Us discurços dus noços pulíticos

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Vítor Ilharco|05/09/2024

A carreira política, em Portugal, deveria ser caso de estudo.

Quem são os nossos políticos? Como são escolhidos? Que características devem possuir? Quais os seus currículos?

Os portugueses, tão exigentes no que respeita à escolha nalgumas profissões, pouco ou nada se preocupam na altura de eleger aqueles que nos governam.

Os deputados, é sabido, são eleitos sem que os eleitores consigam identificar a maioria deles porque votam em listas com dezenas de nomes, mas onde só os dois ou três primeiros lhes são familiares.

Os Governos saem dessas eleições, já que o Primeiro-Ministro será, em princípio, o líder do Partido Político que as ganhar, o que deveria aumentar a responsabilidade dos cidadãos eleitores.

Já ficaria contente se houvesse o mesmo cuidado que têm, por exemplo, na escolha das direcções dos clubes de futebol de que são adeptos.

E, principalmente, se estivessem dispostos a pagar salários equivalentes à excelência de cada candidato.

Custa-me compreender que aceitem que os clubes paguem ordenados mensais de dezenas de milhares de euros e considerem que Ministros, que vão decidir tudo sobre a nossa vida, ganham demasiado ao auferir, num ano, menos do que miúdos de vinte anos, futebolistas, numa semana.

Os ordenados pagos aos nossos governantes levam a que os melhores de nós procurem outros empregos, muitas vezes no estrangeiro, deixando que os lugares passem a ser ocupados por pessoas que não conseguiriam qualquer lugar na direcção de uma empresa privada de média dimensão.

Percebemos isso ao ver o país na cauda da Europa e com tendência a ser cada vez mais pobre.

Os deprimentes discursos dos nossos governantes são a prova da sua incapacidade e ignorância.

É gente que governa um País e nem sequer consegue falar, ou escrever, correctamente, a sua língua.

Os exemplos são inúmeros.

Recentemente a Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, explicava que uma das causas dos incêndios florestais tinha a ver com a “urologia” dos terrenos.

Não faço ideia do que irá naquela cabeça, mas talvez ela quisesse dizer “orografia”, ou “orologia” [a ciência que estuda os fenómenos orográficos], e não chegasse lá o seu conhecimento de português. 

Prefiro isso à hipótese de a senhora pensar que as árvores ali plantadas, por qualquer problema de rins, não conseguiam apagar o fogo por dificuldade em urinar.

Já o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, garantiu com toda a pompa e circunstância que aos beneficiários de pensões “será-lhes paga” uma verba extraordinária.

Se for tão extraordinária como a sua aversão à língua portuguesa em breve os reformados estarão a receber um ordenado equiparado ao dos futebolistas!

Continuando a subir na hierarquia, passemos aos Presidentes da República.

Cavaco Silva, Primeiro-Ministro em dois mandatos e Presidente da República noutros tantos, o homem que “nunca se enganava e raramente tinha dúvidas” achou por bem, num momento raro de humildade, agradecer aos “cidadões” que nele tinham votado.

Razão tinha um meu Amigo, Carlos Esperança, ele sim um brilhante Cronista, com textos magníficos escritos num português exemplar, ao dizer que “Cavaco já escreveu mais livros do que os que leu”…

O actual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, ao comentar o recente tremor de terra, do alto da sua sapiência, afirmou à plebe:

“O sismo revelou que, felizmente, o sistema de segurança e protecção civil português é robusto e eficaz no caso de não ser preciso fazer nada.”

Fantástica notícia.

O alívio que todos os portugueses tiveram ao ouvi-lo!

“Se não for preciso fazer nada o sistema de segurança e protecção civil é robusto e eficaz”. Já se for necessário agir, cada um que se desenrasque!

Podem ser incompetentes, mas são cómicos e baratos.

Tudo porque consideramos que não vale a pena investir em governantes capazes, ainda que mais caros.

Deixo uma história que mostra como é errada esta opção:

Consta que Deus, depois de criar o Homem, viu que Adão não estava muito feliz e perguntou-lhe a razão.

– “Sinto-me muito só” – disse este – “gostava de ter uma companhia!”

– “Que tipo de companhia?” – questionou o Criador.

– “Outra pessoa, mas que fosse bonita, inteligente, compreensiva, amiga.”

– “Tudo bem. Vai custar-te um olho!”

– “Um olho??? Caríssimo!!! O que é que consegues arranjar por uma costela?”

E, pronto.

Os problemas causados pelo regatear já vêm de longe.

Vítor Ilharco é assessor


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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