Recensão: O fim das políticas de raça

Ser indiferente à cor da pele

por Elisabete Tavares // Dezembro 26, 2024


Categoria: Cultura

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Título

O fim das políticas de raça

Autores

COLEMAN HUGHES (Tradução: Pedro M. Santos)

Editora

Guerra & Paz (Outubro de 2024)

Cotação

19/20

Recensão

O autor desta obra propõe algo que pode ser visto por muitos, designadamente de ideologia 'woke', como revolucionário. Coleman Hughes propõe que se deve ser indiferente à cor da pele. 

O que deveria ser óbvio para todos, infelizmente não é, apesar de estarmos em pleno século XXI: somos todos iguais, independentemente do tom que tem a pele de cada um. Discriminar com base na cor da pele é profundamente errada. É óbvio, mas ainda há quem defenda a divisão dos seres humanos com base neste critério. 

E não, o autor não tem a pele de tom claro. O escritor, podcaster e colunista tem ascendência afro-americana e porto-riquenha e cresceu em Montclair, Nova Jersey, nos Estados Unidos. 

Licenciado em Filosofia, Hughes falou perante o Congresso norte-americano, em 19 de Junho de 2019, numa audiência sobre reparações por causa da escravatura. Hughes mostrou ser contra aquela campanha, alertando que iria servir para apenas dividir ainda mais o país. Adiantou que a serem aprovadas reparações, todos os negros norte-americanos que são contra essa campanha iriam ser transformadas em vítimas sem o seu consentimento.

Neste livro, Hughes propõe que se regresse aos ideais que inspiraram o movimento dos Direitos Civis americanos. Escreve que o afastamento desses ideais deu inicio a uma era de medo e ressentimento e políticas nefastas baseadas na raça. Para Hughes, as políticas 'woke' supostamente anti-racismo criam uma falsa equidade. 

O autor estruturou este livro em seis capítulos, sendo que começa com uma introdução em que responde à questão: 'Porquê escrever sobre raça?'

Na obra, Hughes debruça-se longamente sobre o conceito de neo-racismo, que tem como alvo a população branca, baseado no estereotipo de que todos os brancos são arrogantes, racistas e sem compaixão pela luta das pessoas não brancas. O autor ataca a autora Robin DiAngelo e outros que também defendem este tipo do chamado 'racismo investido'. O autor também se debruça sobre as instituições neo-racistas de elite.

No último capítulo, Hughes propõe soluções para 'Resolver o problema do racismo na América'. Para o escritor, "o verdadeiro problema do racismo na América" é que "a nossa sociedade continua a não conseguir consagrar o daltonismo como seu ethos orientador". E adianta que "é este fracasso contínuo que tem permitido que o racismo sancionado pelo Estado surja repetidamente sob novas e diferentes formas - mais recentemente através do movimento a que tenho chamado de neo-racismo".

"O caminho neo-racista conduz a um mundo sombrio em que brancos e minorias trocam eternamente os papéis, de opressores e oprimidos, de culpados e inocentes − um mundo sem qualquer concepção do bem comum, mas em que os indivíduos colocam os interesses do seu próprio grupo racial em primeiro lugar, independentemente dos custos para os outros", escreve Hughes na página 166.  A alternativa, segundo Hughes, "é o sonho" que passa, designadamente, por "uma nação onde as pessoas vivem em segurança e gozam da liberdade de procurar a sua felicidade; uma nação sem cidadãos de segunda classe onde o espírito democrático prevalece e os políticos são responsabilizados perante as pessoas que servem; [...]".  

  

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