Tóquio, entramos finalmente na história principal: como ultrapassar a ameaça do encerramento iminente da Livraria Pégaso?

As campanhas de vendas da livraria, as ligações com a empresa-mãe, assim como as ligações entre editores e autores e livreiros são, como referido, um atractivo para os curiosos sobre o mundo dos livros e de como são seleccionados e postos à venda nos escaparates das livrarias.

A escrita simples pode ser uma percebida como outro ponto a qualificar, não obstante, para o leitor mais maduro e exigente, o enredo pode não ser suficiente para o cativar.

Como num conto, fica a moral da história, a união (pode) faz(er) a força.

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