Pena suspensa: Um autocarro chamado esquadra

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Rui Araújo|28/03/2025


Um autocarro que deixa de parar nos apeadeiros por meio tostão de coisa alguma com 30 passageiros a bordo, 4 putos reguilas e um polícia particularmente mal encarado. Viagem — directa — rumo à esquadra da PSP mais próxima.

Brincadeiras…

A gente estava no bar e resolvemos ir velar o morto. Só que depois ficámos cheios de sede e demos uma saltada até Sete Rios para ‘mamar’ umas imperiais. Tivemos azar, começou a chover. Precisávamos de apanhar um autocarro. E apanhámos. Os meus amigos entraram pela porta da frente, como manda a Lei. Eu, mais esperto do que os outros, pela de trás. Foi então que apareceu o senhor guarda. Identificou-se e mandou parar o autocarro. Eu lá saí, dei a volta e voltei a entrar pela porta da frente. O motorista rasgou-me o bilhete e tudo. Só que quando me juntei à malta, já havia ‘bronca’. Estava toda a gente a discutir. Eu agarrei, meti-me na barafunda. O guarda manda vir com a gente e a gente a mandar vir com ele. Em vez de sair ou sairmos, em vez disso, mandou seguir o autocarro direitinho até à esquadra. Ele não deu cavaco a ninguém. E nós, por causa do mau feitio dele, passámos uma noitada nos calabouços do Governo Civil. É uma injustiça…

the sun is shining through a window in the dark

… disse o juiz

O Tribunal considerou que não houve qualquer crime ou delito. Os quatro mariolas foram absolvidos depois ou antes — não se sabe bem — de alguém na sala de audiências apresentar as suas condolências pelo falecido.

A gente foi velar o homem porque é lá do nosso bairro. E a gente, como é amigos, fomos lá dar os sentimentos. É preciso dar os sentimentos às pessoas.


Reportagem originalmente publicada no jornal Semanário, na edição de 18 de Junho de 1988.

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