ARRANHADELAS

O jornalismo ‘bonzinho’ não precisa de ser rigoroso, Car(v)alho?

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Ainda serei acusado de usurpar funções, como recentemente sucedeu à Maria João Avillez, mas confesso que decidi fazer uma entrevista. Talvez devesse fazer uma entrevista ao Manuel Carvalho, distinto ex-director do jornal Público, e actual redactor e opinador, que hoje decidiu perorar uma esdrúxila tese: o jornalismo pode criar um viés se tiver como função “denunciar e combater Trump por tudo o que propõe em matéria de ameaças à democracia”, porque isso “é um legítimo esforço em defesa das liberdades”. Até porque, segundo o dito, o Carvalho, “numa disputa entre democracia e obscurantismo, o jornalismo livre não tem outras escolhas senão a da democracia”, sendo que não sei quem tem o estatuto para definir o que é democracia ou obscurantismo, para que “o bem” prevaleça e elimine, claro, o obscurantismo. Será o Carvalho? Será o Trump? Espero que nenhum dos dois.

Aliás, o dito, o Carvalho, defende que os leitores esperam que o jornalismo “não poder ser neutro” – como, por exemplo, um folheto paroquial –, e assim mesmo “ficou provado com o cancelamento de mais de 200 mil assinaturas do The Washington Post quando [os leitores] souberam que o jornal não tomaria posição sobre as eleições à revelia dos seus editores”, e que, com isso, “decapitou os seus valores e diluiu-se na indiferença cúmplice”. Passando por cima da parte de um jornal decapitar os seus valores ao decidir não fazer dos seus leitores uns burrinhos, indicando-lhe expressamente em quem votar, fiquei particulamente interessado em confirmar a veracidade das tais 200 mil subcrições que tinham ido ao ar no Washington Post.

Ora, como provavelmente Carvalho, o Manel, não entenderia as minhas perguntas, nem o seu alcance, até por já ter perdido a noção de rigor, e que um “bom” fim não deve usar “maus princípios”, ainda mais no jornalismo, que vive da credibilidade, fui diligentemente tirar ‘nabos da púcara’ ao ChatGPT, fazendo-lhe esta ‘entrevista’, que acabou por ser muito didáctica.

Serafim: Confirma-se oficialmente que houve 200 mil cancelamentos de subscrições do Washington
Post por causa do seu posicionamento nas eleições norte-americanas?

ChatGPT: Sim, foi amplamente noticiado que o jornal norte-americano The Washington Post
perdeu mais de 200 mil assinantes digitais após anunciar que não apoiaria nenhum candidato nas
eleições presidenciais de 2024. Esta decisão, tomada pelo proprietário Jeff Bezos, gerou uma onda
de cancelamentos de assinaturas e críticas por parte de leitores e funcionários do jornal.
A perda de assinantes representa cerca de 8% da base total de assinantes do jornal, que contava
com aproximadamente 2,5 milhões de leitores, incluindo assinantes impressos.
Além disso, a decisão de não endossar nenhum candidato levou à demissão de alguns membros
do conselho editorial e colunistas, que expressaram descontentamento com a postura adotada pelo
jornal.
Portanto, confirma-se que houve uma perda significativa de assinantes do The Washington Post
devido ao seu posicionamento nas eleições norte-americanas de 2024.

Serafim: Mas a administração do jornal confirmou? Há provas factuais?

ChatGPT: Sim, a administração do The Washington Post confirmou oficialmente que houve mais
de 200 mil cancelamentos de assinaturas após a decisão de não apoiar nenhum candidato nas
eleições presidenciais de 2024. Esta informação foi divulgada por fontes internas do jornal e
reportada por diversos meios de comunicação. Além disso, o próprio jornal reconheceu
publicamente a perda significativa de assinantes, indicando que a decisão editorial teve um impacto
direto na sua base de leitores. Portanto, existem provas factuais e confirmações oficiais sobre os
cancelamentos de assinaturas decorrentes do posicionamento do jornal nas eleições
norte-americanas de 2024.

Serafim: Mas foi mesmo a administração que assumiu os números ou são fontes anónimas
internas?

ChatGPT: A informação sobre os 200 mil cancelamentos de assinaturas do The Washington Post tem sido principalmente atribuída a fontes anónimas internas e reportada por vários meios de
comunicação. Até o momento, a administração do jornal não emitiu uma confirmação oficial e
pública sobre esses números específicos de cancelamentos. Assim, os dados sobre o impacto das
decisões editoriais nas assinaturas permanecem não confirmados oficialmente pela administração
do The Washington Post, dependendo ainda de fontes internas não identificadas.

