As três regras de vida do Donald

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Frederico Duarte Carvalho|17/10/2024

O filme ‘The Apprentice – A História de Trump’, é uma ficção sobre os primeiros anos da vida daquele que foi o 45º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e pretende ser o 47º, caso vença as eleições na primeira terça-feira de Novembro, dia 5. Poderá um filme mudar o sentido de voto do eleitor indeciso?

Após o visualizar, numa ante-estreia dedicada apenas a jornalistas, vemos que não há propriamente uma novidade face a tudo o que já foi escrito e mostrado em documentários sobre aquele que foi eleito Presidente dos Estados Unidos em 2016, perdeu a reeleição em 2020 e tenta agora a segunda chance.

Isso, no entanto, não tira o interesse ao filme. A obra tem o condão de nos levar ao ambiente da Nova Iorque dos anos 70 e 80 – é esse o limite temporal representado, sem qualquer referência aos anos mais recentes -, de modo a percebermos a construção e a aprendizagem do homem que quer voltar a sentar-se na Casa Branca. Tem representações notáveis de Sebastian Stan como Trump e, especialmente, de Jeremy Strong, no papel de Ron Cohn, o advogado sem escrúpulos que “constrói” o “aprendiz”. 

Ali Abbasi, o realizador iraniano nascido em 1981 a viver em Copenhaga, contou com Gabriel Sherman como argumentista e, este, é um jornalista que exibe no seu curriculum a biografia de Roger Ailes, presidente da Fox News, o canal de televisão dito pró-Trump. O livro, publicado em 2014, tem o título “The Loudest Voice in the Room: How the Brilliant, Bombastic Roger Ailes Built Fox News – and Divided a Country”, que se pode traduzir para algo como: “A Voz Mais Alta na Sala: Como o Brilhante e Bombástico Roger Ailes Construiu a Fox News – e Dividiu um País”.  A eleição de Donald Trump, dois anos depois, sabe-se, dividiu ainda mais o País.

Esperava-se então, dado o material original, que este fosse um filme que contribuísse ainda mais para a destruição da imagem de Trump. Uma produção prejudicial à sua reeleição, sobretudo dada a oportunidade da estreia – menos de um mês antes da ida dos americanos às urnas. Só que o filme é um filme. É uma obra de arte ficcional inspirada em factos verdadeiros e, mesmo com a cena onde Trump viola Ivana – coisa que o verdadeiro sempre negou -, o sentimento que fica é o de um retrato humano.

O filme é neutro e sujeito a várias interpretações. E isso, com certeza, vai representar um desafio a quem o for assistir. Se com Trump sempre se tratou do “ama ou odeia”, será interessante saber se, quem o odeia, não irá relativizar a sua opinião (se quiser ser honesto consigo próprio), enquanto quem gosta, provavelmente irá ficar a gostar ainda mais – existe sempre uma certa dose de exagero em quem ama. Agora, caso haja na América dividida quem ainda esteja, nesta fase da campanha, a ponderar o seu voto, quiçás esta produção, apesar de ficção e com as devidas cautelas factuais, possa leva a uma decisão em relação às qualidades do homem da “Arte do Negócio”.

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A cena inicial do trabalho de Abbasi e Sherman é o célebre discurso de Richard Nixon, a 17 de Novembro de 1973, onde o então presidente norte-americano, no auge do escândalo do Watergate, garantia aos seus cidadãos que não era um vigarista – “I’m not a crook”. A seguir, vemos uma Nova Iorque falida e violenta, onde um jovem Trump tem terreno fértil para cumprir com as suas ambições pessoais.

E, para o seu sucesso, vai encontrar em Ron Cohn o homem que lhe ensinará três regras de vida:

1 – Atacar, atacar, atacar;

2 – Admitir nada, negar tudo;

3 – Independentemente do que acontecer, reclamar a vitória e nunca admitir a derrota.

Trump é o político que sabemos que vai cumprir com as regras. Já o demonstrou durante os primeiros quatro anos em que exerceu o poder e, ao contrário de muitos políticos antes de si, nunca enganou ninguém.


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


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