Novas eleições: a perpetuação de um embuste

Parece que iremos ter novas eleições legislativas; infelizmente, vamos continuar a perpetuar o regime que nos conduziu a esta situação de total ruína. Já dura há mais de cinco décadas. Este modelo baseia-se na glorificação patética da democracia e da soberania popular, que é vista como um altar intocável.
A realidade, porém, revela que se trata de um dos sistemas mais perversos que já se inventou. Ao contrário de uma monarquia absoluta, onde o monopólio do governo estava nas mãos de um rei que legaria o trono ao filho, os incentivos para confiscar a população eram consideravelmente menores. Porquê?

Porque o rei não precisava de encher os bolsos à pressa; o seu filho herdaria o reino e a máquina de parasitagem já estava montada. Além disso, o rosto do ladrão era conhecido por todos: um senhor rechonchudo e rosado, a empanturrar-se de pernas de frango. A resistência era mais firme porque o inimigo era claro e evidente. Talvez por isso, nunca um monarca absoluto se atreveu a confiscar mais de 15% ou 20% da riqueza produzida. As modernas democracias, em contrapartida, fazem gala em sugar 50% do PIB, tudo em nome do combate às desigualdades sociais e da sustentação daquela vaca sagrada chamada Estado Social.
Enquanto no mercado queremos concorrência, que atrai os mais produtivos e inovadores para satisfazer as necessidades dos consumidores, na democracia sucede precisamente o inverso. Ao permitir que “qualquer um” possa concorrer à chefia desta organização criminosa chamada Estado — que vive do confisco e detém o monopólio da força e dos tribunais —, abrem-se as portas para que demagogos, crápulas e vigaristas assumam o controlo. Os produtivos, como é natural, afastam-se desse pântano.
Não é casualidade que a qualidade da classe política esteja em queda livre. Como a propriedade do governo é “pública” e não privada, todos se sentem com legitimidade para meter a mão na gamela. Um monarca absoluto, por exemplo, trataria de preservar a sua propriedade e geriria os seus bens com prudência, sabendo que, no longo prazo, esse património passaria para o seu filho. Havia parcimónia e cuidado na gestão dos recursos.

Na democracia, porém, a lógica é inversa: o tempo para roubar é limitado e há que ser rápido na pilhagem antes que o cargo escorregue pelas mãos. Daí que os políticos gastem boa parte do seu tempo a inventar esquemas para se perpetuarem no poder, comprando votos das massas e roubando uma minoria produtiva cada vez mais pequena – ser otário toda a vida é complicado e estúpido.
Veja-se o caso da Segurança Social, onde se faz crer que os descontos dos trabalhadores activos estão guardados num porquinho mágico, pronto para sustentar a sua velhice. Nada mais ilusório: esses 34,75% do salário bruto dos trabalhadores servem apenas para pagar as pensões dos actuais reformados — hoje, nem é suficiente, outros impostos cobrem a diferença negativa entre receitas e despesas.
A escalada no assalto aos activos tem sido incessante ao longo das últimas cinco décadas, tudo para manter a farsa de que o Estado Social é sustentável. É assim que o bloco central se perpetua no poder: prometendo saquear os que produzem para comprar os votos dos reformados, dos funcionários públicos e dos subsidio-dependentes. Eles sabem perfeitamente que este esquema piramidal há-de ruir, mas, na democracia, ponderar as consequências futuras é coisa que simplesmente não existe.

A escória sem escrúpulos que governa vendeu-nos de corpo e alma a instituições transnacionais em troca de subsídios e prebendas para amigos e companheiros — como é o caso da sinecura de deputado europeu. Venderam a nossa soberania monetária para garantir que um esquema piramidal europeu pudesse expandir-se e praticar a fraude da criação monetária em larga escala, chamada Banco Central Europeu (BCE). Foi assim que, quando Portugal faliu em 2011, o BCE ligou a impressora para nos “salvar” — empobrecendo-nos pela inflação, enquanto plutocratas bem relacionados se encheram à custa dessa manobra, comprando activos a preços irrelevantes (aeroportos, companhias de seguros, bancos…).
Depois veio o “dinheiro grátis”: sempre que há uma crise (normalmente provocada pelos próprios), aparecem milagrosamente milhares de milhões de euros em “fundos de resgate”. Esse dinheiro, que simplesmente não existe, é inventado pelo BCE e pago pela população com inflação.
A realidade é esta: Bruxelas é uma casta parasitária ainda mais cara que os nossos políticos locais. Não beneficiamos nada com a sua existência: tornaram-nos os pedintes oficiais da Europa, sempre a pedir subsídios e dívida mutualizada, enquanto se cultiva a ilusão de que nada pagaremos, tudo nos será dado sem esforço ou custo. No entanto, no fim, pagamos sempre a conta: seja por impostos, inflação ou pela destruição da actividade produtiva.

Há cinco décadas que dois partidos socialistas têm o monopólio deste saque. Para quem trabalha e produz, a vida é um inferno de impostos asfixiantes, regulação absurda vinda de Bruxelas, burocracia sufocante que só beneficia os grandes negócios capazes de suportar tais custos. Para os parasitas do regime, basta uma agenda de contactos para que milhares de euros fluam como um rio. A política transformou-se, assim, numa carreira profissional: uma actividade onde se sobe não pelo mérito, mas pela aptidão na arte do parasitismo.
Tomemos o caso da empresa de casinos Solverde, tão falada nos últimos tempos. Se houvesse liberdade de entrada no mercado de casinos, os clientes decidiriam qual prosperaria. Mas para quê contratar Luís Montenegro, se ele não detivesse o poder de conceder monopólios privados? É o controlo e o poder estatal que alimenta esta promiscuidade entre plutocratas e políticos.
O mesmo se aplica à despesa pública. Se cada um de nós contratasse o seu hospital ou a sua escola directamente ao prestador de serviços, não haveria qualquer incentivo para subornar políticos. Mas, como o Estado português controla 133 mil milhões de euros — cerca de 12,5 mil euros por português —, esse maná precisa de ser dirigido para os bolsos “certos”: contratos camarários para amigos, assessorias jurídicas para filhos de políticos e subsídios para empresas onde os parasitas têm familiares.

Este modelo, como é óbvio, é insustentável e está condenado a falir. Daí o crescendo do controlo social, pois é preciso espremer até à última gota de sangue os que ainda produzem alguma coisa. Por essa razão, a União Europeia tornou-se uma espécie de URSS moderna: se a população vota “errado”, retira-se o candidato das listas; se já não há como roubar mais, inventam-se pandemias ou ameaças externas para justificar mais impostos, mais impressão monetária e mais inflação. Todas as crises são pretexto para aumentar o controlo e esmagar os dissidentes. Necessitam, assim, de um sistema que determine onde podemos gastar o nosso dinheiro e como nos devemos comportar: daí o Euro Digital, a peça final do puzzle totalitário – já prometido para Outubro deste ano.
Chegámos, enfim, à farsa final: novas eleições para um parlamento nacional que nada decide, apenas aqueles que terão o privilégio de repartir o saque. Enquanto os portugueses acreditam que estão a escolher o seu destino, apenas seleccionam o próximo grande parasita. Nada mais.
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.