Tatuagens são para gente dispersa. Olha à tua volta. Flores, cruzes, âncoras, armas, supostos ditos filosóficos, símbolos, exposições de afectos, mamas, piços, tigres, elefantes, baleias, caracteres, sereias, nomes da prole, cornucópias, poemas, pactos de sangue, rendições à prostituição, tentativas vãs de diferenciação dignas de escárnio. Isto define-me, este é o meu mote, o meu lema de vida — o resumo não precisa de mais palavras.
Vontade de fazer do corpo um território de proclamação, uma forma de comunicação. Um solo epidérmico que seja como algo a lembrar para sempre.
Uma tatuagem pode ter na sua construção um grande acto de amor, mas é uma facilidade — qualquer um o pode fazer. Não devem as inscrições da vida serem incrustadas na pele pela própria vida?
Tatuagens é para meninos, cicatrizes é para homens.
Na nossa empresa facultamos-te o supremo: o ferro do improviso, a maldição do acaso e do descaso — cicatriz.
Entrega-te às mãos sábias do nosso entregador, o nosso especialista de facas, bisturis, martelos, alicates, maçaricos e serrotes ferrugentos.
Se quiseres algo mais autêntico a nossa equipa altamente especializada está ao teu dispor para te propiciar um acidente, uma experiência física próxima da morte, uma hospitalização, o retirar dum órgão ou duma virtude malsã, duma forma eficaz, talvez prazenteira, se accionares a opção do uso de morfina ou outras substâncias que vençam as resistências que te atêm à efemeridade. Senta-te aqui junto ao mar e entra no confuso coração dos homens.
Paulo Vero é homem dos sete ofícios
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