Quando se fala em Habitação, o nome que mais surge na mente de muitos portugueses é o de Helena Roseta. Foi pela sua mão e vontade que nasceu, em 2019, a primeira Lei de Bases da Habitação. Mas a influência na sociedade portuguesa da arquitecta e antiga deputada e ex-autarca não se tem ficado pela defesa do direito de todos de viver numa casa condigna, como dita a Constituição da República. Helena Roseta participou, por exemplo, na recente manifestação contra a violência policial e a pedir justiça para Odair Moniz, natural de Cabo Verde e a residir em Portugal, que foi morto a tiro por um agente da PSP. Nesta entrevista ao PÁGINA UM, Helena Roseta fala sobre o seu percurso de vida, a família e sobre política a activismo cívico. Também deixa um alerta: a democracia está em desconstrução e é preciso lutar contra a onda que tenta arrastar a Europa e o Ocidente de volta ao totalitarismo. Por fim, deixa uma mensagem aos jovens: se quiserem mudar o mundo, não o façam sozinhos, procurem apoios; e nunca baixem os braços.
Prestes a completar os 77 anos, Helena Roseta não baixa os braços e continua a dar o seu contributo para mudar o mundo. A arquitecta e antiga deputada e ex-autarca defende que “estamos cá não só para gozar a nossa vida, mas para fazer alguma coisa pelos outros”.
Para Helena Roseta, vivemos num tempo em que na Europa, e no Ocidente em geral, se sente uma nova onda de regresso ao totalitarismo que precisa ser combatida. “o tempo actual tem algumas semelhanças com os anos 30, em que a gente sente um retrocesso muito grande relativamente a conquistas e progressos”, disse.
Disse que “a História tem movimentos pendulares, não está sempre no mesmo sentido e, normalmente, após momentos de grande progresso em direcção a mais liberdade, a mais democracia, há momentos de regresso, de retrocesso e nós estamos a assistir a um momento desses”. Lembrou que a Europa passou, nos pós-guerra, por um “período de expansão dos direitos sociais”, tal como os Estados Unidos, que “também tiveram um período de grande expansão de direitos humanos e de liberdades” e que lidou com a questão racial. “Nós estamos a ter agora a questão racial e eu sei de que lado estou, estou no mesmo lado em que estaria Martin Luther King”, sublinhou.
Citando Manuel Alegre, defendeu que a democracia está numa fase de “desconstrução” e isso “obriga-nos a um activismo mais forte”. Frisou que, “na fase da construção as pessoas podem ir com a onda. Na fase da desconstrução é preciso desconstruir a onda, é preciso estar contra a onda e isso é mais exigente”.
Nesta entrevista, Helena Roseta também falou sobre a crise no acesso a casas e disse que “estamos a ter a consequência, por um lado, da ausência de políticas de habitação”, por outro, das políticas de cidade que não souberam acomodar, por exemplo, as grandes vagas de imigração, “primeiro da província, das ex-colónias, depois dos PALOPs (Países de Língua Oficial Portuguesa), depois de outros países”, designadamente do Brasil e “agora da Ásia”. Mas também culpou a financeirização do sector imobiliário e da Habitação.
A ex-deputada deixou críticas à ineficácia do Parlamento. “Hoje, temos um Parlamento muito mais virado para a expressão das oposições do que para a formação democrática da decisão colectiva”, lamentou. E deu o exemplo de como se conseguiu aprovar a Constituição da República numa altura em que existia uma polarização muito superior à que existe hoje, com manifestações e em pleno PREC (Processo revolucionário em Curso).
Também deixou uma mensagem aos jovens: “ninguém muda o mundo sozinho”. E deixou dois conselhos: “não fazer nada sozinhos; e não baixar os braços”.
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