‘Em Portugal, não reconhecemos o valor do cinema português’

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Elisabete Tavares|31/10/2024

Nome incontornável na produção cinematográfica em Portugal, Paulo Trancoso preside pela quinta e “última vez” à Academia Portuguesa de Cinema, a qual fundou. O produtor, que é sócio e fundador da Costa do Castelo Filmes, não se vai recandidatar ao cargo e quer voltar a dedicar-se à produção. Entre os muitos feitos conquistados, está a produção dos filmes ‘A Casa dos Espíritos’, de Billie August, e ‘A Selva’, de Leonel Vieira, entre muitos outros. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, o produtor fala sobre a crise do sector, designadamente devido às medidas drásticas implementadas em Portugal na pandemia de covid-19 que aceleraram a mudança de hábitos dos consumidores, afastando-os ainda mais das salas de cinema. Também comentou o fenómeno das plataformas de ‘streaming’ e o quase desaparecimento do DVD. Sobre a polémica em torno da recente edição do festival Tribeca, defendeu que não se tratou verdadeiramente de um festival e deixou sugestões de melhorias a adoptar pela organização no próximo evento daquela marca. Paulo Trancoso também frisou que a história do cinema português “é uma das riquezas que temos”, lamentando que o valor do cinema ‘made in’ Portugal é mais reconhecido no estrangeiro do que no país.   



Num mundo em transformação tecnológica e na era da explosão das plataformas de ‘streaming‘, o cinema tem futuro? Paulo Trancoso, presidente e fundador da Academia Portuguesa de Cinema (APC) diz que sim. Mas precisa de haver uma maior divulgação e promoção junto do público, sobretudo no caso do cinema ‘made in‘ Portugal.

Nesta entrevista ao PÁGINA UM, o produtor e fundador da Costa do Castelo Filmes indicou que este é o seu quinto e último mandato à frente da APC, já que pretende voltar a dedicar-se à produção. Na sua longa carreira, que passou também pela área da publicidade, Paulo Trancoso produziu diversos filmes reconhecidos, como o célebre ‘A Casa dos Espíritos’, de Billie August, e ‘A Selva’, de Leonel Vieira.

Paulo Trancoso na redacção do PÁGINA UM. / Foto: PÁGINA UM

Comentando a crise por que têm passado as salas de cinema, o produtor considerou que os preços dos bilhetes “estão baratos”, salientando que “a verdade é que não têm subido há muitos anos” e que, comparando com os preços praticados em outros países, os que se observam em Portugal são muito mais baixos.

Sobre o cinema feito em Portugal, lamentou que, muitas vezes, no estrangeiro se valoriza mais o cinema português do que em Portugal, afirmando que “nós cá não reconhecemos” o valor e a qualidade do cinema que é feito no país.

Também comentou o polémico festival Tribeca, organizado pela SIC, estação de televisão do grupo Impresa, sublinhando que não foi verdadeiramente um festival de cinema. “Não foi isso a que se assistiu. É preciso perceber que as pessoas precisam de condições mínimas para ver um filme: tem que ter uma sala como deve de ser; tem que haver um projector como deve de ser”, afirmou. Destacou que um festival não é um acontecimento do género “olha ali, um café com um actor”. Defendeu que o público vai a um festival do género para “ver um filme e ver um realizador a falar do filme”. “A SIC tem muita experiência televisiva mas teria de perceber que também teria que ter experiência cinematográfica”, frisou.

Foto: PÁGINA UM

Contudo, Paulo Trancoso acredita que a SIC aprendeu com os erros desta edição e que “a segunda edição vai ser, certamente, muito melhor do que a primeira”. Salientou que a marca Tribeca está ligada a filmes “interessantes, mas obviamente que é preciso perceber que são filmes americanos”. E revelou que o cinema português também poderia ser incluído num festival destes, mas teria de ter um outro modelo e ser mais aberto, incluindo cinema europeu.

Paulo Trancoso também recordou as diferentes épocas que marcaram a história do cinema português, recordando Aurélio da Paz dos Reis, pioneiro do cinema em Portugal e “o primeiro cineasta do mundo”. O produtor frisou que a história do cinema português “é uma riqueza que temos” no país.

No final da entrevista, o presidente da Academia Portuguesa de Cinema ainda revelou qual é um dos seus filmes preferidos.

À margem desta entrevista, Paulo Trancoso ainda comentou sobre os avanços no campo da inteligência artificial e do impacto que terá o seu uso na criação de conteúdos cinematográficos, antevendo um novo e enorme desafio para o sector.


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