‘Portugal tem instituições deficientes, que funcionam mal e que têm falta de transparência’
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Nuno Palma é economista, professor na Universidade de Manchester e autor do livro ‘As causas do atraso português’. Numa breve entrevista por telefone, o economista falou ao PÁGINA UM acerca do trabalho de investigação sobre Angola que está actualmente a desenvolver em parceria com James Robinson, um dos três laureados com o Prémio Nobel da Economia deste ano. Nuno Palma não ficou surpreendido com a escolha da Academia sueca (foram também laureados Simon Johnson e Daron Acemoglu, autor do livro ‘Porque falham as nações’) e destacou a importância do trabalho desenvolvido pelos três investigadores. Notou que o trabalho dos três investigadores “enfatiza precisamente a importância que o bom funcionamento das instituições políticas tem para o crescimento económico e o bom funcionamento da economia propriamente dita“. Nesta entrevista, apontou que, no caso de Portugal, há falta de transparência nas principais instituições públicas, não existe instituições independentes, nem responsabilização ou a aplicação efectiva da lei. Assim, o economista considera que os portugueses vivem numa democracia limitada. Sobre a qualidade da investigação produzida pela ‘academia’ portuguesa, considera ser “muito fraquinha”.
Foi anunciado, esta semana, a atribuição do Prémio Nobel da Economia a James Robinson, Daron Acemoglu e Simon Johnson “por estudos de como as instituições são formadas e afectam a prosperidade”.
Para Nuno Palma, economista, professor na Universidade de Manchester, e autor do livro ‘As causas do atraso português’, a escolha feita pela Academia sueca não surpreendeu, sendo já esperada, pela “importância” do trabalho desenvolvido pelos três investigadores laureados. Destacou que o trabalho dos três laureados “enfatiza precisamente a importância que o bom funcionamento das instituições políticas tem para o crescimento económico e o bom funcionamento da economia propriamente dita”.
Nuno Palma desenvolve actualmente um trabalho de investigação cuja equipa inclui um dos laureados, James Robinson e ainda os co-autores Hélder Carvalhal, Soeren Henn, sobre a história política e económica de Angola, com base em dados e registos portugueses. O trabalho procura encontrar as origens do colonialismo português. Isto numa altura em que se debate a teoria de que o Ocidente deve ‘reparações’, uma forma de compensar financeiramente a ocupação de regiões, o ‘desvio’ de riqueza, mas também a escravatura, por exemplo. Uma questão que Nuno Palma considera ser de cariz ideológico.
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Segundo a Academia sueca, “os laureados contribuíram com investigação inovadora sobre o que afecta a prosperidade económica dos países a longo prazo” e “as suas perspectivas sobre a forma como as instituições influenciam a prosperidade mostram que o trabalho para apoiar a democracia e as instituições inclusivas é um importante caminho a seguir na promoção do desenvolvimento económico”.
Falando sobre o caso de Portugal, Nuno Palma considerou que o país “tem instituições deficientes, que funcionam mal e que têm falta de transparência”. Defendeu que há “falta de instituições independentes” e “falta de ‘accountability’ (responsabilização)”.
Comentou também o facto de que os que lançam avisos sobre o que de negativo se passa com Portugal arranja inimigos e deu o exemplo de um dos laureados com o Nobel. Simon Johnson, antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, chegou mesmo a ser processado em Portugal, tendo sido absolvido, na sequência de um artigo de que foi co-autor, em 2010, intitulado ‘O próximo problema global: Portugal’.
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Nuno Palma concluiu que Portugal é “uma democracia com bastantes limites, com uma forma de funcionamento institucional frágil”.
Deixou ainda uma nota sobre a censura dos tempos modernos. Destacou que as ditaduras não têm censura explícita, mas sim uma censura “para controlar a desinformação”, que é tudo o que se opõe ao regime no poder. Sobre este tema, apontou que, em Portugal, por exemplo, vê alguns “tiques” de censura por parte da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Pelo meio, Nuno Palma lança ainda críticas à qualidade da Academia portuguesa, acusando-a de ser “muito fraquinha”, com investigação, por vezes, enviesada, mostrando desinteresse por dados quantitativos.