Serafim a entrevistar o ChatGPT, que ‘tirou’ a fotografia.

Serafim: Portanto, fontes anónimas constituem uma confirmação? Se eu, que sou jornalista,
escrever que fontes anónimas internas do Washington Post me disseram que afinal houve um
aumento de 30% nas subscrições depois da vitória do Trump é lícito eu escrever uma notícia sobre
isso?

ChatGPT: Do ponto de vista ético e jornalístico, basear uma notícia apenas em fontes anónimas
apresenta riscos, especialmente quando a informação não pode ser corroborada por fontes oficiais
ou por dados concretos. Embora fontes anónimas possam ser válidas em certas circunstâncias ?
especialmente em casos onde há razões legítimas para o anonimato e o jornalista confia na
credibilidade dessas fontes ?, a utilização exclusiva desse tipo de fonte para afirmar algo tão
específico quanto um número de assinantes pode comprometer a solidez da reportagem.
No exemplo que dás, escrever sobre um aumento de 30% nas subscrições baseado apenas em
fontes anónimas, sem qualquer confirmação oficial ou dados concretos, poderia ser considerado
especulativo. A prática jornalística ideal seria buscar confirmação com a administração do jornal ou
com uma declaração pública que possa validar a informação. Em casos de grande impacto, muitos
órgãos de comunicação mencionam que a informação é baseada em fontes anónimas e explicitam
que tentaram, sem sucesso, obter uma resposta oficial.
Portanto, enquanto é possível escrever a notícia com a devida contextualização (especificando a
natureza da fonte e a tentativa de confirmação), o rigor ético exige que o jornalista forneça ao leitor
uma visão completa, incluindo as limitações da informação. Em última análise, depender
exclusivamente de fontes anónimas para dados quantitativos pode ser uma prática frágil, que abre
margem para questionamentos sobre a integridade e a exatidão da reportagem.

Serafim: E a outra notícia da redução de 20% já não é especulativa? E já pode ser vista como uma
confirmação da veracidade do impacte negativo do não endossamento do Washington Post?

ChatGPT:: Sim, a notícia da redução de 20% nas subscrições devido ao não endossamento de um
candidato por parte do Washington Post também pode ser vista como especulativa se se baseia
exclusivamente em fontes anónimas internas, sem confirmação oficial por parte da administração
do jornal. Embora fontes internas possam ter credibilidade, especialmente quando relacionadas ao
próprio funcionamento de uma instituição, isso não equivale a uma confirmação oficial e, portanto,
não pode ser considerado prova conclusiva da veracidade do impacto negativo.
Para uma confirmação sólida do impacto, seria ideal que o Washington Post divulgasse
oficialmente esses números ou que fontes independentes de confiança (como relatórios financeiros
auditados ou declarações oficiais da empresa) corroborassem os dados. O papel do jornalista,
neste caso, seria tratar tais informações com prudência, deixando claro ao leitor que, embora
relatado por fontes internas, a informação ainda carece de confirmação oficial.
No jornalismo, é fundamental distinguir entre “relatado por fontes internas” e “confirmado
oficialmente” para que os leitores entendam a natureza provisória de certas informações. A notícia
sobre a perda de assinantes pode ser informativa, mas deve ser apresentada com transparência
quanto às suas limitações, evitando-se uma leitura que trate essa informação como definitiva.

Serafim: Então, queres reformular a resposta à pergunta: “Confirma-se oficialmente que houve 200
mil cancelamentos de subscrições do Washington Post por causa do seu posicionamento nas
eleições norte-americanas”?

ChatGPT: Não, não se confirma oficialmente que houve 200 mil cancelamentos de subscrições do
Washington Post devido ao seu posicionamento nas eleições norte-americanas. Esta informação
foi amplamente reportada com base em fontes anónimas internas, mas não foi confirmada
publicamente pela administração do jornal. Assim, até que haja uma declaração oficial ou dados
concretos da própria administração, os números sobre os cancelamentos devem ser considerados
especulativos.

Conclusão: o jornalismo ‘bonzinho’ do Manuel Carvalho não precisa de ser rigoroso. Viva o jornalismo das fontes anónimas que, depois de saírem e se consolidarem, se transformam em verdades insofismáveis e garantia de comportantos, nunca torpes, porque são bem intencionados, claro.


Serafim é o Mascot do PÁGINA UM, conveniente e legalmente identificado na Ficha Técnica e na parte da Direcção Editorial, possível pela douta interpretação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Qualquer semelhança entre os assuntos relatados e a realidade é pura factualidade.


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