Recensão: Permissão para sentir

Uma bíblia para a regulação emocional

por Maria Afonso Peixoto // Novembro 2, 2024


Categoria: Cultura

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Título

Permissão para sentir

Autor

MARC BRACKETT 

Editora

Albatroz (Junho de 2024)

Cotação

18/20

Recensão

O autor deste livro, Marc Brackett, é um verdadeiro especialista em emoções, tendo publicado já 125 artigos académicos sobre a ‘matéria’. Mas só se tornou um ‘mestre’ da inteligência emocional depois de ter conseguido ultrapassar os seus próprios traumas, que incluíram crescer numa família disfuncional e ter sofrido de bullying na escola e abusos sexuais em criança. Em virtude destas experiências, a sua vida parecia um inferno porque vivia refém do seu tumulto interno, que o acometia de raiva e frustração e o atirava para uma espiral de descontrolo.

O ponto de viragem deu-se quando o seu tio lhe colocou uma simples, mas poderosa questão: “o que estás a sentir?”. Foi a partir daí que, de certa forma, Marc sentiu que tinha permissão para entrar, finalmente, em contacto com o furacão de emoções que tinha dentro de si. E marcou o início de uma longa jornada de aprendizagem sobre o que é isto de sentir, e como se pode navegar os sentimentos da forma mais saudável possível.

Veio então a tornar-se investigador e formador na área, e é fundador e director do Centro para a Inteligência Emocional e Yale, além de professor no Centro de Estudos Infantis da mesma universidade.
Criou também o método “RULER”: a abordagem baseada em evidências científicas que ensina aos leitores neste Permissão para sentir. Na sigla que lhe dá nome, o primeiro “R” é para reconhecer, “U” é para compreender [‘understand’, em inglês], “L” é para classificar [‘label’], “E” é para expressar, e o último “R” para regular.

O objectivo deste método? Dar competências para uma boa compreensão e gestão das emoções.

Neste âmbito, desenvolveu o Mood meter, que serve para nos ajudar a identificar e a ‘medir’ as nossas emoções, através de um quadro com inúmeros estados de espíritos, divididos em quatro cores que correspondem a quatro grandes tipos de emoções. Num quadro com dois eixos, os estados emocionais estão organizados com base em dois grandes parâmetros: o grau de energia (que pode ser alto ou baixo) e o de prazer (também alto ou baixo).

O autor ensina também variadas estratégias de regulação emocional – como o “monólogo interior” ou o “reenquadramento cognitivo”.

As recomendações contidas neste livro são de um carácter muito prático e acessível, que qualquer pessoa pode aplicar independentemente do seu conhecimento sobre a “arte” da inteligência emocional.

A título de exemplo, um dos insights mais curiosos partilhados por Marc Brackett é que, ao contrário do que se possa pensar, não são só as emoções “negativas” que precisam de ser reguladas, mas também as “positivas”.

Sobretudo num mundo em que tudo parece desenrolar-se a uma velocidade estonteante, em que os distúrbios do foro mental como a depressão e a ansiedade atingem proporções epidémicas – até mesmo entre a população juvenil –, este livro é da maior utilidade.

Marc Brackett consegue cumprir eficazmente a missão a que se propõe: ajudar os leitores a tornarem-se, eles próprios, autênticos “cientistas das emoções”, conferindo-lhes instrumentos  para reconhecer e lidar com aquilo que sentem de um modo construtivo. Com esse propósito, além dos múltiplos recursos que ‘oferece’ nesta obra, providencia também uma extensíssima bibliografia.

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